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FAZ CIÊNCIA, VOL. 25, N. 41, JAN/JUN 2023 – P.

06 – 23

Diferenças de produtividade entre sistemas convencionais e agroflorestais de


culturas alimentares: uma revisão integrativa de literatura

Fernanda Dos Santos1


Rozane Marcia Triches2

Resumo: A segurança alimentar está intimamente ligada aos meios de produção e à sustentabilidade do sistema dos
recursos naturais. É reconhecida a necessidade de mudanças nos sistemas alimentares a fim de se ter maior
produtividade com sustentabilidade e resiliência. Este trabalho teve por objetivo realizar uma revisão integrativa de
literatura buscando verificar as diferenças entre os sistemas de produção convencional (monocultura) e o agroflorestal,
principalmente no que diz respeito à produtividade de ambos, mas também a outros fatores que perpassam o assunto.
Foram realizadas buscas nas bases de dados Periódicos Capes e Scopus e incluídos trabalhos que buscassem identificar
o rendimento dos sistemas de monocultura e agroflorestal de culturas alimentares no sentido de comparação entre
elas, com metodologia experimental ou de modelagem. Dos 21 artigos selecionados 15 (71%) deles mostram maior
rendimento em modalidades agroflorestais, 5 (23%) apresentam maior rendimento em regime de produção
monocultora e apenas 1 (4%) não encontrou diferenças entre as duas formas de produção. Cerca de 90% dos estudos
foram publicados após o ano de 2010, o que mostra um crescente interesse no tema nas últimas décadas.

Palavras-chave: Segurança Alimentar e Nutricional, Monocultura, Agrofloresta, Produtividade,


Sustentabilidade.

Differences in productivity between conventional and agroforestry food crops systems: an


integrative literature review

Abstract: Food security is closely linked to the means of production and the sustainability of the natural resource
system. The need for changes in food systems is recognized in order to have greater productivity with sustainability
and resilience. This work aimed to carry out an integrative literature review seeking to verify the differences between
conventional production systems (monoculture) and agroforestry, mainly with regard to the productivity of both, but
also to other factors that pervade the subject. Searches were carried out in the Periódicos Capes and Scopus databases
and studies were included that sought to identify the yield of monoculture and agroforestry systems of food crops in
the sense of comparing them, with experimental or modeling methodology. Of the 21 selected articles, 15 (71%) of
them show higher yield in agroforestry modalities, 5 (23%) show higher yield in monoculture production regime and
only 1 (4%) did not find differences between the two forms of production. About 90% of the studies were published
after the year 2010, which shows a growing interest in the topic in recent decades.

Keywords: Food and Nutrition Security, Monoculture, Agroforestry, Productivity, Sustainability.

1
Graduada em Nutrição pela Universidade Federal Fronteira Sul. Email: fernanda.santos0996@gmail.com
2
Profa. Dra. do curso de graduação em Nutrição e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Agroecologia e
Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS. Orcid: https://orcid.org/0000-
0002-4460-4821 Email: rozane.triches@gmail.com
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Diferencias en la productividad entre los sistemas de cultivos alimentarios convencionales y


agroforestales: una revisión integrativa de literatura

Resumen: La seguridad alimentaria está estrechamente relacionada con los medios de producción y la sostenibilidad
del sistema de recursos naturales. Se reconoce la necesidad de cambios en los sistemas alimentarios para tener una
mayor productividad con sostenibilidad y resiliencia. Este trabajo tuvo como objetivo realizar una revisión
integrativa de la literatura buscando verificar las diferencias entre los sistemas de producción convencionales
(monocultivo) y los agroforestales, principalmente en lo que se refiere a la productividad de ambos, pero también a
otros factores que impregnan el tema. Se realizaron búsquedas en las bases de datos de Periódicos Capes y Scopus y
se incluyeron estudios que buscaron identificar el rendimiento de monocultivos y sistemas agroforestales de cultivos
alimentarios en el sentido de compararlos, con metodología experimental o de modelación. De los 21 artículos
seleccionados, 15 (71%) de ellos muestran mayor rendimiento en las modalidades agroforestales, 5 (23%) muestran
mayor rendimiento en régimen de producción de monocultivo y solo 1 (4%) no encontró diferencias entre las dos
formas de producción. Cerca del 90% de los estudios fueron publicados después del año 2010, lo que demuestra un
creciente interés por el tema en las últimas décadas.

Palabras clave: Seguridad Alimentaria y Nutricional, Monocultivo, Agroforestería, Productividad, Sostenibilidad.

Introdução

Certamente a pandemia de COVID-19 foi um alerta para a humanidade repensar a forma


com a qual os humanos se relacionam com a natureza, o modo de desenvolvimento capitalista e
de consumo excessivo. Também fez refletir sobre como a saúde humana, a animal e a ecológica
estão profundamente associadas e expôs a fragilidade e vulnerabilidade sócio-ecológica mundial.
Não é novidade nas últimas décadas que muitos agroecologistas têm acusado a agricultura
industrial baseada em monocultivos pelos impactos negativos na saúde humana e dos ecossistemas
(ALTIERI; NICHOLLS, 2020).
Neste sentido, estes impactos negativos refletem na segurança alimentar e nutricional da
população. Por seu turno, segurança alimentar e nutricional refere-se ao direito de todos ao acesso
regular e permanente a alimentos com qualidade e em quantidades suficientes, sem que haja o
comprometimento de acesso a outras necessidades essenciais. Ela ainda tem como base práticas
alimentares promotoras de saúde, com respeito à diversidade cultural e que sejam sustentáveis no
ponto de vista social, econômico e ambiental (CONSEA, 2004).
De acordo com o último relatório da FAO (2021) intitulado “O Estado de Segurança
Alimentar e Nutricional no Mundo”, o número de pessoas que se encontravam em situação de
fome para o ano de 2020 foi de aproximadamente 768 milhões, ou seja, quase uma em cada três
pessoas no mundo não teve acesso a uma alimentação adequada em 2020. Já o número de pessoas
que enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave foi de 2,37 bilhões de pessoas. O aumento
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mais acentuado de insegurança alimentar moderada ou grave foram na América Latina e no Caribe
com cerca de 267 milhões de pessoas. No Brasil, o relatório da Vigisan de 2022 relatou que 33
milhões de pessoas estavam em insegurança alimentar grave (fome) e que 58,7% da população
estava com algum grau de insegurança alimentar (VIGISAN, 2022).
A fome e a desnutrição não estão apenas ligadas à falta de alimentos, mas também à falta
de uma alimentação saudável, que do mesmo modo resulta em sobrepeso, obesidade e doenças
correlatas. Milhões de pessoas não têm poder aquisitivo para apropriar-se de uma alimentação
saudável, pois elas são caras e inacessíveis. Para a FAO é fundamental que haja uma transformação
dos sistemas alimentares para garantir não somente o acesso ao alimento nutritivo, mas que este
seja social e ambientalmente sustentável (FAO, 2020).
Além disso, a expectativa para o ano de 2050 é de que se tenha uma população de mais de
9 milhões de pessoas e para tanto é necessário aumentar a produção de alimentos em 70% do que
se tem hoje (FAO, 2017). Sem dúvidas há necessidade de aumentar a produtividade na produção
de alimentos (BUAINAIN; GARCIA; VIEIRA, 2016), todavia a quantidade de terra utilizada hoje
para a agricultura equivale a 50% da área habitável do planeta (FAO, 2020). Dessa forma, o desafio
é aumentar a produtividade sem que haja expansão de novas terras para a produção desses
alimentos (BUAINAIN; GARCIA; VIEIRA, 2016).
Inicialmente, nas décadas de 1970 e 1980, logo quando a Revolução Verde surgiu, não
tinha-se a preocupação de conservação e cuidado com os recursos naturais no modelo de
agronegócio que nascia. Este modelo era calcado nos princípios da intensa mecanização rural, da
utilização de produtos químicos e engenharia genética. De fato, houve aumento da produtividade
e progresso agropecuário, contudo, houve também impactos negativos no meio ambiente, como a
perda da biodiversidade, erosão, contaminação de solo, água e ar e uso intenso de produtos
químicos de origem não renovável (EMBRAPA, 2014).
Portanto, é necessário tornar a produção de alimentos mais sustentável e que ao mesmo
tempo, tenha um bom nível de produtividade, preços agrícolas aceitáveis para o consumidor e para
o agricultor e que trabalhe com a biodiversidade do sistema. Para tanto, o modo de produção
agroflorestal se coloca como potencial alternativa ao modelo convencional de produção de
alimentos (ROMEIRO, 2014).
O sistema agroflorestal integra o plantio de árvores juntamente com os cultivos agrícolas
e/ou animais, ocorrendo simultaneamente ou, sequencialmente, e tem por objetivo aumentar a
produtividade por unidade de terra (NAIR, 1989 apud EMBRAPA, 2015). Os Sistemas
agroflorestais de produção são regidos pelos princípios da agroecologia (NODARI; GUERRA,

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2015) com potencial de regeneração de terras degradadas, mitigação climática, geração de


emprego e promoção de segurança alimentar e nutricional (DAGAR, 2017).
Dado este contexto, observa-se que os atuais modos de produção de alimentos não estão
em conformidade com as necessidades da população mundial, tanto em relação à fome, à
alimentação adequada e saudável, quanto à questão ambiental. O grande desafio atual é que os
modelos de produção de alimentos conjuguem produtividade e sustentabilidade, em função da
necessidade de abastecer uma população em crescimento dentro dos limites planetários e das
mudanças climáticas.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão integrativa de
literatura que buscasse identificar quais as diferenças entre os sistemas de produção convencionais
(monocultura) em relação ao sistema agroflorestal, principalmente no que diz respeito à
produtividade de ambos, mas também a outros fatores intervenientes.

Materiais e métodos

Trata-se de uma revisão de literatura integrativa, realizada nas bases de dados Periódicos
Capes e Scopus. Os unitermos utilizados foram: “monoculture AND agroforestry AND yield” e
“monocultura AND agrofloresta AND produtividade”. Quantos aos filtros utilizados nas bases
estão os de linguagem que foram os artigos em portugues, espanhol e inglês, sendo eles no formato
de artigo científico e no estágio final de publicação. Para o periódico capes também foi utilizado
o tópico de “agricultural production” para maior refinamento da busca. Quanto à base Scopus,
foram empregadas as palavras chaves: Agroforestry, monoculture, crop yield.
Os critérios de inclusão dos artigos foram trabalhos que buscassem identificar o rendimento
dos sistemas convencionais e agroflorestais em sentido de comparação entre eles. Foram coletados
estudos em inglês, português e espanhol, sem restrição temporal de busca. Só foram incluídos
artigos publicados em revista e os que possuíam metodologia experimental e de modelagem. Os
critérios de exclusão foram artigos que não incluíam os unitermos no título e resumo, não tratavam
do assunto e pergunta norteadora, não eram sobre produtos alimentares e os repetidos.
Para melhor compreensão e junção dos dados e posterior análise, foram dispostas as
informações dos artigos incluídos no formato de tabela, na qual as informações colhidas foram
título, autores, ano de publicação, metodologia, objetivos, resultados de rendimentos e principais
desfechos.

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A primeira triagem foi baseada na leitura dos títulos e resumos, buscando os unitermos e
se havia teor de comparação entre as duas culturas em relação aos rendimentos. A segunda triagem
foi a leitura integral dos artigos, a fim de identificar os objetivos e metodologia, observando se
continham informações sobre os rendimentos das culturas e sob quais variáveis. A terceira triagem
foi analisar se os artigos procuravam comparar os rendimentos dos sistemas em relação à produção
alimentar. Trabalhos repetidos e que não trabalhassem com a perspectiva da temática foram
excluídos da análise. A figura 1 apresenta o fluxograma deste processo.
Foram encontrados nas buscas 301 artigos, destes, foram excluídos 279, restando apenas
21 para a análise dos resultados. O período de busca foi de julho de 2021 a janeiro de 2022.

Figura 1: Fluxograma do Protocolo de revisão de literatura.

Fonte: As autoras.

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Resultados

Dos 21 artigos selecionados, 15 (71,4%) deles mostram um maior rendimento em


modalidades agroflorestais, 5 (23,8%) deles apresentam maior rendimento em regime de produção
monocultora e apenas 1 (4,7%) artigo não encontrou diferença significativa de produtividade entre
as duas formas de produção. A grande maioria dos artigos, cerca de 90%, foi publicada depois de
2010, o que representa um maior interesse neste assunto nos últimos anos. Foram identificadas nos
artigos selecionados duas formas de análise comparativa. A primeira delas é feita com o valor total
de produção agroflorestal versus o total da produção monocultora, esta análise foi identificada em
12 dos artigos. A outra análise apresentada nos 9 artigos restantes foi feita pela comparação com
o total de apenas uma cultura como foco, com o respectivo total desta mesma cultura no regime
monocultor.
Em relação ao tipo de produtos investigados e sua frequência, identificou-se as seguintes
culturas: trigo (7), cacau (6), milho (4), soja (4), café (3), cevada (1), amêndoas (1), damasco (1),
jaca (1), mamão (1), berinjela (1), ginkgo (1), fava (1), jujuba (1), grão de bico (1), nabo (1) e
ervilha (1). No que diz respeito aos países dos respectivos estudos, a China foi o que mais
apresentou artigos com a proposta estudada aqui, com o total de 5 estudos, seguido da Bolívia,
Indonésia e Dinamarca com 2 artigos cada um. O Brasil, Costa Rica, Canadá, Holanda, Grécia,
Irã, Etiópia, Alemanha e Bangladesh também apresentaram artigos. No que tange à metodologia
utilizada foram 18 estudos experimentais e 3 estudos de modelagem (simulação de modelo). No
Quadro 1 são apresentados os artigos encontrados com seus respectivos autores, ano, objetivos,
metodologia e seus principais resultados e desfechos.

Quadro 1: Relação de artigos encontrados e principais resultados e desfechos.

Autores/ano Objetivos e Metodologia Resultados e Desfechos

Figyantika, Explorar a dinâmica das interações árvore-cultura A produtividade de grãos da soja não foi
A. et al., em um sistema agroflorestal com A. Auriculiforme, afetada pelo tratamento em nenhuma das
2020. milho e soja em Gunungkidul; quantificar o três safras, mas as safras de milho e de grãos
crescimento das árvores, a produtividade da cultura, foram significativamente menores no
Indonésia a umidade do solo e o potencial hídrico da folha. sistema agroflorestal do que na monocultura
Experimental. na terceira safra.

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Abbasi Surki, (1) avaliar a relação competitiva interespecífica Os maiores rendimentos de grãos para trigo
A. et al., entre as árvores e as culturas; (2) avaliar a resposta e cevada foram obtidos por sistemas
2020. do rendimento e seus componentes das safras em consorciados na distância de 2,5 m das
relação aos fatores competitivos em diferentes árvores, que foram 35% e 39% maiores que
Irã distâncias da árvore; e (3) oferecer soluções suas respectivas monoculturas. Em geral,
possíveis para minimizar competições entre as quantidades de nutrientes residuais do
espécies e maximizar a utilização de recursos. solo foram maiores para o sistema
Experimental. agroflorestal.

Qiao, X. et Determinar se os damascos tinham efeitos O teor de proteína e o teor de glúten úmido
al., 2019. significativos no crescimento e na produção do trigo do trigo consorciado foram
por meio do sombreamento e se os damascos significativamente aumentados em
China afetavam a qualidade do trigo consorciado. comparação com o trigo da monocultura. O
Experimental. rendimento de grãos e seus componentes,
incluindo número de espiga, grãos por
espiga e peso de mil grãos de trigo
consorciado, foram significativamente
reduzidos em comparação com as
configurações de monocultura em ambos os
anos.

Gidey, T. et Avaliar a produção de café sob: (1) monocultura de A produção de café em sistemas
al., 2020. café e (2) café cultivado usando sistema agroflorestais tem maior nível de resiliência
agroflorestal, sob: (a) clima atual e (b) dois cenários diante das mudanças climáticas futuras e
Etiópia futuros diferentes de mudanças climáticas. reforça a ideia de usar esse tipo de gestão
Modelagem. em um futuro próximo para reduzir
impactos negativos das mudanças
climáticas na produção cafeeira.

Pérez-Neira, Comparar o uso de energia e a eficiência energética A produção total dos sistemas agroflorestais
D. et al., de quatro diferentes sistemas de produção de cacau, foi três vezes maior que a das monoculturas,
2020. em particular dois sistemas agroflorestais e duas um dado chocante quando comparado aos
monoculturas a pleno sol sob manejo orgânico e resultados obtidos quando se considerou
Bolívia convencional. Experimental. apenas o cacau.

Niether, W. et O objetivo deste trabalho é estudar as raízes do O rendimento do cacau foi menor nos
al., 2019. cacau e o sistema radicular total, produção e sua sistemas agroflorestais, mas as safras
Alemanha relação com o cacau e a produção do sistema, ou adicionais geraram um rendimento do
seja, o rendimento de todas as culturas e biomassa sistema e biomassa acima do solo mais altos
total em pé. Experimental. do que as monoculturas convencionais de
cacau, implicando na exploração efetiva dos
recursos.

Xu, Y. , et al. O objetivo do estudo foi avaliar a produtividade e os Sistemas agroflorestais como os sistemas
2019. retornos econômicos de um sistema combinado de CFE são mais produtivos e
alimentação e energia (CFE) em comparação com a economicamente viáveis em comparação
Dinamarca produção de trigo de inverno e de cultura lenhosa de com a monocultura.
única rotação curta (SRWC). Modelagem.

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Miah, et al., Incrementar pomares de monocultura de jaca, A produção total por unidade de área
2017. transformando-os em um sistema agroflorestal de (combinando os rendimentos de jaca,
Bangladesh vários andares. Experimental. mamão e berinjela) no sistema agroflorestal
de vários andares era notavelmente maior
do que no sistema de monocultura para a
mesma área devido ao uso intensivo da
terra.

Armengot, L. Comparamos a produtividade e o retorno do Os resultados mostram que a produtividade


et al., 2016. trabalho, ou seja, o retorno por dia de trabalho, de do cacau foi, em média, 41% maior nas
Bolívia quatro diferentes sistemas de produção de cacau: monoculturas, mas as receitas oriundas das
agrossilvicultura e monoculturas sob manejo lavouras agroflorestais compensam
orgânico e convencional. Experimental. economicamente essa diferença. Na
verdade, o retorno sobre o trabalho ao longo
dos anos foi quase duas vezes maior nos
sistemas agroflorestais em comparação com
as monoculturas.

Nasielski, J. O objetivo deste estudo foi examinar o efeito de um A produtividade da soja na zona de cultivo
et al., 2015. déficit hídrico na estação completa no campo na de árvores foi menor em comparação com a
fixação de N2, nodulação e produtividade da soja na monocultura. No entanto, a produtividade
Canadá zona competitiva de cultivo arbóreo de um sistema da soja ficou estável na agrossilvicultura e
agroflorestal. Experimental. apenas na monocultura a redução das
chuvas induziu um declínio significativo na
produtividade da soja.

Jacobi, J. et (1) avaliar como os produtores de cacau percebem A resiliência do agroecossistema foi maior
al., 2013. as mudanças climáticas e construir um conjunto de sob os dois sistemas agroflorestais do que
indicadores de resiliência do agroecossistema com sob a monocultura de prática comum,
Bolívia base em uma abordagem transdisciplinar; (2) especialmente sob a agrossilvicultura
determinar a resiliência - principalmente do sucessional. Ambos os sistemas
agroecossistema sob os diferentes sistemas de agroflorestais alcançaram maiores
cultivo de cacau; e (3) explorar até que ponto as rendimentos de cacau do que a monocultura
capacidades de auto-organização e aprendizagem de prática comum devido ao conhecimento
aumentam a resiliência do agroecossistema no aprimorado dos agricultores agroflorestais
cultivo do cacau. Experimental. sobre o cultivo do cacau.

Cao, F.-L. et (1) estimar o efeito de Ginkgo / misturas de culturas Os dois consórcios superaram em
al., 2010. na biomassa de Ginkgo, trigo e fava e sua biomassa produtividade as respectivas monoculturas.
combinada; (2), avaliar as habilidades competitivas
China relativas de diferentes espécies de cultivo nas
misturas de Ginkgo / cultivo; (3), detectar se as
misturas de Ginkgo / safra são mais produtivas do
que as monoculturas; e (4), pesquisar as
combinações Ginkgo com culturas mais produtivas.
Experimental.

Siles, P. et al., O objetivo deste estudo foi investigar, nas condições A produção de café foi bastante semelhante
2009. Costa ideais de cultivo do café no Vale Central da Costa em ambos os sistemas durante o
Rica Rica, o impacto da Inga densiflora, árvore de estabelecimento das árvores de sombra, no
sombra muito comum na América Central, sobre o entanto, foi observada uma diminuição do

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microclima, a produtividade e o desenvolvimento rendimento de 30% no AFS em comparação


vegetativo do café sombreado em comparação com com o MC.
a monocultura de café (MC). Experimental.

Campanha O objetivo desta pesquisa foi comparar o A produção de grãos de café foi menor no
M.M.a, et al., desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, o estado sistema agroflorestal em comparação com a
2004. nutricional e a produtividade do cafeeiro cultivado monocultura do café.
em um sistema agroflorestal e em monocultura.
Brasil Experimental.

Xiaodong (1) investigar os impactos do consórcio sobre o uso A produção de jujuba em sistemas
Gao et al., da água por jujubas e as diferenças entre as culturas agroflorestais era claramente mais alta do
2018. anuais e perenes; (2) examinar as variações sazonais que na monocultura. Concluiu-se que a
nas interações interespecíficas da água sob várias agrossilvicultura aumentou a resiliência das
China situações de umidade do solo; e (3) investigar a plantações de jujuba no semiárido à extrema
resposta das interações interespecíficas da água à seca meteorológica do mundo real,
seca extrema do mundo real. Experimental. aumentando a facilitação interespecífica.

Wang, Zhi- O objetivo foi testar a hipótese de que o consórcio Tanto os rendimentos de grãos quanto a
Gange et al., pode manter a fertilidade do solo aumentando os aquisição de nutrientes foram
2014. insumos de biomassa abaixo do solo derivados da significativamente maiores em todos os
China superprodução de biomassa acima do solo, bem quatro sistemas de cultivo consorciado do
como a biodiversidade abaixo do solo resultante da que o monocultivo correspondente ao longo
diversidade de culturas acima do solo. de dois anos.
Experimental.

Xu, Ying, et Avaliar a produtividade agronômica e o retorno Sistemas agroflorestais como CFE são mais
al, 2019. econômico dos sistemas CFE em comparação com produtivos, economicamente viáveis e
Dinamarca o trigo de inverno solteiro e o SRWC solteiro. resilientes em comparação com a
Modelagem. monocultura.

Rajab, et al., O objetivo do presente estudo foi comparar sistemas Sem diferença significativa de
2016. de cultivo de cacau de zero a alta intensidade de produtividade.
Indonésia sombra em relação à biomassa, estoques de carbono
e produtividade. Experimental.

Zhang, Pesquisar a diferença nas características fisiológicas O consórcio e a fertilização com N tiveram
Xiangqian et do milho, acúmulo de N e produtividade entre a maiores rendimentos.
al., 2014. monocultura e o consórcio sob diferentes níveis de
China fertilização com N. Experimental.

Zhu, J et al., Avaliar a produtividade do consórcio trigo-milho O consórcio de trigo-milho foi mais
2016. em comparação com trigo e milho solteiro, e as produtivo do que o de milho solteiro.
Holanda diferenças associadas na parte aérea do trigo e nas
características das folhas. Experimental.

Pankou, Determinar (1) o efeito da disponibilidade de água Houve vantagem de produtividade da


Chrysanthi et nos sistemas consorciados em condições de maioria dos consórcios sobre os
al., 2021. sequeiro, (2) como os diferentes cultivares

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Grécia respondem aos sistemas consorciados e à diferença monocultivos, o que indica a eficiência do
na disponibilidade de água, e (3) avaliar o impacto consórcio no uso dos recursos ambientais.
do sistema consorciado nas espécies componentes
sob diferentes níveis de água. Experimental.

Fonte: As autoras.

Análise e discussão

Da literatura encontrada, verifica-se que 71% dos estudos apontam um maior rendimento
de produção alimentar no sistema agroflorestal. Dentre os motivos citados que contribuem para
tal resultado estão a qualidade do solo com maiores quantidades de carbono orgânico, fósforo,
potássio e nitrogênio total, do que em sistemas monocultores. Com o acúmulo maior de carbono
e nutrientes no solo é aumentada a fertilidade do solo, reduzindo a necessidade de aplicações de
fertilizantes (ABBASI et al, 2020). Perez-Neira et al. (2020) evidenciam que o manejo orgânico
e agroflorestal diminui a dependência de energia não renovável, o que diz respeito a defensivos
agrícolas e também combustíveis baseados em energia não renovável (petróleo).
Também se atribui este maior rendimento à existência de um microclima nas áreas
agroflorestais com maior umidade de solo, menor temperatura, menor evaporação de água e
plantas dentro do sistema (MIAH et al, 2017) com maior biodiversidade, o que aumenta o sucesso
de polinização, controle biológico de pragas e ervas daninhas (RAJAB et al., 2016).
Estes resultados positivos de rendimento produtivo em sistemas agroflorestais evidenciam
que é possível ter produtividade alimentar de acordo com a demanda, juntamente com a
preservação da natureza e seus recursos. Além da produtividade são citados outros benefícios do
sistema agroflorestal como o maior nível de resiliência quanto às mudanças climáticas como
colocam Gidey et al (2020), Jacobi et al (2013), Xiaodong et al (2018) e Pankou et al (2021). O
conceito de resiliência aplicado a sistemas de produção em relação às mudanças climáticas,
significa reduzir a sensibilidade de um sistema a fatores de estresse e distúrbios e com isso manter
a produtividade (JACOBI et al, 2013).
Em um estudo utilizando o método de modelagem que buscou projetar a produção de café
ao longo de 40 anos com base nos dados climáticos como temperatura e precipitação nos diferentes
sistemas de produção (monocultura e agroflorestal), e com os cenários mundiais futuros esperados
de aumento da temperatura e déficit hídrico, os resultados obtidos foram maior produtividade de
café nas agroflorestas do que na monocultura. Isto se deu, segundo o estudo, porque os sistemas

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agroflorestais se mostram menos vulneráveis a essas mudanças climáticas, devido à presença das
árvores no cultivo, o que reduz a evaporação do solo e das plantas, criando um microclima dentro
do sistema, reduzindo a temperatura total da agrofloresta (GIDEY, 2020).
No entanto, em relação à produção de café, apenas um dos estudos apontou maior
produtividade na agrofloresta, incluindo que a produção cafeeira nesta modalidade tem maior nível
de resiliência diante as mudanças climáticas (GIDEY et al, 2020). Os outros mostram maior
produtividade de café em monoculturas, porém a comparação foi feita com apenas a cultura de
café, não sendo consideradas as outras culturas cultivadas (CAMPANHA et al, 2004). Também
foi evidenciado em um deles que a produção foi menor devido à falta de poda adequada no sistema
agroflorestal (SILES et al, 2010). Em um trabalho de Lunz et al. (2005), analisando a qualidade
do café sob produção agroflorestal e monocultura, foi identificado que o café produzido na
agrofloresta teve um aumento no tamanho, uniformidade na maturação dos frutos, bem como a
melhoria da qualidade da bebida.
Já em relação à soja, um experimento realizado no Canadá investigou seu rendimento em
regimes de déficit hídrico. Como resultados, não houveram diferenças no regime de produção
agroflorestal, somente no sistema de monocultivo. Identificou-se que o rendimento da soja
continuou estável mesmo sob estresse hídrico, como consequência da capacidade de retenção de
água em solos agroflorestais (NASIELSKI, J. et al., 2015; PANKOU, CHRYSANTHI et al.,
2021). Nesse mesmo sentido, também foi confirmado em um experimento em local de semiárido
com seca real extrema, que a agrofloresta obteve maior rendimento em comparação ao sistema
monocultor, o que expôs maior resiliência do sistema agroflorestal (XIAODONG GAO et al.,
2018.).
Ainda sobre resiliência do sistema agroflorestal, faz-se referência à existência de
organizações locais que facilitam a certificação orgânica e apóiam a diversificação agroecológica
e ao fazê-lo, ajudam a aumentar a resiliência do agroecossistema aos impactos das mudanças
climáticas. Eles aprimoram ainda mais o aprendizado e a capacidade de adaptação dos agricultores,
organizando cursos e plataformas de troca de conhecimento, o que possibilita maior adaptação
agroecológica (JACOBI et al, 2013).
Dos sete artigos que trabalharam com o trigo, seis deles indicavam o modo de produção
agroflorestal mais produtivo (ABBASI, 2020; XU Y, 2019; CAO, 2010; YING, 2019; ZHU, 2016;
PANKOU, 2021). Qiao (2019) coloca que apesar dos resultados de produtividade terem
apresentado maior rendimento na monocultura, o trigo da agrofloresta continha maior teor de
proteína e glúten úmido no grão.

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Verificou-se nos estudos referentes ao cacau que três deles indicaram maior produtividade
na monocultura, porém, a análise de comparação realizada desconsidera as outras culturas
trabalhadas juntamente com o cacau. Se fosse considerada a produtividade total do sistema, a
agrofloresta é mais produtiva e mais rentável economicamente em comparação com a monocultura
(PEREZ et al, 2020; NIETHER et al, 2019; ARMENGOT et al, 2020). Ainda, Armengot et al.
(2020) salientam que o retorno financeiro sob o trabalho no regime da agrofloresta chega a ser
duas vezes maior.
Dos artigos que trabalham o cultivo de milho, três deles mostram resultados positivos de
produtividade no cultivo agroflorestal, além do sistema ser indicado como eficiente para a
agricultura sustentável (WANG et al, 2014; ZHANG et al, 2014; ZHU et al, 2016). Os sistemas
de produção agroflorestais têm sido propostos como uma alternativa ao sistema monocultor de
produção em virtude do seu potencial de redução da perda de biodiversidade, de degradação do
solo, melhora no sequestro de carbono e na mitigação das mudanças climáticas (SHIBU, 2009;
SOMARRIBA et al, 2013; MARCONI e ARMENGOT, 2020).
Em um artigo foram estudadas as cultivares de milho e soja num sistema agroflorestal e
também num sistema monocultor convencional. Como resultados encontrados, a monocultura foi
mais produtiva considerando o balanço geral, porém a produtividade da soja não foi afetada em
nenhuma das safras do sistema agroflorestal, somente a do milho. Isso se deu porque o milho
apresentou maior intolerância ao sombreamento. Conforme as árvores foram crescendo a
produtividade do milho diminuiu. Os autores salientam que o sistema agroflorestal estudado
oferece um máximo de duas culturas de milho e pelo menos três de soja durante um período de
três anos da rotação de árvores. Para períodos mais longos é necessário cultivar outras espécies
mais tolerantes à sombra ou adotar o desbaste das árvores para maior incidência de luz no sistema
(FIGYANTIKA, et al., 2020).
Entre os artigos que mostravam maior rendimento na produção monocultora, está o artigo
de Pèrez-Neira et al. (2020). Em seu estudo que comparava a produção de cacau em sistema
agroflorestal com o de monocultura, este último demonstrou ser mais produtivo. No entanto, a
produção agroflorestal total (cacau mais a produção dos outros alimentos) foi três vezes maior que
a monocultura. Ainda, é ressaltado que a produção agroflorestal é uma forma de manter a
sustentabilidade das plantações de cacau quanto ao uso de energias não renováveis e ao mesmo
tempo ela melhora os meios de subsistência dos agricultores e os serviços ecossistêmicos,
resultados de uma maior biodiversidade.
Niether et al. (2019) também apresentam panorama parecido, onde a produtividade
comparada do produto principal entre os dois sistemas apresenta maior produtividade no
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monocultivo, porém se levada em consideração toda a produção do sistema agroflorestal, a


agrofloresta se torna mais produtiva. Haile, Palmer e Otey (2016) também relatam a mesma
perspectiva e ainda apontam que a monocultura exigiria 25-74% a mais de terra para produzir a
mesma quantidade de rendimento do sistema agroflorestal. Semelhante ao encontrado por
Lehmann et al (2020) indicando que os sistemas agroflorestais eram 36-100% mais produtivos em
comparação à monocultura. Esse rendimento aumentado depende das diferenças nos tipo de
cultivo, arranjo, manejo e clima da região. Existe uma diversidade de sistemas de produção
possíveis com diferentes combinações de culturas e árvores e cada arranjo possui uma
produtividade diferente na agrofloresta (LEHMANN et al, 2020).
Um dos estudos que apontou resultados positivos na produtividade agroflorestal, refere que
isso só foi possível devido ao conhecimento aprimorado dos agricultores em relação à produção
agroflorestal e sobre a cultura analisada em si (no caso o cacau). Destaca-se que esses
conhecimentos foram facilitados através de organizações locais que possibilitavam a certificação
orgânica e potencializam a integração dos agricultores a cooperativas (JACOBI et al, 2013).
Qualquer sistema de produção agroflorestal é mais complexo em conhecimento e exige
maior manejo do que a cultura convencional. Isso se deve a uma gama de variáveis e interações
entre a vegetação envolvida. O agricultor deve ter competências em várias áreas da agricultura e
conhecer a dinâmica de interação das culturas trabalhadas, tendo planejamento e monitoramento
(LEHMANN et al, 2020).
Por fim, verificou-se que a grande maioria dos artigos encontrados foram publicados após
o ano de 2010, o que evidencia maior interesse sobre a temática especialmente na última década,
o que é positivo, visto a realidade atual de crise planetária no que diz respeito a mudanças
climáticas, a perda da natureza e da sua biodiversidade, juntamente com a poluição (ONU, 2021).
Sendo assim, é de grande interesse o estudo de formas de produção alimentares mais adequadas,
que sejam ambientalmente, socialmente e economicamente sustentáveis (RIBEIRO; JAIME;
VENTURA, 2017).
No último relatório da FAO (2022), sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no
mundo é reconhecida a urgência da mudança dos sistemas de produção para sistemas sustentáveis
e resilientes frente às mudanças climáticas. Os principais fatores de insegurança alimentar a longo
prazo são a destruição da biodiversidade e as mudanças climáticas agravadas ainda mais com a
expansão do agronegócio (FLEXOR et al, 2022). O objetivo da agricultura sustentável é a
manutenção da produtividade no longo prazo com o mínimo possível de impactos ambientais e
que tenham retornos econômico/financeiros e socialmente adequados (ALTIERI, 2004).

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Conclusões

A partir desses resultados verifica-se que a produtividade dos dois sistemas ainda necessita
de mais estudos, mas diante da literatura existente encontram-se evidências que apontam para a
superioridade do sistema agroflorestal em relação à monocultura no que tange à produtividade
total, além de ser um sistema mais sustentável no médio e longo prazo. Há que se considerar que
a segurança alimentar não só depende da produtividade do sistema, mas também está intimamente
ligada aos modos de produção da agricultura e a sustentabilidade dele em relação à conservação
do meio ambiente e da sua biodiversidade, ao uso de defensivos agrícolas e combustíveis derivados
de energia não renovável. Outro ponto chave para a segurança alimentar é a resiliência deste
sistema frente às mudanças climáticas, na qual a agrofloresta se mostrou positiva.
Nesse sentido, os desafios de produzir para garantir soberania, segurança alimentar e direito
humano à alimentação adequada junto a um sistema alimentar sustentável não são poucos. O
primeiro deles é desconstruir os discursos que se proliferam, mesmo dentro da academia, que
sistemas alternativos de produção são incapazes de produzir alimentos de qualidade e suficientes
para a população mundial. Mais evidências científicas são importantes para que se possa ter mais
certezas de quais modelos são superiores em eficiência e produtividade, sem exaurir os recursos
naturais e prejudicar o ambiente. Portanto, aumentar o fomento às pesquisas científicas realizadas
em instituições públicas e privadas pare este fim seria importante para propiciar avanços na direção
da massificação de modelos de produção de alimentos sustentáveis como a agrofloresta, retirando-
os da sua condição de alternatividade, para que sejam cada vez mais comuns.
Outro desafio é relativo às políticas públicas. Atualmente, a maior parte dos recursos
públicos subsidiam a monocultura e pouco tem se feito em direção a outras propostas, pois foi esse
o padrão que o governo brasileiro sempre incentivou. Mudança de paradigmas podem ser
viabilizados pelo poder do Estado e, diante disso, revisar os rumos da agricultura no país é urgente.
Há que se movimentar as engrenagens públicas para que os agricultores sejam mobilizados a rever
suas formas de produzir alimentos. Sem isso, pouca coisa mudará, ao contrário, se continuará a
explorar a natureza, devastar as florestas e produzir mais insegurança alimentar.

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Recebido em 07/3/2023 – Aprovado em 01/04/2023

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