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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS –

UNINASSAU/UNIFASB

BRUNO LIBERALI DE SOUZA

O MANEJO BICUDO NO CULTIVO DE ALGODÃO

BARREIRAS – BA
2022
BRUNO LIBERALI DE SOUZA

O MANEJO BICUDO NO CULTIVO DE ALGODÃO

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de


Agronomia do Centro São Francisco de
Barreiras – Uninassau /Unifasb, como
requisito parcial para aprovação na disciplina
de TCC I.

Orientador(a): Prof. Dr. Jorge da Silva Junior

BARREIRAS – BA
2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................3
2 OBJETIVOS...........................................................................................................................5
2.1 OBJETIVO GERAL.........................................................................................................5
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................................5
3 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................................6
3.1 A Cultura de Algodão.......................................................................................................6
3.2 Estratégia de posicionamento do Algodão no sistema agrícola Brasileiro.......................7
3.3 Praga – Bicudo do Algodoeiro........................................................................................10
3.4 Custo de Controle do Bicudo no Cerrado brasileiro e perdas decorrentes das infestações
...............................................................................................................................................12
3.5 Táticas de convivência com o Bicudo no período de Semeadura do Algodoeiro Custo de
Controle do Bicudo no Cerrado brasileiro e perdas decorrentes das infestações..................15
3.6 Controle Químico do Bicudo..........................................................................................15
4 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................17
5 CRONOGRAMA.................................................................................................................18
6 ORÇAMENTO.....................................................................................................................19
REFERÊNCIAS......................................................................................................................20
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1 INTRODUÇÃO

No Brasil, o cultivo de algodão é muito antigo, com base inicial no cultivo de espécies
de algodão nativas, sendo a costa brasileira a região de difusão e domesticação das espécies
Gossypium barbadense r. brasiliense e Gossypium hirsutum r. marie-galante (SEVERINO et.
al., 2019).
Com o decorrer dos tempos, deram destaque a três ciclos bem diferentes para o cultivo
no Brasil. Um primeiro, caracterizado pelo cultivo extensivo de algodão Mocó, caracterizado
como um algodão perene, chamado de algodão “arbóreo”, G. hirsutum r. Marie-galante; no
Semiárido do Nordeste, desde o final do século XVIII até o fim da década de 1980
(GASQUES et. al., 2018).
Um segundo ciclo, com cultivo de algodão anual “herbáceo” ou “Upland” (G.
hirsutum r. latifolium) nos estados de São Paulo e Paraná, com emprego de mão de obra
familiar, insumos químicos e algum nível de mecanização, pelo menos para os tratos
culturais, até a metade dos anos 1990 (ABRAPA, 2018).
E, finalmente, o ciclo atual de cultivo nos Cerrados brasileiros, totalmente
mecanizado, da semeadura à colheita, e com uso intensivo de insumos químicos, em
associação com os cultivos de soja e milho, ciclo que teve início no final dos anos 1990
(SOUSA, 2021).
Nos tempos atuais, o Estado de Mato Grosso é o maior produtor de algodão do Brasil,
com aproximadamente 578 mil ha plantados na safra de 2015/16, de acordo com a Conab,
(2016), seguido pelos estados de Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul etc. O cultivo é de grande
importância para o agronegócio do Centro-Oeste. A cultura foi incorporada ao sistema de
produção agrícola do Cerrado como alternativa de rotação ao cultivo da soja, modelo de
produção totalmente mecanizado e intensificado. Com cultivo predominantemente feito em
regime pluvial de sequeiro, o algodão brasileiro alcança as maiores produtividades mundiais
nessas condições (GASQUES et. al., 2018).
O Brasil é um dos poucos países que conseguem produzir algodão em condições
tropicais úmidas, com excesso de chuvas durante o ciclo da planta. Essa é uma das razões por
que o espectro de pragas e doenças que prejudicam o cultivo é amplo e diversificado,
exigindo diferentes medidas de controle, tanto cultural como químicas ou biológicas
(ABRAPA, 2018).
Nesse contexto, o bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, tornou-se praga-chave
da cultura. A espécie, específica do algodoeiro, alastrou-se pelas áreas de produção do Brasil
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desde sua introdução no país, em 1983 e tornou-se praga-chave por conta de seu alto poder
destrutivo e custo de controle elevado (SEVERINO et. al., 2019).
Na vegetação dos Cerrados, o bicudo encontra plantas hospedeiras alternativas que
permitem pelo menos sua alimentação e sobrevivência durante a entressafra. A ausência de
inverno rigoroso dificulta a destruição dos restos culturais (“soqueira”) e aumenta a
possibilidade de as populações de bicudo sobreviverem e/ou desenvolverem-se durante o
vazio sanitário. Conviver com a praga requer a implantação em nível regional e no das
unidades produtivas de diversas medidas de controle (GASQUES et. al., 2018).
Qualquer falha nesse manejo pode acarretar perdas importantes e/ou elevar os custos
de controle, inviabilizando economicamente a produção. Assim, mesmo com o uso de todas
as ferramentas atualmente disponíveis, o bicudo-do-algodoeiro é um perigo permanente para
o produtor (SOUSA, 2021).
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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Compreender de acordo com estudo de caso e de campo os danos que o a praga bicudo
(Anthonomus grandis) causa na cultura de Algodão, avaliando a incidência do bicudo na
região e os diferentes tipos de produto para o controle da praga.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Aprofundar os conhecimentos sobre o cultivo de algodão;


 Identificar os danos causados pela praga bicudo (Anthonomus grandis) na cultura;
 Compreender sobre a melhor forma de realizar o manejo dessa praga no algodoeiro, assim
como os melhores produtos para combater o bicudo;
 Contribuir com base na pesquisa, para o crescimento profissional com base na teoria e
prática sobre o tema;
 Avaliar a incidência da praga na região;
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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 A Cultura de Algodão

O cultivo de algodão tornou-se o mais importante do mundo, plantado em 100 países,


em cinco continentes, envolvendo mais de 350 milhões de pessoas em sua produção, desde as
fazendas até a logística, descaroçamento, processamento e embalagem. A média de plantio,
nos últimos anos, foi de aproximadamente 35 milhões de hectares. Desde a década de 1950, a
demanda mundial tem aumentado gradativamente. O comércio mundial do produto
movimenta, anualmente, cerca de US$ 12 bilhões. (ABRAPA, 2018).
O algodão é um produto de extrema importância socioeconômica para o Brasil. Além
de ser a maior fonte de fibras naturais, garante ao País lugar privilegiado no cenário
internacional, como um dos cinco maiores produtores mundiais, ao lado de China, Índia,
Estados Unidos e Paquistão. O algodão gera desenvolvimento nas regiões onde está presente
por ter uma cadeia produtiva complexa e de alto valor agregado. Além dos fornecedores de
insumos, esse produto passa pela indústria de fiação, depois pela indústria de tecelagem, pela
confecção de vestuário e finalmente pelo comércio de roupas. Acrescenta-se ainda a indústria
da moda e do design, as quais possuem suas peculiaridades e alto potencial de agregação de
valor (MIRANDA, et. al., 2016).
Os subprodutos do algodão, como o caroço e o óleo, possuem papel relevante na
indústria química e como alimento animal integrando-se às cadeias produtivas do leite da
proteína animal. O algodão, em um sistema integrado com a bovinocultura, foi o principal
motor do desenvolvimento econômico de grande parte dos pequenos municípios do semiárido
brasileiro, região que era a principal produtora até a década de 1980. A introdução do bicudo-
do-algodoeiro, praga de maior impacto dessa cultura, aliada a fatores socioeconômicos e
ambientais, dizimou as lavouras algodoeiras no período, fazendo com que por alguns anos o
Brasil passasse de grande exportador para grande importador mundial de algodão. Iniciando
na década de 1990, a cultura do algodão migrou para a região do Cerrado e hoje ocupa uma
área superior a um milhão de hectares, concentrada principalmente nos estados de Mato
Grosso, Bahia e Goiás (ABRAPA, 2018).
Entre as safras de 2008/09 e 2017/18, a produção brasileira de algodão em pluma
cresceu de 1,2 milhão de toneladas para 2,0 milhões (+66,7%), um crescimento significativo.
A cultura desaparece da região Sul (Paraná), continua marginal no Sudeste e tem alta
concentração em dois estados: Mato Grosso com 64,4% da produção nacional e Oeste da
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Bahia com 24,9%, totalizando os dois estados 89,3% da produção nacional. Quanto à
concentração da produção, já na safra 2008/09, a estes dois estados já produziam 81,3%. No
período de 10 anos, a concentração aumentou e nada indica que venha a sofrer mudanças
significativas nos próximos anos (MIRANDA, et. al., 2016).

Fluxograma 1 – Cadeira Produtiva do Algodão em quantidades.


Fonte: IBGE/SIDRA, MAPA/AGROSTAT e CONAB (2019). Elaboração Embrapa/SIRE/GIE. Adaptado:
SOUZA, 2022.

Realizar a projeção futura da produção de algodão em períodos de até 10 anos não é


tarefa trivial. Principalmente no caso de produtos da agricultura brasileira que ainda não se
encontram em processo de estabilização e fortemente dependente da demanda internacional.
Do lado da produção, fatores climáticos como secas ou excesso de chuvas afetam a
produtividade e a produção total. No caso do algodão, há a concorrência de fibras sintéticas
que depende fortemente do preço do petróleo; quando este se torna barato, compete com
fibras naturais. Além disso, políticas nacionais de principais consumidores, no caso da China,
afetam a produção local e consequentemente as exportações de países produtores, como o
Brasil. A China, ao priorizar a produção de alimentos para o consumo de sua crescente
população vai depender de importações para sua indústria de tecidos (MIRANDA, et. al.,
2016).

3.2 Estratégia de posicionamento do Algodão no sistema agrícola Brasileiro

O Brasil, com sua evolução na produção agrícola alcançou destaque mundial e ensinou
lições importantes por se tratar de produção agrícola em ambiente tropical. É claro que o
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clima traz diversas vantagens, como a possibilidade de explorar as terras por todo ano, e
aproveitar o ciclo reduzido de algumas culturas, que é influenciado pela alta temperatura e
ocorre mais rapidamente (ABRAPA, 2018).
Entretanto, o clima faz com que a agricultura passe por desafios observados apenas em
regiões temperadas, nota-se a intensidade e a severidade do ataque de pragas, de doenças e de
plantas daninhas que são muito maiores no ambiente tropical do que no temperado,
favorecendo, portanto, nessas condições, as pragas, as quais podem causar perdas econômicas
ao produtor (BETOL; VILELA, 2020).
É de amplo conhecimento que surgem indivíduos resistentes quando qualquer inseto,
ácaro, microrganismo ou planta daninha é submetido à aplicação constante de defensivos que
possuem o mesmo modo de ação. O ritmo rápido de surgimento de populações resistentes aos
insumos e às técnicas de manejo disponíveis causam constante aumento dos custos de
produção e maior complexidade no sistema de produção. Essa é uma preocupação constante
dos agricultores, pois enquanto os custos aumentam a cada ano, os preços dos produtos
agrícolas não aumentam de forma proporcional e a rentabilidade da atividade fica ameaçada
(ABRAPA, 2018).
Existem diversos exemplos do aumento da biodiversidade nas lavouras de algodão,
sendo dois deles os de maior destaque. O primeiro foi a necessidade imperativa de rotação de
culturas. Inicialmente, culturas como soja e algodão eram plantadas por anos seguidos em
uma mesma área, pois a operação fica muito mais simples e se aproveitam melhor as
oportunidades em que os preços de determinados produtos estão em alta. No entanto, os
produtores perceberam que após alguns ciclos de cultivo de uma mesma espécie começavam a
surgir problemas que tinham solução muito difícil e aumentavam o custo de produção. Esses
problemas podiam ser uma determinada espécie de planta daninha de difícil controle ou um
inseto que atacava as plantas com uma intensidade que antes não se via. A solução mais
simples encontrada foi rotacionar as culturas a serem plantadas, por exemplo, alternando soja
e algodão (BETOL; VILELA, 2020).
Ao introduzir uma nova cultura, ocorria a redução dos problemas por algum tempo,
mas logo surgia uma nova praga que causava problema nas duas espécies utilizadas na
rotação. Por exemplo, tornou-se problema uma lagarta que tanto se alimenta da soja quanto do
algodão. Para essa praga específica, a rotação entre duas culturas não era suficiente e foi
preciso adicionar uma terceira espécie, por exemplo, o milho. Mesmo com três culturas muito
diferentes entre si, surgiram outras pragas que eram capazes de atacar todas elas, como por
exemplo, os nematoides que são vermes que habitam o solo e atacam as raízes. Em resumo,
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para evitar o aumento incontrolável do uso de agrotóxicos, os produtores de algodão estão


sendo forçados a aumentar o número de espécies cultivadas em suas lavouras como única
opção para manter os sistemas agrícolas gerenciáveis (ABRAPA, 2018).
Um desses modelos que tem sido adotado em largas áreas inclui a soja, seguida no
mesmo ano por milho intercalado com capim braquiária (conhecido por Sistema Santa Fé), o
qual serve de pasto para bois na época seca e permite o aproveitamento da terra durante todo o
ano. Destaca-se que a introdução de uma espécie animal (boi) no sistema tem grande
importância nessa busca por equilíbrio, pois na natureza as interações ecológicas ocorrem
também entre animais e vegetais. Considerando essa necessidade de aumento da
biodiversidade, uma extensa lista de espécies está sendo introduzida nos sistemas agrícolas
brasileiros como resultado da necessidade observada pelos próprios produtores. Essa lista
inclui crotalária, sorgo, feijões, milheto, mamona, diversas espécies de capim, estilos antes,
grão-de-bico, gergelim e muitas outras (BETOL; VILELA, 2020).
O segundo exemplo de aumento da biodiversidade nas lavouras brasileiras de
produção de algodão está sendo a aceitação do controle biológico como estratégia válida no
manejo agrícola. A cultura do algodão tem a reputação de ser a maior consumidora de
produtos fitossanitários devido ao grande número de pragas e doenças que lhe atacam. A
opção que os produtores de algodão fizeram pelo uso de agrotóxicos é pragmática, buscando
simplicidade operacional e menor custo. Produtos químicos para controle de insetos e de
doenças são a forma mais simples e confiável de controlar esses problemas e eles
possibilitaram o desenvolvimento da produção em larga escala. No entanto, o uso intensivo de
produtos fitossanitários proporciona o fenômeno natural comentado anteriormente de
surgimento de biótipos resistentes. Sempre que surge um biótipo resistente, os produtores são
forçados a aumentar doses ou a buscar produtos alternativos que geralmente são bem mais
caros. Esse processo conduz ao aumento constante dos custos de produção e ao risco real de
que não existam mais opções de controle quando as pragas se tornarem resistentes a todos os
produtos disponíveis (ABRAPA, 2018).
O controle biológico consiste em utilizar outras espécies que de alguma forma tenham
a capacidade de reduzir os danos causados pelas pragas. Existem muitos exemplos de pragas
que podem ser agentes de controle biológico. Por exemplo, vespas que colocam os ovos
dentro das lagartas e provocam a sua morte, ou fungos e vírus que causam doenças nos
insetos. A adoção do controle biológico é defendida há décadas como a opção menos
impactante para o meio ambiente e mais sustentável em longo prazo. No entanto, a sua adoção
é limitada porque é muito mais complexa do que os produtos químicos tradicionais. O
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controle biológico exige diagnósticos mais precisos e detalhados, sofre maior influência das
condições ambientais, exige mudanças em muitos outros componentes do sistema de
produção e não garante que os custos sejam mais baixos, pois na maioria dos casos esses
produtos ainda não são fabricados em larga escala como os produtos químicos. Ainda não há
garantia de que as quantidades necessárias estarão disponíveis nos momentos críticos de sua
utilização, pois a demanda não é totalmente previsível. O manuseio desses produtos também é
desafiador porque os prazos de armazenamento são mais curtos e o seu manuseio é mais
delicado em comparação aos produtos químicos (ABRAPA, 2018).
Apesar das dificuldades, está havendo crescente aceitação do uso de controle biológico
como a principal opção para manter a sustentabilidade da produção de algodão no Brasil.
Estão surgindo exemplos em escala comercial de fungos para controle de nematoides de solo,
bactérias para manejo de insetos e vespas ou vírus utilizados no controle de lagartas, entre
outros (ABRAPA, 2018).

3.3 Praga – Bicudo do Algodoeiro

Historicamente, a presença do bicudo foi constatada pela primeira vez em fevereiro de


1983, em áreas de cultivo de algodão próximas a Campinas-SP, sendo comunicada
oficialmente pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz, de Piracicaba. A origem
desses insetos introduzidos no Brasil é incerta. Na literatura há referências à possível
migração proveniente de áreas de produção do sudeste dos Estados Unidos, nordeste do
México, Haiti, República Dominicana, Venezuela ou Colômbia (BETOL; VILELA, 2020).
A hipótese mais aceita é a de que os insetos tenham sua origem no sudeste dos
Estados Unidos e sua introdução no Brasil tenha acontecido de forma acidental ou intencional
por via aérea, uma vez que os primeiros focos detectados se situavam nas proximidades do
Aeroporto Viracopos em Campinas (BETOL; VILELA, 2020).
Essa hipótese foi reforçada por (MIRANDA, et. al., 2016) após a análise do DNA
mitocondrial de indivíduos provenientes de populações estabelecidas no Brasil.
Imediatamente após a detecção do bicudo, entomologistas foram consultados para que as
primeiras providências fossem tomadas. Especialistas da Embrapa, em rápida resposta,
elaboraram um relatório técnico confirmando a presença da praga em uma área de 15.000
hectares, distribuídas em sete municípios.
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Mesmo que a dispersão de uma praga exótica tenha sido um processo rápido, o seu
estabelecimento em área tão extensa sugeria que sua introdução não era recente. De qualquer
forma, a constatação oficial exigia ações emergenciais para conter a expansão da população
do bicudo pelas áreas produtoras do Brasil. Estas ações não aconteceram, apesar dos esforços
da Embrapa, do Ministério da Agricultura e da Secretaria da Defesa Sanitária Vegetal de São
Paulo. Todas as iniciativas foram inférteis, pois uma série de liminares, impetradas por
cotonicultores, ecologistas e outros, impediram sua efetiva adoção (BETOL; VILELA, 2020).
Apenas quatro meses depois de ter sido detectado em São Paulo, a presença da praga
foi também confirmada nos Estados da Paraíba e Pernambuco, em áreas de cultivo de
algodão. Após análise de especialistas da Texas A & M University, concluiu-se que eram
insetos de mesma origem. Há duas hipóteses para estas constatações sequenciais: a primeira
considera que os insetos detectados no Nordeste teriam sido transportados em caroços
produzidos em São Paulo e que foram semeados para cultivo nas áreas nordestinas; a outra
hipótese considera que as ocorrências dos insetos em alta densidade populacional em áreas
distantes mais de 2.000 km de São Paulo (em linha reta) indicam a ocorrência de duas
introduções (BETOL; VILELA, 2020).
O plano de controle e erradicação da praga, delineado pelos especialistas na época, não
pôde ser adotado naquela região, pois proibir o cultivo do algodão seria impossível. Mesmo
com o estabelecimento de sanções penais para quem não eliminasse os restos culturais do
algodoeiro, o problema persistiu, favorecendo a manutenção de altas populações da praga.

Imagem 1 – Bicudo do Algodoeiro. Adulto de Anthonomus grandi.

Fonte: Defesa Vegetal


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A introdução do bicudo do algodoeiro foi o divisor de águas da cotonicultura nacional


(BETOL; VILELA, 2020). A experiência obtida desde então, passados 33 anos (1983-2016),
indica que o bicudo pode ser classificado como uma das pragas mais danosas da nossa
agricultura. Assim, são fatores que contribuem para a sua manutenção em campos brasileiros
às grandes áreas cultivadas com o algodoeiro, o clima extremamente favorável ao
desenvolvimento das populações do bicudo e a ausência de inimigos naturais eficientes para
regular tais populações. Por esta razão, por se tratar de praga presente na maioria das lavouras
do país, ações isoladas, desordenadas ou de alcance imitado não são suficientes para reduzir
efetivamente suas populações (MIRANDA, et. al., 2016).
Por isso, costuma-se dizer que o bicudo não respeita porteiras, e mesmo que quase
todos os produtores de uma determinada região tomem medidas corretas e em tempo hábil
para reduzir os níveis populacionais do inseto em suas áreas, basta que somente um deles não
faça o dever de casa e o inseto se multiplicará e causará prejuízos significativos a todos
(BETOL; VILELA, 2020).

3.4 Custo de Controle do Bicudo no Cerrado brasileiro e perdas decorrentes das


infestações

São realizados grandes esforços pelo setor produtivo do algodão no sentido de reduzir
o impacto ocasionado pelo bicudo nas lavouras brasileiras. O alto poder destrutivo do bicudo
implica na necessidade de tomada de medidas enérgicas e ordenadas, bem planejadas e
adequadamente executadas. Ajustes e correções de estratégias devem ser efetuados no
momento certo. A organização do setor algodoeiro, deve refletir nas ações de controle do
bicudo no Brasil (MIRANDA, et. al., 2016).
Um levantamento da situação de pragas na cultura do algodoeiro foi efetuado nas
regiões produtoras do Brasil, abrangendo nove estados. Informações foram coletadas com 32
grupos empresariais e 54 consultores para servir de diagnóstico do impacto de pragas e seu
controle no cenário agrícola de produção do algodão no Brasil (BELOT et. al., 2016).
Foi possível observar, neste levantamento, que o número de aplicações de inseticidas
para controle do bicudo-do-algodoeiro no Cerrado brasileiro variou de 17 a 23 por safra. Este
número é em função do manejo realizado, da pressão populacional na safra atual, da
intensidade de ocorrência de plantas voluntárias (tiguera), restos culturais (soqueiras) e das
condições edafoclimáticas (BETOL; VILELA, 2020).
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Com base no que foi levantado, foram elaborados comparativos do custo de controle
de pragas, da ordem de importância destas pragas e do número de pulverizações requeridas
para seu controle em cada região. Perda média de 11% da produção foi ocasionada pelo
ataque das diversas espécies-pragas na cultura. O custo de controle de pragas se situou em
cerca de US$ 500,00 por hectare na safra 2012/2013, contra US$ 400,00 na safra 2011/2012,
significando aumento de 25%. Deste custo, na safra 2012/2013, 29% foi relacionado às ações
de controle contra o bicudo, perdendo apenas para os gastos feitos para controlar lagartas,
devido aos grandes esforços empregados para controlar a então recém detectada Helicoverpa
armigera (Lepidoptera: Noctuidae) (BETOL; VILELA, 2020).
Na safra seguinte, o percentual subiu para 35%, praticamente metade dos gastos de
controle de pragas sendo direcionado para o controle do bicudo. Considerando-se a área total
de abrangência das lavouras de algodão no Brasil, o ranqueamento das pragas em ordem de
importância naquele período destacava a lagarta H. armigera e o bicudo nas primeiras
posições, seguidos por outras pragas polífagas do sistema, como falsa-medideira, pulgão,
ácaros, percevejos e mosca-branca (BETOL; VILELA, 2020).
O número de pulverizações na cultura do algodoeiro aumentou significativamente
entre 2012 e 2013, cerca de 10 a 15%, e isto esteve ligado diretamente aos ataques da lagarta
da espécie H. armigera e às dificuldades de controle do bicudo. Entretanto, o custo com o
controle do bicudo foi se elevando, enquanto o custo para controlar a lagarta Helicoverpa foi
sendo reduzido, devido às menores infestações verificadas nas safras seguintes, cujas causas
podem ser relacionadas ao uso cada vez mais intenso de cultivares de algodoeiro transgênicas
com a tecnologia Bt que apresenta resistência às lagartas. Para controlar o bicudo, cerca de
US$ 180,00 foram gastos para cada hectare cultivado com algodão em 2012/2013,
correspondendo, em média, 17 pulverizações (MIRANDA, et. al., 2016).
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Gráfico 1 - Número médio de aplicações de inseticidas para o controle de pragas no algodoeiro, inclusive o
bicudo.
Fonte: Belot et al. (2016).

Estes números, transpostos para a área total de produção de algodão naquela safra
(cerca de 1.100.000 hectares) constituíram valores situados próximos a US$ 200 milhões. Na
safra seguinte, o número médio de pulverizações subiu para 20. Considerando-se a área de
1.120.000 hectares plantadas em 2013/2014 e valores médios de US$ 189 gastos com o
bicudo por hectare, chega-se a valores brutos de cerca de US$ 210 milhões por ano (BELOT
et al., 2016).
Levantamento realizado em março de 2016 pela equipe do Instituto Mato-grossense do
Algodão (BELOT et al., 2016) sobre custos de produção de algodão nas diferentes regiões
produtoras do Brasil e perdas ocasionadas pelo bicudo-do-algodoeiro estimou o custo médio
de produção de um hectare em US$ 2.176,00. Este valor variou de US$ 1.700,00 a US$
2.700,00, em função da tecnologia adotada, manejo de pragas e doenças, controle intensivo do
bicudo e adoção de plantio em primeira ou segunda safra. Um dos pontos que tem contribuído
para a elevação nos custos relaciona-se com a maior ou menor adoção das medidas de manejo
do bicudo. Somente com os custos para o controle do bicudo (custo de inseticidas e
aplicações), os produtores estão gastando em média US$ 192,25 por hectare, o que representa
9% do gasto total de produção. O número médio de pulverizações para o controle do bicudo
em Mato Grosso gira em torno de 15, mas casos de mais de 20 aplicações são comuns. Além
das aplicações de inseticidas, que são ações emergenciais, ainda se tem os gastos com
medidas preventivas, que envolvem destruição de restos culturais, controle de plantas
15

tigueras, inclusão de inseticidas em desfolha e/ou dessecação, instalação de dispositivos de


monitoramento (armadilhas) e dispositivos atrai-e-mata (tubo mata-bicudo), entre outras. O
custo médio dessas medidas tem girado em torno de US$ 68,15 por hectare, podendo variar
muito em função da adoção total ou parcial em cada propriedade (MIRANDA, et. al., 2016).
Apesar do oneroso manejo adotado pelos produtores, estima-se ainda uma perda de 5,7
arrobas (@) por hectare ocasionada pelo bicudo, podendo variar de 3 a 15 arrobas. Se
adicionarmos às perdas médias decorrentes do ataque do bicudo os gastos com o seu controle,
o valor médio de US$ 375,00 por hectare por ano é atingido. Desta forma, somente no Estado
do Mato Grosso, maior produtor de algodão do Brasil, com área cultivada estimada de 586
mil hectares (safra 2015/2016), as perdas e gastos com o bicudo chegam a cerca de US$ 220
milhões por ano. Estendendo os cálculos para a área total cultivada no Brasil, de 960 mil
hectares (safra 2015/2016), as perdas e gastos com essa praga são estimados em torno de US$
360 milhões por ano (BETOL; VILELA, 2020).

3.5 Táticas de convivência com o Bicudo no período de Semeadura do Algodoeiro Custo


de Controle do Bicudo no Cerrado brasileiro e perdas decorrentes das infestações

O período de semeadura das áreas de algodão é regulamentada por portarias dos


órgãos estaduais de defesa sanitária vegetal. Cada região produtora tem calendários de
semeadura e colheita específicos, estabelecidos de acordo com as características regionais
relacionadas ao clima, sistemas de produção, entre outros (BETOL; VILELA, 2020).
Na Bahia, o plantio do algodão em condições de sequeiro começa na segunda
quinzena de novembro e termina no dia 5 de janeiro; já o algodão irrigado pode ser plantado
da segunda quinzena de novembro até o dia 15 de fevereiro (BETOL; VILELA, 2020).

3.6 Controle Químico do Bicudo

O controle químico do bicudo em associação com o controle cultural é uma importante


estratégia de controle do inseto, mas não pode ser utilizada isoladamente. Tão impactante
quanto a eficiência biológica do inseticida utilizado para o controle do bicudo, a tecnologia de
aplicação desse inseticida pode comprometer o sucesso do controle quando não utilizada a
contento. Aplicações de inseticidas recomendados contra o bicudo em formulações, doses ou
16

técnicas inadequadas costumam não atingir o alvo e são ineficientes (BETOL; VILELA,
2020)
O controle químico só deve ser adotado quando o nível de controle para a praga for
atingido. No Cerrado é adotado o número de 5% de estruturas florais com presença do inseto
adulto ou com danos do inseto. Aplicações excessivas de inseticidas podem favorecer a
seleção de insetos resistentes e resultar no aumento da população da praga. Para controlar o
bicudo-do-algodoeiro existem diversos produtos registrados, de diferentes grupos químicos e
modo de ação. É de fundamental importância a adoção de esquema de rotação dos produtos
por modo de ação, estratégia usada para retardar ou evitar o surgimento da resistência da
praga (MIRANDA, et. al., 2016).

Tabela 1 - Custo de produção de algodão, custos com controle do bicudo e perdas ocasionadas pelo inseto.
1
Incluindo destruição de restos culturais, eliminação de plantas tigueras, inclusão de inseticidas em desfolha e/ou
dessecação, instalação de Tubo
Mata Bicudo, armadilhas etc.
2
Destruição de restos culturais e plantas voluntárias de algodoeiro, instalação de TMB e uso de inseticidas na
desfolha.
3
As perdas ocasionadas pelo bicudo foram calculadas considerando o valor médio da arroba de pluma de
R$76,00 (Fonte: Instituto Mato-grossense
de Economia Aplicada – IMEA, em 08/03/2016), transformado em dólar, considerando a cotação US$ 1,00 = R$
3,78.
Fonte: Belot et al. (2016).
17

4 MATERIAL E MÉTODOS

Será realizada uma pesquisa exploratória como metodologia, buscando, de acordo com
Koche (1997), “desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do
fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar.” (KÖCHE,
1997, p. 126). Ou seja, na pesquisa exploratória, será feito um estudo de caso, explorando
monitoramentos de bases de dados de entidades de pesquisas e de fiscalização da região,
assim como, os monitoramentos dos tipos de manejo realizados em fazendas da região que
controlam o índice de bicudo nas lavouras.
O levantamento dos dados será realizado inicialmente, com base nas informações
monitoradas pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA), juntamente com
acompanhamentos dos manejos realizados em fazendas da região, onde ocorre o cultivo de
algodão e ocorrência de bicudo.
Após a coleta dos dados, as informações serão analisadas, buscando atender os
objetivos da pesquisa, que é compreender os danos causados pela praga bicuda na cultura de
algodão. As informações serão coletadas com base em levantamentos e pesquisas
exploratórias, respondendo formulários para que seja possível identificar a melhor forma de
manejo da praga bicudo e os diferentes tipos de produtos para o controle da praga.
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5 CRONOGRAMA

ATIVIDADES 2022
J F M A M J J A S O N D
Determinação do título do projeto x
Revisão bibliográfica x x x
Redação do projeto de pesquisa x x
Entrega do projeto de pesquisa x

2023
Instalação do experimento x x
Coleta de dados x x
Análise estatística dos dados x
Elaboração do artigo científico x x x
Apresentação/Defesa do artigo x
científico
Formatação final e entrega do artigo x
científico
Quadro 1 - Cronograma de atividades
19

6 ORÇAMENTO

Abaixo segue os recursos utilizados no decorrer do experimento e o levantamento


financeiro geral para a execução do processo. Os materiais a serem utilizados serão divididos
em duas categorias: material permanente (os que já existem, e não precisarão ser comprados
para a execução do trabalho) e material de consumo (que será adquirido e gasto na execução
do trabalho).

Tabela 1 – Previsão de gastos com a execução do trabalho.


Material permanente Unidade Quantidade Preço unitário Preço Total
R$ R$
Motocicleta Unid. 1 8.800,00 8.800,00
Avião Agrícola Unid. 1 700.000,00 700.000,00
Material de consumo Unidade Quantidade Preço unitário Preço Total
R$ R$
Combustível para motocicleta Unid. 476 5,04 2.400,00
Armadilha para bicudo Unid.
Inseticidas Litros 1/hec (200 L) 60,00 12.000,00
Etanol/álcool para o avião Litros 56.133,05 4,81 270.000,00
TOTAL
20

REFERÊNCIAS

ABRAPA. Relatório de Gestão 2017-2028. Associação Brasileira dos Produtores de


Algodão, 480p. 2018.

BELOT, J. L.; VILELA, P. M. C. A.; Manual De Boas Práticas De Manejo Do Algodoeiro


Em Mato Grosso. Cuiabá, Safra, 2019/2020. 4ª Edição, 2020.

BELOT, J. L.; BARROS, E. M.; MIRANDA, J. E. Riscos e oportunidades: o bicudo-do-


algodoeiro. In: DESAFIOS do Cerrado: como sustentar a expansão da produção com
produtividade e competitividade. Cuiabá: Associação Mato-grossense dos Produtores de
Algodão, 2016. p. 77−118.

GASQUES, J. G.; SILVA e SOUZA, G.; BASTOS, E.T. Brasil: Tendências do Agronegóico
2017-2030. Plano de Estado – Brasil 2030. Livro no prelo a ser publicado pela Cátedra Luiz
de Queiros, ESALQ, 2018.

KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da


pesquisa. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

MIRANDA, J. E.; TRIPODE, B M. D.; SILVA, I. R. R. Influence of the crop border on the
colonization and dispersal of the boll weevil (Anthonomus grandis) in Brazil. In: WORLD
COTTON RESEARCH CONFERENCE, 6., 2016, Goiânia. Proceedings. England, UK:
Innovation in Textiles, 2016.

SEVERINO, L. S.; RODRIGUES, S. M. M.; CHITARRA, L. G.; Série Desafios do


Agronegócio Brasileiro (NT3). Produto: Algodão – Parte 01: Caracterização e Desafios
Tecnológicos. Embrapa. Maio, 2019.

SOUSA, E. N. A. Plantio de Algodão Piauí: Safra 2020/2021. APIPA. Ações Fitossanitárias


e Agronômicas para apoiar a expansão do algodão no cerrado Piauiense – Safras 2019/20 a
2021/22. Jan, 2021.

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