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POR QUE SE IMPORTAR COM A

APOLOGÉTICA
DJESNIEL KRAUSE

Apologética é um termo técnico utilizado principalmente no contexto da


teologia cristã. Denota a defesa verbal dos conteúdos da fé cristã em
ambientes intelectualmente hostis à religião.

William Lane Craig, conhecido mundialmente como um dos mais


proeminentes apologistas do século XXI define a apologética como “o ramo
da teologia cristã que busca prover fundamentos racionais para as afirmações
do cristianismo”[1].

A sua função, de acordo com Alister McGrath, é “defender a fé com


delicadeza e respeito. Seu objetivo não é antagonizar ou humilhar os que se
encontram fora da igreja, e sim ajudar a abrir seus olhos para a realidade, a
confiabilidade e a relevância da fé cristã”[2].

Alguns cristãos, entretanto, podem criticar o uso de argumentos e evidências


científicas ou históricas para a demonstração racional da existência de Deus,
uma vez que acreditar ou não em Deus, Jesus Cristo ou qualquer outro item
da doutrina cristã é simplesmente uma questão de fé.

Outros ainda podem afirmam o papel do Espírito Santo na conversão do


indivíduo, em detrimento do discurso e da argumentação filosófica.

É claro que concorda-se quanto ao papel do Espírito Santo na conversão de


qualquer indivíduo, porém entende-se que tal fato não anula o papel do
apologista cristão, que pode ser usado pelo Espírito Santo.
Conforme o apologista pressupossicionalista John Frame, “a apologética é
uma obra soberana de Deus. Ele é quem persuade a mente e o coração do
incrédulo. No entanto, há lugar para o apologeta humano”[3].

Também Ravi Zacharias comenta sobre a relação da ação do Espírito Santo


e a prática da apologética cristã, segundo ele, “o apologista poda os arbustos
a fim de que o ouvinte possa dar uma boa olhada na cruz, e o Espírito Santo
engendra a transformação no coração do indivíduo”[4].

Outra crítica comum entre leigos é a alegação de que toda a argumentação


apologética tende a tornar-se bastante confusa e de difícil compreensão,
alcançando assim, um público reduzido, limitado a acadêmicos e
intelectuais.

A crítica pode se valer do fato de que o número de acadêmicos que se


interessará em assuntos de religião não é tão expressivo, e será ainda menor
o número de pessoas ali que dará ouvidos ao Evangelho, assim, segundo tais
críticos, todo o esforço apologético não vale a pena.

Defende-se aqui que tal raciocínio está deveras equivocado.

Conforme William Lane Craig alega, “esse grupo de pessoas [os


intelectuais], embora relativamente pequeno em número, é enorme em
influência. Uma dessas pessoas, por exemplo, foi C.S.Lewis. Pense no
impacto que a conversão de um homem continua tendo!”[5].

Pode-se listar um considerável número de pessoas que foram fortemente


influenciadas ou que chegaram à fé através das obras de Lewis.

Um brilhante exemplo é “Chuck Colson [, que] enquanto esteve preso por


participar do escândalo de Watergate, leu Cristianismo puro e simples de
Lewis e converteu-se ao cristianismo”[6], após sua conversão, Colson
iniciou um trabalho muito interessante com presidiários e com as famílias de
vítimas da violência e do crime, dando-lhes assistência social e espiritual, a
organização chama-se Prision Fellowship Ministries e tem abençoado a vida
de milhares de pessoas ao redor do mundo.

Também Alasdair Coles, professor sênior de neuroimunologia clínica na


Universidade de Cambridge, afirma que um fator decisivo em sua conversão
“foi a leitura do livro Cristianismo Puro e Simples, de C.S.Lewis, o qual tem
influenciado muita gente e, especialmente, cientistas com mente lógica”[7],
e por falar em mente lógica, uma das mais belas descrições do que a pena de
Lewis foi capaz de fazer vem de Francis Collins, hoje diretor do National
Institutes of Health, nos Estados Unidos, e ex-diretor do projeto Genoma,
responsável pelo mapeamento do DNA humano.

Collins reflete acerca de sua leitura de Cristianismo Puro e Simples:


“Nos poucos dias que se seguiram, conforme eu folheava as páginas, lutando
para absorver a amplitude e a profundidade dos argumentos intelectuais
apresentados pelo lendário acadêmico de Oxford, percebi que todos os meus
argumentos contra a aceitação da fé eram dignos de um garoto em idade
escolar. Obviamente eu tinha de começar do zero para considerar aquela que
é a mais importante de todas as questões humanas. Lewis parecia conhecer
todas as minhas objeções, algumas antes mesmo de eu formulá-las. Falou
sobre elas em uma ou duas páginas. Quando, mais tarde, descobri que o
próprio Lewis havia sido um ateu que se propusera reprovar a fé com base
em argumentações lógicas, percebi como ele pôde conhecer tão bem minha
trilha. Ele também a tinha percorrido[8].”.
Louis Markos enaltece C.S. Lewis dizendo que:
“Não é exagero dizer que, de alguma maneira, todos os apologistas modernos
foram influenciados por Lewis. Tenham eles sido trazidos a fé pela leitura
de Cristianismo puro e simples, encorajados por seu testemunho ou
influenciados por seus principais argumentos, as últimas duas gerações de
apologistas têm uma dívida profunda e eterna com Lewis[9].”
A intenção claramente não é engrandecer a figura de C.S. Lewis, mas sim
demonstrar o potencial da apologética cristã, que, ainda que alcance um
número pequeno de pessoas, pode influenciar de modo muito positivo a
cultura de um país.
Na verdade, de acordo com Craig, influenciar o ambiente cultural de modo
a manter o cristianismo como uma opção intelectualmente viável é
exatamente uma das principais tarefas da apologética cristã.

Em suas palavras, “a tarefa mais ampla da apologética cristã é ajudar a criar


e manter um ambiente cultural em que o evangelho possa ser ouvido como
uma opção intelectualmente viável para homens e mulheres pensantes”[10].

Em outro lugar, Craig explica um pouco mais sobre a importância de um


ambiente cultural favorável ao cristianismo, “alguém criado em um meio
cultural em que o cristianismo ainda é visto como uma opção
intelectualmente viável terá maior abertura ao evangelho que outra pessoa
criada em um ambiente secular”[11].

Não apenas isso, mas algumas vezes os ambientes culturais podem tornar-se
tão secularizados e distantes dos princípios cristãos de modo que a vida
humana perde sua dignidade e valor e verdadeiras carnificinas são
promovidas.

Alister McGrath afirma que “como o surgimento do nazismo e stalinismo já


têm tornado muitíssimo claro, tendências culturais precisam ser criticadas.
Não se pode permitir que sejam normativas.”[12].

Um exemplo interessante a se considerar é a influência de uma obra do


século XX chamada The Christ Myth [O mito de Cristo], cujo autor se
chamava Arthur Drews, em tal obra, Drews argumentava que Jesus não foi
uma figura histórica real.

Para Bart Ehrman, estudioso do Novo Testamento, esta obra:


“Foi possivelmente o livro de miticismo mais influente já escrito, graças ao
seu enorme impacto sobre um leitor em particular. Essa obra convenceu
Vladimir Ilyich Lenin de que Jesus não foi uma figura histórica real. Isso foi
um dos principais motivos da popularização da teoria mítica na então recém-
criada União Soviética”[13].”
A vida de Lênin, e consequentemente sua política, foi inspirada e sustentada
por uma cosmovisão ateísta e resultou na morte de milhares de pessoas.

É claro que os “se” da história são altamente especulativos, mas é


interessante imaginar como teria sido se Lênin tivesse tido contato com
outras obras de viés apologético, como por exemplo, The Testimony of the
Evangelists, de Simon Greenleaf, de 1846.

Assim, torna-se claro que a apologética cristã deve ser amplamente utilizada
nos ambientes intelectualmente hostis à fé, de modo que as tendências
culturais que se opõem às verdades do cristianismo sejam questionadas e
devidamente refutadas e o ambiente cultural mantenha-se sempre favorável
à pregação do Evangelho.
NOTAS

[1] CRAIG, William Lane. In: BECKWITH, Francis J. CRAIG, William


Lane. MORELAND, J.P. (Ed.) Ensaios apologéticos: um estudo para uma
cosmovisão cristã. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 21.

[2] MCGRATH, Alister. Apologética pura e simples: Como levar os que


buscam e os que duvidam a encontrar a fé. São Paulo: Vida Nova, 2013, p.
13.

[3] FRAME, John. Apologética para a glória de Deus. Tradução de Wadislau


Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 21.

[4]ZACHARIAS, Ravi. In: CARSON, D.A. (Org.) A verdade: como


comunicar o evangelho a um mundo pós-moderno. São Paulo: Vida Nova,
2015, p. 45.

[5] CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé


cristã. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 22.
[6] MARKOS, Louis. Apologética cristã para o século XXI. Rio de Janeiro:
Central Gospel, 2013, p. 292.

[7] COLES, Alasdair. In: BANCEWICZ, Ruth (Org.). O teste da fé: os


cientistas também crêem. Viçosa: Editora Ultimato, 2013, p. 36.

[8] COLLINS, Francis. A linguagem de Deus: um cientista apresenta


evidências de que Ele existe. 3 ed. São Paulo: Editora Gente, 2007, p. 29.

[9] MARKOS, 2013, p. 25.

[10] CRAIG, 2012, p. 17.

[11] CRAIG. In: BECKWITH, CRAIG, MORELAND, 2006, p. 24.

[12] MCGRATH, Alister. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do


evangelicalismo. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 60.

[13] EHRMAN, Bart D. Jesus existiu ou não? Tradução de Anthony Cleaver.


Rio de Janeiro: Agir, 2014, p. 24.

REFERÊNCIAS

BANCEWICZ, Ruth (Org.). O teste da fé: os cientistas também crêem.


Viçosa: Editora Ultimato, 2013.

BECKWITH, Francis J. CRAIG, William Lane. MORELAND, J.P. (Ed.)


Ensaios apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. São Paulo:
Hagnos, 2006.
CARSON, D.A. (Org.). A verdade: como comunicar o evangelho a um
mundo pós-moderno. São Paulo: Vida Nova. 2015.

COLLINS, Francis. A linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências


de que Ele existe. 3 ed. São Paulo: Editora Gente, 2007.

CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé


cristã. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.

EHRMAN, Bart D. Jesus existiu ou não? Rio de Janeiro: Agir, 2014.

FRAME, John. Apologética para a glória de Deus. São Paulo: Cultura Cristã,
2010.

MARKOS, Louis. Apologética cristã para o século XXI. Rio de Janeiro:


Central Gospel, 2013.

MCGRATH, Alister. Apologética pura e simples: Como levar os que buscam


e os que duvidam a encontrar a fé. São Paulo: Vida Nova, 2013.

_____. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evangelicalismo. São


Paulo: Shedd Publicações, 2007.

FONTE: https://www.napec.org/apologetica/por-que-se-importar-com-a-
apologetica/

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