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1.

Representações do sentimento e da paixão: Diversificação da intriga amorosa

Pedro da Maia Carlos da Maia João da Ega

Apaixona-se por Maria Cruza-se com Maria Apaixona-se em poucos


Maria Monforte numa troca Eduarda e fica preso aos dias por Raquel Cohen.
de olhares. seus olhos negros.

Atração irresistível por uma mulher bela e sedutora.

Namora-a à vista de todos. Procura-a discretamente e Apesar da discrição de Ega,


sem o conhecimento dos o caso é comentado pelos
amigos amigos.

Casa-se com Maria Envolve-se com Maria Ega e Raquel cometem


Monforte, contrariando a Eduarda, escondendo o adultério, escondendo-o do
vontade do pai. facto do avô. marido dela.

Maria Monforte trai Pedro, Guimarães revela que Descoberta a traição e


foge com Tancredo e Carlos e Maria Eduarda são expulsão de Ega de casa
abandona o filho, Carlos. irmãos; ambos são traídos dos Cohen.
pelo destino.

Pedro suicida-se. Carlos separa-se de Maria Cohen dá “uma coça” na


Eduarda e ambos deixam o mulher, fazem as pazes e
país. vão viajar para Inglaterra.
Ega fica sozinho.
2. Espaços e seu valor simbólico e emotivo

Espaços Personagens Valor simbólico e emotivo

Santa Olávia - Afonso da Maia - Refúgio em momentos difíceis


- Carlos da Maia - Infância de Carlos
- Símbolo da vida e da regeneração

Coimbra - Carlos da Maia - Juventude e vida boémia


- João da Ega - Representa a formação académica e a
amizade

Sintra - Carlos da Maia e amigos - Encontros sociais e amorosos


- Símbolo do paraíso romântico

Lisboa - Todas - Vivência e convívio social


- Representa a centralidade da nação

Ramalhete - Afonso da Maia - Residência familiar em Lisboa (1875-


- Carlos da Maia e amigos 1877)
- Ao longo do tempo, representa:
- o Portugal velho (antes de 1875);
- as expectativas, projetos, sucessos
(1875-1877);
- a catástrofe e a decadência
familiar (1877)
- O jardim (estátua e cascata) acompanha
simbolicamente

Consultório - Carlos da Maia - Representa os projetos de Carlos e


posterior falhanço profissional
- Símbolo do diletantismo de Carlos e sua
geração

A toca - Carlos da Maia - Transgressão dos valores morais – local


- Maria Eduarda onde ocorre o incesto
- Representa a sensualidade
- Presença de símbolos que anunciam a
extinção da família Maia

Estrangeiro - Maias e amigos - Fuga em momentos difíceis


- Símbolo de cultura e requinte

Palacete de - Afonso da Maia - Desgostos domésticos e tragédia


benfica - Maria Eduarda - Resiliência familiar vendida após o
- Pedro da Maia suicidio de Pedro

Vila Balzac - João da Ega - Sentimentos impuros e adúlteros


- Raquel Cohen - Local dos encontros de Ega e Raquel
3. A crítica de costumes

Hotel Central
- Falta de sentido crítico (discussão sobre o ultra-romantismo e realismo/ naturalismo)
- indiferença das elites perante a situação do país (reflexão sobre a decadência do país)

Hipódromo de Belém
- As corridas de cavalos são evento com pretensões sociais e imitam as corridas da
inglaterra e França
- A sociedade burguesa e fidalga é presunçosa, imita os comportamentos sociais e
estrangeiros e tem uma aparência altiva de elegância (postiça e ridícula)
- Provincianismo portugues
- Falta de civismo

Casa dos Condes Gouvarinho


- A discussão sobre a educação das mulheres e literatura revela falta de cultura,
mediocridade das idéias e falta de visão sobre as problemáticas do paí

Redações dos jornais


- Vícios do jornalismo
- Falta de ética dos profissionais
- Fraca qualidade dos textos publicados

Teatro da Trindade
- Futilidade da alta sociedade
- Falta de cultura das classes favorecidas (gostaram do discurso de rufino mas não
gostaram da atuação de Cruges)

Passeio Final
- Estagnação de Portugal
- Falta de originalidade
- Incapacidade de evoluir
4. Características trágicas dos protagonistas

O herói trágico

- Personagens de condição humana, moral e social superior


- Devido a uma falha de caráter são conduzidas pelo destino a um final trágico

Carlos da Maia Maria Eduarda Afonso da Maia

Caráter firme, finura de trato Elevação ética e intelectual, Valores elevados, caridoso
e elevação intelectual destaca-se pela dignidade, e justiceiro
culta, inteligente e humana

Cometem o erro de se apaixonarem um pelo outro sendo O filho suicida-se e ele


irmãos, o que os leva a um final trágico morre de desgosto por
saber que o neto era
amante da sua própria irmã
5. A educação

A educação portuguesa

- Orientado pelos valores da fé católica, baseado no estudo teórico e livresco, na


memorização e na aprendizagem do latim.

- Produz indivíduos de carácter fraco, de condição débil e sem uma orientação prática para
a vida.

- Exemplos disso são Pedro da Maia e Eusebiozinho.

A educação inglesa

- Apologista do exercício físico, do contacto com a natureza, de uma formação moral sólida
e humanista e do estudo das línguas vivas.

- Carlos é educado segundo o modelo britânico mas falha na vida, ainda que não por causa
deste tipo de educação: são as circunstâncias da sua existência e os condicionalismos do
Portugal em que vive que o tornarão um «vencido da vida».
6. A descrição do real e o papel das sensações

O espaço real

As descrições, por vezes fotográficas, seguem uma geografia precisa, nos


arruamentos, nos jardins, nos largos. Sabemos com exatidão onde mora grande parte das
suas personagens. É que todos os elementos que caracterizam e identificam o meio
geográfico personalizam a ação e as personagens, criando no leitor, simultaneamente, a
ilusão da realidade. [...]
A naturalidade do diálogo e a descrição dos espaços cénicos urbanos, quer de
interior quer de exterior, onde decorre a ação, são ingredientes de que Eça se serve para
provocar no leitor a sensação de autenticidade da sua ficção.
O cenário urbano recriado não é, porém, na narrativa queirosiana, um mero pano de
fundo. Ele motiva o diálogo, compartimenta e dinamiza a ação, complementando o próprio
caráter das personagens. […]
Poderá dizer-se em suma que a descrição dos ambientes [...] pretende tornar crível
ao leitor o mundo romanesco criado pelo escritor, desempenhando a recriação dos cenários
urbanos autênticos importante papel de credibilidade [e pressupõe] a intenção de evidenciar
através da paisagem urbana, até de ambientes de interior, determinadas situações da
narrativa, em consonância com o caráter das personagens.
6. A descrição do real e o papel das sensações (continuação)

O papel das sensações

Sensações Exemplos Papel das sensações

Visuais «Mas era no camarote, quando a luz caía - Conferir dinamismo


sobre o seu colo ebúrneo e as suas tranças descritivo e vivacidade à
de oiro, que ela [Maria Monforte] oferecia narrativa.
verdadeiramente a encarnação de um ideal
da Renascença [...].» - Tornar a descrição do real
(Cap. I, pp. 25-26) mais sugestiva, apelando
ao uso dos sentidos.
Olfativas «[...] os lilases das jarras exalavam um
aroma vivo, a que se misturava o do creme - Recriar não só espaços e
queimado, tocado de um fio de limão [..].» personagens, como
(Cap. III, p. 68) também a ambiência que
os rodeia.
Auditivas «Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais
forte, rolará no chão, soltando gritos - Transportar o leitor para
medonhos.» (Cap. III, p. 77) «dentro» da narrativa,
«[Eusebiozinho] abriu a boca, e como de através das emoções e dos
uma torneira lassa veio de lá escorrendo, instintos.
num fio de voz, um recitativo lento e
babujado: - Expandir a percepção da
É noite [...].» (Cap. III, p. 80) obra literária.
Táteis «Este pesado e enorme angora, branco As percepções sensoriais
com malhas louras, era agora [...] o fiel são transmitidas, muitas
companheiro de Afonso. Tinha nascido em vezes, através de recursos
Santa Olávia, e recebera então o nome de expressivos como a
«Bonifácio» [..].» (Cap. I, p. sinestesia, a comparação,
14) a metáfora, o uso
expressivo do adjetivo e do
Gustativas «Mas o rapaz, abraçando-o mais forte,
advérbio.
dava-lhe grandes razões, num murmúrio de
mimo doce como um beijo, que ia pondo na
face do velho uma fraqueza indulgente.»
(Cap. III, p. 69)
7. Os momentos de tragédia presentes na obra

Hybris (atos desafiadores) Desafio de Carlos aos valores morais e sociais


(relação com mulher aparentemente casada e
incesto consciente).

Agón (conflito, dilemas) Carlos mostra-se dividido entre ser feliz com
Maria Eduarda e não provocar desgostos ao
avô.

Ananké (destino implacável) Fatalidade que persegue a família desde que


Pedro se casou com Maria Monforte.

Sr. Guimarães, mensageiro da desgraça -


intervenção do destino.

Pathos (sofrimento) Atinge todos os protagonistas a partir do


momento da revelação do parentesco.

Peripeteia (peripécia) Revelação de Guimarães e entrega do cofre de


Maria Monforte.

Anagnórise (reconhecimento) Identidade e passado de Maria Eduarda.

Clímax (auge) Consumação consciente do incesto por parte


de Carlos.

Katastrophé (catástrofe) Morte de Afonso. Separação de Carlos e Maria


Eduarda.
8. Indícios e presságios

Lenda sobre o Ramalhete Vilaça “aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual
eram sempre fatais aos Maias as paredes do
Ramalhete.”

O nome (princípe Carlos Eduardo, o Este nome parecia a Maria Monforte “conter todo
último Stuart) um destino de amores e façanhas.”

Similitude dos nomes (Maria “Quem sabe se não pressagiava a concordância


Eduarda, Carlos Eduardo) dos seus destinos.”

Vaso do Japão onde murchavam Símbolo da destruição dos três membros da família
três lírios brancos (em casa de Maia .
Maria Eduarda)

Tapeçaria (amores de Vénus e “uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu


Marte - relação incestuosa) e sangue” de S. João Batista – sacrifício do avô aos
quadro – na Toca amores dos netos.

Semelhanças físicas “Sabes tu com quem te pareces às vezes?... É


extraordinário [...] Pareces-te com minha mãe!”
9. O narrador

- O narrador é heterodiegético, ou seja, não é uma personagem da história.

- Assume, geralmente, uma atitude de observador.

- Marcas linguísticas: verbos na 3ª pessoa; pronomes e determinantes na 3ª pessoa;


discurso indirecto livre (nesta obra).

- O narrador omnisciente sabe tudo sobre as personagens: o seu passado, presente e


futuro, bem como os seus sentimentos e desejos mais íntimos.

- O ponto de vista, ou perspectiva narrativa, corresponde à adopção, por parte do narrador,


de uma determinada posição para contar a história.

- Focalização interna: a imagem transmitida dos eventos e das personagens revela que há
um conhecimento como se fosse uma personagem integrada na diegese.

- A focalização interna valoriza o universo psicológico de Carlos e proporciona uma visão


crítica da sociedade.

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