Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Compêndio Versão Jejebebebe
Compêndio Versão Jejebebebe
Compêndio Acadêmico
O QUE É
TRABALHO?
Compêndio Acadêmico
O QUE É
TRABALHO?
Izabel Cristina Leite de Lima
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
Mossoró/RN
2021
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 3
O que é trabalho?
Autora
Izabel Cristina Leite de Lima
Orientadora
Profª. Dra. Sonia Cristina Ferreira Maia
Revisão de texto
Leonor Oliveira
FICHA CATALOGRÁFICA
Biblioteca IFRN – Campus Mossoró
Fábrica
Renato Russo
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 5
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 06
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I 08
1 “Sentes, pensas e sabes que pensas e sentes”: o trabalho como
ontologia do ser.
CAPÍTULO II 14
2 “Desde que o mundo é mundo”: as metamorfoses do trabalho.
CAPÍTULO III 23
3 “Enquanto o filho rico estuda e vai ser doutor, o filho do pobre nasce
escolaridade/qualificação X desemprego.
CAPÍTULO VI 28
4 “Como podia um operário em construção compreender por que um
tijolo valia mais do que um pão?”: uma discussão sobre o trabalho
CAPÍTULO V 35
Arte para discutir trabalho: sugestões d e poemas, m úsicas e f ilmes
CONSIDERAÇÕES FINAIS 49
REFERÊNCIAS 50
1 Trecho do Poema “Sentes, pensas e sabes que pensas e sentes” do heterônimo Alberto caieiro de Fernando Pessoa.
2 Trecho da poesia “Trovoada” da Professora Elenice Gomes de Oliveira.
3 Trecho da música “Diploma de pobre” composta por João Batista da Silva, Príncipe Veludo e Jorge Santos/1953.
4Trecho do Poema “Operário em Construção” de Vinícius de Morais, publicada em 1959, que teve uma versão em música
cantada por Taiguara.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 6
Apresentação
Introdução
CAPÍTULO
I
Capítulo I
Introduzimos essa seção com o poema de Alberto Caeiro, o qual nos traz
algumas questões iniciais para refletirmos sobre os sentidos do trabalho. No poema, o
autor sugere alguns elementos que supostamente nos diferenciam dos demais seres,
como plantas e pedras; e é neste ponto que queremos abordar o trabalho inicialmente.
Para tal, indagamos: o que nos diferencia dos outros animais? A resposta é enfática:
o trabalho. Vejamos o conceito de Marx:
5 Trecho do Poema “Sentes, pensas e sabes que pensas e sentes” do heterônimo Alberto Caieiro de Fernando
Pessoa.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 11
Coadunando com Marx, Borges (2017) aborda o trabalho como uma atividade
humana, que diferencia o homem dos demais animais. Isso porque, ao interagir com a
natureza de forma consciente, o homem dos demais animais. Isso porque, ao interagir
com a natureza de forma consciente, o homem produz sua sobrevivência ao passo
que se reproduz como ser social. A ação consciente em forma de trabalho faz com que
o homem se humanize, ou seja, se distancie de suas condições naturais de origem e
se torne um ser social. Isso ocorre, pois, ao transformar a natureza o homem não o
faz sozinho, ele o faz em relação com o outro humano. Borges então argumenta que:
É certo que o trabalho humano tem uma longa trajetória histórica desde o
trabalho escravo nas civilizações antigas, como o trabalho servil na Idade Média. Para
Platão, o trabalho era uma atividade da qual o homem deveria ser poupado e, para
Aristóteles, a atividade política se sobrepunha a atividades braçais. Em Roma, essa
concepção de trabalho manual como inferior também era designada aos escravos e
o ócio era visto como privilégio daqueles que detinham o poder sobre os escravos e
servos. Tal conotação negativa do trabalho só vai sofrer mudanças com a Reforma
protestante, que passará a conceber o trabalho como uma forma de servir a Deus e,
por consequência, conseguir a salvação. Conforme demonstra Della Fonte (2018),
Max Weber considerava que “o espírito do capitalismo envolve uma ética de vida
que condena o ócio e a preguiça e abraça uma orientação na qual o indivíduo vê a
dedicação ao trabalho e a busca da riqueza como um dever moral” (p. 9).
Assim posto, segundo Borges e Yamamoto (2014):
Tal assertiva nos faz retomar às contribuições de Frigotto sobre esse tema,
visto que para o autor não devemos reduzir o trabalho a emprego, assim como Borges
também concorda que ambos não são sinônimos, porém não são antítese.
Após essas discussões em torno da etimologia da palavra trabalho,
abordaremos na próxima seção as metamorfoses que o trabalho sofreu ao longo do
tempo e suas consequências para a classe trabalhadora. Será um breve histórico de
como chegamos até aqui e as relações sociais que se estabeleceram no processo de
produção do trabalho, desde as sociedades primitivas até a consolidação do modo de
produção capitalista.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 14
CAPÍTULO
II
Capítulo II
divisão do trabalho. Se antes essa divisão era demarcada pelo sexo e faixa etária,
surgia a partir desses novos fatores, o aparecimento de novas classes sociais
que, de acordo com Manfredi (2016), eram compostas por: “agricultores, artesãos,
comerciantes, guerreiros, senhores feudais, padres” (p. 35-36).
No período histórico acima exposto, surgem as primeiras protoformas de ofícios
e profissões, graças às mudanças de organização na cadeia produtiva e sistemas
econômicos das sociedades que, como explanamos, foram se reconfigurando ao
longo do tempo. Se antes, nas sociedades pré-industriais, tínhamos uma economia de
subsistência, em que o trabalhador pré-industrial, apesar do trabalho árduo, detinha
o controle do seu processo de trabalho, com a indústria esse trabalho sofre uma
reorganização.
Com a ascensão do capitalismo, o trabalho passou a ser uma mercadoria a
qual, quanto mais gera lucro para o capital, mais valor é agregado a ele. Partindo
desse aspecto, Marx discute dois tipos de trabalho: produtivo e improdutivo. O trabalho
produtivo para Marx é aquele que produz mais-valia e gera lucro para o capital. Ao
contrário do produtivo, o trabalho improdutivo não produz mais-valia. Vejamos esse
exemplo dado por Marx (1985) apud Duarte (2017):
6 Marx cita dois tipos de mais-valia: mais-valia absoluta, na qual o capitalista aumenta as horas de trabalho; e a mais-valia
relativa, em que o capitalista introduz maquinaria e tecnologias para aumentar a produção e tornar o trabalho mais produtivo
aumentando seu lucro.
7 Para uma leitura mais aprofundada sobre o tema além do livro do próprio Marx, O capital, sugerimos leituras mais didáticas
como a encontrada no livro “A distinção marxiana entre trabalho concreto e trabalho abstrato” de Mattos (2019).
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 18
Diante de tudo o que foi exposto, desse breve histórico de mutações do trabalho,
é fato que conhecer tais condicionantes desse complexo movimento de metamorfoses
sofrido pelo trabalho ao longo dos anos é esclarecedor. Neste sentido, Antunes (2004)
afirma que:
Antunes (2004), a partir de seu estudo nos informa que, com a mundialização
do capital, na sua forma atual demonstra uma heterogeneidade da força de
trabalho, incorporando trabalhadores do proletariado industrial, trabalhadores
improdutivos que, como já vimos, não produzem mais-valia. Abrange também o
proletariado rural, das regiões agroindustriais, o trabalhador fabril, trabalhadores
informais, temporários e a massa de desempregados. Essa é a heterogeneidade
em que se encontra a classe que vive do trabalho nos tempos atuais. Para este
autor, a classe trabalhadora atual é bem mais ampla que a do século passado.
Para ele a classe trabalhadora é composta pelo conjunto de seres sociais que
vendem sua força de trabalho, assalariados e desprovidos dos meios de produção.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 22
8 Refere-se ao novo processo de relações de produção nas indústrias que teve início com a Terceira Revolução
Industrial na década de 1970, como resposta à crise do Fordismo/Taylorismo.
9 De acordo com Festi (2020), a partir dos anos 70 o capitalismo enfrentou uma grande crise estrutural e como
consequência houve regressão dos direitos sociais. Iniciava-se de, acordo com o autor, o neoliberalismo, que ele
destaca como sendo uma fase de “destituição das forças produtivas e financeirização da economia”.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 23
CAPÍTULO
III
Capítulo III
10 Teoria difundida por Theodoro Schultz que emergiu da crise do Estado de Bem-Estar Social. Segundo Frigotto
(2015) tal teoria tomava como base a observação de famílias que investiam em educação tinham um maior
retorno econômico que as demais. “O resultado é que a noção de capital humano sedimenta um reducionismo da
concepção de ser humano, ignorando a estrutura desigual e antagônica das classes sociais” (p. 216).
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 26
Coadunando com o que foi exposto acima, Frigotto (2008) também considera
que ao basearmos a noção de educação ancorada no capital humano, incorre a ideia
de que os países pobres se encontram nessa situação de precariedade e desemprego
por não investirem em educação, o que, em quanto a essa questão do não investimento
em educação. Porém, minimiza-se o fato de que esses países foram historicamente
expropriados de condições materiais e estruturais. Como podem esses países
investirem em educação? Indaga Frigotto (2008). Ou seja, aceitar tal premissa sem
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 27
CAPÍTULO
IV
Capítulo IV
11 De acordo com Ramos (2008), “Politecnia significa uma educação que possibilita a compreensão dos princípios
científico-tecnológicos e históricos da produção moderna, de modo a orientar os estudantes à realização de
múltiplas escolhas (p. 3).
12 Antonio Gramsci foi um filósofo italiano, marxista.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 31
13 “O paradoxo aparente consiste na afirmação que diz ser o trabalho industrial o princípio pedagógico enquanto
não trabalho, porque a potencialidade última (e intencionalidade socialista) do trabalho industrial é a própria liber-
tação do homem do reino da necessidade, isto é, do trabalho” (NOSELLA, apud MARTINS, 2000, p. 27).
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 32
Com tal assertiva, o autor entende que, por ser o trabalho uma forma do homem
produzir-se e reproduzir-se, este tem um papel educativo pensado primordialmente
até mesmo antes de processos pedagógicos escolares, mas como algo inerente ao
homem, que na sua relação com a natureza, com o intuito de sobreviver, ele não o fez
sozinho; fez em conjunto com um processo de socialização.
É fato que alguns autores, como Tumolo (2015), consideram impossível
a efetivação de uma educação pautada no trabalho como princípio educativo na
sociedade capitalista. Isso porque, para esse autor, o fato de pertencermos a uma
sociedade baseada no modo de produção capitalista, na qual o trabalho está inserido
na forma social do capital como mercadoria, a educação nela ofertada atenderia
apenas aos interesses do capitalismo. O que não é de um todo equivocado. Sabemos
dos limites impostos a educação na sociedade capitalista atual. Porém, outros autores,
discutem um tipo de ensino que pode representar a passagem para um outro tipo de
escola, nos moldes da escola unitária defendida por Gramsci. Mas que tipo de ensino
seria esse? E que tipo de educação ele pretende superar?
Neste sentido, Ramos (2008) argumenta que:
14 Omnilateralidade é um termo marxista que se refere a capacidade do homem de conceber o processo do tra-
balho em toda a sua totalidade, oposto ao conceito de unilateralidade que se observa na indústria capitalista de um
trabalhador que apenas executa uma tarefa.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 33
que a casa de um homem é um templo. Um templo sem religião. Que a casa que
ele fazia, sendo a sua liberdade era a sua escravidão”, reforça a alienação na qual o
trabalhador foi envolto; o total desconhecimento sobre o seu trabalho e da exploração
que sofria. O trabalho como princípio educativo, com base em tudo que já foi aqui
exposto, se contrapõe a essa alienação evidenciada no poema, uma vez que nele,
ao invés de escravidão, se vislumbra a emancipação dos sujeitos, por meio de uma
educação que tem o trabalho como ponto de partida.
Deste modo, não foi nosso objetivo, aqui nesta seção, discorrermos
exaustivamente sobre o conceito de Ensino Médio Integrado, para tal, inclusive
sugerimos a leitura de outras obras e outros autores como Ciavatta (2014) e o texto
“Ensino Integrado, a Politecnia e a Educação Omnilateral: por que lutamos?”, bem
como o livro organizado por Gaudêncio Frigotto e Maria Ciavatta (2004) “Ensino
Médio, ciência, cultura e trabalho” e tantos outros que discutem o conceito de Ensino
Médio Integrado, sua historicidade e desdobramentos.
Essa seção teve como objetivo, despertar no leitor a reflexão sobre a realidade
concreta, sobre as sociabilidades que permeiam o conceito de trabalho como princípio
educativo e, sobretudo, provocar uma reflexão crítica sobre a sociedade e educação
na qual estamos inseridos. Porém, esperamos que essa leitura não se encerre aqui,
mas que seja o começo e/ou continuidade de um mergulho profundo na realidade
e, consequentemente, na busca incessante pela superação dessa lógica alienante
provocada pelo modo de produção capitalista.
A próxima e última seção traz algumas sugestões de poemas, músicas e filmes
que abordam o tema trabalho, como forma de aproximarmos o leitor a temática de
forma mais lúdica. Desta forma, ampliaremos o leque de discussões sobre o trabalho
para além da leitura academicista.
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 35
CAPÍTULO
V
Capítulo V
Músicas
Música de Trabalho
Gonzaguinha
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 39
Pro homem pra quem o trabalho é festa Amou daquela vez como se fosse a
Todo dia é de festa é mais mió última
Porque a sua festa é a sua vida Beijou sua mulher como se fosse a
E o fruto do trabalho é mais maior última
É toda recompensa de esforço E cada filho seu como se fosse o único
É a alegria no derrame do suor. E atravessou a rua com seu passo
tímido
Bate o tambor companheiro
Subiu a construção como se fosse
Chamando o povo d’aldeia
máquina
Hoje é o meu coração
Ergueu no patamar quatro paredes
Que faz a farra e incedeia.
sólidas
É meu direito à preguiça
Tijolo com tijolo num desenho mágico
É meu direito ao fazer
Seus olhos embotados de cimento e
Ser dono do meu trabalho lágrima
É meu direito ao prazer. Sentou pra descansar como se fosse
É doce e sal reunido sábado
No calo da minha mão. Comeu feijão com arroz como se fosse
Trabalho, festa, pessoa um príncipe
Vida no meu coração. Bebeu e soluçou como se fosse um
náufrago
Gonzaguinha Dançou e gargalhou como se ouvisse
música
E tropeçou no céu como se fosse um-
bêbado
E flutuou no ar como se fosse um
pássaro
E se acabou no chão feito um pacote
flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o
tráfego
Amou daquela vez como se fosse o
último
Beijou sua mulher como se fosse a
única
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 40
Seu Jorge
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 42
Poemas
Entoada
Operário em Construção
Filmes
Tempos Modernos
O Germinal
Fonte:https://www.brasildefato.com.br/2020/04/04/maratona-oito-filmes-sobre-trabalha
dores-e-ocapital-para-ver-na-quarentena
Fonte:https://www.brasildefato.com.br/2020/04/04/maratona-oito-filmes-sobre-trabalha
dores-e-ocapital-para-ver-na-quarentena
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 48
Doméstica (2012)
“Em Que Horas Ela Volta?, dirigido por Anna Muylaert, nós acompanhamos a
história de Val (Regina Casé), uma mulher nordestina que se mudou para São Paulo
em busca de emprego, deixando para trás a filha Jéssica (Camila Márdila) ainda
pequena. Em São Paulo, Val trabalha como empregada doméstica para uma família,
cria Fabinho (Michel Joealsas), filho do casal para quem trabalha, e mora na casa
dos empregadores. Como era muito comum e perfeitamente legal até a aprovação
da Emenda Complementar nº 72, de 2013 (conhecida como “PEC das domésticas”
e regulamentada em 2015 pela Lei Complementar nº 150, que finalmente garantiram
às empregadas domésticas o acesso a direitos trabalhistas básicos), toda essa
conjuntura significa que Val trabalhava 24 horas por dia, todos os dias da semana,
em uma situação que guarda muitas similaridades com o trabalho realizado em outros
tempos pelas mulheres negras escravizadas”.
Fonte: https://valkirias.com.br/que-horas-ela-volta-mulheres-esquecidas/
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 49
Considerações finais
Referências
Músicas
A FÁBRICA. Renato Russo. Legião Urbana. Rio de Janeiro: EMI, jul.1986. LP, K7
O BONDE DE SÃO JANUÁRIO. Wilson Batista. Ataulfo Alves. Rio de Janeiro: [s.n.],
1940
O que é trabalho? Por Izabel Cristina Leite de Lima 52
MÚSICA DE TRABALHO. Renato Russo. Legião Urbana, Rio de Janeiro: Sony, 1996.
LP, K7, CD
Filmes
Imagens