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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


FACULDADE DE DIREITO

ALANIS DE OLIVEIRA VIANA


BEATRIZ PAIVA LOPES
GUSTAVO HENRIQUE MACHADO DA SILVA
MARINA KETULLY SILVA MACIEL
REBECA CRISTINA CORREIA LIMA MARTINS
REBECA PYETRA SANTOS VALÕES
GUSTAVO HENRIQUE MACHADO DA SILVA

RELATÓRIO ACERCA DO NORMATIVISMO E DO DECISIONISMO

JOÃO PESSOA
ABRIL DE 2024

0
ALANIS DE OLIVEIRA VIANA
BEATRIZ PAIVA LOPES
GUSTAVO HENRIQUE MACHADO DA SILVA
MARINA KETULLY SILVA MACIEL
REBECA CRISTINA CORREIA LIMA MARTINS
REBECA PYETRA SANTOS VALÕES
GUSTAVO HENRIQUE MACHADO DA SILVA

RELATÓRIO ACERCA DO NORMATIVISMO E DO DECISIONISMO

Trabalho da disciplina de Hermenêutica


Jurídica da Faculdade de Direito da
Universidade Federal da Paraíba, em que
serão relatados o aprofundamento dos
assuntos de normativismo e decisionismo,
como base da apresentação do seminário.

JOÃO PESSOA
ABRIL DE 2024

1
SUMÁRIO

1. Introdução…..………………………………….….…………….….…………..………..3
2. Contexto geral do normativismo…..…………………..…….…………...…………..4
3. Elementos do normativismo…………….…..…….……….………….….…………..6
4. Críticas ao paradigma normativista…..…….…….…...…….……………..………..7
5. Contexto geral do decisionismo…..……………………………………...…………..9
6. Elementos do decisionismo…………….…..…………….…..……….….…………11
7. Críticas ao paradigma decisionista…..…….…….………….……………..………12
8. Conclusão…………….…..…………………….…….……….………….….…………13
9. Referências………….…..…………………….…….……….………..….….…………14

2
1. INTRODUÇÃO

O presente relatório tem, como objetivo, documentar o estudo e a


participação do grupo acerca do normativismo e decisionismo.
Esse trabalho foi desenvolvido com base em artigos científicos e livros
doutrinários do Direito, com o objetivo de estudo não só o contexto histórico e
introdutório do assuntos normativistas e decisionistas, mas também seu
aprofundamento metodológico e, assim, obter críticas a tais modelos hermenêuticos.
Durante o trabalho pode-se constatar a divisão de como será apresentado o
seminário do terceiro estágio, com 6 tópicos de desenvolvimento, em que cada
discente irá discutir em sala o seu respectivo conteúdo.
Ademais, o normativismo de Hans Kelsen é dividido em seu contexto geral
que a teoria foi desenvolvida, os elementos do normativismo, à exemplo da norma
fundamental, do escalonamento normativo e da moldura normativa, e, por fim, o
paradigma normativista. Nesse sentido, o decisionismo de Carl Schmitt é dividido em
seu contexto geral, em seu significado e nas críticas que podem ser feitas em
relação à teoria.
Dessa forma, as duas teorias são explicadas e relacionadas, haja vista que
ambas tratam da norma e da decisão, embora em visões diferentes. Além disso, o
estudo dessas teorias é de extrema importância para entender o papel de
autoridades que representam o Estado, as leis fundamentais, as Constituições e as
interpretações do ordenamento jurídico na perspectiva de cada autor.

3
2. CONTEXTO GERAL DO NORMATIVISMO

A priori, vale ressaltar que ao tratar de um tema como o normativismo é


necessário dar ênfase para o contexto histórico que possibilitou o surgimento de tal
teoria. Para tanto é imprescindível abordar acerca do positivismo jurídico que
emergiu em um período ao qual adveio a decadência do direito costumeiro, sendo
ele substituído pelas leis estatais e, assim, consolidando uma nova forma de pensar
o direito: como ciência.
Logo, durante o século XIX houve uma série de mudanças no âmbito social,
político e, consequentemente, no jurídico. Assim, o positivismo significou uma
transformação na maneira de formular as normas, sendo elas, a partir de então,
tratadas como uma ciência que carecia de métodos científicos e, também, de um
afastamento para com a interpretação valorativa das leis.
Nesse sentido, originou-se uma escola de Pensamento chamada Círculo de
Viena que teve como principal objetivo o, já mencionado, afastamento com a
interpretação valorativa das normas, sendo a fundamentação voltada para o rigor
linguístico, ou seja, essa escola propunha uma ciência normativa unificada pela
linguagem. Dentre os principais pensadores que fizeram parte do Círculo de Viena
tem-se Otto Neutath, Karl Popper, Rudolf Carnap e, mesmo que por um curto
período de tempo, Hans Kelsen.
Hans Kelsen foi um importante jurista e filósofo austríaco, considerado um
dos mais influentes pensadores no que se refere ao estudo do direito, além de,
também, ser considerado o pai do positivismo jurídico e principal representante da
escola normativista do direito. Kelsen fez parte temporariamente da escola de
pensamento supracitada mas acabou se afastando devido a algumas concepções
divergentes, porém é fato que boa parte de sua obra sofreu a influência dos ideais
neopositivistas do Círculo de Viena.
O “pai do positivismo jurídico” tem como principal obra a Teoria Pura do
Direito onde aborda o grosso de suas formulações, sendo tal obra o guia para para
se entender o chamado normativismo. Dessa forma, pode-se estabelecer que o
positivismo normativo simplifica o direito (e, consequentemente, o Estado) à norma,
considerando-o como disciplina autônoma desagregada das chamadas ciências
humanas.

4
É preciso destacar que a norma jurídica é o significado atribuído ao texto,
logo, é uma entidade semântica que, inclusive, era o foco das pesquisas
kelsenianas. Kelsen se preocupava com a validade ou invalidade da norma jurídica,
não com as noções valorativas de como as normas são, ele defendia que o direito
deve se preocupar com o que deve ser, deixando no âmbito dos demais
conhecimentos a preocupação da realidade concreta daquilo que é (ser).
As formulações estabelecidas pelo autor objetiva enriquecer a metodologia
científica, afim de proporcionar certa coerência a mesma. Para tanto, ele se baseia
em quatro principais teses: o direito como uma esfera exclusivamente positiva; o
relativismo moral; a diferença entre normatividade (aspecto deontológico) e
causalidade (aspecto ontológico); e, por fim, a pureza referente à análise
metodológica da ciência do direito.
A terceira tese que aborda a diferença entre a normatividade e a causalidade
nada mais é do que a dicotomia entre dever-ser e ser. Para Kelsen, é um fato que
tais aspectos possuem uma total independência entre eles, visto que o dever-ser
está ligado ao prisma do entendimento normativo enquanto o ser está relacionado
ao entendimento da causalidade, do processo descritivo.
Em suma, a teoria normativista do direito sustenta que a base do direito
reside no ato de vontade do legislador, daquele que possui o poder. Tal teoria ainda
defende que a prioridade é saber a validade das normas através do processo
científico metodológico, se distinguindo de qualquer atribuição de valor, pois essa
seria responsabilidade da política.
Por fim, vale ressaltar que a teoria de Kelsen parte do pressuposto de que o
comportamento do indivíduo é derivado de preceitos contidos nas normas, logo, ela
é o elemento primordial do direito e, por isso, a necessidade da elaboração de uma
teoria normativista. Portanto, tal perspectiva enfatiza que a validade das normas são
essenciais para a estrutura jurídica, sem depender de considerações morais ou
políticas.

5
3. ELEMENTOS DO NORMATIVISMO

O normativismo jurídico oferece uma abordagem sistemática e estruturada


para compreender o direito, destacando a importância da norma como elemento
central na organização do ordenamento jurídico. A norma fundamental, o
escalonamento normativo e a moldura normativa são conceitos fundamentais nessa
teoria, proporcionando uma base sólida para a análise e interpretação do direito em
suas diversas dimensões.

a. Norma fundamental:

A norma fundamental, conforme desenvolvida por Hans Kelsen em sua obra


"Teoria Pura do Direito", é o alicerce lógico do sistema jurídico. Kelsen a concebe
como uma hipótese necessária para a validade das normas jurídicas. Ela não é uma
norma positivada, ou seja, não é encontrada em nenhum documento legislativo, mas
é uma pressuposição que permite a validade das demais normas.

Kelsen propõe que a norma fundamental é a norma suprema do ordenamento


jurídico, sendo, portanto, a última instância de validade. Por meio dela, as demais
normas derivam de sua validade. Assim, quando se questiona a validade de uma
norma, a resposta remonta à norma fundamental.

b. Escalonamento normativo:

O conceito de escalonamento normativo, também desenvolvido por Kelsen,


refere-se à estrutura hierárquica das normas no ordenamento jurídico. Kelsen
propõe que as normas estão organizadas em uma pirâmide, na qual as normas
superiores conferem validade às normas inferiores. No topo dessa pirâmide está a
norma fundamental, seguida pelas normas constitucionais, leis ordinárias,
regulamentos, entre outras. Normas hierarquicamente superiores prevalecem sobre
as inferiores em caso de conflito, criando uma estrutura de coerência e hierarquia no
ordenamento jurídico.

c. Moldura normativa:

A moldura normativa, dentro da perspectiva do normativismo jurídico, é o


conjunto de normas que estabelecem os limites e as diretrizes para a atividade
6
jurídica em uma determinada sociedade. Essa moldura define os direitos e deveres
dos cidadãos, além de regular as relações sociais e políticas.

Kelsen enfatiza que a moldura normativa proporciona o contexto dentro do


qual as normas individuais são interpretadas e aplicadas. Ela reflete os valores
fundamentais da sociedade e molda o funcionamento do sistema jurídico como um
todo. Portanto, a compreensão da moldura normativa é essencial para uma análise
abrangente do direito em uma sociedade específica.

O livro "Teoria Pura do Direito" de Hans Kelsen é uma obra seminal que
explora esses conceitos em detalhes, fornecendo uma base teórica sólida para o
entendimento do normativismo jurídico e sua aplicação na prática jurídica.

4. CRÍTICAS AO PARADIGMA NORMATIVISTA

Observa-se ao longo dos anos que parte das teses jurídicas vem buscando
abandonar este normativismo jurídico, o qual, como já foi dito, tem como o seu
principal idealista Hans Kelsen. O Positivismo tem sido bastante criticado pelas
novas ideologias jurídicas, o pós-positivismo é responsável por modificar o rigor
interpretativo e científico inaugurado pela escola anterior.
Essa também é a conclusão de Marcela Varejão em seu artigo Direito e
paradigmas: noções propedêuticas.
Com particular intensidade nos últimos quarenta anos, uma parte da
teoria do direito tem procurado, de modo mais explícito ou menos
explícito - liberar-se do chamado "formalismo jurídico", ao qual se
dá também a denominação de "positivismo jurídico", que por sua vez
passa como sinônimo de "normativismo jurídico".1

O objetivo principal de Kelsen era desenvolver um embasamento científico


para o direito, diferenciando-o das demais áreas, isolando-o em uma teoria pura.
Nesse viés, ao propor o Direito como ciência, também afirma que o Direito é norma,
deduzindo uma ciência normativa:
Determinado o Direito como norma (ou mais exatamente, como um
sistema de normas, como uma ordem normativa) e limitando a ciência
jurídica ao conhecimento e descrição de normas jurídicas e às relações,
por estas constituídas, entre fatos que as mesmas normas determinam,
delimita-se o Direito em face da natureza e a ciência jurídica, como

1
VAREJÃO, M. da S. Direito e paradigmas: noções propedêuticas. Prim Facie, [S. l.], v. 6, n. 11, p.
12–25, 2010. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/4350. Acesso
em: 16 abr. 2024.
7
ciência normativa, em face de todas as outras ciências que visam o
conhecimento, informado pela lei da causalidade, de processos reais.
Somente por esta via se alcança um critério seguro que nos permitirá
distinguir univocamente a sociedade da natureza e a ciência social da
ciência natural.2

No entanto, como supracitado, há gradativamente mais críticas ao


pensamento normativista de Kelsen. Defendia o autor a ideia do Direito com um fato
isolado e neutro, se aproximando assim das ciências exatas.
O positivismo apresenta a proposta de uma Ciência do Direito meramente
descritiva e objetiva, pautada no desenvolvimento de um sistema fechado,
capaz de encontrar seu fundamento de validade em si mesmo e com
normas jurídicas criadas formalmente pelo Estado.
O Positivismo Jurídico encontra sua máxima expressão com Hans Kelsen
(1881-1973) e seu Positivismo Científico, construído a partir de sua obra
mais relevante: A Teoria Pura do Direito.3

Esse pensamento começa a ser questionado e enfraquecer a partir do f im da


Segunda Guerra Mundial, quando os debates acerca da necessidade de Direitos
Humanos Universais começaram a ganhar destaque, tendo em vista os anos bélicos
e de sofrimento para a humanidade não terem sido questionados a partir do ponto
de vista do Direito Positivo. Surge também o debate acerca da Moral no Direito,
refletindo sobre a sua intersecção com a ciência jurídica, bem como os fatores
sociais que orientam a norma.
Em busca da objetividade científica, o juspositivismo identificou o direito à
normatividade jurídica, afastando a ciência jurídica da discussão sobre a
legitimidade e a justiça. Sua decadência costuma ser associada à derrota
dos regimes totalitários ao final da Segunda Guerra Mundial, quando as
preocupações éticas e axiológicas começam a ser retomadas pelo direito.4

Isto posto, deve-se destacar o escritor jurídico nacional Miguel Reale, o qual
critica em sua obra o pensamento normativista de Kelsen e defende a tese de uma
teoria tridimensional do Direito, a qual faz uma relação de interdependência entre
fato, valor e norma.
Uma análise em profundidade dos diversos sentidos da palavra Direito
veio demonstrar que eles correspondem a três aspectos básicos,
discerníveis em todo e qualquer momento da vida jurídica: um aspecto
normativo (o Direito como ordenamento e sua respectiva ciência); um

2
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução JOÃO BAPTISTA MACHADO. 3 ed. São Paulo :
Martins Fontes, 1999. 53 p. Tradução de: REINE RECHTSLEHRE.
3
NASCIMENTO, Filipe Augusto dos Santos. Manuela de Humanística: Introdução às Ciências
Humanas e a Teoria do Direito para Carreiras Jurídicas. 2 ed. São Paulo: JusPodivm, 2023, p.
340-341.
4
SOARES, Ricardo Maurício F. Teoria geral do direito. São Paulo: Editora Saraiva, 2024. p. 81
E-book. ISBN 9788553623464. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553623464/. Acesso em: 16 abr. 2024.
8
aspecto fático (o Direito como fato, ou em sua efetividade social e
histórica) e um aspecto axiológico (o Direito como valor de Justiça).5

Além de Reale, outro autor que critica a teoria normativista kelseniana é Carl
Schmitt (1888-1985), a rivalidade entre ambos foi marcante no século 20, mas teve
seu real ápice com a promulgação da Constituição alemã ao fim da república de
Weimar.6
Por fim, nesse contexto, o debate ocorria acerca da melhor maneira de
interpretar a nova Carta Magna alemã, Kelsen defendia uma interpretação, como já
exposto, em função da norma. Porém, Schmitt desenvolveu uma tese que afirmou
uma ideia contrária a teoria normativista kelseniana, a qual denominou de
Decisionismo.

5. CONTEXTO GERAL DO DECISIONISMO

Para adentrar verdadeiramente ao conteúdo da doutrina política, ética e


jurisdicional do decisionismo, é necessário uma abordagem introdutória histórica.
Diferentemente do normativismo, baseado em normais morais e éticas predefinidas,
o decisionismo valoriza a alta autoridade decisória e centralizadora em decisões
assertivas e rápidas, inclusive em detrimento desses valores universais.
Diante desse contexto, deve-se enfatizar que o decisionismo não é criação de
um único doutrinador em específico, mas sim um ideal emergido ao decorrer das
necessidades dos diferentes cenários políticos e filosóficos. Desse modo, não há
uma listagem robusta de pensadores e correntes que discorrem especificamente
acerca dessa doutrina, é fruto de certos momentos históricos na humanidade.
Pode-se relacionar, por exemplo, com o Realismo Político, que defende a luta pelo
poder entre os Estados e que os líderes tomem decisões pragmáticas duras para
assegurar a soberania do país, além da Filosofia da Vontade, com Friedrich
Nietzsche enfatizando o papel da vontade na determinação da fundamental ação
decisiva humana.

5
REALE, Miguel. LIÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO. 25 ed. 2001. 60 p. Disponível em:
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://www.isepe.edu.br/images/biblioteca-onlin
e/pdf/direito/REALE_Miguel_Lies_Preliminares_de_Direito.pdf. Acesso em: 16 abr. 2024.
6
DIAS, Giovanna; DA SILVA, Frederico Pessoa. De Kelsen a Schmitt — o que significa ser o
guardião da Constituição?. Consultor Jurídico. 2023. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2023-set-30/diario-classe-kelsen-schmitt-guardiao-constituicao/. Acesso
em: 16 abr. 2024.
9
Em razão da importância decisória central rápida, é notório o uso em
momentos de crises e grandes turbulências, na necessidade emergencial do líder
único em dar respostas urgentes. Muito observado medidas decisionistas nas duas
Grandes Guerras do século XX, com comoções sociais a favor de uma enorme
regulamentação centralizadora para o fim do conflito, e na Depressão Econômica
que acarretou à desilusões com as instituições democráticas, em uma preferência a
regimes mais duros para resoluções robustas. Ou seja, o contexto geral do
decisionismo é enraizado em momentos de grandes desafios estruturais e crises
sociopolíticas.
Na hodiernidade, nota-se que a formulação do estudo teórico tomou forma,
verdadeiramente, a partir de Carl Schmitt. Esse grande doutrinador
constitucionalista, muitas vezes, foi estigmatizado em virtude de ter sido filiado ao
Partido Nazista Alemão, mesmo posteriormente sendo expulso pelo fato de terem
amigos e judeus e por ele ser católico. Assim, há fortes motivos para crer que
Schmitt não foi o grande teórico efetivo do direito do governo nazista, mesmo que
suas obras fossem críticas à Democracia Liberal e favoráveis, na figura do
soberano, à autoridade última decisíria. Ou seja, indubitavelmente, seus ideais foram
usados como embasamento para as futuras decisões de Benito Mussolini, na Itália,
e de Hitler, na Alemanha.

Adolf Hitler (1989-1945) sendo recebido por apoiadores em Nuremberg. em 1933

No caso particular da Alemanha nazista, o decisionismo é visível no sentido


de que, em estado de grave perigo a ordem imposta, o Reich alemão poderá
utilizar-se de medidas garantidas constitucionalmente que suspendam
10
temporariamente, total ou parcialmente, direitos fundamentais. Dessa maneira, o
presidente teria a legitimidade nesses casos de exceção de apresentar decisões
radicais e contra preceitos legais, mas que garanto “o todo”, a soberania não só do
Estado em si, mas do grande líder que estabiliza o regime. Além disso, o claro
clamor popular e forte centralização no líder único Hitler é base dessa doutrina
regulamentadora ao extremo.

6. ELEMENTOS DO DECISIONISMO

O decisionismo, embora associado ao filósofo e jurista alemão Carl Shmitt


como uma referência para compreender o significado do termo, foi inicialmente
explorado e desenvolvido por Jean Bodin e por Thomas Hobbes entre os séculos
XVI e XVII. De modo geral, o conceito de decisionismo é uma teoria que se refere a
ideia de que o fundamento último do direito é uma decisão política do soberano,
consoante a isto, a partir da análise shimittiana ocorre uma interpretação do que
seria a teoria mediante o conceito clássico proposto por Hobbes na qual o
decisionismo nada mais é do que o direito, as normas e os ordenamentos, em sua
totalidade, decisões do soberano e este soberano é aquele quem decide como
soberano.
Nas obras Lei e juízo – um exame de problema das práxis jurídicas de 1912,
bem como a teologia política e a teoria da constituição de 1922, mostram uma
reflexão sobre o decisionismo analisando, respectivamente, a questão da decisão
judiciária como elemento da prática jurídica, a teoria da ditadura e da soberania as
quais o autor define a soberania como sendo uma decisão no estado de exceção, da
qual depende a validade do ordenamento jurídico. Os pensamentos de Carl Shmitt
demonstram que para ele, o jurista que adere o tipo decisionista de pensamento,
sendo importante ressaltar que para o autor os pensamentos jurídicos são de três
tipos, normativismo, decisionismo e ordem concreta, é adepto da crença de que
todas as normas e ordenamentos sucessivos, ou seja, o direito como um todo, é a
autoridade de uma decisão definitiva que vem associada, isto, é tomada junto ao
comando e não apenas o comando da decisão em si.

Em síntese o decisionismo jurídico nada mais é do que a decisão política do


soberano, que demonstra que esse tipo de pensamento se preocupa em mostrar

11
que é o direito é algo diverso do poder, tornando possível aprender e visualizar em
separado as realidades.

7. CRÍTICAS AO PARADIGMA DECISIONISTA

Para Schmitt, apenas o povo, na democracia, e o monarca, na monarquia são


soberanos e detêm o poder constituinte. Além disso, a Constituição é legítima
porque nasce de uma vontade coletiva existente, ela protege a unidade de um povo
e sua essência não está contida em uma norma e sim na decisão política do titular
do poder constituinte.
Nesse sentido, apesar da teoria não fundamentar regimes totalitários, por sua
amplitude, ela serviu de fundamento para governantes de regimes totalitários, como
Hitler. Nessa óptica, o Art. 48 da constituição de Weimar enunciava: Se no Reich
alemão houver alteração ou perigo grave da segurança e ordem pública, o
presidente do Reich pode adotar as medidas necessárias para o restabelecimento
da segurança e ordem públicas, intervindo, em caso de necessidade, com o auxílio
das forças armadas. Para este propósito, pode suspender temporariamente, total ou
parcialmente, os direitos fundamentais estabelecidos nos arts. 114, 115, 117, 118,
123, 124 e 153. Ou seja, esse artigo dava legitimidade à Hitler para, nos casos de
exceção, adotar medidas necessárias para garantir a existência do Estado. Assim,
Hitler usa da teoria do decisionismo para ganhar um verniz de legalidade nas suas
decisões.
Além disso, Schmitt entendia que os juízes deveriam apenas cumprir a
vontade do soberano e não poderiam ter poder de decisão. Isso significa que ele
nega a possibilidade hermenêutica do juiz, haja vista que ele se limita a revelar a
vontade no monarca ou do povo e não existe maior fundamentação.
Nesse viés, a Common Law é um sistema jurídico que se baseia em
precedentes e em jurisprudências, ou seja, isso significa que os juízes têm um papel
crucial na formação de princípios jurídicos, visto que é por meio de precedentes
feitos por tribunais que os juízes se baseiam para a tomada de decisão. Ademais,
uma grande característica é a sua flexibilidade e adaptabilidade para se adequar às
mudanças da sociedade, haja vista que são os juízes que interpretam e refinam os

12
princípios jurídicos. Assim, o conceito de decisionismo se choca com o da common
law, por causa do papel do juiz.
Ademais, comparando as teorias da interpretação schmittianas com as
teorias da interpretação kelsenianas é possível identificar que Kelsen defendia uma
interpretação em função da norma e que respeitasse a norma fundamental, contudo,
Schmitt afirma que é somente a decisão que funda tanto normal quanto
ordenamento, visto que ela nasce da decisão soberana. Além disso, Kelsen nega
qualquer padrão moral ou jurisprudencial para orientar a escolha de uma
dentre as várias interpretações juridicamente possíveis. Ou seja, o julgador não se
baseia na norma moral vigente da sociedade para julgar, apenas na sua decisão
pessoal, visto que ele é um intérprete autêntico da lei, ao contrário da teoria de
Schmitt.

8. CONCLUSÃO

A participação foi uma experiência enriquecedora não só para o trabalho em


grupo, mas, principalmente, para o enriquecimento doutrinário acerca do
normativismo e do decisionismo. Com o aprofundamento do conteúdo para a
realização desse relatório, foi possível abordar com ênfase assuntos da disciplina de
Hermenêutica.
Assim, foi possível entender contexto histórico dessas teorias, os seus
conceitos e características, singulares ou não, e ver que, apesar de Schmitt e Kelsen
serem autores importantes e conceituados, as teorias discutidas no trabalho têm
críticas importantes para o enriquecimento do Direito.

13
9. REFERÊNCIAS

BELTRÃO, Igor Castro; CASTRO, Torquato Junior. LITERALIDADE COMO


METÁFORA E EQUIDADE COMO MILAGRE: um olhar sobre a oposição entre
normativismo e decisionismo. Rei - Revista Estudos Institucionais, [S.L.], v. 5, n. 2,
p. 615-638, 6 out. 2019. Revista Estudos Institucionais.
http://dx.doi.org/10.21783/rei.v5i2.322. Disponível em:
https://www.estudosinstitucionais.com/REI/article/view/322. Acesso em: 13 abr.
2024.

BRANDÃO RODRIGUES, A. O positivismo normativo de Hans Kelsen e o


problema do decisionismo judicial. Revista da Defensoria Pública do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, v. 2, n. 31, p. 09–25, 2022. Disponível em:
https://revista.defensoria.rs.def.br/defensoria/article/view/509. Acesso em: 14 abr.
2024.

DIAS, Giovanna; DA SILVA, Frederico Pessoa. De Kelsen a Schmitt — o


que significa ser o guardião da Constituição?. Consultor Jurídico. 2023.
Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2023-set-30/diario-classe-kelsen-schmitt-guardiao-constitu
icao/. Acesso em: 16 abr. 2024.

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução JOÃO BAPTISTA


MACHADO. 3 ed. São Paulo : Martins Fontes, 1999. 53 p. Tradução de: REINE
RECHTSLEHRE.

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução JOÃO BAPTISTA


MACHADO. 6 ed. São Paulo : Martins Fontes, 1998.

NASCIMENTO, Filipe Augusto dos Santos. Manuela de Humanística:


Introdução às Ciências Humanas e a Teoria do Direito para Carreiras Jurídicas. 2 ed.
São Paulo: JusPodivm, 2023, p. 340-341.

14
REALE, Miguel. LIÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO. 25 ed. 2001. 60 p.
Disponível em:
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://www.isepe.edu.br/image
s/biblioteca-online/pdf/direito/REALE_Miguel_Lies_Preliminares_de_Direito.pdf.
Acesso em: 16 abr. 2024.

SOARES, Ricardo Maurício F. Teoria geral do direito. São Paulo: Editora


Saraiva, 2024. p. 73-101 E-book. ISBN 9788553623464. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553623464/. Acesso em: 16
abr. 2024.

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https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/4350. Acesso em: 16 abr.
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Disponível em:
https://invenis.com.br/blogs/advocacia40/civil-law-e-common-law-o-que-e-e-quais-as-
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34, n. 67, 9 dez. 2013. Acesso em: 15 abr. 2024.

SILVEIRA E SILVA, F. O DECISIONISMO DE CARL SCHMITT E SUA


RELAÇÃO COM A DISCRICIONARIEDADE E A MEDIDA PROVISÓRIA. Revista
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t.com.br/2023/03/Hitler-1-min-1554325053-scaled.jpg, Acesso em: 16 abr. 2024

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