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2) Desenvolvimento
É comum num primeiro momento achar que se trata do deslocamento
das pessoas na área do reservatório. Na verdade, obras de engenharia dessa
magnitude têm reflexos muitos mais extensos que o seu local de instalação e
os efeitos negativos um alcance bem maior do que simplesmente a área do
reservatório.
“a noção de atingido diz respeito, de fato, ao reconhecimento, leia-se,
legitimação de direitos e de seus detentores” “...estabelecer que
determinado grupo social, família ou indivíduo é, ou foi, atingido por
certo empreendimento significa reconhecer como legítimo – e em
alguns casos como legal – seu direito a algum tipo de ressarcimento
ou indenização, reabilitação ou reparação...” (VAINER, 2008, p. 40).
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Especialista em Políticas Públicas pelo IE/UFRJ.
sobre o valor da terra para aqueles que tivessem documento comprobatório de
sua posse. Caso o proprietário discordasse do valor proposto o empreendedor
poderia depositar 80% do valor em juízo, assumindo imediatamente o domínio
da propriedade. Caberia ao desapropriado provar em juízo, que o valor
proposto pelo empreendedor não era justo. Levando em conta a falta de
assessoramento, os custos e os problemas de lentidão da justiça, bem como a
capacidade dos departamentos jurídicos das empresas.
A perspectiva territorial-patrimonialista vê a população como um
obstáculo a ser removido, para garantir a viabilidade do empreendimento. O
território atingido é tido como a área a ser alagada e a população atingida é
constituída somente pelos proprietários de terras da área a ser inundada.
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Note o termo utilizado: responsabilidade.
“...principais problemas que as concessionárias enfrentam para
viabilizar estes programas é a ausência de estimativas orçamentárias
adequadas para estes itens e de um fluxo de recursos compatível
com o atendimento dos processos sociais deflagrados e com o
cumprimento de acordos firmados com a população” (ELETROBRÁS,
II PDMA 1990 p. 39).
3) Conclusão
Conforme afirmado pela Eletrobrás trata-se de um ‘processo complexo
de mudança social’, não se tratando apenas do deslocamento das pessoas na
área do reservatório. Também para o Banco interamericano “os impactos não
se limitam aos movidos fisicamente, mas podem também afetar a população
anfitriã e ter um “efeito de ondulação” em uma área mais ampla como resultado
das perdas ou rompimento das atividades econômicas.”
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Um novo problema: o empreendedor recebe o direito de expropriação e sem legislação corremos o risco de voltar às
concepções territoriais-patrimonialistas.
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ROTHMAN, Franklin Daniel. Política Ambiental e Lutas de Resistências a Barragens em Minas Gerais: um estudo de
caso. Raízes, Campina Grande, vol. 21, nº 01, p. 45-52, jan./jun. 2002
Para o IFC (2001) o objetivo da política de reassentamento involuntário é
assegurar que as pessoas que são fisicamente ou economicamente
deslocadas, como resultado de um projeto, não fiquem em situação pior, mas
melhor do que estavam antes do projeto ser empreendido.
Sabendo-se que o deslocamento pode ser físico ou econômico; (i)
deslocamento físico é a recolocação física das pessoas resultante da perda de
abrigo, recursos produtivos ou de acesso aos recursos produtivos (como terra,
água e florestas); (ii) deslocamento econômico resulta de uma ação que
interrompe ou elimina o acesso de pessoas aos recursos produtivos sem a
recolocação física das próprias pessoas (IFC, 2001).
Para a WCD o deslocamento pode ser tanto físico, quanto o
“deslocamento dos modos de vida”
Desta forma, percebe-se que esses empreendimentos causam além do
deslocamento físico o deslocamento dos modos de vida, configurando
deslocamento econômico, devendo ser considerado atingido todo aquele que
tem seus modos de vida alterados por esses empreendimentos hidrelétricos.
BIBLIOGRAFIA
SILVA, Luciane Lima Costa e. "O Setor Elétrico Brasileiro e os Impactos Sociais de
Hidrelétricas: o Caso dos Atingidos por Barragens". Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, 2008.
VAINER, C. B. Águas para a vida, não para a morte. Notas para uma história do
movimento de atingidos por barragens no Brasil. In: ACSELRAD, Henri; HERCULANO,
Selene; PÁDUA, José Augusto. (Org.). Justiça Ambiental e Cidadania. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, p. 185-216, 2004.
VAINER, C. B. (2008) Conceito de "Atingido": uma revisão do debate. In: ROTHMAN, Franklin
Daniel. (Org.). Vidas Alagadas - conflitos socioambientais, licenciamento e barragens. 1 ed.
Viçosa: UFV, p. 39-63.
VAINER, C. B.; VIEIRA, F. B.; PINHEIRO, D. C.. (2001) Há que barrar as barragens. Revista
Tempo e Presença, Rio de Janeiro, v. 23, n. maio/junho, p. 14-17.
Eletrobrás - II PDMA (1990) Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor Elétrico Vol. II pp. 30-45
Eletrobrás – Manual de Estudos de Impacto Ambiental (2002)