O Reino do Huambo, também chamado de Wambu, foi um Estado nacional africano, localizado no

Planalto Central de Angola, que teve como capitais as localidades de Ganda-a-Caué (actual Caála) e
Huambo-Cabral Moncada (actual Lépi).

Reino do Huambo

1650 — 1903

Os cinco grandes reinos ovimbundos (e demais reinos tradicionais da região) na segunda metade do
século XVIII

Região

África Central

Capital

Ganda-a-Caué (1650-1902)

Huambo-Cabral Moncada (1902-1903)

Países atuais

Angola

Línguas oficiais

Umbundo

Religião

Animismo

Soma Inene

• 1650–1690 Wambu Kalunga

• 1903 Livonge

Período histórico

Idade Moderna

Idade Contemporânea

• 1650 Fundação
• 1903 Dissolução

Seu território compreendia boa parte da província do Huambo, sendo uma das quatro grandes
entidades nacionais dos ovimbundos.

Sua formação como entidade nacional se deu por volta do século XVII, sob a égide do Soma Inene
(Rei) Wambu Kalunga, sendo que só foi finalmente subjugado pelo Império Colonial Português em
1903.

O reino do Huambo é um dos reinos tradicionais do povo Ovimbundu, que segundo Childs, são os
seguintes:

Bailundu (Bailundu ou Bailundo),

Viye (Bie’ ou Bihe),

Wambu (Huambo, Huamba ou mesmo Hambo),

Ciyaka (Quiyaca ou Quiaca),

Ngalangi (Galangue),

Cívula (Quibula),

Ndulu (Andulo, Ondulo ou mesmo Ondura),

Cingolo (Quingolo),

Kalukembe (Caluquembe, Caluguembe, ou mesmo Caluqueme),

Sambu (Sambo ou Sambos),

Ekekete (Quiquete),

Kakonda ou Cilombo-cofioma (Caconda ou Quilombo),

Citata (Quitata).

Wambu e Ngalangi estão ligados desde o princípio à lenda de Feti e Koya, o Adão e Eva dos
Ovimbundu. Ndulu estará ligado à dissolução do reino de Ngola após a captura da sua capital,
Pungu-a-Ndongo, em I671.

Os vanganda são o povo mais antigo do reino de Wambu, e a sua capital, Mbola, localizava-se em
Nganda la Kaué, um aglomerado rochoso de granito formado por dois morros principais que distam
entre si cerca de 1,5 kms, situado a meia dúzia de kms de Caála (Vila Robert Williams).
Nganda deve o seu nome ao primeiro rei, e Kaué, à sua mulher. Outra tradição faz da própria Rainha
Kaué a primeira governante Vanganda (durante muito tempo, as raparigas do Huambo usavam
cumprimentar dizendo Kawé).

Uma corrente tradicional atribui a Ngola Ciluanji, ou Nglola Kiluanji, filho de Feti e Koya, a fundação
do reino de Wambu, que não teria perdurado neste local por ter seguido para a região de Luanda a
fim de fundar o reino de Ngola. Não é, porém, a corrente maioritária de tradição oral, que atribui a
fundação do reino a Wambo Kalunga.

Quando Wambu Kalunga, um jaga dos arredores do Sumbe, no Kuanza, chegou à região, encontrou
Cimbili reinando em Mbola, a capital. Sem disputas, breve alcançou o estatuto de rei dos Huambos,
pois Cimbili não lhe fez frente.

Wambu Kalunga terá saído da sua região natal, provavelmente do Seles, e seguido o rio Keve desde
a sua foz em Esele ou Mbiii (perto de Benguela Velha, Porto Amboim), para Mbave perto da
nascente do rio. Durante essa jornada ele foi caçando elefantes.

Os sobrinhos de Wambu Kalunga, Cihamba e Katutu, foram os iniciadores de um reino, em Ciyaka.

O jaga Wambu Kalunga dedicou toda a sua vida anterior, a realizar ataques a caravans e a indígenas,
tendo adquirido o hábitodos seus ancestrais de alimentar gosto pela carne humana.

Quando se estabeleceu como rei Wambu, capturava os filhos de seus súbditos e comia porções de
cadáveres recém-enterrados.

Para acabar com este estado de coisas. os súbditos do reino armaram um ardil a Kalunga. O líder
Kesongo fingiu estar morto, e foram então iniciados os rituais fúnebres. Kesongo, com o couro de
boi a envolver o seu corpo e amarrado a uma vara, foi colocado no interior de uma caverna.

A noite, quando Wambu Kalunga penetrou na caverna para se satisfazer de um pedaço de carne do
defunto, o Kesongo atingiu-o com uma lança, matando-o.
Uma outra tradição diz que a arma escondida não era uma lança, mas uma faca, e que Wambu
Kalunga saiu da caverna dizendo, gritando, que ‘tinha visto um presságio’ ou um fantasma. Doente
da barriga, morreu três dias depois.

Dependentes de Wambu Kalunga, residentes na rocha vizinha de Njongolo, mudaram-se, após a sua
morte, para Ciyaka, estabelecendo-se numa cordilheira do outro lado do vale de Monte Elende*,
dando-lhe o nome de Ngongolo.

Wambu Kalunga foi o único ‘Jaga’ que governou o reino de Wambu.

Jaz sob uma pilha de pedras que marca o túmulo onde foi enterrado, com uma concubina e dois
filhos, perto da grande rocha Kawe.

Após a sua morte, a capital do reino foi transferida para Samissassa, até 1902.

Galeria de Ilustrações

(clique na gravura para zoom)

Mapa das capitais do reino de Huambo

Mapa de Huambo e das regiões vizinhas

Mapa da Pedra Nganda, sede do reino até 1640

Legendas: 1. Entrada para a Caverna Maior; 2. Saída da caverna Maior; 3. Rocha indicadora; 4.
Elombe ou Caverna do Palácio; 5 Caverna onde foi esfaqueado Wambo Kalunga; 6. Rocha das
gravuras;

7. Rocha dos alertas; 8. Pedra grande de abrigo

Mapa das ruínas de Samissassa, a antiga capital do reino de Huambo, entre 1640 e 1902

LOG2024

1. Notas do autor (*):

Monte Elende: Serra a cerca de 20 kms a NE de Ukuma

Samissassa: antiga capital situada a norte de Livongue e a nordeste do Forte da Quissala. Ganhou
esse estatuto cerca de 1 640, data em que o reino do Huambo deixou de estar ligado, como
residência do Rei, aos morros Nganda la Caué.

2. Fontes:

The Kingdom of Wambu (Huambo): a tentative chronology

By GLADWYN M. CHILDS

Journal of African History, v, 3 (I964)

3. Advertência

Ao longo da elaboração deste pequeno texto sobre o Rei do Huambo, encontrámos, nas narrativas
paralelas à de Childs, múltiplas versões sobre alguns factos aqui narrados, e que reproduzem o
sentido constante das obra de um dos principais europeus que procedeu à recolha dos testemunhos
orais que constituiu a sua primeira ferramenta.

Esses testemunhos variam no tempo, e encontrámos múltiplas versões de factos que só podem
dever-se a quebras no conhecimento transmitido oralmente, a pesquisas de menor rigor, ou
corrupção dos resultados.

Por todas, faço menção: ao facto de a Wikipedia considerar Huambo Kalunga proveniente da Cela,
em vez de região do Seles, como é unânime entre os autores consagrados, e mais antigos; ao facto
de o atual titular do reino de Huambo referir que a capital Samissassa foi fundada em 1500,
enquanto Childs e demais autores consagram a data de 1640, mais provável, até pelo facto de
Kalunga ter residido em Nganda e não em Samissassa.