Você está na página 1de 5

Creio que ao orarmos publicamente, muitos de nós não têm a noção exata se está edificando

ou enfadando aqueles que nos ouvem enquanto nos dirigimos a Deus. Em oposição a
orações estudadas e formais, muitas vezes divagamos em nossas vãs repetições. Noutra
situação é difícil dizer "AMÉM!", quando malmente se consegue ouvir o que foi dito pelo
que ora. Queira Deus que aqueles que oram publicamente possam ser acompanhados, em
atitude de adoração, e ao final, a congregação possa dizer com convicção e para a glória do
Senhor: "ASSIM SEJA!".

Zoênio Filho

***

ORAÇÃO PÚBLICA
Por John Newton

Seria muito desejar que nossos corações fossem, de tal forma, movidos pelo senso das
coisas divinas e tão intimamente empenhados quando adoramos a Deus, que pequenas
circunstâncias não tivessem o poder de nos interromper ou desconcentrar, ou de nos fazer
achar o culto enfadonho e o tempo que empregamos nele, tedioso. Mas, como nossas
debilidades são grandes e muitas, e o inimigo de nossas almas é vigilante para nos
descompor, se aqueles que dirigem as reuniões de oração não tomarem cuidado, elas
poderão tornar-se um peso e uma ocasião de pecado.

A Duração das Orações Públicas

A principal falta de algumas boas orações é que elas são muito longas; não que eu ache que
devemos orar pelo relógio e limitar-nos precisamente a um certo número de minutos, mas é
melhor que os ouvintes desejem que a oração seja mais longa, do que passem metade do
tempo desejando que ela acabe.

Isto freqüentemente se deve a uma delonga desnecessária sobre cada circunstância que se
apresenta, bem como repetições das mesmas coisas.

Se tivermos nos estendido nas súplicas por bênçãos espirituais, é melhor ser breve e
sumário na intercessão por outros. Ou se a disposição de nossos espíritos, ou as
circunstâncias nos conduzam a ser mais extensos e minuciosos em expor os casos de outros
perante o Senhor, deveríamos nos lembrar desta intenção, no início da oração.

Existem, sem dúvida, épocas em que o Senhor se agrada em favorecer aqueles que oram,
com peculiar liberdade. Eles falam porque sentem. Eles tem um espírito lutador e tem
dificuldades para desistir.
Quando este é o caso, aqueles que se juntam a eles raramente se cansam, apesar da oração
exceder os limites usuais. Mas eu creio que algumas vezes acontece, tanto na oração quanto
na pregação, de nos prolongarmos quando na realidade temos pouco a dizer.

Orações longas deveriam ser, de maneira geral, evitadas, especialmente onde muitas
pessoas orarão sucessivamente, do contrário, mesmo ouvintes espirituais não conseguirão
manter sua atenção. E aqui eu gostaria de notar uma impropriedade que nos defrontamos:
quando uma pessoa dá a expectativa que está para concluir sua oração, e alguma coisa, não
considerada no devido tempo, ocorre naquele instante a sua mente, e o conduz como se
começasse de novo. Mas, a menos que seja um assunto de singular importância, seria
melhor que fosse omitido.

Pregando nas Orações Públicas

As orações de alguns bons homens são mais como pregações do que orações. Eles antes
expressam a mente do Senhor para o povo, do que os desejos do povo para o Senhor. Na
verdade, isto dificilmente pode ser chamado oração. Poderia, em outra ocasião, fazer parte
de um bom sermão, mas proporcionará pouca ajuda àqueles que desejam orar com seus
corações.

A oração deve ser concisa e composta de suspiros ao Senhor, tanto de confissão, petição
como de adoração. Não deveria ser somente bíblica e evangélica, mas experimental;
expressão simples e natural dos desejos e sentimentos da alma. Assim será se o coração
estiver vívido e envolvido no dever. Deve ser assim, se a edificação de outros é o alvo em
vista.

Método nas Orações Públicas

Muitos livros tem sido escritos para assistir no dom e exercício da oração, e muitas
sugestões úteis podem ser obtidas deles. Mas uma cuidadosa atenção ao método neles
recomendados, transmite um ar de estudo e formalidade, e ofende aquela simplicidade tão
essencialmente necessária a uma boa oração, cuja falta nenhum grau de habilidade pode
compensar. É possível aprender a orar mecanicamente e por hábito; mas dificilmente é
possível fazer isto com aceitação e benefício de outros

Quando as muitas partes de invocação, adoração, confissão, petição, etc., seguem-se numa
ordem estabelecida, a mente do ouvinte geralmente vai antes da voz do orador, e podemos
formar uma suposição razoável do que se seguirá.

Por conta disso, freqüentemente achamos que pessoas incultas, que tiveram pouca ou
nenhuma ajuda de livros, ou antes, não foram agrilhoados por eles, podem orar com unção
e aroma, num modo impremeditado, enquanto que as orações das pessoas de mais
habilidades, talvez mesmo os próprios ministros, são, apesar de acuradas e regulares, tão
secas e formais, proporcionando pouco prazer ou proveito para a mente espiritual. O
espírito de oração é o fruto e o sinal do espírito de adoção.
Os discursos estudados com os quais alguns se aproximam do trono da graça, nos lembram
o exemplo de um estranho que chega a porta de um homem importante. Ele bate e espera,
entrega seu cartão e passa por uma seqüência cerimonial antes de conseguir entrada,
enquanto que uma criança da família sem cerimônia alguma, entra livremente, quando
deseja, porque sabe que ele está em casa.

É verdade que devemos sempre nos aproximar do Senhor com grande humilhação de
espírito e um senso de nossa indignidade. Mas este espírito não é sempre melhor expresso
ou promovido por uma enumeração pomposa dos nomes e títulos de Deus, ou pela fixação
em nossas mentes, de antemão, da ordem exata que propusemos arranjar as diversas partes
de nossa oração.

Alguma atenção em relação ao método pode ser apropriada, com o objetivo de nos prevenir
das repetições, e pessoas simples podem ser defeituosas nisso, às vezes; mas este defeito
não será tão cansativo e desagradável quanto uma precisão estudada e artificial.

Peculiaridades de Maneira na Oração Pública

Muitas pessoas, talvez a maioria que oram em publico, tem alguma palavra ou expressão
favorita a qual recorre, muito freqüentemente, em suas orações, e a usam, repetidamente,
como uma mera expletiva, não tendo, necessariamente, conexão com o sentido daquilo que
elas estão falando.

A mais desagradável é quando o nome do bendito Deus, em adição a um ou mais epítetos,


tais como Grande, Glorioso, Santo, Todo-Poderoso, etc., é introduzido, com tal freqüência
e desnecessariamente que, nem indica uma justa reverência na pessoa que faz uso dela, nem
estimula reverência naqueles que a ouvem.

Eu não direi que isto é tomar o nome de Deus em vão, no sentido usual da frase. É,
entretanto, uma grande impropriedade e deveria ser evitada. Seria bom se aqueles que usam
expressões redundantes, tivessem um amigo que lhes avisassem para que pudessem, com
um pouco de cuidado, serem restringidos; e dificilmente alguém percebe as pequenas
peculiaridades que podem, inadvertidamente, adotar, a menos que sejam avisados sobre
elas.

Do mesmo modo, existem muitas coisas no que se refere a voz e a maneira de orar, que
uma pessoa pode, com a devida atenção, corrigir em si mesma, e que, se corrigidas de
modo geral, poderiam tornar reuniões de oração mais agradáveis do que algumas vezes são.

Falar muito alto é uma falta, quando o tamanho do lugar e o número de ouvintes não o
requeiram. O objetivo de se falar em publico é ser ouvido, e quando para se conseguir este
objetivo é necessário uma elevação do tom de voz, é, freqüentemente, prejudicial ao orador
e é mais provável que confunda o ouvinte do que atraia sua atenção. Considero porém que
deva ser levada em consideração a constituição física, bem como o fervor, que dispõe
algumas pessoas a falar mais alto do que outras. Apesar disso, elas farão bem em conterem-
se tanto quanto puderem. Pode parecer indicar grande zelo e um coração zeloso, contudo,
geralmente são fogo falso. Pode imaginar estar falando "com poder", mas uma pessoa que é
favorecida com a presença do Senhor pode orar com poder numa voz moderada; por outro
lado, pode-se ter muito pouco poder do Espírito, apesar de se poder ouvir a voz na rua e na
vizinhança.

O outro extremo, de falar muito baixo, não é tão freqüente, mas se não somos ouvidos,
devemos mantermos calados

Fatiga o espírito e enfada, estar ouvindo, por qualquer tempo, uma voz muito baixa.
Algumas palavras ou sentenças serão perdidas, o que tornará aquilo que é ouvido, menos
inteligível e deleitável. Se o orador pode ser ouvido pela pessoa que está mais distante dele,
o resto o ouvirá com certeza.

Do mesmo modo, o tom da voz deve ser considerado. Alguns tem um tom de voz, quando
oram, tão diferente de seu modo usual de falar, que seus amigos mais próximos, se não
habituados a ele, dificilmente os reconheceria por sua voz. Algumas vezes o tom é mudado,
talvez mais de uma vez, de modo que se nossos olhos não nos der mais informações do que
nossos ouvidos, pensaremos que duas ou três pessoas estão falando por turnos. É uma pena
que, apesar de entendermos o que é dito, possamos ser tão facilmente desconcertados por
uma entrega inabilitada. Isto é freqüente e provavelmente o será, na presente fraqueza e
imperfeição da natureza do estado humano. Lamentamos que cristãos sinceros são algumas
vezes forçados a confessar: "Ele é um bom homem, e suas orações, quanto a sua substância,
são espirituais e judiciosas, mas há algo tão desagradável na maneira de entregá-la, que fico
sempre inquieto ao ouvi-lo".

Informalidade na Oração Pública

O contrário disto, e ainda mais ofensivo, é o costume que alguns tem de conversar com o
Senhor na oração. É a sua voz natural, de fato, mas com expressões que usariam somente
em ocasiões mais familiares e triviais. A voz humana é capaz de tantas inflexões e
variações, que pode adaptar-se a diferentes sensações de mente, como alegria, tristeza,
medo, desejo, etc. Se um homem estiver suplicando por sua vida, ou expressando seu
agradecimento a um rei por um perdão recebido, o senso comum e decoro o ensinariam a
maneira apropriada; e qualquer um que não entendesse sua língua, saberia pelo som da sua
voz, que ele não estaria fazendo uma barganha ou contando uma história. Quanto mais
quando falamos com o Rei dos reis, deveria a consideração de Sua glória, de nossa própria
vileza e da importância dos assuntos que estivermos tratando diante dEle, nos afetar com
um ar de seriedade e reverência e nos prevenir de falar com Ele como se Ele fosse um de
nós! A liberdade, a qual somos chamados pelo Evangelho, não nos encoraja a tal
atrevimento e familiaridade, da mesma forma que seria impróprio usá-las a um semelhante,
que esteja um pouco acima de nós, no que diz respeito a honra do mundo.

Eu me alegrarei se estas sugestões forem de algum serviço àqueles que desejam adorar a
Deus em espírito e verdade, e que desejam que qualquer coisa que tenha tendência a
sufocar o espírito de devoção, tanto em nós mesmos quanto em outros, deva ser evitada.

 
Nota sobre o Autor:

John Newton,

(1725-1807) Clérigo anglicano e escritor de hinos. Filho de um capitão de mar mercantil,


ele teve uma infância insegura e mocidade turbulenta que incluiu vários períodos de intensa
experiência religiosa. Ele foi forçado a se unir a Marinha Real, mas tentado escapar, foi
preso na África Ocidental, e eventualmente se tornou marinheiro de um navio comerciante
de escravos. Em 1747 ele subiu a bordo de um navio para a Inglaterra, mas uma tempestade
violenta no Atlântico Norte quase os afundou. Para Newton era um momento de revelação,
e ele se voltou para Deus.

Não obstante, prosseguiu no comércio de escravos, mas em 1755 ele deixou o mar. Em
Buckinghamshire, ele exerceu um ministério próspero de quinze anos, ajudando o poeta
William Cowper e também ficou extensamente conhecido. Os dois produziram os Hinos de
Olney dos quais um bom número é ainda usado em geral e incluem "Amazing grace,"
"How sweet the name of Jesus sounds" e "Glorious things of thee are spoken". Em 1779
Newton se mudou para Londres, tornando-se vigário de St. Mary, Woolnoth. A influência
dele era sentida amplamente, especialmente no mundo evangélico. "O Messias" de Handel
tinha feito um impacto enorme em Londres, e Newton pregou uma série famosa de sermões
nos textos que Handel tinha usado como libretto. Depois disto o jovem William
Wilberforce buscou aconselhar-se com ele. Nos anos posteriores, Newton tornou-se parte
principal na campanha política de Wilberforce que conduziu à abolição do comércio de
escravos na Inglaterra.

Você também pode gostar