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UNIVERSIDADE FEREDAL DE VIÇOSA

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

ANA KARINE VIEIRA COSTA

DIÁRIO DE CAMPO
INSTITUIÇÃO NÃO ESCOLAR

VIÇOSA
2022
ANA KARINE VIEIRA COSTA

DIÁRIO DE CAMPO
INSTITUIÇÃO NÃO ESCOLAR

Trabalho apresentado a disciplina


ENA 440 – Estágio I da Universidade
Federal de Viçosa, como requisito
parcial para conclusão da disciplina.

Prof ª: Sara Ferreira de Almeida

VIÇOSA
2022
SUMÁRIO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO I.........................................................................4


OBSERVAÇÃO – 07/06/2022 – 8 h às 12 h:...................................................................................4
OBSERVAÇÃO – 08/06/2022 – 8 h às 12 h:...................................................................................5
OBSERVAÇÃO – 09/062022 – 8 h às 12 h:....................................................................................6
OBSERVAÇÃO – 09/06/2022 – 14 h às 16 h:.................................................................................7
OBSERVAÇÃO – 10/06/2022 – 8 h às 12 h:...................................................................................8
OBSERVAÇÃO – 10/06/2022 – 14 h às 16 h:.................................................................................8
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO I

A observação do Estágio Supervisionado na Instituição não Escolar foi


realizada em atividades desenvolvidas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens
em comunidades rurais nos municípios de Josenópolis e Grão Mogol no norte de
Minas Gerais, durante o período de 07 a 10 de junho de 2022, totalizando a carga
horária de 20 horas. Importante mencionar que o movimento possui uma
abrangência muito grande, ou seja, não é possível considerar como objeto de
observação o MAB enquanto movimento social na sua totalidade. Tomarei como
foco de observação as atividades que serão desenvolvidas a campo e as relações
do movimento no espaço ao qual ele está atuando.

OBSERVAÇÃO – 07/06/2022 – 8 h às 12 h:

 Histórico do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB:


O MAB tem uma longa história de resistência, lutas e conquistas, sua história
remonta a ditadura militar, especialmente ao período que passou para a história com
o nome de “milagre brasileiro”, onde três grandes usinas hidrelétricas foram
construídas no final dos anos 70, Sobradinho, no Nordeste; Tucuruí, na região Norte;
e a maior delas, Itaipu, no sul do país. Empreendimentos que expulsaram milhares
de agricultores e suas famílias de suas terras. Mais tarde, o MAB se transformou em
organização nacional e, hoje, além de fazer a luta pelos direitos dos atingidos,
reivindica um Projeto Energético Popular para mudar pela raiz todas as estruturas
injustas desta sociedade.
O MAB é definido como um movimento de caráter nacional, autônomo, de
massa, de luta, com rostos regionais, sem distinção de cor da pele, gênero,
orientação sexual, religião, partido político ou grau de instrução. É uma organização
com participação e protagonismo coletivo em todos os níveis. Um dos principais
objetivos é organizar os atingidos por barragens (antes, durante ou depois da
construção dos empreendimentos).
A organização é uma das ferramentas de defesa dos interesses das
populações atingidas pelo sistema de geração, distribuição e venda da energia
elétrica. A prática é orientada por princípios e valores que encontram na pedagogia
do exemplo e na solidariedade entre os povos a melhor forma de convencimento.
As parcerias do movimento são estabelecidas a níveis regionais, estaduais e
nacionais, como exemplo: sindicatos, prefeituras, igrejas, escolas, universidades,
mandatos políticos e demais organizações que comungam dos mesmos princípios
defendidos pelo movimento.
Por ser um movimento social, a gestão é coletiva e democrática, há coletivos
regionais, estaduais e nacionais que coordenam, planejam, executam e avaliam as
atividades desenvolvidas. O recurso financeiro é arrecadado por meio de doações
dos próprios atingidos, instituições, parceiros e projetos financiados

OBSERVAÇÃO – 08/06/2022 – 8 h às 12 h:

O objetivo da reunião era ouvir as demandas e denúncias dos moradores da


comunidade Tinguí no município de Grão Mogol. A comunidade é marcada pela
violação de direitos causados pelas empresas de eucalipto e mineração, várias
famílias perderam suas propriedades e outras vivem em conflitos com as empresas.
A reunião ocorreu na estrutura de uma antiga escola da comunidade, que foi
fechada com a justificativa de não haver alunos suficientes para manter o
funcionamento da mesma. A estrutura física está bastante depredada, havia
algumas cadeiras e mesas muito velhas e quebradas.
Dentre os participantes da comunidade havia apenas uma mulher e cerca de
13 homens, a maioria com idade mais avançada.
Inicialmente, foi feita uma mística com o uso de poesia e oração, em seguida
todos se apresentaram dizendo o nome e onde moravam. Após a apresentação,
militantes do MAB introduziram a reunião explicando o objetivo e a importância de
todos participarem e se expressarem.
Foi aberto espaço para que os moradores colocassem os principais
problemas enfrentados na comunidade e quais violações de direitos os mesmos
vinham sofrendo.
O primeiro morador a falar disse que não possuía energia em sua casa,
nunca teve acesso, pois mora dentro de um Parque Estadual da CEMIG que se
configura no sistema de proteção integral (Este parque é uma das violações de
direitos, pois foi construído no território sem consulta previa e sem as devidas
indenizações), sua casa já existia no local do parque, a CEMIG não indenizou e ele
não possui condições de mudar.
Outros moradores colocaram os impactos causados pelas empresas de
eucalipto, como poluição e diminuição da capacidade hídrica, más condições nas
estradas causadas pelos caminhões das empresas. Foi colocado também as
ameaças físicas sofridas por alguns moradores que se posicionam e atuam contra
os empreendimentos capitalistas no território.
Após colocarem os principais pontos de pautas e reivindicações que foram
anotados pela relatoria do MAB, a reunião foi finalizada com o encaminhamento de
que essas informações irão virar uma matéria para ser postada no site e redes
sociais do MAB, e as demandas serão encaminhadas para os órgãos competentes.

OBSERVAÇÃO – 09/062022 – 8 h às 12 h:

Foi realizada uma visita na comunidade Retiro no município de Josenópolis,


com o objetivo de fazer acompanhamento das últimas demandas da comunidade. A
visita aconteceu na casa de um morador que é uma das lideranças comunitárias,
outros vizinhos foram chamados para participarem do diálogo também.
Antes de iniciar oficialmente o diálogo chegou um morador com uma camisa
escrita “Sou Geraizeiro e Apoio o Projeto Bloco 8”, ao cumprimentá-lo questionei se
ele apoiava o projeto mencionado na camisa, uma vez que este projeto prevê a
construção da segunda maior barragem de rejeito do mundo, no território onde ele
vive, trazendo grandes impactos para a região e para a comunidade. Ele me disse
que não apoia o projeto e que a camisa foi ganhada de um conhecido, como ele não
sabe ler, não entendia o que estava escrito, havia apenas achado a camisa bonita.
Li a camisa para ele sinalizando o que cada palavra dizia, ele me disse que nunca
mais usaria a camisa.
Ao iniciar o diálogo com os moradores, todos sentaram em círculo debaixo de
uma árvore de tamarindo, todos se apresentaram e eu expliquei que estava fazendo
estágio da faculdade. Os militantes do MAB coordenaram o espaço, dizendo os
objetivos do encontro, perguntaram aos moradores os últimos acontecimentos e
como estava a relação com as empresas de eucalipto.
O morador da casa a qual estávamos iniciou falando sobre a poluição com
óleo diesel em uma nascente da comunidade causada pelos caminhões pipas de
uma das empresas que utilizam a água para molhar o eucalipto. Foi feita denúncia
na polícia ambiental do município, mas ainda não tiveram retorno. Uma moradora
falou sobre o alto índice de pessoas com depressão e ansiedade na comunidade, a
maioria dessas pessoas tiveram seus modos de vida totalmente mudados com a
chegada das empresas, não podem mais plantar e nem criar o gado nas chapadas
como era feito antigamente, tais privações ameaçam uma das coisas mais preciosas
que os moradores tem: a sua identidade enquanto povos Geraizeiros.
Outros moradores compartilharam suas angustias e demandas, o encontro foi
finalizado com palavras de resistência e motivação para persistirem na luta pelos
direitos.

OBSERVAÇÃO – 09/06/2022 – 14 h às 16 h:

Foi feita uma visita a comunidade Miroró, situada as margens do rio Vacarias,
onde é previsto a construção de uma barragens de água pela empresa de
mineração Sul Americana de Metais – SAM, a construção dessa barragem
desapropriará várias famílias e trará impactos significativos ao território, uma vez
que irá mudar o curso do rio, tendo grande potencial de secar nascentes e afluentes
próximos.
Segundo os moradores a comunidade possui 280 anos de existência, a
população é composta por povos que se reconhecem tradicionalmente enquanto
Geraizeiros e Vacarianos, a identidade Vacariana ainda está em processo de
reconhecimento formal junto aos órgãos responsáveis.
O objetivo da visita foi colher materiais como fotos e vídeos e ouvir dos
moradores suas percepções e posicionamento frente a este projeto. O encontro com
os moradores ocorreu no centro comunitário, aparentemente é uma estrutura bem
antiga e sem vestígios de reformas recentes, não há energia no local. Os moradores
se mobilizaram para cada um levar café e lanches, foi feita uma mesa de partilha
com os alimentos levados.
Antes de iniciar o diálogo, foi feita uma mística inicial com uma música
popular da região, em seguida cada um se apresentou. Os moradores fizeram um
resgate histórico da comunidade, trazendo elementos que marcam a identidade
tradicional e como isso é ameaçado pelo avanço das empresas de eucalipto e
mineração. Os militantes do MAB ouviam e registravam os relatos dos moradores.
Foi unanime o posicionamento dos participantes contra o projeto de
construção da barragem, ressaltando que o projeto ainda não foi licenciado, por isso
é importante a mobilização da comunidade para que seja exposto a inviabilidade e o
risco do projeto.

OBSERVAÇÃO – 10/06/2022 – 8 h às 12 h:

Para este dia havia previsto uma reunião na comunidade Lamarão no


município de Josenópolis, porém a reunião foi desmarcada e utilizei o tempo para
estudo de documentos e sínteses das atividades já desenvolvidas.
Conforme as observações feitas, é visto que os militantes buscam estratégias
para que os participantes da reunião sejam protagonistas e possam se expressar
durante os diálogos, porém também há intervenções por parte dos militantes, que
colocam elementos que contribui para organização e formação social dos sujeitos
presentes.
Como as atividades são desenvolvidas no próprio território dos atingidos, os
aspectos de infraestrutura e organização podem ser bastante diferentes de lugar
para lugar. O planejamento e estudo é algo muito comum e rotineiro no trabalho dos
militantes. Importante mencionar que para estas atividades observadas haviam 3
militantes e eu como observadora apenas, era feito o rodizio de quem coordenava e
quem registrava as informações de cada reunião.
A proatividade e participação dos moradores é algo bastante expressivo e
motivador.

OBSERVAÇÃO – 10/06/2022 – 14 h às 16 h:

Após o desenvolvimento das atividades e visitas durante a semana, os


militantes do MAB se reuniram para avaliarem o trabalho realizado e tirarem
encaminhamentos a partir das reuniões.
Com base na avaliação, foi exposto como pontos positivos: participação ativa
dos moradores, que se fizeram protagonistas nas reuniões, a solidariedade em doar
alimentos, espaços e tempos, a boa receptividade entre outros pontos. Como ponto
negativo foi colocado a pouca presença e participação da juventude e mulheres.
Como encaminhamentos foi tirado: a construção de reportagens para
publicação no site e redes sociais do MAB, a fim de visibilizar a luta das
comunidades mencionadas. Mobilizar parceiros e órgãos competentes para
assegurem os direitos básicos que são constantemente violados no território e
retorno nas comunidades para fazer as devolutivas.

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