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Karina Silva Benites, 11202022097

Há certos aspectos que mobilizaram a história do nosso país e que ainda atuam de forma ativa, sem que
necessariamente pareçam estar vinculados, mas que se atravessam. Com isso, quero dizer, os interesses da elite agrária, a
busca pelo desenvolvimento e o alinhamento à potência mundial vigente. Assim, existem desníveis pontuais da força de
um em relação ao outro, conforme o recorte histórico que observamos, e essas variações podem ser percebidas sob a ótica
de um movimento pendular, dado que em uma extremidade existe o alinhamento (à potência mundial) e na outra a
autonomia do país.
Retomando a partir do rompimento do antigo sistema colonial no século XIX, posto que no ocidente era notável
os efeitos da revolução industrial, bem como da revolução francesa, a ideia de desenvolvimento passa a se lapidar
gradativamente até chegar no poder que uma de suas leituras - a preponderante em relação às outras - tem atualmente. Ou
seja, a de desenvolvimento como progresso linear e sequencial, em que o futuro é melhor do que o passado e vinculado à
industrialização (que acaba por ser um fim, e países industrializados são mais desenvolvidos do que países não
industrializados). É nesse contexto emergente e de rupturas, que o Brasil inicia sua curiosa independência formalizada,
mas que substitui suas dependências, por exemplo, de acordo com Doratioto e Vidigal (2014), nosso país teve sua
independência proclamada pelo herdeiro da coroa que até então nos colonizava. Para além disso, mencionei a substituição
de dependências, pois, na situação de colônia, o poder era totalmente delegado a metrópole e depois, o próprio imperador
Dom Pedro I, entregava o poder de boa vontade às potências europeias, a fim destas reconhecerem nossa independência,
sobretudo a Inglaterra, consolidando assim “o leilão da independência”, e pactuando uma série de acordos que não eram
vantajosos para o Brasil.
Ainda sobre a independência do Brasil, foi nos processos de descolonização em que foram definidos os papéis de
como funciona o mercado internacional, isto é, a desigualdade inserida entre os países centrais e periféricos com relação
ao valor da exportação de seus produtos.
A independência objetivava a manutenção da estrutura socioeconômica anterior e o aprofundamento da
relação de dependência com os centros capitalistas por meio da exportação de produtos primários,
produzidos com a mão de obra escrava, e da importação de produtos manufaturados. (Doratioto e Vidigal,
2014).
Aqui fica evidente o antagonismo por trás da independência e, reafirmando também os aspectos que aqui foram
ditos inicialmente, visando o desenvolvimento, José Bonifácio, ciente do atraso da nossa economia por conta do
escravismo - em razão da baixa produtividade e mercado consumidor restrito - ele defendeu o fim da escravidão e a
realização da reforma agrária. Ideia esta que foi rechaçada pela elite agrária, inclusive, a monarquia existia apenas para a
manutenção do escravismo e quando este acabou, por conta da pressão inglesa, a monarquia e os títulos caíram também.
Feito esse preâmbulo, e conectando este à República Velha, com o caos sistêmico da decadência da Inglaterra
como potência mundial, os Estados Unidos da América já apresentavam gradativamente o aumento de seu poder e
influência no cenário mundial através do Corolário Roosevelt (1904), uma adição a Doutrina Monroe (1823), por
exemplo. O que formalizaria a Política Externa dos EUA, que se autointitula com o poder de intervir internacionalmente e
militarmente nos assuntos internos de outros países, o que é oposta à Política Externa do Brasil, que é amplamente
defensiva e possui características que se seguem desde o aclamado Barão do Rio Branco. Este último foi o pioneiro em
ver como vantajosa a aproximação com os EUA. Além disso, antes da Primeira Guerra Mundial, o Brasil declarou ter
acordos secretos com os EUA - a fim de se proteger do caos em que o cenário mundial se encontrava - porém, era um
blefe, já que para eles não era interessante tal ação. Afinal, que motivação haveria em fazer sanções se já tinham certeza
sobre o alinhamento automático do Brasil? Essa descrença, nada benéfica para o Estado nacional, é presente e
impulsionadora do movimento pendular que orienta nossa política externa. Nossa PEB se dá por princípios que levam em
conta o Brasil ser uma potência média, que são: política territorial (através da postura defensiva, o Brasil impõe limites
para não atuarem aqui, retirando o elemento de tensão da relação com os vizinhos), relacionamento assimétrico de poder
com as grandes potências hierárquicas, simetria entre os países sul americanos (não faz interferência em assuntos internos
de qualquer outro país), solução negociada dos conflitos/não interferência militar (principalmente depois do ocorrido
sobre a geopolítica do Prata e a Guerra do Paraguai). A respeito do alinhamento automático com os EUA, um enxerto que
exemplifica claramente é no que tange o governo Dutra (1946-1951): “A diplomacia brasileira não apenas se alinhava
automaticamente às posições americanas nas organizações internacionais, como, geralmente, em seu conservadorismo
tomando atitudes que não eram solicitadas nem praticadas pelos Estados Unidos” (Visentini, 2004).
Um governo marcante por seu comportamento no plano político (que agrega o ideológico em oposição ao
pragmático e o alinhamento contrário à autonomia) é o de Getúlio Vargas (1882 - 1954). Essa figura, que segundo alguns
pode ser considerado um gênio ou ambíguo, principalmente em seu segundo mandato, caracterizou-se pelo pragmatismo,
barganhando com os EUA e a Alemanha - antes da Segunda Guerra Mundial - e depois com os EUA e a URSS. E essa
dança, em que o ritmo era o interesse nacional, tematizava na PEB o desenvolvimento, por meio da tentativa de
industrializar o país para contornar a crise agroexportadora, superar a crise mundial de 1929, além de atingir a autonomia
do Brasil escolher seu percurso histórico; em que esse seria um projeto da industrialização ser complementar ao
agronegócio. Sua barganha ocorre pelo fato de haver ausências para concretizar seus objetivos, ou seja, a escassez do
capital e da tecnologia. O debate interno que contextualizava esse momento era a dos Industrialistas (simpatia pelo
sistema da Alemanha estatista) e Intercambistas liberais (simpatia pelo sistema dos EUA imperialista e agroexportador). E
Vargas barganhava com os dois sistemas para obter propostas mais vantajosas, pois nesse cenário, ambos os países
precisavam do Brasil - para obter recursos primários e pela geografia (existência de rotas estratégicas). Inclusive, segundo
Vizentini (1995), um instrumento necessário nessa cena foi a da multilateralização, visto que manter uma relação bilateral
conforme os interesses dos EUA não daria frutos, pois estes não estavam dispostos a fazer concessões aos países latino
americanos. Segundo Gerson Moura, a política varguista se equilibrou em duas disputas de interesses internos (que
sustentavam o governo) - industrialista e intercambista - que configuraram também a “equidistância pragmática”. Um dos
resultados de sua idealização, através das frustrações das expectativas com os EUA, foi a criação da Petrobras. E é notável
como os entreguistas desde esse momento orquestraram golpes, e que argumentam suas intenções com falas de que
privatizar é melhor pois o brasileiro é corrupto e não sabe administrar. Esses dizeres não são pontuais do momento em que
vivemos, são narrativas construídas para atender a interesses e que se alimentam e transmutam com o passar do tempo,
logo, nada é por acaso.

Referências:

DORATIOTO, F.; VIDIGAL, C. E. Histórias das Relações Internacionais do Brasil. 1ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2014.
VIZENTINI, P. F. (2004) “Dutra: retrocesso e alinhamento voluntário na Guerra Fria (1946-1951), p. 55-68.
VIZENTINI, P. F. (1995) “Vargas e os limites do nacionalismo populista”, p. 53-119.

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