Você está na página 1de 16

Gestão de Áreas de Riscos e

Desastres Ambientais
Leandro Eugenio da Silva Cerri
Fernando Rocha Nogueira

IGCE/UNESP/RIO CLARO
Programa de Pós-Graduação em Geografia – IGCE ALEPH
Engenharia e Consultoria Ambiental KARMEL
Centro de Estudos Integrados
• A inclusão da gestão dos riscos ambientais nas
agendas, orçamentos e planos de trabalho das
prefeituras brasileiras deve, necessariamente,
ocorrer nos próximos anos, como aconteceu
com inúmeros itens das políticas públicas
locais [...] Entretanto, a rapidez e a qualidade
deste processo dependem muito da superação
da sazonalidade com que o tema vem à tona
(ficando esquecido fora dos períodos
chuvosos) e da confusão conceitual profunda
dos gestores, da mídia e da população entre
risco, perigo e acidente e as diferentes formas
e caminhos para tratá-los.
• Risco é a potencialidade de que ocorra um
acidente, um desastre, um evento físico que
resulte em perdas e danos sociais ou
econômicos. A geógrafa francesa Yvette Veyret
considera risco um objeto social e o define
como a percepção do perigo ou da catástrofe
possível (VEYRET, 2007). A autora considera
que o risco existe apenas em relação a uma
sociedade que o apreende por meio de
representações mentais e com ele convive por
meio de práticas específicas. Não há risco,
portanto, sem uma população que o perceba
e que possa sofrer seus efeitos.
Para ilustrar o fato de que este tipo particular de
acidente não é de ocorrência recente... em
1956, o Professor Milton Vargas presidiu
comissão técnica nomeada pelo então
Governador do Estado de São Paulo para
averiguar as causas dos escorregamentos nas
áreas ocupadas dos morros de Santos.
• – não considero o problema surgido com os desabamentos
dos morros... de solução puramente técnica. Creio que
somente a tomada de consciência da questão, sob um ponto
de vista social e econômico, é que nos poderia fornecer
subsídios para a solução racional da situação criada pelo
perigo naqueles morros. Os problemas técnicos
correlacionáveis com a previsão e prevenção das ocorrências
catastróficas não são facilmente solúveis. Porém, sua ordem
de dificuldade é bem menor que a dos problemas sociais e
econômicos envolvidos na questão.
• – é evidente que os serviços técnicos de proteção aos morros
devem correlacionar-se com drenagens das águas pluviais e
sub-drenagem das águas de infiltração e devem, para serem
efetivos, estenderem-se por toda a área dos morros. Ora, um
serviço dessa natureza seria de tal forma dispendioso que
levaria a concluir ser mais econômico construírem-se casas
populares... para abrigarem toda a população dos morros.
• Não creio, entretanto, que esta última medida viesse, por si só, solucionar
o problema, porquanto, uma vez desabitado o morro, outros moradores,
mais pobres talvez que os primeiros, viriam de novo, aos poucos, fixarem-
se nos mesmos locais perigosos. A princípio, isto se faria ilegalmente (mas
que lei é mais forte que a miséria?); depois, eles, lentamente, adquiririam
seus direitos e lutariam por mantê-los.
• – Se por um lado, um poder público resolvesse despender verbas enormes
para estabilizar toda a área dos morros, então, de uma forma ou de outra,
em virtude de lei econômica inexorável, o dinheiro ali despendido faria
com que aqueles terrenos se tornassem de tal forma caros que os atuais
moradores não poderiam continuar ali vivendo, a não ser que tivessem
seus padrões de vida elevados. Fatalmente, a população pobre dos morros
deveria, então, ceder seus lugares a outros mais ricos e procurar abrigo
nos porões da cidade...
• – Desta forma, a solução que se impõem é da proteção das populações do
morro pelo governo, sob a forma de uma assistência mista, social e
técnica. Essa proteção se faria através da promulgação de uma legislação,
regulamentando a habitação do morro e sujeitando seus moradores a
medidas acauteladoras em relação aos desabamentos, e da organização
de um órgão social fiscalizador da legislação e responsável pela execução
das medidas acauteladoras.
Escorregamentos em Áreas de
Assentamentos Precários
• Assentamentos precários ou subnormais são
ocupações habitadas por famílias de baixa
renda, nas quais a maioria dos serviços públicos
essenciais é inexistente. Em geral se instalam em
áreas públicas não ocupadas, áreas de proteção
ambiental ou de preservação permanente. É
comum receberem a denominação de favelas ou
assentamentos populares, especialmente
quando as moradias são construídas por meio
da utilização de materiais improvisados
(madeira, zinco, plásticos, lonas, etc).
Mapeamento de Riscos Associados a
Escorregamentos em Áreas de Assentamentos
Precários
• Nogueira (2002) descreve que a conseqüência
decorrente de um acidente é função da
vulnerabilidade, e que esta dependente da
suscetibilidade de pessoas e/ou bens a serem
afetados, bem como da “resiliência” dos elementos
expostos. O termo “resiliência” corresponde à
capacidade de resposta de uma determinada
população supostamente afetada por um acidente,
ou seja, na habilidade das pessoas em reagir ao
sinistro e em recuperar a condição normal, anterior
ao acidente.
... a probabilidade (ou possibilidade) de
ocorrência do processo perigoso em áreas de
assentamento precário vem sendo determinada de
forma qualitativa, por meio de investigações
geológico-geotécnicas de campo.
De início, é necessário definir quais as áreas
que serão objetos do mapeamento de risco, bem
como a localização e a dimensão destas áreas.
Sugere-se a elaboração de um quadro contendo: a)
número da área a ser mapeada; b) denominação da
área; c) localização da área (de preferência citar as
ruas dos limites da área) e d) coordenadas
geográficas (obtidas por meio de leitura do Global
Positioning System – GPS, realizadas no campo).
• Posteriormente, para que seja possível uma
visualização da distribuição das áreas de risco
mapeadas, é desejável que seja elaborado um
mapa de localização das áreas de risco, em escala
que permita a análise da distribuição espacial das
áreas de risco. A identificação das áreas de maior
freqüência de acidentes e sua distribuição no
território do município orienta o
dimensionamento da equipe executiva do
mapeamento.
Gestão de Riscos de Escorregamentos
• A gestão de riscos é um processo que se inicia
quando a sociedade, ou parcela desta, adquire
a percepção de que as manifestações
aparentes ou efetivas de um processo adverso
existente em dado local num determinado
momento, podem provocar consequências
danosas superiores ao admissível por esta
comunidade ... No entanto, a prática mais
frequente nas cidades brasileiras ainda se
restringe ao atendimento pós-acidente.
• Risco, portanto, deve ter sua gestão conformada
como um item transversal da gestão do ambiente
urbano, nas ações integradas de planejamento,
das obras públicas, do provimento habitacional e
da manutenção e melhoria dos assentamentos já
existentes, dos serviços urbanos, da atenção
social, da fiscalização e controle da ocupação e
uso do solo, da saúde coletiva e, obviamente,
também do atendimento de acidentes e
emergências.

Você também pode gostar