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Educação

a Distância
EJA
Ensino Médio
Sociologia
Aula 3

OBJETIVO: Conduzir os alunos a refletir sobre as


relações e condições de trabalho e os Direitos que os
trabalhadores conquistaram ao longo da história através
dos movimentos sociais.

Conteúdos

•• Trabalho, produção e Classes Sociais.

•• Direito, Cidadania e movimentos Sociais.

1 RACIOCÍNIO LÓGICO - AULA 1


INICIANDO O DIÁLOGO

“Eu não consegui trabalho, por isso faço uns bicos por aí. Dá para me sustentar, comprar umas bobagens.
Mas não é garantido. (Alice, 25 anos de idade)

Quando terminar meu curso de doutorado em engenharia química, quero fazer pesquisa, não quero saber
de montar nenhum negócio próprio, quero trabalhar na minha área. (Carlos, 27 anos de idade)

Tô numa roubada, tenho que escolher, ou pago a faculdade ou o aluguel. Pensei que fosse mudar de
emprego e aumentar o meu salário, mas não sabia falar outra língua. (Suzana, 20 anos de idade)

Fazer estágio é horrível, você é o faz-tudo, vai a banco, tira xerox, atende telefone e aprender sobre a minha
profissão nada. (João, 19 anos de idade)

O que você pode perceber com esses depoimentos de jovens que estão começando a trabalhar,
buscando uma condição social diferente da que possui?

As dúvidas são muitas e as dificuldades também. A condição de entrada do jovem no mundo do


trabalho está sujeita ao comportamento geral do mercado, das ocupações que são oferecidas, da
garantia de renda, da segurança em relação às oportunidades e da eficácia do sistema educacional.
É comum a restrição de jovens em tarefas pouco qualificadas, o estabelecimento de contratos de
trabalho provisórios aumentou muito e diminuiu as expectativas e referências ao modelo tradicional
de trabalho, como carteira de trabalho assinada. Os jovens sofrem muitas pressões, pois seu
desempenho no mercado está associado a sua participação no mundo do consumo, da moda, do lazer,
das tecnologias, ou seja, em seus espaços de vivências comunitárias. Afinal, na sociedade capitalista
de massa, já aprendemos que os indivíduos acabam sendo “qualificados” por seu poder de consumo.

A sociologia como ciência pode aumentar o conhecimento que o ser humano tem de si mesmo, de
sua sociedade, assim como de suas instituições; e o trabalho é uma instituição social e interfere nas
relações dos indivíduos em sociedade.

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A sociologia vem discutindo há muito tempo as características das diferentes formas de trabalho ao
longo da história, ou seja, como o trabalho foi tratado ao longo do tempo e do espaço por diferentes
grupos sociais. O trabalho escravo, servil, assalariado, formal, informal, várias são as categorias.
Alguns sociólogos entendem o trabalho como eixo da vida pessoal e social, sendo o valor do trabalho
submetido às aspirações e críticas do indivíduo.

Como você percebeu, caro(a) aluno(a), vamos continuar nossa fantástica viagem pelo mundo da
Sociologia a partir do tema: Mundo do Trabalho. Vamos lá!

LEITURA DE MUNDO

Durante a maior parte da história da humanidade, o trabalho foi considerado como uma atividade
depreciável. A origem do termo trabalho, uma palavra originária do latim, é derivada de tripalium, um
instrumento feito de madeira, com três paus e, às vezes, com pontas de ferro, que era utilizado pelos
agricultores para lidar com as espigas de milho, debulhar o trigo e o linho, e também era utilizado
como instrumento de tortura, pois os escravos “preguiçosos” sofriam castigos com esse instrumento.
Daí surge tripaliare, que significa torturar, que origina os vocábulos sofrer, esforçar, laborar, obrar e,
consequentemente, trabalhar. Para os protestantes europeus, o trabalho não é um castigo, e sim uma
oferenda a Deus. Os gregos da Idade de Ouro pensavam que só o ócio criativo era digno do homem
livre e a escravidão era considerada, pelas mais diversas civilizações, como a forma natural e mais
adequada de relação laboral.

Desde meados do século XIX, na sociedade capitalista industrializada, a escravidão deixou de ser a
forma predominante de trabalho, para ser substituída pelo trabalho assalariado; com o surgimento de
uma valorização social positiva do trabalho, pela primeira vez na história da humanidade.

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Com isso, voltamos a Karl Marx a seu pensamento e análises sobre a sociedade capitalista. Para Marx,
o trabalho é uma atividade essencialmente humana; por meio do trabalho, o ser humano se relaciona
diretamente com a natureza, transformando-a e sendo transformado por ela. Na produção capitalista,
o trabalho dividido em etapas aumenta a produtividade, especializa a mão-de-obra, economiza tempo
e gera excedentes que são apropriados pelos proprietários dos meios de produção. Esse processo de
divisão do trabalho fez o operário perder a noção do processo de produção e, com isso, o valor de seu
trabalho; é o processo conhecido como alienação.

A divisão técnica do trabalho consiste na distribuição de indivíduos de uma mesma comunidade em


atividades diferenciadas que se complementam. Por exemplo, para se produzir um carro é preciso de
pessoas que fabriquem a lataria, outras que fabriquem o motor, de especialistas na parte elétrica e
dentro de cada uma dessas atividades pode haver mais subdivisões.

Marx percebeu a passagem do trabalho artesanal para o industrial. Um artesão efetuava todas as
etapas de construção do produto; com a implantação da indústria, a tarefa de cada trabalhador
se especializou, ocorreu um parcelamento progressivo das tarefas. O processo industrial marcou a
passagem do artesão ao operário, e o valor que o artesão tinha em relação à construção do produto
de seu trabalho se perdeu, ele se alienou.

É interessante pensar nessa conceituação de Marx em relação ao trabalho artesanal que encontramos
hoje em nossa sociedade. Quantas vezes compramos um objeto que foi confeccionado por uma
pessoa, em uma feira de artesanato, e nos deparamos com diferentes preços, que muitas vezes
achamos caros, e perguntamos, como se calculou o valor desse produto? O artesão para montar o
preço do produto associou o material gasto e o tempo a seu trabalho para confeccionar o objeto.
Como o artesão calculou esse tempo? Esse trabalho? Pense nisso.

Mas, dentro do desenvolvimento do capitalismo e do estudo sobre as relações de trabalho, é


importante apresentar as formas capitalistas de organização do trabalho que correspondem a três
fases marcantes do processo de industrialização: o taylorismo, o fordismo e o toyotismo.

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O taylorismo introduziu o controle do tempo e dos movimentos dos trabalhadores, parcelando
as tarefas e estabelecendo um padrão geral de condução do processo produtivo, não há critérios
individuais. O tempo de trabalho deveria ser o mesmo para todos, todos deveriam produzir a mesma
quantidade no mesmo tempo. Dessa forma, se diferenciou o trabalho manual do trabalho intelectual,
fazendo um controle sobre o tempo gasto em cada tarefa e um constante esforço de racionalização,
para que a tarefa fosse executada em um mínimo de tempo possível; o trabalhador que produzisse
mais em menos tempo receberia prêmios e incentivos.
No fordismo, o aspecto que mais chamava a atenção consistia em
organizar a linha de montagem de cada fábrica para produzir mais,
controlando melhor as fontes de matérias-primas e de energia,
os transportes, a formação da mão-de-obra e, para isso, adotou
alguns princípios: aumentou a capacidade de produção por meio
da especialização e da linha de montagem, gerando uma grande
produção que deveria ser consumida em massa. Acabou-se criando
o “modelo de operário fordista”: o indivíduo que deveria poupar
suas energias para gastá-las na fábrica, na produção.

O toyotismo foi o modelo pós-Segunda Guerra Mundial (1938-1945), desenvolvido pelo Japão, a partir
da crise capitalista da década de 1970, o modelo japonês para alguns autores. São quatro os aspectos
do sistema: investimento em educação para todos; implantação de sistema de controle da qualidade
do trabalho desenvolvido, do produto final, tudo associado à produção; uma mecanização flexível;
e o sistema just-in-time, que significa só produzir o que pode ser quase imediatamente colocado
no mercado, diminuir os estoques. Isso gerava no trabalhador muito estresse, pois ele tinha que
acompanhar a necessidade do mercado, se fosse preciso, aumentaria a produção, trabalharia mais na
fábrica. O problema é que se instala a chamada terceirização do trabalho, expropriando a da mão de
obra, com a degradação das condições de trabalho, dos direitos trabalhistas e, consequentemente,
dos trabalhadores.

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Todos estes avanços industriais trouxeram inúmeros benefícios sociais. Por outro lado, agravaram
ainda mais as desigualdades sociais e desde então, as sociedades industrializadas tentam lidar com os
recursos que possuem com um grande fantasma: o desemprego. Quais são as causas deste fantasma?
É o que iremos acompanhar no próximo tópico de nossa aula.

O desemprego

O desemprego é uma das grandes preocupações atuais. Mas o que é o desemprego? O desemprego
é a medida da parcela da força de trabalho disponível que se encontra sem emprego. É um fenômeno
observado principalmente nos países cujas economias não conseguem suprir o crescimento
populacional; um dos agravantes do desemprego é a crescente mecanização e informatização dos
processos de trabalho, acabando com postos de trabalho que antes eram desempenhados por pessoas
sem instrução/qualificação e que, agora, por exigirem conhecimentos/formação, acabam excluindo
muitos trabalhadores do mercado. Não é resultado de uma crise econômica, e sim das novas formas
de organização do trabalho e da produção. Essa forma de desemprego é chamada de estrutural.

Tanto os países ricos quanto os pobres são afetados pelo desemprego estrutural, que resulta das
mudanças da estrutura da economia, provocando desajustes no emprego da mão-de-obra, assim
como alterações em sua composição.

Existem duas causas para essa forma de desemprego: a insuficiência da procura de bens e de serviços,
ou seja, a diminuição do poder de compra da população em geral; e o pouco investimento em torno
da combinação de fatores produtivos, ou seja, o investimento exagerado da indústria em reduzir
gastos e o desenvolvimento das novas tecnologias que, de certa forma, reduz os postos de trabalho.
Em geral, os setores mais atingidos pelo desemprego estrutural são a indústria, a agricultura e o setor
de serviços (telecomunicações, transporte, bancos, lazer, alimentação e outros).

O que interessa para a sociologia são as regularidades, os padrões sociais de comportamento em


relação às mudanças, certo? Agora pense no desemprego como um problema sociológico a ser
estudado; enquanto um fato que atinge as pessoas individualmente é algo que pode acontecer com
qualquer um na sociedade, em algum momento uma pessoa pode estar desempregada.

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Porém, quando o desemprego ocorre por um tempo muito prolongado, pode estar havendo alterações
no mercado de trabalho, essa pessoa pode estar precisando refazer sua trajetória profissional, talvez
se preparar melhor, ou mudar de área de atuação, pode ser um sinal de que o mercado de trabalho
não vai bem. Mas, quando várias pessoas de uma mesma área de atuação não estão conseguindo
emprego, ou seja, não estão conseguindo se inserir no mercado de trabalho, observamos um
problema, que pode ser considerado um fenômeno sociológico, pois várias pessoas desempregadas
podem causar grandes modificações na estrutura social.

Entretanto, há outras situações concernentes ao desemprego que podem ser estudadas, por exemplo,
a agricultura orgânica, como técnica de plantio e cultivo menos prejudicial ao ambiente, demanda hoje
um investimento grande em preparação e capacitação de antigos proprietários de sítios e pequenas
fazendas que durante muito tempo passaram por uma crise, já que não conseguiam competir com
grandes produtores. Hoje já conseguem seu lugar no mercado, atendendo a um público específico
que demanda por esses produtos. Qual a importância disso para a sociedade? Ora esse movimento
existe porque há uma revisão de conceitos sobre o uso do solo e do ambiente, dos recursos naturais,
que implica uma mudança de atitude, de hábitos e costumes. Tudo isso o sociólogo pode perceber e
estudar devido ao fato de os agricultores não estarem mais em dificuldades em relação a seu trabalho,
portanto estarem empregados. É uma grande rede de interações onde o so¬ciólogo pode perceber e
selecionar os vários fenômenos a serem estudados.

Mas até agora não definimos: qual a diferença entre emprego e trabalho?

Emprego se refere à ocupação, geralmente relacionado a um emprego formal, com salário fixo,
benefícios como férias, fundo de garantia, direitos do trabalhador; mas também pode fazer referência
ao emprego informal, de autônomos, profissionais liberais ou contratados. Trabalho, porém, se
estende para além do que pode gerar dinheiro. Uma mãe de família que trabalha em casa realiza
tarefas e não recebe nada por isso. Você entendeu? Não é um emprego, porém, não deixa de ser um
trabalho, apesar de não ser considerado uma atividade produtiva, é considerado uma ocupação.

Vou dar outro exemplo, falar que não há emprego para enfermeiros na Amazônia, não é falar que não
há trabalho, pois é um lugar que precisa, tem sempre necessidade de atendimento de enfermagem,
mesmo se não houver cargos de enfermeiros disponíveis nos hospitais. Entendeu? Isso vale para
qualquer outra profissão.

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Qual é a importância do trabalho? Por que trabalhamos? O trabalho confere identidade às pessoas.
O trabalho humano transforma a natureza para obter sustento e bem-estar, criando entre as pessoas
as relações sociais que marcam a vida cotidiana. Para alguns, pode ser considerado penoso, um
esforço, uma obrigação, para outros, pode ser entendido como necessário, mas também prazeroso,
que não escraviza; para tanto, faz-se necessário evitar que ele seja somente a busca desenfreada por
remuneração, provocando muitas vezes afastamento do convívio com seus familiares e dos amigos.

Quais são as ocupações hoje? O IBGE elaborou uma classificação sobre o trabalho em que se considerou
como trabalho em atividade econômica o exercício de:

•• Trabalho remunerado: ocupação remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios (moradia,


alimentação, roupas etc.) na produção de bens e serviços; e/ou ocupação remunerada em dinheiro ou
benefícios (moradia, alimentação, roupas etc.) no serviço doméstico.

•• Trabalho não remunerado: ocupação sem remuneração na produção de bens e serviços, desenvolvida
durante pelo menos 1 hora na semana: em ajuda a membro da unidade domiciliar que tivesse trabalho
como: empregado na produção de bens primários (atividades da agricultura, silvicultura, pecuária, extração
vegetal ou mineral, caça, pesca e piscicultura), por conta própria ou empregador; em ajuda às instituições
religiosas, beneficentes ou de cooperativismo; ou como aprendiz ou estagiário.

•• Trabalho na produção para o próprio consumo ou na construção para o próprio uso: ocupação desenvolvida,
durante pelo menos 1 hora na semana: na produção de bens, do ramo que compreende as atividades da
agricultura, silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura, destinados à própria alimentação
de, no mínimo, um membro da unidade domiciliar; ou na construção de edificações, estradas privativas,
poços e outras benfeitorias para o próprio uso de, ao menos, um membro da unidade domiciliar.
(Fonte: PNAD/2007.)

Esta discussão sobre as relações de trabalho foi desenvolvida até agora com o intuito de explicar
e descrever como ela aparece em nossa sociedade atual. Todavia, isso só está da forma que está,
graças à uma grande quantidade de movimentos sociais e revoluções nas sociedades antigas que
trouxeram avanços nos Direitos trabalhistas e da concepção de cidadania que os indivíduos nas
sociedades modernas possuem. Deste modo, passaremos a examinar melhor como a Sociologia
reflete sobre estes assuntos.
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Direitos humanos e cidadania

O que significam direitos humanos? Existem direitos não humanos? Qual é sua relação com a
democracia? Dois pontos iniciais são fundamentais:

1º. O conceito de direitos humanos surge com a transição da sociedade ocidental à


modernidade.

2º. O conceito de direitos humanos é uma invenção da cultura ocidental.

Portanto, o conceito de direitos humanos pertence ao mundo moderno, que é semeado e amadurecido
ao longo da história moderna (séculos XV ao XVIII) e toma forma com a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão (1789), no início da Revolução Francesa.

Os direitos humanos e a democracia caminham juntos pois, ao longo dos séculos XIX e XX, os direitos
humanos avançaram por quatro processos, assim caracterizados por Bobbio (1998): positivação,
generalização, internacionalização e especificação dos direitos humanos. A história da cidadania
confunde-se em muito com a história das lutas pelos direitos humanos.

A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade,


através daqueles que sempre lutaram por direitos, liberdade, melhores garantias individuais e coletivas,
e não se conformaram frente ao autoritarismo, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou
pessoas que não desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra uma maioria não assistida
e que não se consegue fazer ouvir.

Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade,
à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas esse é um dos lados da moeda. Cidadania
pressupõe também deveres. O cidadão precisa estar consciente de suas responsabilidades enquanto
parte de um grande e complexo organismo que é a coletividade, a nação, o estado. Somente, assim,
chega-se ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum.

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Cidadania, direitos humanos e democracia são conquistas interdependentes. Não podemos
encontrar respeito aos direitos humanos e à cidadania no interior de regimes autoritários, como no
regime militar no Brasil (1964-1985). Além de interdependentes, também são conquistas coletivas!
Independentemente de quem seja, onde viva, a que posição social pertença ou que crime tenha
cometido, todos devem lutar para garantir e se beneficiar dos direitos humanos. Vamos conhecer um
pouco mais a história e a importância destas conquistas da humanidade!

Com o acontecimento da Revolução Francesa e da Independência dos Estados Unidos da América, o


desenvolvimento histórico dos direitos humanos passa por sua primeira fase, que foi a da positivação;
com a materialização de certos direitos naturais, inerentes ao ser humano, em textos legais situados
no ápice do ordenamento jurídico dos Estados citados. Outras nações passam a trazer esses direitos
em suas Constituições. São direitos positivados, os direitos fundamentais que foram inseridos no
ordenamento jurídico. Como em Cádiz (1812), na Bélgica (1831), na Espanha (1837), na Alemanha
(1919) e em outros lugares.

A segunda fase histórica por que passaram os direitos humanos foi a da generalização, no início
do século XIX. Os direitos humanos deveriam ser inerentes à pessoa, independentemente de sua
posição social, raça, credo, origem etc. Entretanto, a positivação dos direitos veio a beneficiar uma
classe específica, a burguesia, garantindo a esse grupo possibilidade de ascensão social pela não
interferência do Estado em seus assuntos. Massas de trabalhadores e pessoas sem recursos ficaram
excluídas, pressionando a burguesia para ampliação desses direitos e pela igualdade entre todos.

Ressalto a importância dos direitos de segunda geração, que são os direitos econômicos,
sociais e culturais. São direitos mal vistos pela globalização, e seu braço político-econômico,
que é o neoliberalismo, tais direitos são acusados de afetar a liberdade e a livre concorrência.
Contraditoriamente, o neoliberalismo mantém posição de defesa da chamada igualdade desde um
ponto de partida, ou seja, todos são iguais e ao final os melhores se sobressaem! Como isso seria
possível de acontecer sem a presença de um Estado forte, que garanta direitos humanos e cidadania
aos menos favorecidos?

No Estado social, promotor de direitos de segunda geração, o que se busca é a igualdade desde
um ponto de chegada, isto é, com o Estado no papel de equilibrar a competição com políticas de
discriminação inversa e outras para que todos tenham as mesmas oportunidades.

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Conjuntamente, ao processo de generalização, surgiu o fenômeno da internacionalização dos Direitos
Humanos. Esses direitos saíram da agenda doméstica e passam a dominar a agenda internacional. Isso
ocorreu a partir do século XIX, com o estabelecimento dos primeiros tratados de direitos humanos
(especialmente tratados para a abolição da escravatura), impondo limites à soberania dos Estados
no trato com seres humanos. A internacionalização foi consequência da tentativa de generalização e
apresentou a vocação universal desses direitos.

Por fim, a quarta e atual fase histórica do desenvolvimento dos direitos humanos é a especificação.
Surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e foi o primeiro passo na determinação
seletiva de alguns direitos. Nessa fase, objetivaram-se grupos específicos de pessoas, como deficientes
físicos, mulheres, imigrantes, refugiados, crianças, idosos.

Portanto, o trato com esses direitos é recente, com não mais de 400 anos. Na história da humanidade,
esse lapso temporal é insignificante e demonstra a novidade do assunto. O mais interessante é que
essas fases coincidiram com a história das sociedades ocidentais, de origem europeia, sem qualquer
menção às experiências asiáticas, africanas, indígenas, indianas. Isso nos introduz à segunda afirmação
sobre os direitos humanos, de que compõem uma formulação da cultura ocidental eurocêntrica.

Dessa forma, os direitos humanos são apresentados com a concepção individualista da sociedade,
característica da cultura ocidental, em que se pode falar de individualismo religioso, político, moral,
jurídico e estético. Em culturas dominadas pelo caráter grupal, com preponderância à comunidade, à
tribo, ao Estado, não seria possível o desenvolvimento de direitos considerados inerentes às pessoas,
que podem ser opostos contra a coletividade.

Numa época em que muitas pessoas não aceitam quando são invocados os direitos humanos,
alegando que esses só são usados em favor de marginais e não do cidadão de bem, não se poderia
deixar de ressaltar que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Os direitos humanos devem
permear as ações de cada dia, dentro de uma sociedade dita democrática. Também se complementa
no oferecimento de condições mínimas essenciais de saúde, moradia, alimentação, vestuário, higiene,
transporte que conferem condições de vida digna para todos os seres humanos. Nesse momento,
teremos os direitos humanos consolidados.

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O trabalho, a segurança, a liberdade de escolha dos representantes, de credo, de associação,
de acesso à cultura, de ter uma identidade nacional e de cultivar suas raízes culturais
também são direitos humanos.

Isso tudo só existe e tem sentido a partir da salvaguarda do direito maior, que é o direito à vida, que
se fortifica na garantia do direito à liberdade, inclusive de expressão.

É assunto de direitos humanos a aceitação da diversidade, com igualdade de possibilidade. Também


o direito das mulheres à não violência, à possibilidade de trabalho sem diferença salarial pelo fato
de ser mulher. Tudo isso vivenciado na escola, na sociedade e na família auxiliará para a formação
de um novo cidadão, que não terá uma visão de direitos humanos dissociada do cotidiano, como
algo inatingível ou individualizado. Tudo que foi enumerado não está dissociado do direito ao meio
ambiente equilibrado e preservado pelo homem, para todas as espécies.

É possível a consolidação dos direitos humanos sem o exercício de direitos e deveres? Como
defender os direitos humanos sem a consciência política, sem o respeito aos direitos dos
outros indivíduos? Sem os direitos políticos, sociais e civis? Ou seja, como garantir os direitos
humanos sem a defesa da cidadania?

Dessa forma, entramos no segundo aspecto de nosso estudo! A ideia de cidadania! Direitos sociais,
políticos e civis estão diretamente associados à conquista de uma situação de cidadania do ser
humano. Mas, o que é cidadania?

A cidadania é o exercício pleno de direitos e o cumprimento de deveres. Além de possuir os direitos


políticos, sociais e civis, ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar
sua vida e a de outras pessoas, é nunca esquecer das pessoas mais necessitadas, é ter consciência
política e defender os direitos da coletividade. A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel
na rua a não pichar os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas
às outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado, desculpe ou por favor e
bom-dia quando necessário. Até saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, o
direito das crianças carentes e outros grandes problemas que enfrentamos em nosso País.

A cidadania deve ser divulgada pelas instituições de ensino e pelos meios de comunicação para
o bem-estar e o desenvolvimento da nação. Na luta pela cidadania, não podemos esquecer que a
revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre para garantir os interesses coletivos: mas é
também o mais imperioso dos deveres impostos aos cidadãos! Como surgiu a cidadania?

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A ideia de cidadania surgiu na Idade Antiga, após Roma conquistar a Grécia (século V d.C.), expandindo-
se para o resto da Europa. Apenas homens e proprietários de terras (desde que não fossem estrangeiros)
eram cidadãos. Restringindo, assim a ideia de cidadania, já que mulheres, crianças, estrangeiros e
escravos não eram considerados cidadãos.

Na Idade Média (séculos V ao XV d.C.), surgiram na Europa, os feudos e a ideia de cidadania ficaram
esquecidos, pois os proprietários dos feudos passaram a mandar em tudo, e os servos que habitavam
os feudos não podiam participar de nada.

Com a Crise do Feudalismo e a centralização do poder, surge a Idade Moderna (séculos XV ao XVIII).
Nesse período, o rei passou a mandar em tudo e centralizar em suas mãos um grande poder, graças
aos impostos que recebia da burguesia e do povo. Com todo esse dinheiro nas mãos, o rei construía
exércitos cada vez mais fortes, além de conceder apoio político e administrativo à burguesia. Em
consequência dessa união, a burguesia ficava cada vez mais rica e era ela quem dava apoio econômico
aos reis por intermédio dos impostos cobrados.

Com o tempo, o rei começou a atrapalhar a burguesia, pois ele usava seu poder para explorá-la e
continuar garantindo a boa vida dos nobres. A burguesia, cada vez mais rica e independente, passou
a ver o rei como um perigo e um obstáculo ao seu progresso. Para acabar com o absolutismo (poder
total do rei), foram desenvolvidas as ideias iluministas (ideias de liberdade) que influenciaram a
ocorrência das duas maiores revoluções burguesas: A Revolução Francesa e a Revolução Americana,
ou Independência dos Estados Unidos.

Com o fim do absolutismo, começou a Idade Contemporânea (século XVIII até os dias de hoje), surgindo
um novo tipo de Estado, o Estado de direito, que é uma grande característica do modelo atual. A
principal característica do Estado de direito é: “Todos tem direitos iguais perante a Constituição”, nesse
momento percebemos a retomada das discussões em torno do conceito de cidadania.

Quando a burguesia promoveu as revoluções para se livrar do absolutismo dos reis, ela contou com
a participação popular. O povo ajudou porque acreditou nas ideias iluministas que defendiam a
liberdade, a igualdade e a fraternidade. Ou seja, o povo acreditou que teria acesso à cidadania e aos
direitos humanos. A burguesia teve um grande trabalho para “explicar” ao povo que as coisas não
seriam bem assim! O povo luta até hoje contra a burguesia para ter acesso a esses direitos!

13 FACULDADES DA INDÚSTRIA SOCIOLOGIA - AULA 3


Por um lado, as revoluções burguesas provocaram avanços que a humanidade jamais conheceu, por
outro, porém, fizeram surgir o processo de exploração e dominação do capital. A burguesia precisava
do povo e o convencia de que todos estavam contra o rei e lutando pela igualdade, surgindo, assim,
as primeiras Constituições do Estado.

Após a vitória burguesa, acontece a grande contradição: cidadania versus capitalismo. Cidadania
é a participação de todos em busca de benefícios sociais e igualdade. Mas a sociedade capitalista
se alimenta da pobreza. No capitalismo, a grande maioria não pode ter muito dinheiro, afinal, ser
capitalista é ser um grande empresário, por exemplo. Se todos fossem capitalistas, o capitalismo
acabaria, ninguém mais trabalharia, pois não haveria mais operários. Começaram a ocorrer greves
contra os proprietários dos meios de produção por parte dos trabalhadores, que visavam uma vida
melhor e sem exploração no trabalho.

No interior desse modelo capitalista, da função política o homem passa para a função de consumidor,
o que é alimentado de forma acentuada pela mídia. O homem que consome satisfaz as necessidades
que outros impõem como necessárias para sua sobrevivência. Isso se mantém até os dias de hoje.
Para mudar essas ideias, as pessoas devem criar seus próprios conceitos, e a escola aparece como um
fator fundamental. Como seria importante o amadurecimento de nossa consciência política! De nosso
conhecimento reflexão sobre nossa pólis.

E no Brasil? Como surge a cidadania no Brasil? Os primeiros esforços para a conquista e estabelecimento
dos direitos humanos e da cidadania confundiram-se com os movimentos patrióticos reivindicativos
de liberdade para o País, a exemplo da Inconfidência Mineira. Em seguida, as lutas pela independência,
abolição e, já na República, as alternâncias democráticas, verdadeiros dilemas históricos que custaram
lutas, sacrifícios, vidas humanas.

A partir da Constituição de 1988, novos instrumentos foram colocados à disposição daqueles que
lutam por um País Cidadão. Enquanto consumidor, o brasileiro ganhou uma lei em sua defesa – o CDC;
temos um novo Código de Trânsito; um novo Código Civil. Novas Ongs que desenvolvem funções
importantíssimas, como defesa do meio ambiente. A mídia, apesar de seus tropeços, tem tido um
papel relevante em favor da cidadania. E muitas outras conquistas a partir da Nova Carta. Como
o exemplo do movimento da Ação Cidadania contra a Miséria e pela Vida, do movimento Ética na
Política. Memorável a ação dos “caras-pintadas” movimento espontâneo de jovens que reivindicou o
impeachment do presidente Collor.

14 FACULDADES DA INDÚSTRIA SOCIOLOGIA - AULA 3


A possibilidade de ação popular, de ação civil pública, de mandado de injunção, de mandado de
segurança, entre outros, além da instituição do Ministério Público, importante instrumento na defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais.

Há um longo caminho a percorrer. É só ativar um pouco nossa acuidade natural e veremos que
estamos cercados de um sem-número de mazelas que insistem em infestar a nossa sociedade. Os
representantes que, mal acabam de se eleger, dão as costas para o eleitor, e este não lhe nega a
recíproca, deixando aqueles ainda mais à vontade para suas rapinagens.

SAIBA MAIS

Pesquise nos livros de sociologia e em artigos de internet quais foram os principais movimentos sociais
que impulsionaram, ou melhor, revolucionaram as relações de trabalho e a concepção de cidadania
em nossa sociedade.

• Revolução Francesa

• Revolução Americana

• Movimentos das Diretas Já

• Movimento estudantil

• Movimento feminista

Faça um resumo dos principais artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgada
pela ONU que tratam dos assuntos trabalhados nesta aula para melhor compreender como a iniciativa
dos Estados modernos na luta pela valorização da cidadania dos indivíduos.

15 FACULDADES DA INDÚSTRIA SOCIOLOGIA - AULA 3


AMPLIANDO HORIZONTES

Se vocês estiver em Curitiba, visite o famoso Museu do Holocausto e analise a urgência de pensarmos
em Direitos Humanos, não somente no campo das relações de trabalho, mas como um todo. Endereço
disponível no site: http://www.museudoholocausto.org.br

Reserve um tempo durante a semana e assista o filme completo: Tempos modernos. Comparando
as cenas apresentadas no filme Tempos modernos, com a situação atual, podemos afirmar que,
apesar das tecnologias de ponta empregadas, atualmente na produção industrial, a condição
socioeconômica do homem continua relegada a segundo plano, e, conforme podemos constatar
nesse filme, a implantação do sistema de esteiras móveis nas fábricas tinha como finalidade aumentar
a produtividade das indústrias. Só que esse novo processo produtivo só trouxe benefícios para a
classe patronal, que, a partir daquele momento, tinha como principal triunfo a institucionalização do
processo de mais valia. Lançamento: 1936 (EUA). Direção: Charles Chaplin.

TROQUE IDEIAS

“O trabalho deverá ser tratado como uma necessidade vital, uma obrigação social e um dever moral
cuja contrapartida é o status social que ele confere e a satisfação social que ele proporciona.”

O que você acha dessa afirmativa? Converse com seus colegas e professores sobre a afirmação acima
e as perspectivas do mercado de trabalho hoje?

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VAMOS PRATICAR?

1. Entre as formas capitalistas de produção, podemos citar o:

a) ( ) feudalismo.

b) ( ) associativismo.

c) ( ) taylorismo.

d) ( ) neoliberalismo.

2. Na produção capitalista, o trabalho dividido em etapas:

a) ( ) aumenta a produtividade e especializa o trabalho.

b) ( ) diminui a produção e mecaniza o trabalho.

c) ( ) manipula o capital excedente.

d) ( ) aumenta a renda do trabalhador.

3. Os setores mais atingidos pelo desemprego estrutural são:

a) ( ) a agricultura e o ensino religioso.

b) ( ) a indústria e o setor de serviços.

c) ( ) profissionais liberais e bancos.

d) ( ) funcionários públicos e liberais.

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4. Uma das contribuições do taylorismo é:

a) ( ) agregar as tarefas em um único indivíduo.

b) ( ) a produção individualizada.

c) ( ) nivelar o trabalho manual e intelectual.

d) ( ) introdução do controle do tempo e dos movimentos dos trabalhadores.

5. Investir em especialização e na linha de montagem é característica do:

a) ( ) fordismo.

b) ( ) feudalismo.

c) ( ) associativismo.

d) ( ) campesinato.

6. No fordismo, o aumento da capacidade de produção favorece:

a) ( ) a produção em massa.

b) ( ) a diminuição dos salários.

c)a venda de ações.

d) ( ) um gasto maior de energia.

7.Uma das consequências do toyotismo foi :

a) ( ) a produção em massa.

b) ( ) a terceirização do trabalho.

c) ( ) o pagamento de impostos.

d) ( ) a diminuição de impostos.

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8. Entre as características do toyotismo, a que mais se destaca:

a) ( ) são as altas de juros.

b) ( ) é a precarização do mundo da vida.

c) ( ) é o controle de qualidade da produção.

d) ( ) são o investimento e a implantação de outra linha de montagem.

9. O aumento no índice de desemprego estrutural ocorre devido a:

a) ( ) pouco investimento do setor em mão-de-obra.

b) ( ) baixa escolaridade dos trabalhadores.

c) ( ) renda elevada dos trabalhadores.

d) ( ) crescente mecanização e informatização dos processos de trabalho

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