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Módulo Tributo e Segurança Jurídica

SEMINÁRIO IV - INTERPRETAÇÃO, VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÁCIA DA


NORMA TRIBUTÁRIA

Leitura básica
• CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. São
Paulo: Noeses, Capítulo III, primeira parte da obra e, item 2.4 (Sistema e
norma: validade, vigência, eficácia e interpretação da legislação tributária)
da segunda parte do livro.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. São Paulo:
Noeses, Capítulo IV.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Fundamentos Jurídicos
da Incidência. São Paulo: Noeses, Capítulo I, itens 15 (Validade como
relação de pertinência da norma com o sistema), 16, 17 e 18 (A
interpretação do direito e os limites da interdisciplinariedade).

Vídeo básico

• LINS, Robson Maia. Canal PPGD UNIMAR. Constructivismo Lógico-


Semântico e Decisão Judicial. Disponível em:
https://www.youtube.com/live/a0n3dMCkbOA?si=zqnbj9vlJKrnOieI .
Acesso em 20 de fevereiro de 2024.
• CAMPILONGO, Celso. Canal PPGD UNIMAR. Teoria dos Sistemas e
Decisão Judicial. Disponível em:
https://www.youtube.com/live/0d139FUw-9Y?si=a4h6BKRN9DyLDjqv .
Acesso em 20 de fevereiro de 2024.

Leitura complementar
• ADEODATO, João Maurício. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo:
Forense. Capítulo Décimo.
• BEZERRA NETO, Bianor Arruda. O que define um julgamento e quais
são os limites do juiz: valores, hermenêutica e argumentação para a
construção de uma teoria da decisão judicial. São Paulo: Noeses,
Capítulo 3 e 4.
• CARVALHO, Paulo de Barros. O absurdo da interpretação econômica do
“fato gerador” – Direito e sua autonomia – O paradoxo da
interdisciplinaridade. Revista de Direito Tributário, n. 97.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no direito
tributário. v.1. 2 Ed. São Paulo: Noeses, 2014, Tema II (As normas
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interpretativas no direito tributário: análise do art. 3º da Lei Complementar


n. 118/05 e seus efeitos jurídicos).
• DALLA PRIA, Rodrigo. Constructivismo jurídico e interpretação
concretizadora: dialogando com Paulo de Barros Carvalho e Friedrich
Muller. In: VIII Congresso Nacional de Estudos Tributários: derivação e
positivação no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2011.
• GAMA, Tácio Lacerda. Competência tributária, fundamentos para uma
teoria da nulidade. São Paulo: Noeses, Capítulo 11.
• MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Revogação em matéria tributária. São
Paulo: Noeses. Itens 3.5 a 3.8 do Capítulo III.
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Questões
1. Que significa afirmar que uma norma “N” é válida? Diferençar: (i)
validade, (ii) vigência; (iii) eficácia jurídica; (iv) eficácia técnica e (v) eficácia
social. Responda, fundamentadamente, o que entende acerca da validade,
vigência e eficácia jurídica da norma introdutora e da norma introduzida
(Considere em sua resposta a problemática da ADC 84)1.
RESPOSTA: Afirmar que a norma é valida nas palavras de GIUSPPE LUMIA,
é afirmar que “Uma norma é válida se está em conformidade com as
normas de produção próprias do sistema normativo da qual faz parte. Em
particular, a validade de uma norma jurídica, (...) depende da sua
conformidade com as normas de grau superior que disciplinam a
produção das normas jurídicas.”.
Entende-se por validade a condição de algo que se encontra em condições
de produzir os efeitos esperados diante do seu validamento, nas palavras
de Amedeo G. Conte, “É o específico modo de existir de uma norma,
sendo esta, sua existência específica dentro de um ordenamento jurídico”.
Já ao que se diz respeito a vigência, esta significa estar em vigor, ou seja,
surtir efeitos para a qual foi produzida tal norma, representando assim, a
obrigatoriedade da observância de uma determinada norma, sendo,
portanto, a qualidade da norma que permite a sua incidência no meio
social.
Eficácia jurídica é o predicado dos fatos jurídicos de desencadearem as
consequencias que o ordenamento prevê, sendo nas palavras de Paulo de
Barros Carvalho “a incidência da norma, somente válida perante a eficácia

1
TRECHO DA PETIÇÃO INICIAL DA ADC 84
No apagar das luzes de 2022, mais precisamente no dia 30 de dezembro de 2022, sem que houvesse participante do
govern de transito, foi editado pelo então Vice-Presidente da República, no exercício do cargo de Presidente, o Decreto
n° 11.322/2022, que reduziu a metade as alíquotas de PIS/PASEP e COFINS sobre receitas financeiras auferidas por
pessoas jurídicas sujeitas ao regime de apuração não-cumulativa de tais contribuições.
(...)
Deve-se atentar ainda, para uma particularidade: não obstante o decreto tenha sido editado no dia 30 de dezembro
(sexta-feira), havia previsão expressa, no seu artigo 2°, de que a produção de efeitos se daria a partir de 1° de Janeiro
de 2023 (domingo e feriado nacional).
No dia 1° de Janeiro de 2023, sobreveio o Decreto n° 11.374/2023, objeto da presente ação declaratória, que entrou
em vigor na mesma data (artigo 4°) e revogou imediatamente as disposições do diploma anterior, repristinando, por
conseguinte, as alíquotas de PIS/COFINS sobre as receitas financeiras constantes do Decreto n° 8.426/2015.
O cenário, em síntese, é o seguinte: o Decreto n° 11.322/2022 entrou em vigor no dia 30/12/2022 com previsão
expressa de produção de efeitos somente a partir de 1/1/2023, mas foi revogado pelo Decreto n° 11.374/2023,
justamente nesta mesma data, com a manutenção do percentual das alíquotas anteriormente vigentes desde 2015.
Não é difícil perceber que a redução de alíquota implementada pelo Decreto n° 11.322/2022 jamais chegou a se
aplicar, porquanto revogada no mesmo dia em que se iniciaria a sua eficácia. Trata-se de uma disposição natimorta,
que nao veio a produzir efeitos na esfera jurídica dos contribuintes.
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jurídica”, desmembrando-a ainda em três análises, sendo: eficácia social,


técnica e jurídica.
A eficácia técnica ocorre quando, existindo norma válida e vigente, a
norma dispõe de todos os elementos necessários à sua incidencia, sendo
esta narrativa lecionado por Paulo de Barros Carvalho.
Ademais, a eficácia social ou efetividade, se narra com a produção das
consequências desejadas pelo elaborador das nromas, verificando assim, a
conduta cumprida pelo destinatário da norma préfixada, conforme aduz
Paulo de Barros Carvalho em sua obra Dirieto Tributário: fundamentos
jurídicos da incidência, pg. 60.
Por fim, temos que: a) Validade é quando a norma é introduzida no
ordenamento jurídico, respeitando osrequisitos formais e materiais e o
procedimento necessário para isso. b) Vigência é aforça na produção de
efeitos, é aptidão. Já a eficácia é a possibilidade de a normaproduzir
efeitos concretos. c) Eficácia jurídica é a própria incidência, nascendo
arelação jurídica tributária, nas palavras do Prof. Paulo de Barros Carvalho,
seria omecanismo lógico da incidência. d) Eficácia técnica é a existência de
normasregulamentadoras e inexistência de normas que impeçam a
incidência. e) eficáciasocial é a efetividade da norma, é a produção
concreta dos efeitos na sociedade, équando o objetivo da norma foi
atingido

2. Descreva o percurso gerador de sentido dos textos jurídicos explicando


os planos: (i) dos enunciados tomados no plano da expressão (S1); (ii) dos
conteúdos de significação dos enunciados prescritivos (S2); (iii) das
significações normativas (S3); (iv) das relações entre normas (S4). Estabeleça
a relação entre “fontes do direito”, “validade” e “hierarquia” das normas
jurídicas?
RESPOSTA: Na sistematica apresentada no problema questão, o professor
Paulo de Barros Carvalho leciona que: ”(S1) compõe o texto em sentido
estrito, passando, mediante o processo gerador de sentido, para o plano
do conteúdo dos enunciados prescritivos (S2), até atingir a plena
compreensão das formações normativas (S3), e a forma superior do
sistema normativo (S4), cujo conjunto integra o texto em sentido amplo”.
Assim sendo, S1 é quando ocorre o primeiro contato do interprete, sendo
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este no campo da literalidade textual, representado pelo suporte físico,


sendo um conjunto de simbolos e ou conjunto de enunciados prescritivos,
local onde o direito se materializa; em sequência S2 é o plano das
proposições, sendo a atribuição de valores aos símbolos constantes na
materialidade textual, momento em que o intérprete ingressa no plano
dos conteúdos significativos ainda não estruturados deonticamente,
saindo do plano de expressão; posteriormente S3 vem a ser o sentido
prescritivo, sentido este que pressupõe uma estruturação não mais
isoladada dos enunciados, e sim uma estruturação lógica mais complexa
entre duas preposições,estruturando-as na fórmula hipotético condicional
(H C); por fim S4 vem a ser a fase da sistematização, ou seja, a inclusão da
norma jurídica em um sistema normativo, tomando como base critérios de
organização dos enunciados prescritivos, instância em que estabelecerá os
vínculos de subordinação e coordenação entre as normas construídas pelo
intérprete.
Portanto, os enunciados tomados no plano da expressão (S1); e conteúdos
de significação dos enunciados prescritivos (S2); são sujeitos denomidados
de geradores de sentido, de modo a facilitar a integração da norma; já (S3)
é a estrutura da norma, são as condutas intersubjetivas, e por fim, (S4) é o
eixo da subordinação do sistema.

3. Há um sentido correto para os textos jurídicos? Faça uma crítica aos


métodos hermenêuticos tradicionais. É possível falar em interpretação
teleológica e literal no direito tributário? E em interpretação econômica?
Justifique sua reposta. (Vide anexos I, II e III)
RESPOSTA: Não. Os textos jurídicos não necessitam de sentido correto,
nas palavras de Aurora Tomanzini, “O intérprete se depara com todo
aquele conjunto de enunciados prescritivos, desprovidos de qualquer
valor, mas indicativos da existência de uma valoração por parte do
legislador, passa a interpretá-los, adjudicando valores aos símbolos
positivados e, com isso, vai construindo seu sentido para concretizar certos
valores, que segundo sua construção, o legislador quis implementar”.
Neste contexto, diferente dos ensinamentos da Autora, os métodos
hermenêuticos tradicionais restringem-se ao texto prescritivo, como se
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pudésse adentrar e extrair significações deste textos.. Assim, a


herminêutica tradicional tem como base da significação o suporte físico,
vez que o sentido está no texto, é algo dado, mas escondido na sua
implicitude, sendo a função do intérprete somente exteriorizá-lo.
Contudo, a Autora fundamenta que as significações são criadas,
produzidas e elaboradas pelo intérprete, e por mais clara que a lei pareça
ser, o sentido sempre passará por um processo interpretativo, mediante
atribuição de valores dados pelo intérprete.
Dessa forma, a interpretação literal no campo do direito tributário é
julgada insuficiente para a compreensão do direito como um todo. A
hermenêutica tradicional sustenta que a interpretação literal se limita ao
significado básico dos termos jurídicos, enquanto a interpretação envolve
valores e significados que existem apenas na mente do intérprete e
sempre necessitam de contextualização. Portanto, temos uma análise
jurídica literal e gramatical. Em contrapartida, o método teleológico
persegue o propósito do legislador ao criar normas. Isto é útil para
explorar o significado da lei, mas também faz parte do julgamento do
intérprete. Contudo, o método teleológico é julgado insuficiente para
analisar a realidade jurídica como um todo.

4. Compete ao legislativo a positivação de interpretações? Existe lei


puramente interpretativa? Tem aplicabilidade o art. 106, I, do CTN ao dispor
que a lei tributária interpretativa se aplica ao fato pretérito? Como confrontar
este dispositivo do CTN com o princípio da irretroatividade? (Vide anexos IV, V
e VI).
RESPOSTA: Em primeiro lugar, o texto viola a autoridade dos três poderes
judiciário e legislativo, que devem coexistir harmoniosamente. Neste
aspecto, entendo que não existe uma lei única para a interpretação haja
vista que a interpretação é o produto individual de cada pessoa. Portanto,
não se pode dizer que a interpretação seja objetiva para todos que a lêem,
isto é, a interpretação é uma ciência humana e não uma ciência exata,
sendo passível de diversas interpretações sobre o mesma tema, levando a
divergências de interpretações mediante ao convivio societário de cada
indivíduo.
Ademais, nas palavras de Paulo de Barros Carvalho,” “é o ser humano que,
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em contacto com as manifestações expressa do direito positivo, vai


produzindo as respectivas significações. Daí a asserção peremptória
segundo a qual é a interpretação que faz surgir o sentido, inserido na
profundidade do contexto, mas sempre impulsionada pelas fórmulas
literais do direito documentalmente objetivado. Sim, porque já foi dito e
redito que não há texto sem contexto ou, de outro modo, não há plano de
expressão sem plano de conteúdo e vice-versa.”
Por fim, o art. 106, I, do CTN, tem aplicabilidade, ao dispor que a lei
tributária interpretativa se aplica ao fato pretérito, mas apenas para
beneficiar o contribuinte, com isso preserva a segurança jurídica, e da
relação entre os entes de um Estado (contribuente e contribuindo),
contudo, o confronto do artigo 106, I do CTN se da em face do princípio
da irretroatividade.

5. Dada a seguinte lei fictícia, responder às questões que seguem:

Lei ordinária federal n. 10.007, de 10/10/2016 (DOU de 01/11/2016)


Art. 1º Esta taxa de licenciamento de veículo tem como fato gerador a
propriedade de veículo automotor com registro de domicílio no território
nacional.
Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é o valor venal do veículo.
Parágrafo único. A alíquota é de 1%.
Art. 3º Contribuinte é o proprietário do veículo.
Art. 4º Dá-se a incidência dessa taxa no primeiro dia do quarto mês de cada
exercício, devendo o contribuinte que se encontrar na situação descrita pelo
art. 1º dessa lei, desde logo, informar até o décimo dia deste mesmo mês,
em formulário próprio (FORMGFA043), o valor venal, o tipo, a marca, o ano
e a cilindrada do respectivo veículo.
Art. 5º A importância devida, a título de taxa, deve ser recolhida até o décimo
dia do mês subsequente, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo
devido.
Art. 6º Diante da não emissão do formulário (FORMGFA043) na data
aprazada, poderá, a autoridade fiscal competente lavrar Auto de Infração e
Imposição de Multa, em decorrência da não observância dessa obrigação,
impondo multa de 50% sobre o valor do tributo devido.
Art. 7º. Esta lei entra em vigor no primeiro dia do exercício seguinte ao de
sua publicação.
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a) Em 01/06/2017, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em ação direta de


inconstitucionalidade (com efeito erga omnes), pela inconstitucionalidade
desta lei federal. Identificar nas datas abaixo fixadas, segundo os critérios
indicados, a situação jurídica da regra que instituiu o tributo, justificando
cada uma das situações:

Critérios\datas 11/10/2016 01/11/2016 01/02/2017 01/04/2017 01/07/2019


É válida

É vigente

Incide

Apresenta
eficácia
jurídica

RESPOSTA: O Intervalo de validez é o tempo maximo em que a norma


jurídica pertence a aquele sistema normativo. Neste sentido, o professor
Tárek Moyés Moussallen leciona que: “o intervalo de validez é o tempo em
que uma norma pertence ao sistema normativo, sendo assim, o início de
uma norma tem como marco referencial sua publicação no diário oficial,
que ao final dá-se pela revogação, asssim como o início de um novo
sistema normativo.”
Nesta senda, conforme supramencionado os ensinamento do professor
Tárek, entendo que a validade da norma jurídica não estaria apta nas
datas: 11/10; 01/11 ambas de 2016 e 01/02/2017 ;01/04/2017. Posto que,
as datas subsequentes estão revogando as demais datas, sendo, somente
valido perante ao nosso sistema jurídico uma das datas. Neste sentido,
durante a data de 11/10/2016, a vigência estaria em vacatio legis,
enquanto as demais estrariam aptas para sua vigência. Ademais, a
incidência também não estaria presente na data 11/10/2016, pois estrai
em vacatio legis, não ocorrendo a eficácia jurídica, enquanto as demais
datas poderiam inicidir na norma jurídica, ocorrendo sua vigência.
Por fim, ao que diz respeito a apresentação da eficácia jurídica, esta se
encontra na data 01/07/2019, qual possui seu tempo de eficácia técnica
pertinende, junto com a eficácia social, enquanto as demais datas (01/02 e
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01/07 de 2017) tiveram as três incidências, eficácia técnica, jurídica e social,


e somente a data de 11/10/2016 não ocorreu qualquer tipo de incidência.

6. Uma lei inconstitucional (produzida materialmente em desacordo com a


Constituição Federal – porém ainda não submetida ao controle de
constitucionalidade) é válida? O vício de inconstitucionalidade pode ser sanado
por emenda constitucional posterior? (Vide anexos VII, VIII e IX)
RESPOSTA: No meu ponto de vista entendo que a lei ora exposta possui
sua validade, sendo, o vício de inconstitucionalidade insanável por emenda
constitucional posteriori, pois caso seja entendido como válida traria
insegurança jurídica.
Neste aspecto, o artigo 110 do CTN ressalta a impossibilidade de uma lei
tributária alterar a definilçao, conteúdo e alcance de outros institutos,
vejamos:
“Art. 110/CTN: A lei tributária não pode alterar a definição,
o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas
de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente,
pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados
ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos
Municípios, para definir ou limitar competências tributárias
.”
Portanto, os conceitos e formas do direito privado utilizados de maneira
expressa ou implicitamente no contexto jurídico, não se podem sansar
aspectos inscontitucionais por emendas posteriores, pois caso façam a
insegurança jurídica estaria incidindo dentro de nosso ordenamento
jurídico.

Sugestão para pesquisa suplementar


• ADEODATO, João Maurício. Uma teoria retórica da norma jurídica e do
direito subjetivo. São Paulo: Noeses. Capítulos 8 e 9.
• CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o
constructivismo lógico-semântico. São Paulo: Noeses. Capítulo VII.
• Artigo: “O artigo 3º da lei complementar 118/2005, princípio da
irretroatividade e lei interpretativa”, de Paulo de Barros Carvalho.
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• Artigo: “Competências comunicativas e o tema da validade no direito”, de


Tácio Lacerda Gama, in Constructivismo lógico-semântico, vol. I, Paulo de
Barros Carvalho (Coord.). São Paulo: Noeses.
• Artigo: “Teoria dos valores e a importância dos princípios na interpretação
do direito”, de Olívia Tonello Mendes Ferreira, in Constructivismo lógico-
semântico, vol. I, Paulo de Barros Carvalho (Coord.). São Paulo: Noeses.
• TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no direito tributário. São Paulo:
Noeses. Itens 1.9 e 1.10, do Capítulo 1
• FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito, de
Tercio Sampaio Ferraz Júnior. São Paulo: Saraiva. Item 4.3.2 –
“Conceptualização dogmática do ordenamento: validade, vigência,
eficácia e força”
• MENDES, Sônia Maria Broglia. A validade jurídica pré e pós-giro
linguístico. São Paulo: Noeses. Capítulo III.
• PISCITELLI, Tathiane dos Santos. Os limites à interpretação da norma
tributária, de São Paulo: Quartier Latin. Capítulo I.
• BRAGHETTA, Daniela de Andrade.Tributação do comércio eletrônico, de
Daniela de Andrade Braghetta. São Paulo: Quartier Latin. Capítulo III,
itens 4.3.1 a 4.3.3.
• CARVALHO, Cristiano. Ficções jurídicas no direito tributário, de Cristiano
Carvalho. São Paulo: Noeses. Itens 3.6 e 3.7 do Capítulo III.
• Artigo: “Interpretação restritiva no direito tributário”, de Tárek Moysés
Moussallem, in VII Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET.

Anexo I
RE 606.107/RS

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.


TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. HERMENÊUTICA. CONTRIBUIÇÃO AO PIS E
COFINS. NÃO INCIDÊNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA. EMPRESA
EXPORTADORA. CRÉDITOS DE ICMS TRANSFERIDOS A TERCEIROS. I -
Esta Suprema Corte, nas inúmeras oportunidades em que debatida a questão
da hermenêutica constitucional aplicada ao tema das imunidades, adotou a
interpretação teleológica do instituto, a emprestar-lhe abrangência maior, com
escopo de assegurar à norma supralegal máxima efetividade. II - A
interpretação dos conceitos utilizados pela Carta da República para outorgar
competências impositivas (entre os quais se insere o conceito de “receita”
constante do seu art. 195, I, “b”) não está sujeita, por óbvio, à prévia edição de
lei. Tampouco está condicionada à lei a exegese dos dispositivos que
estabelecem imunidades tributárias, como aqueles que fundamentaram o
acórdão de origem (arts. 149, § 2º, I, e 155, § 2º, X, “a”, da CF). Em ambos os
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casos, trata-se de interpretação da Lei Maior voltada a desvelar o alcance de


regras tipicamente constitucionais, com absoluta independência da atuação do
legislador tributário. III – A apropriação de créditos de ICMS na aquisição de
mercadorias tem suporte na técnica da não cumulatividade, imposta para tal
tributo pelo art. 155, § 2º, I, da Lei Maior, a fim de evitar que a sua incidência
em cascata onere demasiadamente a atividade econômica e gere distorções
concorrenciais. IV - O art. 155, § 2º, X, “a”, da CF – cuja finalidade é o incentivo
às exportações, desonerando as mercadorias nacionais do seu ônus
econômico, de modo a permitir que as empresas brasileiras exportem produtos,
e não tributos -, imuniza as operações de exportação e assegura “a
manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas
operações e prestações anteriores”. Não incidem, pois, a COFINS e a
contribuição ao PIS sobre os créditos de ICMS cedidos a terceiros, sob pena
de frontal violação do preceito constitucional. V – O conceito de receita,
acolhido pelo art. 195, I, “b”, da Constituição Federal, não se confunde com o
conceito contábil. Entendimento, aliás, expresso nas Leis 10.637/02 (art. 1º) e
Lei 10.833/03 (art. 1º), que determinam a incidência da contribuição ao
PIS/PASEP e da COFINS não cumulativas sobre o total das receitas,
“independentemente de sua denominação ou classificação contábil”. Ainda que
a contabilidade elaborada para fins de informação ao mercado, gestão e
planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida
para a determinação das bases de cálculo de diversos tributos, de modo algum
subordina a tributação. A contabilidade constitui ferramenta utilizada também
para fins tributários, mas moldada nesta seara pelos princípios e regras
próprios do Direito Tributário. Sob o específico prisma constitucional, receita
bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimônio
na condição de elemento novo e positivo, sem reservas ou condições. VI - O
aproveitamento dos créditos de ICMS por ocasião da saída imune para o
exterior não gera receita tributável. Cuida-se de mera recuperação do ônus
econômico advindo do ICMS, assegurada expressamente pelo art. 155, § 2º, X,
“a”, da Constituição Federal. VII - Adquirida a mercadoria, a empresa
exportadora pode creditar-se do ICMS anteriormente pago, mas somente
poderá transferir a terceiros o saldo credor acumulado após a saída da
mercadoria com destino ao exterior (art. 25, § 1º, da LC 87/1996). Porquanto só
se viabiliza a cessão do crédito em função da exportação, além de vocacionada
a desonerar as empresas exportadoras do ônus econômico do ICMS, as
verbas respectivas qualificam-se como decorrentes da exportação para efeito
da imunidade do art. 149, § 2º, I, da Constituição Federal. VIII - Assenta esta
Suprema Corte a tese da inconstitucionalidade da incidência da contribuição ao
PIS e da COFINS não cumulativas sobre os valores auferidos por empresa
exportadora em razão da transferência a terceiros de créditos de ICMS. IX -
Ausência de afronta aos arts. 155, § 2º, X, 149, § 2º, I, 150, § 6º, e 195, caput e
inciso I, “b”, da Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido e não
provido, aplicando-se aos recursos sobrestados, que versem sobre o tema
decidido, o art. 543-B, § 3º, do CPC.
(RE 606107, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 22-05-
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2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-231


DIVULG 22-11-2013 PUBLIC 25-11-2013 RTJ VOL-00227-01 PP-00636)

Anexo II
RE 134.509

EMENTA: IPVA - Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (CF, art.


155, III; CF 69, art. 23, III e § 13, cf. EC 27/85): campo de incidência que não
inclui embarcações e aeronaves.
(RE 134509, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:
SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 29-05-2002, DJ 13-09-
2002 PP-00064 EMENT VOL-02082-02 PP-00364)

Anexo III
REsp 1.325.709/RJ

RECURSO ESPECIAL TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO


DE SEGURANÇA DENEGADO NA ORIGEM. APELAÇÃO. EFEITO APENAS
DEVOLUTIVO. PRECEDENTE. NULIDADE DOS ACÓRDÃOS RECORRIDOS
POR IRREGULARIDADE NA CONVOCAÇÃO DE JUIZ FEDERAL. NÃO
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356/STF. IRPJ E CSLL. LUCROS
OBTIDOS POR EMPRESAS CONTROLADAS NACIONAIS SEDIADAS EM
PAÍSES COM TRIBUTAÇÃO REGULADA. PREVALÊNCIA DOS TRATADOS
SOBRE BITRIBUTAÇÃO ASSINADOS PELO BRASIL COM A BÉLGICA
(DECRETO 72.542/73), A DINAMARCA (DECRETO 75.106/74) E O
PRINCIPADO DE LUXEMBURGO (DECRETO 85.051/80). EMPRESA
CONTROLADA SEDIADA NAS BERMUDAS. ART. 74, CAPUT DA MP 2.157-
35/2001. DISPONIBILIZAÇÃO DOS LUCROS PARA A EMPRESA
CONTROLADORA NA DATA DO BALANÇO NO QUAL TIVEREM SIDO
APURADOS, EXCLUÍDO O RESULTADO DA CONTRAPARTIDA DO AJUSTE
DO VALOR DO INVESTIMENTO PELO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA
PATRIMONIAL. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO, PARA CONCEDER A SEGURANÇA, EM PARTE.
1. Afasta-se a alegação de nulidade dos acórdãos regionais ora recorridos,
por suposta irregularidade na convocação de Juiz Federal que funcionou
naqueles julgamentos, ou na composição da Turma Julgadora; inocorrência de
ofensa ao Juiz Natural, além de ausência de prequestionamento. Súmulas 282
e 356/STF. Precedentes desta Corte.
2. Salvo em casos excepcionais de flagrante ilegalidade ou abusividade, ou
de dano irreparável ou de difícil reparação, o Recurso de Apelação contra
sentença denegatória de Mandado de Segurança possui apenas o efeito
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devolutivo. Precedente: AgRg no AREsp. 113.207/SP, Rel. Min. CASTRO


MEIRA, DJe 03/08/2012.
3. A interpretação das normas de Direito Tributário não se orienta e nem se
condiciona pela expressão econômica dos fatos, por mais avultada que seja,
do valor atribuído à demanda, ou por outro elemento extrajurídico; a
especificidade exegética do Direito Tributário não deriva apenas das
peculiaridades evidentes da matéria jurídica por ele regulada, mas sobretudo
da singularidade dos seus princípios, sem cuja perfeita absorção e efetivação,
o afazer judicial se confundiria com as atividades administrativas fiscais.
4. O poder estatal de arrecadar tributos tem por fonte exclusiva o sistema
tributário, que abarca não apenas a norma regulatória editada pelo órgão
competente, mas também todos os demais elementos normativos do
ordenamento, inclusive os ideológicos, os sociais, os históricos e os
operacionais; ainda que uma norma seja editada, a sua efetividade dependerá
de harmonizar-se com as demais concepções do sistema: a compatibilidade
com a hierarquia internormativa, os princípios jurídicos gerais e constitucionais,
as ilustrações doutrinárias e as lições da jurisprudência dos Tribunais, dentre
outras.
5. A jurisprudência desta Corte Superior orienta que as disposições dos
Tratados Internacionais Tributários prevalecem sobre as normas de Direito
Interno, em razão da sua especificidade.
Inteligência do art. 98 do CTN. Precedente: (RESP 1.161.467-RS, Rel.
Min. CASTRO MEIRA, DJe 01.06.2012).
6. O art. VII do Modelo de Acordo Tributário sobre a Renda e o Capital da
OCDE utilizado pela maioria dos Países ocidentais, inclusive pelo Brasil,
conforme Tratados Internacionais Tributários celebrados com a Bélgica
(Decreto 72.542/73), a Dinamarca (Decreto 75.106/74) e o Principado de
Luxemburgo (Decreto 85.051/80), disciplina que os lucros de uma empresa de
um Estado contratante só são tributáveis nesse mesmo Estado, a não ser que
a empresa exerça sua atividade no outro Estado Contratante, por meio de um
estabelecimento permanente ali situado (dependência, sucursal ou filial);
ademais, impõe a Convenção de Viena que uma parte não pode invocar as
disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um
tratado (art. 27), em reverência ao princípio basilar da boa-fé.
7. No caso de empresa controlada, dotada de personalidade jurídica
própria e distinta da controladora, nos termos dos Tratados Internacionais, os
lucros por ela auferidos são lucros próprios e assim tributados somente no País
do seu domicílio; a sistemática adotada pela legislação fiscal nacional de
adicioná-los ao lucro da empresa controladora brasileira termina por ferir os
Pactos Internacionais Tributários e infringir o princípio da boa-fé na relações
exteriores, a que o Direito Internacional não confere abono.
8. Tendo em vista que o STF considerou constitucional o caput do art. 74
da MP 2.158-35/2001, adere-se a esse entendimento, para considerar que os
lucros auferidos pela controlada sediada nas Bermudas, País com o qual o
Brasil não possui acordo internacional nos moldes da OCDE, devem ser
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considerados disponibilizados para a controladora na data do balanço no qual


tiverem sido apurados.
9. O art. 7o, § 1o. da IN/SRF 213/02 extrapolou os limites impostos pela
própria Lei Federal (art. 25 da Lei 9.249/95 e 74 da MP 2.158-35/01) a qual
objetivou regular; com efeito, analisando-se a legislação complementar ao art.
74 da MP 2.158-35/01, constata-se que o regime fiscal vigorante é o do art. 23
do DL 1.598/77, que em nada foi alterado quanto à não inclusão, na
determinação do lucro real, dos métodos resultantes de avaliação dos
investimentos no Exterior, pelo método da equivalência patrimonial, isto é, das
contrapartidas de ajuste do valor do investimento em sociedades estrangeiras
controladas.
10. Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento,
concedendo em parte a ordem de segurança postulada, para afirmar que os
lucros auferidos nos Países em que instaladas as empresas controladas
sediadas na Bélgica, Dinamarca e Luxemburgo, sejam tributados apenas nos
seus territórios, em respeito ao art. 98 do CTN e aos Tratados Internacionais
em causa; os lucros apurados por Brasamerican Limited, domiciliada nas
Bermudas, estão sujeitos ao art. 74, caput da MP 2.158-35/2001, deles não
fazendo parte o resultado da contrapartida do ajuste do valor do investimento
pelo método da equivalência patrimonial.
(REsp n. 1.325.709/RJ, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,
Primeira Turma, julgado em 24/4/2014, DJe de 20/5/2014.)

Anexo IV
ADI-MC 6.053/DF

Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. INTERDEPENDÊNCIA


E COMPLEMENTARIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS PREVISTAS
NOS ARTIGOS 37, CAPUT, XI, E 39, §§ 4º E 8º, E DAS PREVISÕES
ESTABELECIDAS NO TÍTULO IV, CAPÍTULO IV, SEÇÕES II E IV, DO TEXTO
CONSTITUCIONAL. POSSIBILIDADE DO RECEBIMENTO DE VERBA DE
HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA POR ADVOGADOS PÚBLICOS
CUMULADA COM SUBSÍDIO. NECESSIDADE DE ABSOLUTO RESPEITO
AO TETO CONSTITUCIONAL DO FUNCIONALISMO PÚBLICO. 1. A natureza
constitucional dos serviços prestados pelos advogados públicos possibilita o
recebimento da verba de honorários sucumbenciais, nos termos da lei. A
CORTE, recentemente, assentou que “o artigo 39, § 4º, da Constituição
Federal, não constitui vedação absoluta de pagamento de outras verbas além
do subsídio” (ADI 4.941, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Relator p/ acórdão, Min.
LUIZ FUX, DJe de 7/2/2020). 2. Nada obstante compatível com o regime de
subsídio, sobretudo quando estruturado como um modelo de remuneração por
performance, com vistas à eficiência do serviço público, a possibilidade de
advogados públicos perceberem verbas honorárias sucumbenciais não afasta a
incidência do teto remuneratório estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição
Federal. 3. AÇÃO PARCIALMENTE PROCEDENTE.
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(ADI 6053, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:


ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 22-06-2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-179 DIVULG 16-07-2020 PUBLIC 17-07-
2020 REPUBLICAÇÃO: DJe-189 DIVULG 29-07-2020 PUBLIC 30-07-2020)

Anexo V
RE 566.621

DIREITO TRIBUTÁRIO – LEI INTERPRETATIVA – APLICAÇÃO RETROATIVA


DA LEI COMPLEMENTAR Nº 118/2005 – DESCABIMENTO – VIOLAÇÃO À
SEGURANÇA JURÍDICA – NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DA VACACIO
LEGIS – APLICAÇÃO DO PRAZO REDUZIDO PARA REPETIÇÃO OU
COMPENSAÇÃO DE INDÉBITOS AOS PROCESSOS AJUIZADOS A PARTIR
DE 9 DE JUNHO DE 2005. Quando do advento da LC 118/05, estava
consolidada a orientação da Primeira Seção do STJ no sentido de que, para os
tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo para repetição ou
compensação de indébito era de 10 anos contados do seu fato gerador, tendo
em conta a aplicação combinada dos arts. 150, § 4º, 156, VII, e 168, I, do CTN.
A LC 118/05, embora tenha se auto-proclamado interpretativa, implicou
inovação normativa, tendo reduzido o prazo de 10 anos contados do fato
gerador para 5 anos contados do pagamento indevido. Lei supostamente
interpretativa que, em verdade, inova no mundo jurídico deve ser considerada
como lei nova. Inocorrência de violação à autonomia e independência dos
Poderes, porquanto a lei expressamente interpretativa também se submete,
como qualquer outra, ao controle judicial quanto à sua natureza, validade e
aplicação. A aplicação retroativa de novo e reduzido prazo para a repetição ou
compensação de indébito tributário estipulado por lei nova, fulminando, de
imediato, pretensões deduzidas tempestivamente à luz do prazo então
aplicável, bem como a aplicação imediata às pretensões pendentes de
ajuizamento quando da publicação da lei, sem resguardo de nenhuma regra de
transição, implicam ofensa ao princípio da segurança jurídica em seus
conteúdos de proteção da confiança e de garantia do acesso à Justiça.
Afastando-se as aplicações inconstitucionais e resguardando-se, no mais, a
eficácia da norma, permite-se a aplicação do prazo reduzido relativamente às
ações ajuizadas após a vacatio legis, conforme entendimento consolidado por
esta Corte no enunciado 445 da Súmula do Tribunal. O prazo de vacatio legis
de 120 dias permitiu aos contribuintes não apenas que tomassem ciência do
novo prazo, mas também que ajuizassem as ações necessárias à tutela dos
seus direitos. Inaplicabilidade do art. 2.028 do Código Civil, pois, não havendo
lacuna na LC 118/08, que pretendeu a aplicação do novo prazo na maior
extensão possível, descabida sua aplicação por analogia. Além disso, não se
trata de lei geral, tampouco impede iniciativa legislativa em contrário.
Reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC 118/05,
considerando-se válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão-somente às
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ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir
de 9 de junho de 2005. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC aos recursos
sobrestados. Recurso extraordinário desprovido.
(RE 566621, Relator(a): ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 04-08-
2011, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-195 DIVULG 10-10-2011
PUBLIC 11-10-2011 EMENT VOL-02605-02 PP-00273 RTJ VOL-00223-01 PP-
00540)

Anexo VI
RE 753.705 AgRg/SC

E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TRIBUTÁRIO – PRAZO


PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO –
IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DAS NORMAS
INSCRITAS NOS ARTS. 3º E 4º DA LC Nº 118/2005, NOTADAMENTE
DAQUELA QUE SE REVESTIRIA DO CARÁTER DE INTERPRETAÇÃO
AUTÊNTICA (LC Nº 118/2005, ART. 3º) – DESCARACTERIZAÇÃO DA
NATUREZA INTERPRETATIVA DE REFERIDO PRECEITO LEGAL, QUE
INTRODUZIU, NO TEMA, EVIDENTE INOVAÇÃO MATERIAL DE ÍNDOLE
NORMATIVA – PERFIL DAS LEIS INTERPRETATIVAS NO SISTEMA DE
DIREITO POSITIVO BRASILEIRO – INTEIRA SUBMISSÃO DE SEUS
ASPECTOS FORMAIS E DE SEU CONTEÚDO MATERIAL AO
PERMANENTE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DO PODER
JUDICIÁRIO (ADI 605-MC/DF, REL. MIN. CELSO DE MELLO) –
INCOLUMIDADE DE SITUAÇÕES JURÍDICAS DEFINITIVAMENTE
CONSOLIDADAS, TAIS COMO PREVISTAS NO INCISO XXXVI DO ART. 5º
DA LEI FUNDAMENTAL, COMO EXPRESSÃO CONCRETIZADORA DO
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA SEGURANÇA JURÍDICA – PRECEDENTE
EMANADO DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, FIRMADO
EM JULGAMENTO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO (RE 566.621/RS), EM
CUJO ÂMBITO TAMBÉM SE RECONHECEU A EXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL – COMPENSAÇÃO DO PIS/COFINS (LEI Nº
9.718/98) COM OUTROS TRIBUTOS – ALEGADA VIOLAÇÃO A PRECEITOS
CONSTITUCIONAIS – OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO –
CONTENCIOSO DE MERA LEGALIDADE – AGRAVO IMPROVIDO.
(RE 753705 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado
em 01-10-2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-218 DIVULG 04-11-2013
PUBLIC 05-11-2013)

Anexo VII
RE 346.084/PR
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CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE - ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI Nº


9.718, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1998 - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20,
DE 15 DE DEZEMBRO DE 1998. O sistema jurídico brasileiro não contempla a
figura da constitucionalidade superveniente. TRIBUTÁRIO - INSTITUTOS -
EXPRESSÕES E VOCÁBULOS - SENTIDO. A norma pedagógica do artigo
110 do Código Tributário Nacional ressalta a impossibilidade de a lei tributária
alterar a definição, o conteúdo e o alcance de consagrados institutos, conceitos
e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente. Sobrepõe-se
ao aspecto formal o princípio da realidade, considerados os elementos
tributários. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - PIS - RECEITA BRUTA - NOÇÃO -
INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI Nº 9.718/98. A
jurisprudência do Supremo, ante a redação do artigo 195 da Carta Federal
anterior à Emenda Constitucional nº 20/98, consolidou-se no sentido de tomar
as expressões receita bruta e faturamento como sinônimas, jungindo-as à
venda de mercadorias, de serviços ou de mercadorias e serviços. É
inconstitucional o § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98, no que ampliou o
conceito de receita bruta para envolver a totalidade das receitas auferidas por
pessoas jurídicas, independentemente da atividade por elas desenvolvida e da
classificação contábil adotada.
(RE 346084, Relator(a): ILMAR GALVÃO, Relator(a) p/ Acórdão: MARCO
AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09-11-2005, DJ 01-09-2006 PP-00019
EMENT VOL-02245-06 PP-01170)

Anexo VIII
RE 917.950 AgR

Direito Constitucional e Direito Tributário. 2. ICMS-Importação. Emenda


Constitucional n. 33/2002. Lei Complementar n. 114/2002. 3. Leis estaduais
anteriores à Lei Complementar e posteriores à Emenda Constitucional. Análise
no plano da eficácia. Preservação da validade da legislação estadual. 4. Após a
EC 33/2002, houve alteração da competência tributária relativa ao ICMS, a fim
de ampliar o sujeito passivo tributário do ICMS-Importação. 5. A ausência de lei
complementar federal não enseja a inconstitucionalidade de lei estadual
editada por ente federativo após a EC 33/2002. Inibe apenas seus efeitos. 6.
Ineficácia da legislação estadual até 17.12.2002 (data da vigência da Lei
Complementar 114/2002). 7. Agravo regimental a que se dá provimento.

(RE 917950 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão:


Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 05/12/2017, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-114 DIVULG 08-06-2018 PUBLIC 11-06-2018)

Anexo IX
RE 474.267
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Ementa: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO


DE MERCADORIAS E SERVIÇOS. ICMS. IMPORTAÇÃO. PESSOA QUE NÃO
SE DEDICA AO COMÉRCIO OU À PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
COMUNICAÇÃO OU DE TRANSPORTE INTERESTADUAL OU
INTERMUNICIPAL. “NÃO CONTRIBUINTE”. VIGÊNCIA DA EMENDA
CONSTITUCIONAL 33/2002. POSSIBILIDADE. REQUISITO DE VALIDADE.
FLUXO DE POSITIVAÇÃO. EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA.
CRITÉRIOS PARA AFERIÇÃO. 1. Há competência constitucional para
estender a incidência do ICMS à operação de importação de bem destinado a
pessoa que não se dedica habitualmente ao comércio ou à prestação de
serviços, após a vigência da EC 33/2001. 2. A incidência do ICMS sobre
operação de importação de bem não viola, em princípio, a regra da vedação à
cumulatividade (art. 155, § 2º, I da Constituição), pois se não houver
acumulação da carga tributária, nada haveria a ser compensado. 3.
Divergência entre as expressões “bem” e “mercadoria” (arts. 155, II e 155, §2,
IX, a da Constituição). É constitucional a tributação das operações de
circulação jurídica de bens amparadas pela importação. A operação de
importação não descacteriza, tão-somente por si, a classificação do bem
importado como mercadoria. Em sentido semelhante, a circunstância de o
destinatário do bem não ser contribuinte habitual do tributo também não afeta a
caracterização da operação de circulação de mercadoria. Ademais, a
exoneração das operações de importação pode desequilibrar as relações
pertinentes às operações internas com o mesmo tipo de bem, de modo a afetar
os princípios da isonomia e da livre concorrência. CONDIÇÕES
CONSTITUCIONAIS PARA TRIBUTAÇÃO 4. Existência e suficiência de
legislação infraconstitucional para instituição do tributo (violação dos arts. 146,
II e 155, XII, § 2º, i da Constituição). A validade da constituição do crédito
tributário depende da existência de lei complementar de normas gerais (LC
114/2002) e de legislação local resultantes do exercício da competência
tributária, contemporâneas à ocorrência do fato jurídico que se pretenda
tributar. 5. Modificações da legislação federal ou local anteriores à EC 33/2001
não foram convalidadas, na medida em que inexistente o fenômeno da
“constitucionalização superveniente” no sistema jurídico brasileiro. A ampliação
da hipótese de incidência, da base de cálculo e da sujeição passiva da regra-
matriz de incidência tributária realizada por lei anterior à EC 33/2001 e à LC
114/2002 não serve de fundamento de validade à tributação das operações de
importação realizadas por empresas que não sejam comerciais ou prestadoras
de serviços de comunicação ou de transporte intermunicipal ou interestadual. 6.
A tributação somente será admissível se também respeitadas as regras da
anterioridade, cuja observância se afere com base em cada legislação local
que tenha modificado adequadamente a regra-matriz e que seja posterior à LC
114/2002. Recurso extraordinário interposto pelo Estado do Rio Grande do Sul
conhecido e ao qual se nega provimento. Recurso extraordinário interposto por
FF. Claudino ao qual se dá provimento.
Módulo Tributo e Segurança Jurídica

(RE 474267, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 06-


11-2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-055 DIVULG 19-03-2014 PUBLIC
20-03-2014)

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