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Todavia, uma questão se mantém: como tais ideias são naturalizadas em nosso
senso comum, mesmo com diversas verificações da prática apontando para sentido
diverso? Por que, no dia a dia, continuamos a ouvir que o teletrabalho é algo novo,
voltado àqueles muito familiarizados com os avanços tecnológicos e com o objetivo de
aumentar a produção individual e setorial? Por que essa sensação de estranhamento?
Paradigmas
Um coelho?
Um pato?
Ambos? Mas não ao mesmo tempo, não é mesmo?
Veja que o desenho (realidade) não muda, mas somente a sua maneira de
enxergá-lo e interpretá-lo. Para Kuhn, os paradigmas funcionariam da mesma forma.
Entretanto, com relação aos paradigmas, a troca de percepção não é tão fácil
como no experimento da figura. Isso ocorre em razão do processo de formação dos
paradigmas e da inércia das nossas concepções e hábitos.
Clique na imagem acima para seguir para o vídeo da apresentação, que será
aberta em seu navegador de Internet.
Entretanto, uma coisa interessante com relação aos paradigmas é que, por mais
que se considere a sua inércia, uma vez que conhecemos um novo paradigma que trate
os novos problemas/necessidades de nossa realidade, não conseguimos mais ignorá-
lo.
uma nova cultura de trabalho, nos termos do art. 3º, VII, da Resolução do CNJ nº
227/2016.
Para ajudá-lo nessa mudança e utilizando como base a mudança gestalt do Pato-
Coelho, identificamos dois paradigmas principais na organização do trabalho: um deles,
que está bem cristalizado em nossas práticas do regime presencial, ao qual
denominaremos, para fins didáticos, de Paradigma Clássico; e o outro, que leva à
implantação do teletrabalho com maior sucesso, o qual denominaremos de Paradigma
Contemporâneo.
Vamos lá?
Sugestão:
Se você ainda não assistiu, vale a pena
conhecer o filme “Tempos Modernos”, de
Charlie Chaplin, que retrata, de forma crítica e
bem exagerada (e, portanto, caricata), a
abordagem do trabalho que identificamos no
Paradigma Clássico.
Ao assistir, fique com a seguinte questão para
reflexão: Qual é o produto final da fábrica
onde trabalha o personagem principal?
1. Executar o que lhe é determinado pela chefia, nos exatos termos indicados.
2. Buscar um desempenho melhor que o de seus colegas, aplicando, de forma
diligente, os padrões que lhe são passados, motivando-se financeiramente por
recompensas salariais e/ou prêmios, que compensam o esforço despendido a
mais.
Primeira metade:
Nas primeiras décadas do século, o mundo passou por duas Guerras Mundiais,
com um pequeno e desolado interstício entre elas (o chamado Entreguerras). Pela
primeira vez, a humanidade assiste a conflitos de abrangência mundial e de proporções
nunca antes vistas.
Segunda metade:
Esse, portanto, foi o cenário em que puderam despontar novas abordagens sobre
o trabalho, especialmente em razão do surgimento de novas demandas que, cada vez
mais, ganham espaço e não conseguem ser tratadas, de forma satisfatória, pelo
paradigma dominante:
3. A demanda crescente por produtos cada vez mais diversificados e com alto
valor agregado, exigindo das empresas novas estruturas e configurações, e, dos
trabalhadores, maior qualificação e diferenciação.
Além disso, tomados dentro da realidade laboral, podemos dizer que o foco na
produção considera apenas as entregas individuais que são tomadas coletivamente
apenas em sua soma (entrega final - soma das entregas individuais). Por sua vez, o foco
nos resultados considera as entregas coletivas, definidas pela integração dos trabalhos
individuais voltados ao cumprimento das finalidades principais da organização.
Outro fator, mais forte no serviço público, é a busca incessante pela isonomia no
tratamento, a fim de não caracterizar favoritismos familiares ou políticos.
“Com o que você trabalha?” - Não é uma das primeiras perguntas que fazemos
quando conhecemos uma pessoa?
Mérito, nesse contexto, deixa de ser uma característica pessoal para ganhar
contornos relacionais, vinculados à ideia de legitimidade.
A afirmação “eu tenho mérito” perde espaço para afirmações do tipo “ele tem
mérito”, uma vez que a ideia passa a identificar o processo de reconhecimento e
valorização do trabalhador como contribuinte fundamental para os resultados do setor
e da organização, seja pela identificação de perfis e forças significantes, seja pela
cooperação e ajuda indispensáveis. Ademais, identifica também o estabelecimento de
um relacionamento de confiança, com a construção de previsibilidades
comportamentais essenciais para o desenvolvimento saudável das atividades laborais.
Nesse sentido, quanto mais alto se escala a cadeia de comando e decisão, mais
abrangente a visão do agente e, com isso, maior a sua responsabilidade. Entretanto, o
contrário também é verdadeiro: ao descer a escala, vemos diminuir, na mesma
proporção, a visão e a responsabilidade dos agentes.
Ora, num contexto como esse, o Paradigma Contemporâneo deve retomar uma
figura originária de esferas militares e políticas: o líder.
Por mais desgastada que esteja a palavra liderança, com tanta discussão e
cursos sobre o assunto na atualidade, podemos identificar alguns aspectos e
considerações fundamentais:
A palavra liderar vem do verbo inglês to lead (do inglês arcaico lǣdan),
significando “ir na frente, iniciar, guiar, conduzir”. Não há, portanto, liderança sem
pensarmos em estruturas com características mais horizontais que verticais, uma
vez que pressupõe atuações paritárias do gestor.
Liderar é uma atuação voltada às pessoas. Não se lidera tarefas. O gestor-
chefe gere tarefas, utilizando os funcionários como a sua longa manus. O gestor-
líder gere pessoas, visando criar as condições adequadas para a atuação
cooperativa nas tarefas e para o realce de perfis e forças, com foco nos
resultados finais.
Liderança não se confunde com autoridade, conferida pelo cargo ocupado em
uma cadeia hierárquica. A liderança, portanto, não é prerrogativa apenas do
gestor. Entretanto, a gestão adequada em um contexto de trabalho em equipe e
cadeias horizontais deve, com certeza, passar pela escolha e a assunção da
função de liderar.
Não há líder sem liderados. A liderança possui um aspecto relacional
fundamental, na medida em que depende do reconhecimento e legitimidade
conferidos pelos liderados. Envolve, portanto, a construção de uma relação de
confiança. Sem ela, o papel do líder é esvaziado e, muitas vezes, acaba sendo
assumido por outra pessoa do grupo, não necessariamente no cargo de gestor.
Basta utilizar a Teoria dos Jogos e o Equilíbrio de Nash para mostrar que o
resultado não poderia ser outro: uma situação de ganhar-perder (jogo de soma zero).
Para ilustrar, vamos criar uma matriz simples, imaginando a seguinte situação:
Entendendo que:
X Y
Produz pouco Produz muito
Empregador
A
Não incentiva 1 /1 3/ 0
B
Incentiva 0/3 2/ 2
Utilizando a teoria de Nash, essa matriz possui uma situação de equilíbrio: AX,
ou seja, quando o empregador não incentiva e o empregado não produz bem, resultando
em um retorno baixo (1) para cada uma das partes. Isso ocorre, pois, em um cenário em
que os agentes possuem total liberdade de trocar suas ações a partir da ação do outro,
as outras situações são todas instáveis. Senão vejamos:
Mas, agora reflita: qual seria a melhor situação para ambos tomados em conjunto
(ou seja, para a relação de trabalho em si)?
Não seria a BY, com a possibilidade de ambos saírem com altos benefícios?
Vejamos um trecho do filme “Uma mente brilhante”, que conta a história de John
Nash e sugere, de forma romantizada, uma solução para a questão:
Clique na imagem acima para seguir para o vídeo da apresentação, que será aberta
em uma página no ambiente virtual do curso.
“O melhor resultado é obtido quando todos do grupo fazem o que é melhor para
si e para o grupo” – ou seja, quando há cooperação.
Portanto, para que haja cooperação, cada agente deve abrir mão de um alto
resultado individual para alcançar um resultado individual favorável cumulado com um
resultado coletivo favorável. Dessa maneira, agindo em conjunto, os agentes criam uma
situação de ganhar-ganhar (jogo de soma não zero).
Ora, mas esses são aspectos eivados daquela “marca humana” tão odiosa a
olhos positivistas, refugiados no mundo maravilhoso da matemática e dos axiomas. Para
buscar tais aspectos, devemos abrir mão do controle da variável “homem” e aceitaro seu
mundo multidimensional e, com isso, toda a carga de imprevisibilidade que acompanha
tal constatação.
Autonomia/responsabilidade.
Confiança/legitimidade (mérito).
Trabalho em equipe/cooperação.
Art. 2º [...]