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Aspectos Anatomofisiologicos Da Voz Cantada Unidade IV
Aspectos Anatomofisiologicos Da Voz Cantada Unidade IV
ANATOMOFISIOLÓGICOS
DA VOZ CANTADA
UNIDADE IV
SAÚDE VOCAL
Elaboração
Hilda Maria dos Santos Friães
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE IV
SAÚDE VOCAL............................................................................................................................5
CAPÍTULO 1
DIFERENÇAS FISIOLÓGICAS ENTRE VOZ FALADA E VOZ CANTADA....................................... 5
CAPÍTULO 2
AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAIS.................................................................... 15
CAPÍTULO 3
HIGIENE VOCAL................................................................................................................. 19
CAPÍTULO 4
CUIDADOS COM A VOZ NO DIA A DIA............................................................................... 23
CAPÍTULO 5
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA VOZ............................................................................................. 25
CAPÍTULO 6
ATUAÇÃO E ACOMPANHAMENTO FONOAUDIOLÓGICO..................................................... 32
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................38
SAÚDE VOCAL UNIDADE IV
Capítulo 1
DIFERENÇAS FISIOLÓGICAS ENTRE VOZ FALADA
E VOZ CANTADA
O canto pode ser considerado uma habilidade a ser desenvolvida e aprimorada por
meio do aprendizado de ajustes vocais (orgânicos, técnicos e psicológicos). Esses ajustes
requerem do cantor domínio da técnica de canto para que ele utilize seu instrumento
vocal da maneira mais adequada ao executar os ajustes necessários a cada estilo de
canto (COELHO et al., 2020).
Para os cantores, dominar a técnica de canto vai muito além do que compreender
a anatomofisiologia do trato vocal para cada ajuste a ser realizado na voz cantada.
Ao não compreender efetivamente as mudanças ocorridas na laringe e nas cavidades
de ressonância durante o ato de cantar, o profissional colhe consequências negativas
para sua voz e, consequentemente, para sua prática profissional.
De acordo com Behlau (2005), a voz falada e a voz cantada são duas realidades
facilmente distintas, e a descrição dos ajustes empregados nas duas situações nem
sempre é simples de ser realizada.
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UNIDADE IV | SAÚDE VOCAL
Segundo Behlau e Rehder (1997), os parâmetros diferenciais mais comuns entre a voz
falada e a voz cantada são a respiração, a fonação, a ressonância e projeção de voz, a
qualidade vocal, o vibrato, a articulação dos sons da fala, as pausas e a postura corporal.
Vale ressaltar que, além os parâmetros aqui citados, a relação entre a emoção e a voz
é muito diferente entre a voz falada não profissional e as duas modalidades de voz
profissional, a falada e a cantada.
1.1. Respiração
Voz Falada:
» O ciclo respiratório durante a voz falada é um dos parâmetros que mais se altera
diante das emoções, e a mudança mais comum observada está relacionada com
o ritmo inspiração/expiração.
Voz Cantada:
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SAÚDE VOCAL | UNIDADE IV
1.1.1. Fonação
Voz Falada:
» Na voz falada, as pregas vocais fazem ciclos vibratórios com o cociente de abertura
levemente maior que o de fechamento.
Voz Cantada:
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» Pode não haver quase nenhuma diferença nos ciclos fonatórios, como geralmente
observamos nos cantores de MPB, ou pode ainda haver modificações excepcionais
nos cocientes de fechamento e abertura dos ciclos vibratórios. No canto lírico, o
fato de o cociente de fechamento ser maior que o de abertura gera um som
acusticamente mais rico e com maior tempo de duração. Produz-se uma série maior
de harmônicos, com mais de trinta facilmente identificáveis no registro espectrográfico,
com intensidade forte mesmo nos harmônicos mais agudos do espectro.
Voz Falada:
Voz Cantada:
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SAÚDE VOCAL | UNIDADE IV
pianíssimo e, para tanto, a inspiração é sempre maior do que na fala, a boca tende
a estar sempre bem aberta, procurando-se reduzir ao máximo os obstáculos à saída
do som. Um aspecto particular da ressonância e projeção da voz no canto lírico é o
formante do cantor, que, conforme explicado anteriormente, é uma característica
do canto lírico que confere audibilidade sobre ruído. Esse é talvez o aspecto
indireto do canto lírico mais facilmente reconhecido pelo ouvinte, principalmente
quando associado ao vibrato.
Voz Falada:
» Pode ser neutra ou com pequenos desvios que não chegam a ser considerados
sinais de disfonia.
» Profissionais da voz falada ou mesmo da voz cantada popular podem ter desvios
expressivos de suas qualidades vocais, apresentando tipos de vozes até mesmo
considerados disfônicos, mas com grande aceitação pelo público e sucesso
comercial.
Voz Cantada:
» Cantores líricos têm um modelo de perfeição vocal que rejeita desvios expressivos
de suas qualidades vocais. A qualidade vocal é mais estável e sofre menos influência
de fatores externos à realidade musical.
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UNIDADE IV | SAÚDE VOCAL
1.1.4. Vibrato
Voz Falada:
Voz Cantada:
» O vibrato é geralmente identificado com o canto lírico, mas pode estar presente em
diversos estilos musicais, como no sertanejo e no roque, embora não tão estável
como nos cantores treinados.
Voz Falada:
» A articulação deve ser precisa, e a identidade dos sons deve ser mantida. Vogais
e consoantes têm duração definida pela língua que se fala, porém o padrão de
articulação sofre grande influência dos aspectos emocionais do falante e do discurso.
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Voz Cantada:
» A mensagem a ser transmitida na voz cantada está além das palavras e, portanto,
pode-se privilegiar os aspectos musicais e não os verbais, o que significa que, em
alguns casos, há a ocorrência de uma subarticulação.
» Os movimentos articulatórios básicos podem ser reduzidos, como no caso dos sons
plosivos, recebendo influência dos aspectos melódicos da música e da frase musical
em si. Sendo assim, as constrições que produzem os sons não são realizadas
totalmente, minimizando as alterações na área transversal do trato vocal.
1.1.6. Pausas
Voz Falada:
» As pausas são individuais de cada falante, podendo ocorrer por hesitação, por
valor enfático ou, ainda, refletir interrupções naturais do discurso.
Voz Cantada:
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Voz Falada:
Voz Cantada:
Voz Falada:
Voz Cantada:
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Voz Falada:
Voz Cantada:
» O ato de cantar com técnica perfeita, mas sem emoção, dificilmente leva o
profissional a uma posição de destaque. Entretanto, realizar o canto com expressão
emocional pessoal requer do profissional o uso de uma microentonação sobre a
macroentonação previamente decidida pelo autor. Essa ação envolve mudanças
glóticas, supraglóticas e articulatórias, que incluem também modificações nas
características temporais da emissão.
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Capítulo 2
AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAIS
Para diversos profissionais, a voz é instrumento principal de trabalho e seu uso
pode diferir de acordo com a profissão. Esses profissionais estão mais propensos às
alterações da voz e, quando amadores, as queixas podem ser consideravelmente mais
recorrentes. O maior risco para essas queixas vocais está presente entre cantores,
consultores, professores, advogados, pastores, operadores de telemarketing, vendedores
e profissionais de saúde.
» Direta: essa abordagem ter por objetivo a busca de uma produção vocal adequada
e eficiente por meio de treinamento atendendo à demanda vocal específica. Na
abordagem direta, são utilizados programas e sequências de aquecimento e
desaquecimento vocal.
Já o desaquecimento vocal visa o retorno aos ajustes iniciais da fala, diminuindo o fluxo
sanguíneo e a fadiga muscular, e promovendo o reuptake (recaptação) do ácido lático.
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2.1. Respiração
A respiração é um dos itens mais importantes para a prática do canto, pois essa função
está relacionada com a afinação, impostação e volume da voz e a resistência do cantor.
Por isso, é essencial que os praticantes do canto tenham um bom condicionamento
físico e um adequado controle respiratório.
Os exercícios realizados para aquecer a voz podem e devem ser praticados não apenas
por quem canta, mas por todas as pessoas que utilizam a voz em suas atividades
profissionais. Além disso, esses exercícios com técnica específica fazem toda a diferença
para quem visa aumentar a sua extensão vocal.
Para dar início aos exercícios de aquecimento vocal, atente-se a sua postura corporal:
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» Inspire somente pelo nariz (lábios ocluídos) e expire oral e lentamente, emitindo o
fonema “A“ sussurrado (como uma baforada) até o ar acabar. Em seguida, retraia
o abdômen devagar e relaxe a região do pescoço e da laringe.
» Inspire somente pelo nariz (lábios ocluídos) e expire oralmente produzindo uma
vibração com os lábios, em “Brrrr“. Essa ação deve ser iniciada com tons de média
frequência até chegar aos mais agudos. O abdômen deve ser retraído devagar, e
o fluxo expiratório controlado e associado ao movimento de vibração de lábios.
» Inspire somente pelo nariz (lábios ocluídos) e expire oralmente emitindo o som
“DZ”, com a ponta da língua encostada nos dentes incisivos centrais superiores
(dentes da frente, na parte superior). Essa ação deve ser iniciada com tons de média
frequência até chegar aos mais agudos. O abdômen deve ser retraído devagar, e
o fluxo expiratório controlado e associado à emissão do som trabalhado.
Vale lembrar que, infelizmente, é comum a muitos iniciantes, estudantes de canto e até
mesmo cantores experientes, negligenciarem essa etapa de aquecimento vocal, tão
essencial para o início das práticas relacionadas ao canto.
Assim como um atleta necessita aquecer e alongar seu corpo antes de iniciar sua série
de exercícios físicos, da mesma forma o sujeito que usa a voz profissionalmente deve
realizar sistematicamente o aquecimento vocal.
Muitas pessoas confundem essa prática como se fosse algo simplesmente relacionado à
temperatura, mas, na realidade, o aquecimento vocal diz respeito à circulação sanguínea
e irrigação das áreas que serão utilizadas para as ações posteriores
O aquecimento prepara as pregas vocais e envia informações para todo o corpo que
aquela região será utilizada, daquele momento em diante, para a uma prática vocal com
intensidade diferente daquela requerida durante a fala espontânea.
Tão importante quanto aquecer a voz é desaquecê-la, pois ambas as práticas colocam
a voz na condição ideal tanto para uso quanto para iniciar o descanso.
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Após as práticas referentes ao canto, alguns exercícios devem ser realizados para auxiliar
no relaxamento corporal e para trazer a voz para a modalidade de voz falada.
» Inspire somente pelo nariz (lábios ocluídos) e expire oralmente produzindo uma
vibração com uma vibração com os lábios, em “Brrrr”. O abdômen deve ser retraído
devagar, e o fluxo expiratório controlado e associado ao movimento de vibração
de lábios.
Tanto o aquecimento quanto o desaquecimento vocal são importantes para quem utiliza
a voz profissionalmente de modo sistemático.
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Capítulo 3
HIGIENE VOCAL
Levando em consideração que a voz falada é diferente da voz cantada, faz-se necessária
a realização de ajustes bem distintos para essas duas emissões vocais.
Como a voz falada é natural e habitual, não pensarmos muito nos ajustes necessários
a sua produção. Já a voz cantada necessita de treinamento e ajustes de ressonância,
respiratórios, articulatórios e fonatórios específicos, caso contrário, pode gerar esforço
inadequado e prejudicar a saúde vocal.
O microfone é uma ótima estratégia para o profissional poupar um pouco a sua voz.
Porém, ao utilizar esse instrumento de amplificação, é importante lembrar que não é
preciso falar em forte intensidade.
O profissional da voz deve, ao falar, articular bem as palavras e manter uma coordenação
pneumofonoarticulatória equilibrada.
O aquecimento vocal deve ser realizado por meio de exercícios específicos, e não pela
ingestão de qualquer substância. Após a ingestão de qualquer bebida alcoólica, a
sensibilidade do corpo é alterada inclusive no que se refere à produção da voz. Enquanto
o sujeito está sob o efeito da bebida, não sente o esforço vocal e tende a cometer abusos
vocais (gritar, falar demasiadamente, falar em forte intensidade). As consequências dos
episódios de abuso vocal só serão percebidas quando o efeito do álcool passar.
Outro aspecto a ser salientado é o uso de roupas e adereços que podem influenciar
e até mesmo alterar a voz. Os sujeitos que usam a voz profissionalmente devem usar
roupas e adereços que não apertem a região do pescoço e da cintura e, assim, não
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Ao pensar em sua saúde vocal, o profissional da voz deve evitar ambientes ruidosos e
situações nas quais perca o controle auditivo e, automaticamente, eleve a intensidade
de suas produções vocais.
Os cantores, assim como os demais profissionais da voz, devem preparam a voz para dar
conta de um dia intensivo de trabalho vocal. O ideal é que sejam realizados exercícios
de aquecimento vocal, sempre com orientação fonoaudiológica.
É importante salientar que o profissional deve cuidar da sua voz não apenas em dia de
uso intensivo, mas, sim, os cuidados devem fazer parte da rotina diária para manter a
voz sempre saudável.
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É importante pontuar que cada sujeito responde de uma forma para os exercícios de
aquecimento vocal. Sendo assim, é de responsabilidade e competência do fonoaudiólogo
investigar quais os exercícios mais adequados para cada pessoa. O profissional deve
levar em conta também a demanda vocal do indivíduo no momento da realização
do aquecimento vocal, discutindo inclusive em quais momentos e locais essa prática
específica deverá ser realizada. Vale lembrar que uma voz alterada leva mais tempo para
aquecer e se tornar ideal para o uso profissional.
Pode ser satisfatório resguardar a voz antes do uso profissional intensivo, mas isso nem
sempre essa uma realidade viável. O ideal é preparar adequadamente a voz e sempre
utilizá-la de forma correta, estando atento para a rotina de cuidados relacionados à
manutenção da voz saudável.
A decisão sobre a manutenção ou suspensão das aulas de canto deve considerar o tipo
de queixa, a qualidade da voz e os dados da avaliação de cada profissional da saúde e do
diagnóstico do médico e do fonoaudiólogo. O gênero, o estilo do cantor e o repertório
musical selecionado podem gerar uma demanda vocal muito intensa e interferir no
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tratamento. Dessa forma, em alguns casos, pode ser recomendada a interrupção das
aulas de canto até que a saúde vocal seja reestabelecida.
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Capítulo 4
CUIDADOS COM A VOZ NO DIA A DIA
Saber o que as pessoas acreditam que influencia suas vozes pode oferecer insights a
quem apresenta disfonia ou tem risco de desenvolver um problema de voz. Do ponto
de vista individual, a documentação vocal de uma pessoa oferece uma linha de base
para intervenções e para delinear um programa de tratamento específico.
A voz é a forma de comunicação mais utilizada pelo homem. Dessa forma, quando esse
instrumento de comunicação sofre alguma alteração ou quando não está de acordo
com as características esperadas para sexo, faixa etária ou demanda vocal, a qualidade
de vida do sujeito pode ser significativamente afetada.
Todos os sujeitos que usam a voz como ferramenta para sua comunicação
(profissionalmente ou não) devem adquirir boas práticas relacionadas a sua saúde vocal:
» Usar a voz de maneira mais suave, mais baixa (mas sem sussurrar) e articular bem
as palavras.
» Evitar pigarros.
» Bocejar.
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› Em período pré-menstrual.
» É importante salientar que nenhuma rouquidão deve ser considerada normal e que,
caso esse sintoma permaneça por mais de uma semana ou de forma frequente,
deve ser avaliado pelo médico otorrinolaringologista pelo fonoaudiólogo.
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Capítulo 5
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA VOZ
O início para a compreensão de um problema de voz deve ser sempre a queixa trazida
pelo paciente, profissional da voz ou não. Essa queixa deve ser investigada no que diz
respeito a forma, tipo, tempo e espaço, bem como no seu impacto emocional, social
e profissional. Especificamente nos casos de cantores, é preciso ter clareza de quais
elementos presentes na queixa tem relação com a voz cantada e/ou com a voz falada,
assim como na inter-relação dessas duas formas de produção vocal.
Quando um cantor é avaliado, dois objetivos são fundamentais e devem fazer parte
desse processo avaliativo:
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Outro ponto é o ressecamento da mucosa das vias respiratórias superiores, o que leva
à respiração oral e ocasiona prejuízo na lubrificação das pregas vocais (PPVV). Essas
mudanças podem determinar maior pressão subglótica para iniciar a vibração das
pregas vocais.
O refluxo laringofaríngeo (RLF), aspecto que a cada dia está mais presente nos relatos
dos cantores, em decorrência da irritabilidade da mucosa laringofaríngea, pode levar a
modificações epiteliais nas pregas vocais e alterar o padrão vocal.
Algumas drogas, como a maconha, também deixam o muco laríngeo mais espesso e as
mucosas mais ressecadas. O cigarro e o álcool também podem levar ao agravamento
da qualidade voz.
Antes dos exames, é preciso escutar a voz e antecipar o que será visto na imagem
laríngea e, assim, estabelecer uma relação entre qualidade vocal ouvida e o que será
observado na fonte glótica e no filtro. Essa escuta prévia possibilita um direcionamento
para observar se a alteração da voz tem mais relação com a fonte glótica, com o filtro
ou com os dois.
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Vale ressaltar que a observação dos ajustes do trato vocal durante o canto é algo
dinâmico e subjetivo. Sendo assim, comparar vários momentos auxiliam na coleta dos
dados avaliativos.
a. Avaliação Nasofibrolaringoscópia:
› Nesse exame, o cantor pode emitir a voz falada e cantada de modo mais
próximo ao real.
Os exames devem ser gravados (áudio e imagens) para posterior análise e registros dos
dados presentes nessa avaliação objetiva.
» uma vogal glissando (emissões ligadas) em escala ascendente (do grave para o
agudo) e descendente (do agudo para o grave). Geralmente é utilizada a vogal /i/,
uma vez que ela possibilita melhor a visualização da região laríngea.
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Na supraglote, a preocupação deve estar mais no grau de tensão das pregas vestibulares
do que na ação que essa musculatura pode exercer na prega vocal. A constrição medial
(laterolateral) das pregas vestibulares pode ou não se refletir nas pregas vocais, embora
costume influenciar mais as pregas vocais do que a constrição anteroposterior.
A longo prazo, o uso excessivo das pregas vestibulares pode provocar uma agressão
nas pregas vocais. Alguns gêneros musicais são caracterizados pela ação das
pregas vestibulares. Por esse motivo, é primordial que o cantor aprenda a utilizar
adequadamente a prega vestibular para não se prejudicar. E essa aprendizagem deve
ser realizada por meio de um trabalho técnico específico.
» Quanto mais alta a laringe, mais curto será o trato vocal, e, portanto, a emissão
será mais aguda.
» Quanto mais baixa a laringe, mais alongado será o trato, e, portanto, a emissão
será mais grave.
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A laringe alta deixa o som mais claro, e a baixa gera um som mais escuro.
A agudização com a laringe fixa (baixa), referida anteriormente, pode restringir a tessitura,
pois, dessa maneira, os agudos dependem apenas do estiramento das pregas vocais,
sem o incremento da elevação da laringe.
Ao considerar o canto como uma produção dinâmica, a avaliação dos ajustes do trato
vocal deve ser comparativa e analisada mais de uma vez.
Muitas vezes o paciente cantor tem uma queixa referente ao canto que pode ser uma
consequência do modo como ele utiliza a voz falada.
No que se refere aos hábitos cotidianos e à saúde vocal, a sugestão é para o próprio
paciente preencher um questionário antes da entrada na primeira sessão de avaliação.
Munido desse formulário, o profissional já terá uma prévia da saúde vocal do paciente
e, durante a avaliação, realizará o complemento de tais informação, quando e se
necessário.
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Para que as técnicas vocais tenham os resultados esperados, é necessário que o cantor
tenha conhecimentos sobre os principais aspectos anátomo fisiológicos do trato e uma
autopercepção das tarefas a serem realizadas.
É importante reforçar que a avaliação de um cantor com queixa vocal deve ser realizada
de maneira conjunta, otorrinolaringologista e fonoaudiólogo. Em alguns casos, esse
processo deve ser acrescido de outros profissionais, como professor de canto, regente,
fisioterapeuta, entre outros. Um trabalho em equipe interdisciplinar é fundamental na
abordagem dos cantores para uma melhor compreensão da complexa relação entre
queixa, história, qualidade vocal e os achados nasolaringológicos.
Uma avaliação bem realizada direciona com clareza o caminho do tratamento e pode
auxiliar para que o canto se torne expressivo.
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Capítulo 6
ATUAÇÃO E ACOMPANHAMENTO
FONOAUDIOLÓGICO
A terapia indireta, além de abordar os conceitos de saúde e higiene vocal, deve auxiliar
o paciente a incorporar os hábitos saudáveis a sua rotina e evitar os hábitos e fatores
prejudiciais à saúde da voz.
Como estratégias para compor a terapia indireta, o fonoaudiólogo pode lançar mão
de variados recursos, incluindo até os mais tecnológicos. Vale salientar que atualmente
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É imprescindível que o cantor seja encaminhado pelo professor de canto para avaliações
otorrinolaringológica e fonoaudiológica, mesmo sem sinais e/ou sintomas vocais. Vale
ressaltar ainda a importância de revisões periódicas com esses dois profissionais da saúde.
Nesse sentido, o cantor pode estar também enfrentando um período de estresse físico
ou emocional que, consequentemente, pode interferir na dinâmica laríngea.
Outro aspecto a ser considerado pelo fonoaudiólogo que trabalhará com o paciente cantor é
conhecer as demandas das diferentes formas de canto e estilos musicais de cada profissional.
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Dessa forma, na entrevista inicial, é necessário ouvir e deixar o paciente cantor falar
espontaneamente e, quando necessário, direcionar alguns questionamentos.
Embora o aparelho fonador utilize os mesmos músculos para as funções de falar e cantar,
há diferenças na produção vocal se compararmos essas duas ações.
Vale ressaltar que, do ponto de vista funcional, cantar é uma ação que ocorre no corpo
inteiro. É por meio desse corpo que o cantor exterioriza sua atividade e desempenha o
papel intermediário entre o público e a obra musical.
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UNIDADE IV | SAÚDE VOCAL
vocais causadas pela condição atual da voz. Tais exercícios agem sobre a
musculatura intrínseca e extrínseca da laringe visando, principalmente, à redução
da tensão, ao equilíbrio da qualidade vocal e à melhora da tonicidade muscular
das pregas vocais e movimento ondulatório da mucosa.
Teoricamente, algumas lesões, como pólipos e cistos, têm indicação cirúrgica para
sua completa remoção. Entretanto, nos casos de profissionais da voz, a conduta do
otorrinolaringologista é mais conservadora. Os resultados de uma cirurgia podem,
dependendo dos cuidados pós-cirúrgicos, hábitos de vida ou mesmo da cicatrização do
paciente, trazer riscos de outras alterações de voz e piorar a qualidade vocal do cantor.
Mais um aspecto que merece certas considerações é a reflexão em torno das atuações
do fonoaudiólogo e do profissional de canto, principalmente em relação ao cantor com
distúrbios vocais.
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SAÚDE VOCAL | UNIDADE IV
É uma discussão bastante rica e que precisa continuar acontecendo para que, num
futuro próximo, possamos formar profissionais com certificação nas duas áreas, que
com certeza atuarão com esses clientes, muito confortavelmente.
Cantar é uma atividade física intensa e sofisticada, é uma habilidade que deve ser
aprimorada por meio de práticas constantes, para que o cantor tenha a qualidade vocal
desejada durante toda sua vida útil.
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REFERÊNCIAS
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