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INSTITUTO SUPERIOR DE CIENCIAS DE EDUCACAO A DISTANCIA

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


Licenciatura Em Ciência Política e Relações Internacionais

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Análise da Implementação de Tratados Internacionais por uma Organização


Internacional.

António Afonso Nhantumbo

Xai-Xai, Março de 2024

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO A DISTÁNCIA
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Licenciatura Em Ciência Política e Relações Internacionais

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Análise da Implementação de Tratados Internacionais por uma Organização Internacional.

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura Em
Ciencia Política e Relações Internacionais da
UnISCED
Tutor: Maura Rodrigues

António Afonso Nhantumbo

Xai-Xai, Março de 2024

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Índice
1. Introdução.................................................................................................................................3

1.1. Metodologia do trabalho.......................................................................................................3

2. Conceito E Evolução Histórica................................................................................................4

2.1. Sujeitos De Direito Internacional.........................................................................................4

2.2. Convenção de Viena sobre o direito dos tratados (1969).....................................................5

2.3. Organizações internacionais.................................................................................................6

2.4. Funcionamento das organizações internacionais..................................................................8

2.5. Tratados................................................................................................................................9

2.5.1. Capacidade de celebrar tratados......................................................................................11

3. Tratados internacionais significativos implementados pela ONU.........................................11

3.1. Os sistemas jurídicos internacionais de proteção à pessoa humana da ONU.....................11

3.1.1. Direito Internacional dos Refugiados da ONU...............................................................13

3.1.2. As formas de aquisição do status de refugiado...............................................................15

3.2. Proteção Internacional Dos Direitos Humanos...................................................................16

4. Considerações finais...............................................................................................................18

5. Referências bibliográficas......................................................................................................19

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1. Introdução
O papel desempenhado pelas organizações internacionais nos últimos tempos reflete a abertura
de um novo cenário internacional, tanto no contexto jurídico, quanto no contexto econômico,
social e cultural. Além disso, as organizações internacionais abriram as portas para novos ramos
e novas fontes do Direito Internacional.

A complexidade de temas diversos, que vão além da jurisdição nacional, fez com que os Estados
se deparassem com a necessidade de promover maior cooperação internacional. Desta forma, as
organizações internacionais, principalmente, através do mecanismo de celebração de tratados,
vem atuando no plano universal e regional.

A celebração de Tratados saiu da esfera exclusiva dos Estados para também fazer parte do rol de
atividades desempenhadas pelas organizações internacionais. Porém, a capacidade dessas
organizações de celebrar tratados é uma questão que suscita temas que permeiam sua
personalidade jurídica e até a sua própria definição.

Este trabalho tem como objetivo Analisar a Implementação de Tratados Internacionais por uma
Organização Internacional (ONU).

1.1. Metodologia do trabalho

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2. Conceito E Evolução Histórica
O Direito Internacional Público é conceituado por Charles Rousseau (1944, p.1) como “o ramo
do direito que rege os Estados nas suas relações respectivas”. Nota-se desta definição que são
considerados sujeitos de Direito Internacional apenas os Estados e que as normas de direito
internacional regulam tão-somente as suas relações.

Nesta mesma corrente segue Hans Kelsen (1998, p.224) ao afirmar que o Direito Internacional é
“um complexo de normas que regulam a conduta recíproca dos Estados - que são os sujeitos
específicos do Direito internacional”.

Esses conceitos, apesar de historicamente relevantes, não compreendem a concepção moderna e


atual, vez que o Direito Internacional não se limita a regular apenas o direito externo e
exclusivamente as relações entre os Estados, que deixam de ser os únicos a possuírem
personalidade internacional e passam a dividir espaço com as organizações intergovernamentais
e com os indivíduos.

Por conseguinte, Mazzuoli (2019, p. 76) define o Direito Internacional Público moderno como:

O conjunto de princípios e regras jurídicas (costumeira e convencionais) que disciplinam


e regem a atuação e a conduta da sociedade internacional (formada pelos Estados, pelas
organizações internacionais intergovernamentais e também pelos indivíduos), visando
alcançar as metas comuns da humanidade e, em última análise, a paz, a segurança, e a
estabilidade das relações internacionais.

Para chegar nesta definição, o Direito Internacional passou por diversas mudanças ao longo da
história, à medida que as civilizações evoluíram, pois apesar de não ser tão antigo também não é
uma criação recente.

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2.1. Sujeitos De Direito Internacional
Conforme a conceção moderna de Direito Internacional, são considerados sujeitos: os Estados, as
organizações internacionais intergovernamentais e os indivíduos, apesar destes serem
indiretamente alcançados pelas normas internacionais por meio dos Estados.

Os Estados são sujeitos clássicos de Direito Internacional considerados, os mais importantes,


visto que atuam como verdadeiros operadores desse direito ao regular o termômetro das relações
com os demais sujeitos citados, por meio das normas de direito internacional (MAZZUOLI,
2019, 609). As organizações intergovernamentais são essencialmente órgãos detentores de
personalidade jurídica internacional – sujeitos de Direito Internacional – que não possuem
ligação específica com nenhum Estado, como coloca Mazzuoli (2019, p.903):

As organizações internacionais intergovernamentais, assim como os Estados, têm


personalidade jurídica internacional (podendo contrair obrigações e reclamar direitos) e
esfera própria de atuação no cenário internacional. São criadas por acordos (tratados)
entre diversos Estados soberanos, por meio de um ato constitutivo, regidas pelo Direito
Internacional, e têm personalidade jurídica distinta da dos seus membros.

A principal e mais notável organização é a Organização das Nações Unidas (ONU), criada em
1945, por meio da Carta das Nações Unidas, com o propósito de proteger e preservar os direitos
fundamentais e as futuras gerações dos flagelos da guerra, bem como estabelecer obrigações e a
manutenção dos acordos oriundos das mais diversas fontes de direito internacional, com o fim de
reprimir agressões ao estabelecimento da paz e segurança internacional (ONU, 1945).

Ao tempo de sua fundação, a ONU contava com 51 membros e atualmente possui 193 membros
(ONU, 2021). Possui coordenação descentralizada, dividida por 13 diversos órgãos, formada
pela Assembleia-Geral, o Conselho de Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o Conselho
de Tutela e o Conselho Econômico e Social. Atreladas a ONU foram fundadas diversas
organizações especializadas autônomas dentre as quais se destaca a Organização internacional do
Trabalho (OIT), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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2.2. Convenção de Viena sobre o direito dos tratados (1969)
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969) se aplica à celebração de tratados
entre Estados. Até entrar em vigor, as normas jurídicas citadas na Convenção de Viena,
vigoravam com base no costume internacional. Mesmo que o costume seja ainda a fonte mais
importante do direito das gentes, os tratados vêm se destacando cada vez mais como fonte de
direito internacional.

De acordo com Paul REUTER (1999), a Convenção de Viena anuncia o desejo de abrir a
Convenção a todos os Estados, ao mesmo tempo em que reservava para a Assembleia Geral das
Nações Unidas o direito de convidar qualquer Estado que não fosse membro das Nações Unidas
ou de organismos especializados, nem parte do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, para
que tivesse acesso à Convenção.

A Convenção de Viena menciona em seu artigo 3º, o fato de que esta Convenção não se aplica
nem aos acordos internacionais celebrados entre Estados e outros sujeitos de direito internacional
ou entre esses outros sujeitos, nem aos acordos internacionais não celebrados por escrito. Isso
não afeta o valor jurídico de tais acordos e nem a aplicação da Convenção na relação dos Estados
entre si em virtude de acordos internacionais em que foram partes outros sujeitos de direito
internacional.

Os tratados constitutivos de organizações internacionais são mencionados no artigo 5º da


Convenção, segundo o qual, a Convenção de Viena se aplicará a todo tratado que seja um
instrumento constitutivo de uma organização internacional e a todo tratado adotado no âmbito de
uma organização internacional, sem prejuízo de qualquer norma pertinente à organização.

No que se refere à adoção do texto de um tratado, conforme expresso no artigo 9º da Convenção,


a adoção do texto em uma conferência internacional se efetuará por maioria de dois terços dos
Estados presentes e votantes, a menos que este Estados decidam por igual maioria aplicar uma
regra diferente.

Em termos gerais, os Estados foram motivados a fazer parte da Convenção de Viena devido a
função internacional que os tratados representam nas relações internacionais. Os tratados, de
forma geral, representam um importante instrumento de cooperação pacífica entre as nações e
preservam o preceito de soberania.

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2.3. Organizações internacionais
Conceitualmente, alguns estudiosos afirmam não existir uma noção unanimemente aceita sobre o
que se deve entender por organização internacional. As características comuns das organizações
internacionais permitem chegar uma definição de que elas são uma associação de sujeitos de
Direito Internacional, constituída basicamente por Estados.

Nascidas por um ato de vontade coletivo, as organizações internacionais despontaram com o


objetivo principal de atender algumas necessidades da comunidade internacional. Após o
advento destas organizações, uma grande mudança ocorreu no regime e no caráter das relações
internacionais, pela transformação do cenário de mudanças relativamente lentas para um cenário
aberto e global. Após o século XIX, as organizações internacionais tornaram-se uma realidade
em expansão, principalmente em virtude da necessidade de cooperação que se verifica entre os
Estados e sua melhor inserção no cenário internacional.

Antes ainda de serem reconhecidas como um importante elemento na ordem jurídica


internacional, as organizações internacionais já eram tidas como um fenômeno econômico,
político e social. Cachapuz de Medeiros (1994) faz uma importante consideração no que diz
respeito à importância das organizações internacionais:

(...) parece óbvia a interferência das organizações na estrutura e na dinâmica da sociedade


internacional contemporânea. Nascidas para atender a certas necessidades comunitárias,
as organizações provocaram acentuada modificação no regime clássico das relações
internacionais, dando origem à "diplomacia parlamentar" e ensejando a passagem de uma
sociedade interestadual fechada para uma sociedade aberta. Isto não significa, porém, que
o desenvolvimento das organizações internacionais deva ser interpretado como expressão
de um processo acelerado rumo à integração terminantemente orgânica e unitária do
gênero humano em um "Estado Mundial" mas apenas que, tanto em seus elementos
componentes (estrutura) como em suas formas de relacionamento (dinâmica), a sociedade
internacional, basicamente interestatal, precisou retificar seu perfil clássico e ajustar-se
(...) a uma nova realidade (...).

Diversas são as razões que levaram ao surgimento das organizações internacionais. Grande parte
delas nasceram a partir da necessidade de controlar conflitos entre nações, de incentivar o
desenvolvimento de nações mais carentes, de buscar a criação de normas internacionais, de

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proteger os direitos humanos e mesmo pela busca de desenvolvimento de temas técnicos. Um
exemplo disso foi a criação em 1865, da União Telegráfica Internacional que, em 1934, passou a
se chamar União Internacional de Telecomunicações (UIT). Esta organização foi criada a partir
do aumento da demanda no campo das comunicações com a necessidade de cooperação
multilateral entre os Estados nessa área. A União Internacional de Telecomunicações também foi
criada para facilitar as relações de paz e o desenvolvimento econômico e social, através de
assistência técnica aos países em desenvolvimento. Neste sentido, SORENSEN (1968) observa
que:

Desde el punto de vista del surgimiento de las instituciones internacionales en el siglo


XIX, quizá sea erróneo hacer demasiado hincapié en el campo político como base de
dicho desarrollo, pues fueron las realizaciones técnicas de ese siglo, más que las políticas,
las que crearon el clima esencial para la cooperación interestatal.

Em termos gerais, "os Estados criam organizações internacionais para desempenharem tarefas
que não podem realizar sozinhos". As organizações internacionais formam, hoje em dia, uma
forte instituição mundial que permite com que os Estados institucionalizem suas relações e
alcancem objetivos que não poderiam ser atingidos de forma isolada.

A função de uma organização internacional é a de promover, de maneira institucionalizada e


permanente, a cooperação internacional nos termos estabelecidos pelo seu tratado constitutivo.
Por isso têm personalidade jurídica e são dotadas de autonomia específica, que emana dos órgãos
responsáveis por um processo decisório coletivo. É este processo que permite que as
organizações internacionais se tornem atores diferenciados dos seus membros.

Na prática, uma organização internacional é criada a partir da celebração de um tratado que pode
ser firmado sob alguma denominação específica (carta, pacto, protocolo, etc). Mesmo após ter
sido assinado, esses tratados não excluem a possibilidade de entrada de novos membros. Os
tratados são submetidos a ratificações e não podem ser objeto de reserva. O tratado constitutivo
de uma organização confere, a ela, um caráter de norma constitucional, tendo como finalidade
primordial atender os objetivos comuns dos Estadosmembros que, por sua vez, formam o pilar
financeiro das organizações.

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As organizações também podem ser vistas pela perspetiva de seus fins; podem ter fins gerais -
como a ONU - ou específicos - como a Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura (UNESCO), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a União
Internacional de Telecomunicações (UIT), dentre outras.

3. Tratados internacionais significativos implementados pela ONU

3.1. Os sistemas jurídicos internacionais de proteção à pessoa humana da ONU


O sistema global de proteção dos direitos fundamentais corresponde ao Sistema das Nações
Unidas, que surgiu efetivamente em 1945 quando da adoção da Carta da ONU. Foi a partir deste
momento que os problemas domésticos dos Estados e suas relações com seus cidadãos passaram
a fazer parte de um contexto global de proteção que tinha como princípio a cooperação
internacional e o desenvolvimento das relações internacionais das Nações. (MAZZUOLI, 2008,
p. 783).

O sistema ONU de proteção dos direitos humanos, de acordo com Coelho (2007, p. 47), é
“composto por instrumentos normativos complementares de abrangência mundial e competência
variada”. Como instrumentos institucionalizados de proteção, o sistema global moderno
apresenta, entre outros, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e os Pactos
Internacionais de Direitos Humanos de 1966, por exemplo. (MAZZUOLI, 2008, p. 747).

Além destes instrumentos, Coelho (2007, p. 48) ressalta a relevância dentro do sistema ONU, da
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Discriminação de Todas as 32 Formas de
Discriminação Racial de 1965, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher de 1979, da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984, etc. Complementarmente, ainda no sistema
global (ONU), há dois mecanismos – pouco utilizados – de supervisão e controle dos direitos
humanos: o confidencial e o público. (COELHO, 2007, p. 48/49).

O autor ensina que o primeiro mecanismo, baseado na Resolução 1.503, “permite que qualquer
pessoa, grupo ou organização não-governamental apresentem denúncias sobre violações
continuadas dos direitos fundamentais em determinado Estado”, enquanto o segundo baseia-se
na Resolução 1.235 e permite que grupos de trabalho se formem, ou que sejam enviados
representantes especiais a fim de que seja investigada a situação dos direitos humanos em certa

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região. Em ambos os casos as decisões sobre os casos submetidos a esses procedimentos cabem a
Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas16. (COELHO, 2007, p. 49).

Além destes instrumentos, Coelho (2007, p. 48) ressalta a relevância dentro do sistema ONU, da
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Discriminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial de 1965, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher de 1979, da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984, etc.

Complementarmente, ainda no sistema global (ONU), há dois mecanismos – pouco utilizados –


de supervisão e controle dos direitos humanos: o confidencial e o público. (COELHO, 2007, p.
48/49). O autor ensina que o primeiro mecanismo, baseado na Resolução 1.503, “permite que
qualquer pessoa, grupo ou organização não-governamental apresentem denúncias sobre
violações continuadas dos direitos fundamentais em determinado Estado”, enquanto o segundo
baseia-se na Resolução 1.235 e permite que grupos de trabalho se formem, ou que sejam
enviados representantes especiais a fim de que seja investigada a situação dos direitos humanos
em certa região. Em ambos os casos as decisões sobre os casos submetidos a esses
procedimentos cabem a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas16. (COELHO, 2007,
p. 49).

Coelho (2007, p. 47) afirma que os sistemas internacionais de proteção à pessoa humana não
impõem obrigações aos Estados que deles não fazem parte, uma vez que a adesão é ato
voluntário e deverá ser expressa, como forma de respeitar a autodeterminação dos povos e a
soberania estatal. O autor ainda ressalta que, por protegerem simultaneamente os mesmos
direitos, caberá à vítima escolher o foro em que as normas lhe sejam mais favoráveis.

3.1.1. Direito Internacional dos Refugiados da ONU


Acerca dos fundamentos do refúgio, Piovesan (2001, p. 29) assevera que, primeiramente, os
direitos da pessoa humana devem ser vistos de forma integral, isto é, as três vertentes da proteção
internacional da pessoa humana – Direitos Humanos, Direito Internacional Humanitário e Direito
Internacional dos Refugiados – devem ser consideradas não de forma compartimentalizada e
sim, complementarmente, visto que seus conceitos, normas e operações possuem a mesma
finalidade: proteger a dignidade da pessoa humana.

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Desta forma, um dos fundamentos do refúgio caracteriza-se pelos preceitos de universalidade e
indivisibilidade dos direitos humanos, princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948. Estes princípios fundamentam a proteção internacional dos refugiados, pois a
partir deles afirma-se a inerência da dignidade à pessoa humana e a interdependência dos direitos
humanos, protegendo simultaneamente os direitos civis, políticos, sociais, econômicos e sociais.
(PIOVESAN, 2001, p. 39).

A compreensão da problemática dos refugiados à luz dos direitos humanos é reforçada pela
Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993. O parágrafo 23 merece destaque, pois “[...]
reafirma que todas as pessoas, sem qualquer distinção, têm direito a solicitar e gozar de asilo
político em outros países em caso de perseguição, bem como retornar ao seu próprio país”.
(PIOVESAN, 2001, p. 41).

A partir da institucionalização da ONU, criou-se em 1948 o órgão autônomo: a Organização


Internacional dos Refugiados (OIR) que, pela amplitude de seu tratado constitutivo, colocava sob
sua proteção inclusive as pessoas “deslocadas internamente”, fato que Jubilut (2007, p. 79)
afirma ser inédito no Direito Internacional dos Refugiados.

A Organização Internacional para Refugiados encerrou as suas ações em 28 de fevereiro de


1952, transferindo a proteção dos refugiados ao órgão subordinado a ONU denominado Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). (JUBILUT, 2007, p. 79).

Estabeleceu-se o ACNUR em 1° de janeiro de 1950 no sistema onusiano, com mandatos de três


anos, que são renovados a cada cinco anos. Até hoje, pertence ao ACNUR a responsabilidade
pela proteção dos refugiados. (JUBILUT, 2007, p. 79/80).

O cenário internacional decorrente da Segunda Guerra Mundial serviu de inspiração e motivação


para a busca de um mundo mais justo onde a dignidade humana fosse reconquistada.
(CASELLA, 2001, p. 19). O autor ainda ressalta:

O quadro institucional e legal de assistência aos refugiados foi formado no decorrer das
décadas de 50 e 60, onde a Convenção sobre refugiados de 1951 e o Protocolo de 1967
são os maiores instrumentos, juntamente com o Estatuto do Alto-Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (UNHCR), de 1950, e algumas resoluções importantes
da Assembléia Geral das Nações Unidas. (CASELLA, 2001, p. 19).

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A institucionalização do ACNUR, da Convenção de 1951 e do Protocolo de 196729 representa a
fase contemporânea da proteção internacional dos refugiados e é justamente esta fase que
estamos presenciando. (ANDRADE, 2001, p. 124).

Segundo Araújo e Almeida (2001, p. 354), o termo Tratado foi escolhido pela Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 para designar um acordo internacional. Ainda
segundo os mesmos autores: “Tratado seria o ato bilateral ou multilateral ao qual se deseja
atribuir especial relevância política”. (ARAUJO e ALMEIDA, 2001, p. 354).

Em relação aos tratados Jubilut (2007, p. 82) explica:

Constituem a principal fonte do Direito Internacional Público contemporâneo, sendo


essenciais para a vida internacional. Tal importância decorre do fato de eles positivarem
as normas, o que facilita sua prova e confere maior segurança jurídica ao sistema.

A autora ainda ensina que os Estados que se comprometem a cumprir um tratado passam a ser
designados Estados partes, cabendo apenas a estes as obrigações contidas na convenção, ou
aplicam-se universalmente no caso de o tratado trazer consigo alguma norma costumeira.
(JUBILUT, 2007, p. 82). Em relação ao Direito Internacional dos Refugiados, o marco
institucional da proteção moderna é representado pela Convenção de 1951, celebrada sob amparo
das Nações Unidas, por meio do ACNUR. (JUBILUT, 2007, p. 83).

Todavia, a Convenção de 1951 foi elaborada a partir de muitas divergências e sofreu críticas em
função das limitações impostas por ela – possibilidade de reserva geográfica, limitação quanto
aos motivos para o reconhecimento do status de refugiado, não estabelecimento de um órgão
responsável por sua interpretação, ainda que suas diretrizes de interpretação fossem divulgadas
pelo ACNUR. A fim de que as limitações existentes na Convenção de 1951 fossem extintas e,
como consequência de haver surgido novos grupos de refugiados, por meio de atuação do
ACNUR, adotou-se o Protocolo de 1967, abolindo as reservas geográficas e temporais, além de
tornar mais amplo e abrangente a definição de refugiado. (JUBILUT, 2007, p. 87).

Sobre esses dois tratados, Jubilut (2007, p.88) assevera que estes formam a base positiva
universal do Direito Internacional dos Refugiados, porém, argumenta haver outros que objetivam
a mesma proteção, como por exemplo, a Convenção Relativa aos Aspectos Específicos dos
Refugiados Africanos, de 1969, no âmbito da Organização da Unidade Africana. A autora ainda

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ressalta que o DIR utiliza-se de outros tratados não específicos sobre o tema a fim de assegurar
uma melhor proteção aos refugiados.34 (JUBILUT, 2007, p. 89).

3.1.2. As formas de aquisição do status de refugiado


A instituição responsável pela promoção da proteção internacional dos refugiados, o ACNUR,
considera refugiados aquelas pessoas determinadas pelo diploma legal que regula o estatuto
específico sobre o tema. No site oficial do ACNUR (2010d) consta:

De acordo com a Convenção de 1951 relativa ao estatuto dos refugiados (de 1951), são
refugiados as pessoas que se encontram fora de seu país por causa de fundado temor de
perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação
em grupos sociais, e que não possa (ou não queira) voltar para casa.

Portanto, segundo definição clássica, a aquisição do status de refugiado segue a premissa que
deve haver o fundado temor de perseguição em função de raça, religião, nacionalidade,
pertencimento a grupo social e opinião política, para que se reconheça sua condição.
(ALMEIDA, 2001, p. 136).

3.2. Proteção Internacional Dos Direitos Humanos


A proteção internacional dos direitos humanos teve início na segunda metade do século XIX, e
se manifestou a priori, para Fábio Konder Comparato (2015, p.67), através do direito
humanitário, o qual compreende:

[...] o conjunto das leis e costumes da guerra, visando a minorar o sofrimento de soldados
prisioneiros, doentes e feridos, bem como das populações civis atingidas por um conflito
bélico, o primeiro documento normativo de caráter internacional foi a Convenção de
Genebra de 1864, a partir da qual fundou-se, em 1880, a Comissão Internacional da Cruz
Vermelha. A Convenção foi revista, primeiro em 1907, a fim de se estenderem seus
princípios aos conflitos marítimos (Convenção de Haia), e a seguir em 1929, para a
proteção dos prisioneiros de guerra (Convenção de Genebra).

A pretensão de proteger os direitos humanos também se manifestou na luta contra a escravidão, a


datar do estabelecimento do Ato Geral da Conferência de Bruxelas, de 1890, e posteriormente
pela Convenção de Genebra, tal qual na regulamentação dos direitos dos trabalhadores

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assalariados, com a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919
(COMPARATO, 2015).

Ante a devastação causada pelos impactos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), adveio a
urgente necessidade de proteger e postular os direitos humanos fundamentais internacionalmente
de forma profunda e definitiva. Segundo o antigo Ministro de Relações Exteriores, Luiz Felipe
Lampreia (1998, p. 1), em seu ensaio “Direitos Humanos e Diplomacia”:

A experiência das violações de direitos humanos perpetradas durante a Segunda Guerra


Mundial, com um trágico saldo de milhões de vítimas, exigia que os direitos humanos
viessem a ocupar um lugar central na nova organização internacional. Tal centralidade se
justificava tanto em atenção a imperativos éticos quanto em função de considerações
políticas, já́ que o respeito mais generalizado aos direitos humanos pelos Estados
membros da comunidade internacional criaria necessariamente condições mais propícias
à paz e à segurança mundiais.

A Organização das Nações Unidas (ONU), foi criada em 1945, por meio da Carta das Nações
Unidas, cuja elaboração, segundo Lampreia (1998) estabeleceu de antemão que os direitos
humanos não poderiam ficar restritos a jurisdição interna dos Estados, sendo necessário que
fosse positivado na esfera internacional. 18 Sendo assim, em 10 de dezembro de 1948 foi
aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), primeiro documento
internacional específico sobre os direitos humanos (LAMPREIA, 1998).

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4. Considerações finais
As organizações internacionais constituem um agente de vulto no panorama mundial das ações
políticas, econômicas e sociais. A gradativa importância fáctica desses entes lhes auferiram
direitos e obrigações no plano internacional. Através delas, os Estados transferiram grande parte
de suas necessidades para o convívio internacional, principalmente através do mecanismo de
celebração de tratados. Por outro lado, permanecem as discussões sobre a personalidade jurídica
das organizações internacionais e o problema tem implicações variadas.

Para que as organizações internacionais cumpram bem suas funções, principalmente, no que diz
respeito a celebração de tratados, é indispensável o reconhecimento da personalidade jurídica de
Direito Internacional, o que lhes foi conferido através da prática ao longo dos anos. A discussão
se esbarra na questão da soberania dos Estados.

Principalmente na América Latina, existe um apego exacerbado ao conceito de soberania, é o


que pode ser chamado de "soberanofilia". A muralha da soberania é intransponível a médio e a
longo prazo. Por outro lado, a tendência mundial se manifesta em uma força "contrária", ou seja,
cada vez mais a globalização faz com que os Estados se engendrem em uma teia de dependência
que na prática se concretiza através da cooperação técnica internacional, seja de caráter bilateral
ou multilateral.

É através da celebração de tratados que essa cooperação se estabelece, e as organizações


internacionais são hoje em dia consideradas o epicentro dessa cooperação. É neste sentido que o
reconhecimento da personalidade jurídica das organizações internacionais se torna uma premissa
básica para o bom desempenho das relações diplomáticas e do desenvolvimento econômico e

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social. É importante ressaltar que a celebração de tratados é atualmente uma das práticas mais
importantes nas relações internacionais.

5. Referências bibliográficas
AKEHURST, Michael. Introdução ao direito internacional. Coimbra: Almedina, 1985.

MEDEIROS, Antonio Paulo Cachapuz de. O poder de celebrar tratados . Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris, 1995. _________________.

As organizações internacionais e a cooperação técnica. In: MARCOVITCH, Jacques


(Org.).Cooperação Internacional: estratégia e gestão. São Paulo: USP, 1994.

CONVENÇÃO de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969). CONVENÇÃO de Viena sobre o
Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações
Internacionais (1986).

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Tratados internacionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.

REUTER, Paul. Introducción al derecho de los tratados. México: Universidad Nacional


Autônoma de México, 1999.

SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2002.

SORENSEN, Max. Manual de derecho internacional público. México: Fondo de la Cultura


Económica, 1973.

TOUSCOZ, Jean. Direito internacional. [S.l.]: Europa-America; LDA; Presses Universitaires de


France, 1993.

16
BUERGENTHAL et al., citado por MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Tratados Internacionais.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001. p. 14.

CONVENÇÃO de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969). Art. 2º, I, alínea a).

REZEK, citado por MAZUOLI, Valério. Tratados internacionais. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2001. p. 23.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Tratados internacionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.
p. 27.

SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2002.
p. 60.

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