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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

Justiça no Direito Internacional Privado

Trabalho de apresentado na Faculdade de ciências Sociais para a avaliação na cadeira


de Direito Internacional Privado.

Luanda,2023
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

Justiça no Direito Internacional Privado

Elaborado pelo:
Grupo nº 1
Turno: Diurno
Sala: 15
3º Ano

Trabalho apresentado na Faculdade de ciências Sociais para a avaliação na


cadeira de Teoria Geral do Estado do curso de Ciências Política, ministrado
pelo docente Me. Mauro Quitumbo.

Luanda, 2023

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Integrantes do Grupo
Afonso Ângelo Pedro
Alberanz Lopes Francisco
Alberto Mário Muhetano
Agostinho Pedro Panzo
António Casimiro
António Muquixi
António Blanchard Supresa
Araci Domingos
Edison Gonga
Efraim Camati de Assunção
Estanislau Kulia
Gaspar Kuhema da Silva
Inoque Zino Lengana
Isabel Maria André
Jeremias Capingala
Josualdo Jacinto
José Francisco
Mateus José
Márcio F. Manuel
Paulina M. Bumba
Pedro Assis Ganga Manuel.

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Índice

Introdução ......................................................................................................................... 5

Ensaio conceptual ............................................................................................................. 6

Justiça............................................................................................................................ 6

Direito Internacional Privado........................................................................................ 7

Justiça no Direito Internacional Privado .......................................................................... 9

A materialização da Justiça no Direito Internacional Privado ...................................... 9

Justiça como fundamento e fim das normas de conflitos ........................................... 10

Impasses a justiça no Direito Internacional Privado ................................................... 11

Conclusão ....................................................................................................................... 13

Bibliografia ..................................................................................................................... 14

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Introdução
No mundo inteiro, por conta da globalização, cada vez mais são frequentes as relações
jurídicas com conexão internacional a transcender as fronteiras nacionais, muita das vezes
estas relações são revestidas de conflito, por isso, torna-se um desafio cada vez maiores,
para os Estados, a necessidade de uma prestação jurisdicional adequada, tempestiva e
efetiva, para a solução de litígios que transcendem a sua jurisdição.

Ao dirimir um conflito toda norma jurídica tem como fim ultimo garantir a justiça, como
diriam os romanos, é dar a cada um o que é seu. E o tribunal, revestido de Poder Judiciário,
é o órgão competente para administrar a justiça, em nome da comunidade política.

Este trabalho acadêmico pretende analisar o papel da Justiça no Direito Internacional


Privado, uma vez que a solução de conflitos pluriconectados é, mais que uma questão de
cortesia dos foros nacionais, é, também, um imperativo de justiça que fundamenta a
própria existência das regras de conexão em Direito Internacional Privado.

Desse modo, em um primeiro momento analisaremos a concepção da justiça e a sua


classificação moderna; em seguida analisa-se alcance teórico e o objetivo do Direito
Internacional Privado; para então adentrarmos no papel da Justiça e sua utilização na seara
do Direito Internacional Privado.

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Ensaio conceptual

Justiça

O termo Justiça deriva do latim “justitia”, que era usado para se referir a “virtude moral
que consiste no reconhecimento que devemos dar ao direito do outro” (Japiassú &
Marcondes, 2001). Logo, é razoável concluir que, a justiça é um conceito abstrato que se
refere a um estado de interação social ideal onde há um equilíbrio, por si só, razoável
e imparcial, entre os interesses, riquezas e oportunidades das pessoas envolvidas em
determinado grupo social.

No livro V da Ética a Nicômaco, Aristóteles cuida da justiça como virtude da convivência


humana e a classifica em:

 Justiça distributiva: princípio ético-político que estabelece a atribuição a cada um


do que lhe é devido.
 Justiça comutativa: conjunto de princípios e leis que regulam as relações entre os
indivíduos em uma sociedade e que devem ser cumpridos de modo rigoroso e
igualitário. "Quando os homens são amigos não há necessidade de justiça"
(Aristóteles).
As discussões modernas sobre a justiça costumam encará-la sob dois aspectos que
poderíamos classificar da seguinte maneira:
 Aspecto formal, ela aparece como um valor ético-social de proporcionalidade em
conformidade com o qual, em situações bilaterais normativamente reguladas,
exige-se a atribuição a alguém daquilo que lhe é devido. (Hoffe, 2003)
 Aspecto material da justiça, trata se da ideia clássica do suum cuique tribuere, que
reclama, ou seja, tratando os iguais igualmente, na medida de sua igualdade e os
desiguais desigualmente, na medida de sua desigualdade. (Hoffe, 2003)

A leitura de Justiça apresentada por Hoffe nos ajuda a entender que o aspecto formal da
Justiça, exige igualdade proporcional e exclui a desigualdade desproporcional como
princípio estrutural sem o qual não há sentido no jogo jurídico, e o seu aspecto material
denuncia-se um campo de probabilidades e possibilidades que tornam a justiça o
problema que dá também sentido ao jogo.

A perspctiva de Hoffe (2003) inseri na na ciência jurídica uma discussão acerca do papel
da justiça que por base o direito substantivo, que determina o “dever-ser” no âmbito de

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sua função solucionadora de controvérsias materiais, atribuindo direitos e obrigações aos
sujeitos de direito.

Quanto a operacinalização da Justiça, segundo Hoffe (2003), é feito num mecanismo de


cooperação mútua, que deve-se aliar os cidadãos de forma que eles pautem suas condutas
numa busca pela melhoria social, através da aplicação das normas jurídicas e o respeito à
segurança.

Em Angola, o órgão de soberania com competência de administrar a justiça em nome do


povo são os tribunais, que no exercício das suas funções devem, de maneira eficaz e
eficiente, dirimir conflitos de interesses público ou privado, assegurar a defesa dos
direitos e interesses legalmente protegidos, bem como os princípios do acusatório e do
contraditório e reprimir as violações da legalidade democrática. E nem podem negar a
justiça aos mais pobres (art.174 da Constituição da República de Angola).

Percebe se assim que no direito, Justiça tem o sentido de “legalidade”, que significa a
manutenção de uma ordem positiva através da sua aplicação escrupulosa, o que requer a
existência de um ordenamento jurídico que proporcione uma solução de compromisso
entre interesses opostos e de minimizar os possíveis atritos. (Kelsen, 2000)

Direito Internacional Privado

O ensaio conceptual de Direito Internacional Privado, mais acabado é do professor Ferrer


Correia, que entende o Direito Internacional Privado como

...ramo da ciência jurídica onde se procuram formular os


princípios e regras conducentes à determinação da lei ou das leis
aplicáveis às questões emergentes das relações jurídico-privadas
de carácter internacional e, bem assim, assegurar o
reconhecimento no Estado do foro das situações jurídicas
puramente internas de questões situadas na órbita de um único
sistema de Direito estrangeiro (situações internacionais de
conexão única, situações relativamente internacionais). (Correia
apud Mazzuoli,2018)

O Direito Internacional Privado é caracterizado pelo “conflito de leis no espaço”, que por
sua vez, dá origem, ao principal método do Direito Internacional Privado, que visa

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capacitar o juiz a escolher, dentre as várias legislações conectadas com a situação, o
sistema jurídico a ser aplicado para regê-la.

As regras do Direito Internacional Privado, só têm lugar num processo judicial que esteja
presente, na relação jurídica, um determinado “elemento estrangeiro”, conectando a
questão sub judice a mais de um ordenamento jurídico, por isso que todos ou quase todos
os problemas do DIP, resulta da existência de trocas internacionais (comércio jurídico)
internacional e de correntes migratórias entre os Estados (deslocação de pessoas,
revestida de proteção jurídica).

A doutrina do DIP é consensual a afirmar que o DIP se limita a indicar, e não regular
diretamente, dos ordenamentos jurídicos potencialmente competentes, aquele mais
competente para dirimir o conflito, através das normas de conflitos. As “normas conflitos
constituem, assim, o instrumental de que se utiliza o juiz no processo de escolha da lei
aplicável à relação jurídica privada de dimensão internacional” (Mazzuoli, 2018).

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Justiça no Direito Internacional Privado
A justiça no Direito Internacional Privado (DIP) é um tema complexo e multifacetado,
colocando os doutrinários em lados opostos. A justiça sistêmica e a justiça material são
duas visões de justiça que se unem no DIP (Hoffe, 2003).

Esta união, como salienta a professora Araújo (2004), prioriza à realização da justiça
material (ressalvado no caso da ordem pública) meramente de forma indireta, e isso,
notadamente, mediante elementos de conexão alternativos favorecendo a validade
jurídica de um negócio jurídico.

A materialização da Justiça no Direito Internacional Privado

No Direito Internacional Privado, tal como em outros ramos do direito, a justiça sistêmica
é uma visão formal de justiça que busca garantir a segurança jurídica e a previsibilidade
das decisões judicias nas relações jurídicas plurilocalizadas. Já a justiça material é uma
visão substantiva de justiça que busca garantir a proteção dos direitos fundamentais das
partes envolvidas.

Como explica Haroldo Valladão, o DIPr leva em conta “as várias leis que incidiram na
relação interespacial e, coordenando-as, harmonizando-as, procura escolher, com justiça
e equidade, qual delas deverá regular, no todo ou em parte, os fatos, atos e efeitos,
iniciados, em curso, findos, ou a praticar, na circulação humana através dos vários grupos
jurídicos do mundo”.

Assim, a missão DIPr, como já foi referido aqui, consiste em localizar perante qual norma
(nacional ou estrangeira) a questão sub judice encontra o seu verdadeiro “centro de
gravidade” ou “ponto de atração”, para, somente assim, resolver com harmonia e justiça
o caso concreto.

As normas jusprivatistas internacionais conduzem o jurista à técnica de determinação da


aplicação da lei nacional ou estrangeira aos casos com elementos estrangeiros, a partir de
um método (ou técnica) especial destinado a satisfazer um conceito de justiça própria e
concreta” (Curso de direito internacional privado, cit., p. 13-14).

E, claro, como toda norma jurídica, as regras ou norma de conflito também devem estar
comprometidas com o valor final da justiça, razão pela qual é preciso rever a utilização
de regras de conexão rígidas, inflexíveis e mecânicas, inclusive por fidelidade ao objetivo

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primeiro do Direito Internacional Privado, esclarecido pelos Pais da disciplina, a saber, o
da determinação da lei mais adequada e justa para o problema dos conflitos de leis.
Justiça como fundamento e fim das normas de conflitos

As regras ou normas de conflito encontram o seu fundamento na “busca pela boa justiça”,
ou seja, a aplicação de uma lei estrangeira pelo juiz local não decorre da cortesia entre as
nações, mas em razão do imperativo de justiça. Esta é uma posição defendida pelo Juiz
Story, da Suprema Corte norte-americana em meados do século XIX.

Story deu grande contribuição na busca pela justiça através do DIPr, por formular regras
fixas sobre a lei a ser aplicada diante das diversas situações jurídicas privadas de
dimensão internacional levadas a um juiz nacional, determinando que, para reger o estado
e a capacidade das pessoas, aplica-se a regra geral do lugar de seu domicílio, para reger
os contratos, a lei do lugar de sua feitura e, no caso de direitos reais sobre imóveis, a do
lugar onde se situam.

A busca pela justiça no DIPr visa preservar a dignidade da pessoa humana, por submeter
o ordenamento jurídico, escolhido para regular determinado conflito internacional, aos
valores constitucionais (direitos fundamentais) e internacionais (direitos humanos)
relativos à proteção dos cidadãos, sem o que o DIPr contemporâneo não atenderia à sua
função precípua, que é resolver, com harmonia e justiça, o conflito sub judice de leis no
espaço com conexão internacional. (Mazzuoli, 2018)

Percebe logo que, no direito internacional privado, é possível, até certo limite, favorecer
e proteger a parte economicamente mais fraca que participe de um negócio jurídico, “
devendo os limites em relação à solução de conflitos de lei ser traçados pelos direitos
humanos”. (Araújo, 2004)

É de salientar aqui, outrossim, que um dos objetivos do DIPr é a harmonização das


decisões judiciais proferidas pela justiça doméstica com o direito dos países com os quais
a relação jurídica, no caso, tem conexão internacional, desde que não viole a ordem
interna.

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A justiça, enquanto fim atingir, direciona o Direito Internacional Privado, na sua atuação,
a promover, primordialmente, os princípios:

 Da “igualdade do tratamento das pessoas”,


 Da “harmonia das decisões sobre uma mesma relação jurídica”,
 Da “previsibilidade das soluções encontradas”,
 E das “relações jurídicas universais”

Com forma a “garantir a continuidade e a estabilidade das situações jurídicas


multinacionais, através da uniformidade da respectiva valoração por parte de diversos
sistemas interessados”. (Araújo, 2004)

Impasses a justiça no Direito Internacional Privado

O acesso à justiça é um direito humano básico que permite aos indivíduos invocarem a
atuação do Poder Judiciário, porém a sua efetiva concessão encontra impasses em razão
da ausência de celeridade na prestação jurisdicional.

Nos impasses que afetam o Direito Internacional Privado, podemos destacar alguns
elementos que são verdadeiros desafios para a solução de um conflito sub judice, que
envolva mais de um ordenamento jurídico, especialmente pelo âmbito da jurisdição
privada. Dentre tais podemos citar:
 Os diferentes ordenamentos jurídicos, usos e costumes, que podem incidir sobre
o caso;
 A dificuldade de se praticar atos, como a produção de provas e citação, quando
tais procedimentos devem ser praticados fora do limite jurisdicional de um país;
 Os entraves da justiça estatal, como verificamos no Angola - por exemplo, a
morosidade; O procedimento de cada país para o reconhecimento, homologação,
de sentença estrangeira;
 E os conflitos - positivos ou negativos - de competência de jurisdição.

É preciso tomar consciência dos fins motivadores do Direito Internacional Privado e


superar os impedimentos que venham a obstaculizar o produto final, que é justiça. Por
isso os ordenamentos jurídicos, ao dirimir um conflito transnacional, devem garantir:

 A admissão ao processo (ingresso em juízo) - é preciso eliminar as dificuldades


econômicas que impeçam ou desanimem as pessoas de litigar ou dificultem o

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oferecimento de defesa adequada. A justiça não deve ser tão cara ao ponto de
deixar os menos afortunados desprotegidos (Hoffe, 2003);
 O modo-de-ser do processo - no desenrolar de todo o processo, de situação
privada internacional, é preciso que a ordem jurídica e seus atos seja observada,
que as partes tenham oportunidade de participar de diálogo com o juiz. O juiz
deve instruir o processo conforme ao ordenamento jurídico escolhido para dirimir
o conflito sub judice, sem prejuízo dos direitos humanos;
 A justiça das decisões - o juiz deve pautar-se pelo critério de justiça, seja (1) ao
apreciar a prova, (2) ao enquadrar os fatos em normas ou categorias jurídicas e (3)
ao interpretar textos do direito positivo interno ou estrangeiro, aplicáveis ao
conflito sub judice. Entre dois ordenamentos jurídicos que regulam a mesma
situação de diferentes maneiras, deve optar por aquela que conduza a um resultado
mais justo; deve, o oficial de Justiça, pensar duas vezes antes de fazer uma
injustiça (Kelsen, 2000);
 A utilidade das decisões- todo processo, sub judice de situação privada
internacional, deve “dar a quem tem um direito tudo aquilo que lê tem o direito
de obter” (Hoffe, 2003). Essa máxima de nobre linhagem doutrinária constitui
verdadeiro slogan dos modernos movimentos em prol da efetividade do processo
e deve servir de alerta contra a tomadas de posição que tornem acanhadas ou
mesmo inúteis medidas judiciais deixando resíduos de injustiça.

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Conclusão
Ao final deste trabalho, concluímos que:

1. A justiça é um conceito abstrato que se refere a um estado de interação


social ideal onde há um equilíbrio, por si só, razoável e imparcial, entre
os interesses, riquezas e oportunidades das pessoas envolvidas em
determinado grupo social, que se materializa através da aplicação escrupulosa da
Lei.
2. O Direito Internacional Privado se ocupa dos problemas decorrentes de situações
jurídicas privadas de dimensão internacional. Sua principal função é orientar o
juiz competente no momento de decidir qual a lei aplicável a uma controvérsia
que tenha contato com mais de um ordenamento jurídico.
3. O Direito Internacional Privado pauta-se pela justiça, seja no seu fundamento e
sua obrigatoriedade, seja na sua aplicação na solução de um conflito privado
internacional sub judice.
4. É preciso tomar consciência dos fins motivadores do Direito Internacional Privado
e superar os impedimentos que venham a obstaculizar o produto final, que é
justiça.

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Bibliografia

Araújo, N. (2004). Direito internacional privado: teoria e prática brasileira. 2. ed. Rio de
Janeiro, Renovar.
Hoffe, O. (2003). O Que é Justiça? Porto Alegre: Edipucrs.

Japiassú, H., & Marcondes, D. (2001). Dicionário Básico de Filosofia . Rio de Janeiro:
Zahan.

Kelsen, H. (2000). Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fonte.

Mazzuoli, V. (2018). Curso de Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Forense.

Valladão, H (1974). Direito internacional privado. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas

Bastos, v. 1.

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