Linguagem Visual V

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Fundamentos da

Linguagem Visual
Material Teórico
Composição

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Claudemir Nunes Ferreira

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Composição

• Introdução
• Esquemas Compositivos
• Princípios Organizacionais
• Leis da Gestalt: Princípios que Regem o Processo de Percepção Visual
• Princípios de Organização Aplicados à Composição

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os esquemas compositivos mais usuais.
· Compreender a teoria da Gestalt sobre as forças integradoras
que atuam no fenômeno perceptivo visual, suas implicações com
relação ao que é percebido pelo observador e como os princípios
organizacionais podem ser aplicados na formulação de composições
coerentes e unificadas.

ORIENTAÇÕES
Caro(a) aluno(a),

Iniciaremos nossos estudos com a apresentação dos esquemas compositivos, as


possibilidades mais usuais de organização do espaço compositivo onde serão
situados os elementos visuais.

Em seguida, estudaremos os princípios de organização aplicados no desenvolvimento


de um todo visual a partir da articulação de diversos elementos. Apresentaremos
as Leis da Gestalt, a teoria sobre o dinamismo autorregulador do nosso sistema
nervoso central, que tende a organizar as formas em todos unificados durante o
fenômeno perceptivo visual, e os demais princípios de organização aplicados à
composição, alguns conceitos que correspondem a determinadas organizações
entre as partes que permitem formular todos coerentes e integrados.

Após ler o material teórico, realize as atividades de sistematização e de


aprofundamento e não deixe de explorar o material complementar, além de
reforçar a assimilação dos conceitos apresentados nesta Unidade, estudos que
aprimorarão a sua percepção visual e ampliarão o seu repertório artístico.
UNIDADE Composição

Contextualização
Caro(a) aluno(a),

Dedicamos os estudos das unidades anteriores aos dez elementos fundamentais da


linguagem visual: o ponto, a unidade visual mínima e o indicador de espaço; a linha,
a trajetória descrita pelo ponto em movimento e o articulador da forma; a forma,
as infinitas variações e combinações possíveis das três formas básicas – quadrado,
círculo e triângulo –; a direção, o impulso de movimento refletido pelas formas
básicas; o tom, a presença ou ausência de luz que define o claro e o escuro; a cor, o
elemento mais expressivo e emocional definido pelas características físicas das ondas
eletromagnéticas do espectro luminoso; a textura, o caráter da superfície, seja tátil
ou visual, de tudo o que enxergamos; a escala ou proporção, medida e tamanho
relativos; o movimento, o deslocamento ou a mudança de posição dos elementos
no espaço compositivo, real ou apenas sugerido; a dimensão, um aspecto real das
linguagens tridimensionais que incorporam a terceira dimensão – profundidade – e
uma ilusão criada pela manipulação dos demais elementos, capaz de sugerir objetos
tridimensionais ocupando um espaço real nas linguagens bidimensionais.

Esses são os elementos básicos, a fonte compositiva ou a matéria-prima a partir da


qual toda e qualquer manifestação visual é construída e, a partir de agora, estudaremos
como esses elementos são manipulados, organizados e combinados em um todo
visual coerente e integrado, em uma resposta direta ao objetivo da mensagem.

Uma manifestação visual sempre resulta da integração entre forma – como


se expressa – e conteúdo – o que se expressa direta ou indiretamente – em uma
relação de complementariedade mútua. A forma expressa o conteúdo. O conteúdo
é influenciado pelos elementos básicos constitutivos e suas relações compositivas
com o significado.

Toda manifestação visual tem um objetivo, mostrar, narrar, explicar, inspirar, fruir
ou afetar, e as decisões compositivas podem intensificar as intenções expressivas,
uma vez que implicam diretamente no que é recebido pelo observador.

Assim, não deixe de refletir sobre os conhecimentos que serão assimilados nesta
Unidade e bons estudos!

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Introdução
Composição é o processo de organização, disposição e agrupamento criativo
dos elementos visuais em uma unidade, seja em uma pintura, em fotografia, em um
anúncio publicitário, em uma escultura, na capa de um livro, ou em qualquer outra
manifestação visual.

Compor consiste em representar e articular a variedade dentro de uma unidade,


respeitando ou rejeitando certas convenções, para expressar o que a obra se destina
a transmitir.

As decisões compositivas determinam o significado da manifestação visual e


têm forte implicação com relação ao que é recebido pelo observador. Segundo
Donis A. Dondis (2003, p. 29): “Não há regras absolutas: o que existe é um
grau de compreensão do que vai acontecer em termos de significado se fizermos
determinadas ordenações das partes que nos permitam organizar e orquestrar os
meios visuais”.

Esquemas Compositivos
Toda composição é estruturada a partir de um esquema que organiza o espaço
onde serão situados os elementos visuais. Os esquemas compositivos simples são
formados por figuras geométricas ou por linhas mestras isoladas ou relacionadas
entre si. Os mais usuais são:

Figura 1 – Esquemas compositivos simples

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UNIDADE Composição

Esquema simétrico:

Figura 2 – Dematerialization near the nose of Nero (1947), Salvador Dalí


Fonte: salvador-dali.org

Esquema triangular:

Figura 3 – Pieta (1575), El Greco


Fonte: el-greco-foundation.org

Esquema circular:

Figura 4 – Untitled (1983), Keith Haring


Fonte: haring.com

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Esquema oval:

Figura 5 – Dance II (1910), Henri Matisse


Fonte: henri-matisse.net

Esquema em T

Figura 6 – Christ on the Cross (1632), Diego Velázquez


Fonte: museodelprado.es

Esquema em L:

Figura 7 – El joven mendigo (1650), Bartolomé Esteban Murillo


Fonte: spanish-art.org

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UNIDADE Composição

Esquema em S:

Figura 8 – Guitarrista ciego (1903), Pablo Picasso


Fonte: artehistoria.com

Esquema em X:

Figura 9 – The Crucifixion of Saint Peter (1600), Caravaggio


Fonte: caravaggio-foundation.org

Esquema em ângulo:

Figura 10 – Pájaro... pescado (1928), Salvador Dalí


Fonte: salvador-dali.org

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Esquema diagonal:

Figura 11 – Ballet dancers in the wings (1900), Edgard Degas


Fonte: frenchart.umsl.edu

Esquema radial:

Figura 12 – Cosimo presentato a Giove da Ercole e Vittoria (1643-1646),


Pietro da Cortona, afresco no teto da Sala Giove, Palazzo Pitti, Firenze
Fonte: opificiodellepietredure.it

Esquema com linhas curvas:

Figura 13 – La grande odalisque (1814), Jean Auguste Dominique Ingres


Fonte: louvre.fr

Os esquemas compositivos compostos são formados pela combinação de dois ou


mais esquemas simples ou, ainda, por uma série de linhas combinadas livremente.

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UNIDADE Composição

Figura 14 – Assunta (1518), Tiziano Vecellio


Fonte: viv-it.org

Figura 15 – Still life with basket (1888-1990), Paul Cézanne


Fonte: paul-cezanne.org

Princípios Organizacionais
A nossa resposta a uma manifestação visual ou o porquê algumas composições
agradam mais do que outras intrigou filósofos, psicólogos e outros estudiosos
por séculos.

Os estudos da Gestalt contribuíram enormemente para a compreensão de como


alguns princípios organizacionais podem ser aplicados no desenvolvimento de
composições visuais. As Leis da Gestalt, teorias formuladas a partir de inúmeros
estudos e pesquisas experimentais sobre o fenômeno psicofisiológico da percepção
visual humana, são os princípios fundamentais e respondem o porquê algumas
composições, instintivamente, agradam mais do que outras.

Para complementar o sistema de estruturação e leitura de imagens, outros princípios


de organização aplicados à composição foram acrescentados com o propósito de
desenvolver um todo visual, a partir de diversas partes, coerente e unificado.

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Explor
A Gestalt é uma Escola de Psicologia Experimental que teve seu início mais efetivo por volta
de 1910 com os estudos de Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka, psicólogos da
Escola de Frankfurt que formularam a teoria da forma buscando explicar a relação sujeito-
objeto no fenômeno da percepção. A teoria fundamenta-se no fato de que a percepção de
qualquer forma ocorre de maneira global e unificada, ou seja, não percebemos as partes
isoladas em uma composição para posteriormente associá-las e compor um todo, já
percebemos a imagem total pela relação recíproca entre suas várias partes.
Para efeito de esclarecimento, o termo Gestalt, geralmente traduzido como estrutura, figura
ou forma, no seu sentido mais amplo, significa a integração entre as partes que formam
o todo. Assim, o termo forma empregado neste estudo não deve ser compreendido como
o elemento fundamental da linguagem visual descrito pela linha, e sim como a imagem
visível de um conteúdo, ou seja, o conjunto de elementos perceptíveis que configura a
aparência total de um objeto ou uma obra de arte, por exemplo.

Leis da Gestalt: Princípios que Regem


o Processo de Percepção Visual
A percepção visual humana é resultado da soma de forças internas e externas.
As forças externas correspondem aos estímulos produzidos pelo campo visual que
são captados pelo sentido da visão, ou seja, toda informação visual como a forma,
o tamanho, a cor e a textura de um objeto ou de uma figura que chegam até a
retina através da luz que refletem. E as forças internas correspondem ao processo
mental de decodificação, interpretação e organização lógica e estética dos estímulos
emitidos pelo campo visual.

A teoria da Gestalt atribui ao nosso sistema nervoso central um dinamismo


autorregulador que tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados
durante o fenômeno perceptivo visual. São forças internas integradoras do processo
fisiológico cerebral espontâneas, independentes de nossa vontade ou de qualquer
aprendizado que se baseie nos princípios de unificação, segregação, semelhança,
proximidade, fechamento, continuidade e pregnância da forma – o princípio
fundamental que, na verdade, abrange todos os demais.

Figura 16 – Leis da Gestalt

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UNIDADE Composição

Unificação
Uma unidade pode ser entendida como um único elemento que se encerra em
si ou como parte de um todo.

Em uma conceituação mais ampla, uma unidade pode ser entendida como um
conjunto de elementos – pontos, linhas, formas, cores, texturas etc., que configuram
um todo ao relacionarem-se entre si.

A unificação da forma, ou a percepção de um todo coerente e integrado, ocorre


quando os fatores de harmonia, equilíbrio, ordenação visual e coerência entre as
partes estão presentes.

Segregação
A segregação corresponde à nossa capacidade
perceptiva de separar, identificar ou destacar
unidades formais em um todo compositivo, a
partir da desigualdade dos estímulos produzidos
pelo campo visual.

Unificação e segregação são as forças ou as


leis mais simples que regem a percepção visual.
Uma age em função da igualdade de estimulação
visual e a outra, da desigualdade de estimulação. Figura 17– Unificação e segregação

Semelhança
Estímulos visuais semelhantes entre si, seja pela forma, cor, tamanho, peso ou
direção, entre outros fatores, tendem a ser percebidos em grupos e a constituir unidades.

Proximidade
Estímulos visuais próximos também tendem a ser percebidos em grupos e a
constituir unidades.

Proximidade e semelhança muitas vezes agem em


conjunto e se reforçam mutuamente para constituir
unidades ou para promover a unificação do todo.
A semelhança é mais forte do que a proximidade,
embora reconheçamos estímulos visuais próximos
como grupos, efeito que é reforçado pela similaridade
entre os quais.
Figura 18 – Proximidade e semelhança

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Fechamento
O fechamento é outro fator importante para a formação de unidades. Ainda que
os estímulos produzidos pelo campo visual correspondam a uma figura incompleta,
nossa mente tende a unir intervalos e a estabelecer ligações para que percebamos
uma figura completa.
As forças de organização da forma dirigem-
se espontaneamente para uma ordem espacial
que tende para a formação de unidades em
todos fechados, segregando uma figura mais
completa o possível do resto do campo visual.
Figura 19 – Fechamento

Continuidade
As unidades lineares tendem, perceptivamente, a prolongar-se na mesma
direção e com o mesmo movimento, assim como as unidades sucessivas tendem a
se acompanharem.
A continuidade corresponde à organi-
zação da forma, de modo que as partes
se sucedam sem quebras ou interrupções
na trajetória ou fluidez visual, buscando
uma estrutura estável. Figura 20 – Continuidade

Pregnância da Forma
Qualquer estímulo visual tende a ser percebido da maneira mais simples e
lógica possível.
A pregnância é o princípio fundamental da percepção visual. Segundo a Gestalt,
o equilíbrio, a clareza e a harmonia são fatores essenciais para o ser humano e
as forças de organização da forma sempre tenderem a se dirigir, tanto quanto
permitam as condições dadas, no sentido da harmonia e do equilíbrio visual.
Ou seja, pressupõe-se que a organização formal – percepção – será a melhor
possível do ponto de vista estrutural – a composição em si. A partir desse princípio,
pode-se estabelecer um critério de qualificação ou julgamento da forma:
• Quanto melhor ou mais clara for a organização visual da forma, em termos
de facilidade de compreensão e rapidez de interpretação, maior será seu grau
de pregnância. Percebemos mais facilmente as formas simples, regulares,
simétricas e equilibradas;
• Quanto pior ou mais confusa for a organização visual da forma, menor será
seu grau de pregnância. Formas complexas e irregulares exigirão um maior
tempo de atenção, enquanto as forças internas de organização – que agem no
sistema nervoso central do observador – buscam encontrar a melhor estrutura
perceptível possível para decodificar a imagem em algo mais claro e lógico a
fim de facilitar sua compreensão.

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UNIDADE Composição

Princípios de Organização Aplicados


à Composição
Os princípios de organização aplicados à composição são alguns conceitos,
geralmente derivados ou desdobrados das Leis da Gestalt, que correspondem
a determinadas organizações entre as partes que permitem formular todos
coerentes e integrados.

Esses princípios não são regras ou leis com uma única interpretação ou
aplicação possível, diferem-se também em números, subdivisões e nomenclaturas
de acordo com cada autor, de modo que apresentaremos aqui uma síntese dos
mais importantes.

Harmonia
A harmonia é o primeiro dos princípios de organização aplicados à composição
e pode ser definido como uma relação agradável entre as diferentes partes que
configuram o todo, possibilitando, geralmente, uma leitura simples e clara.

Ocorre quando unidades independentes se relacionam visualmente ao


compartilhar características comuns – formas, cores, texturas, pesos, ou limites
compartilhados, entre outros fatores –, ou quando se produz concordâncias
e uniformidades entre as unidades de modo que não existam irregularidades,
conflitos, desvios ou desalinhamentos.

Figura 21 – The Crucifixion (1325), Giotto


Fonte: pinakothek.de

A desarmonia é a formulação oposta da harmonia, ou seja, uma discordância na


integração ou desarticulação entre as unidades que configuram o todo, caracterizada
pela apresentação de desvios, irregularidades, desordem e desnivelamento visual.

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Figura 22 – White Crucifixion (1938), Marc Chagall
Fonte: artic.edu

Contraste
O contraste é o contraponto da harmonia, o outro lado da organização que
também é essencial à composição. Por definição, significa diferença e ocorre
sempre que unidades com características opostas são colocadas em conjunto. Em
todas as linguagens visuais, é uma poderosa ferramenta de expressão utilizada para
intensificar o significado e, portanto, simplificar a comunicação.

O contraste desencadeia uma ação


neutralizante à nossa tendência percep-
tiva de fechamento visual e de busca por
um equilíbrio absoluto. Ao inserir o con-
traste em uma composição, as áreas en-
volvidas tornam-se menos harmoniosas,
porém, mais entusiasmantes. Contrastes
sutis ocorrem quando a diferença entre
as unidades é menor, pequenas varia-
ções de cor, valor, textura, proporção,
direção, movimento, espaçamento ou
alinhamento, capazes de criar um nível
variável de interesse e auxiliar o movi-
mento dos olhos pela composição, tor-
nando-a mais dinâmica e prendendo a Figura 23 – Bandeirinhas, Alfredo Volpi
atenção do observador. Fonte: brasilartesenciclopedias.com.br

Com maiores contrastes, áreas da composição podem ser realçadas, tornando-


se dominantes na composição.

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UNIDADE Composição

Figura 24 – Composição (1976), Alfredo Volpi


Fonte: brasilartesenciclopedias.com.br

O contraste de tom baseia-se nas oposições de claro-escuro e é capaz de sugerir


volume em uma composição.

Figura 25 – The Martyrdom of St. Matthew (1599-1600), Caravaggio


Fonte: caravaggio-foundation.org

O contraste de cor, já estudado na Unidade anterior, é uma força poderosa


do ponto de vista sensorial e emotivo, empregado para expressar e reforçar a
informação visual.

A temperatura é capaz de afetar a posição espacial, sugerindo proximidade ou


distância. O contraste quente-frio pode fazer algo recuar ou avançar dentro da
composição, os matizes azuis e verdes frequentemente são usados para indicar
distância, enquanto os vermelhos e amarelos expressam expansão.

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Figura 26 – Low tide, Cancale (1995), Wayne Roberts
Fonte: wroberts.com.au

O contraste de cores complementares, assim como o contraste simultâneo –


tendência de uma cor a sempre destacar a sua complementar em uma cor próxima
–, corresponde a um equilíbrio relativo, já que nossa visão sempre busca um estado
de equilíbrio entre as três cores primárias para que todo o sistema perceptível
trabalhe com menos pressão, como estudamos na Unidade dedicada à cor.

Figura 27 – Bedroom at Arles (1992). Roy Lichtenstein


Fonte: lichtensteinfoundation.org

Com o contraste de forma, uma figura irregular e imprevisível sempre dominará


outra mais simples e resolvida.

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UNIDADE Composição

Figura 28 – Peasants (1931), Diego Rivera


Fonte: diegorivera.org

O contraste de escala pode chocar o olhar e intensificar significados ao distorcer


proporções e contradizer a nossa experiência visual.

Figura 29 – Abaporu (1928), Tarsila do Amaral


Fonte: malba.org.ar

Equilíbrio e Tensão
A necessidade tanto física quanto psicológica que o homem tem de equilíbrio
o torna a referência visual mais forte da percepção humana. O senso intuitivo de
equilíbrio inerente à percepção corresponde ao método mais rápido e automático
do observador para fazer avaliações visuais.

A orientação horizontal-vertical constitui a relação básica do homem com o


meio ambiente.

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Figura 30 – The dance studio (1878), Edgar Degas
Fonte: edgar-degas.org

Além do equilíbrio simples e estático, existe o obtido pela reação entre peso
e contrapeso, ou seja, quando forças de igual intensidade, agindo em direções
contrárias, chegam a um estado de repouso ao compensar-se mutuamente.

Figura 31 – Dancer tilting (1883), Edgar Degas


Fonte: the-athenaeum.org

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UNIDADE Composição

O equilíbrio é um estado no qual as for-


ças que agem sobre um corpo compen-
sam-se mutuamente, por exemplo, quando
duas forças de igual resistência puxam em
direções opostas, toda a ação chega a uma
pausa e a energia potencial do sistema
chega ao mínimo. Essa definição física
aplica-se também ao equilíbrio visual. Em
uma composição equilibrada, todos os
elementos relacionam-se mutuamente de
tal modo que nenhuma alteração pareça
possível e o todo assume o caráter de
necessidade em relação às partes.

A simetria não é condição necessária para


se obter o equilíbrio em uma composição,
mas é a técnica mais fácil para se chegar
à estabilidade. É uma configuração na qual
as unidades de um lado são iguais as do
lado oposto, estejam ocupando um único Figura 32 – Our present image
ou mais eixos de referência: horizontal, (1947), David Alfaro Siqueiros
vertical e/ou diagonal. Fonte: essl.museum

Com certa relatividade, podemos considerar uma composição simétrica ainda


que suas unidades não sejam exatamente iguais, desde que os lados opostos
apresentem uma forte semelhança.

Figura 33 – Ancient human sacrifice, Jose Clemente Orozco


Fonte: dartmouth.edu

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É igualmente possível obter um equilíbrio assimétrico em uma composição
quando as unidades presentes em cada lado dessa, ainda que diferentes, apresentam
a mesma força visual.

Figura 34 – Los dos Davides (1963), David Alfaro Siqueiros


Fonte: christies.com

A tensão não corresponde à formulação oposta do equilíbrio, e sim a uma força


que modifica gradual ou repentinamente o aspecto de repouso característico do
equilíbrio. É causada pelo desvio em relação à estabilidade dos eixos horizontal-
vertical, com a alteração da posição ou direção das unidades, ou pela presença de
unidades com pesos visuais dissonantes.

Figura 35 – Migration, Jose Clemente Orozco


Fonte: dartmouth.edu

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UNIDADE Composição

Peso e direção são fatores que exercem influência particular sobre o equilíbrio
e a tensão. O peso visual pode ser definido como uma força de atração visual,
a capacidade que uma unidade possui de deter a atenção do observador e de
atrair ou repelir os demais elementos localizados próximos no campo compositivo,
causando sempre um efeito dinâmico no esquema estrutural que provoca tensão
em uma composição. O peso visual de uma determinada unidade está relacionado
com diversos fatores, como tamanho, forma, cor e localização, entre outros.

Quanto maior o tamanho, maior o peso visual do elemento.

Figura 36 – Black square and red square (1915), Kasimir Malevich


Fonte: ibiblio.org

Formas regulares pesam mais que formas irregulares.

Figura 37 – Composition (1944), Wassily Kandinsky


Fonte: wassilykandinsky.net

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Cores quentes pesam mais que cores frias.

Figura 38 – Composition XI (1918), Theo van Doesburg.


Fonte: guggenheim.org

Cores saturadas pesam mais que cores não saturadas ou neutralizadas –


acinzentadas.

Figura 39 – Fire at full Moon (1933), Paul Klee


Fonte: tate.org.uk

Tonalidades escuras pesam mais que tonalidades claras.

Figura 40 - Natureza morta (1960), Arcangelo Ianelli


Fonte: uol.com.br

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UNIDADE Composição

Unidades localizadas no centro da composição ou próximas aos eixos horizontal


e vertical centrais pesam mais do que afastadas desses locais.

Figura 41 – Constellation: toward the rainbow (1941), Joan Miró


Fonte: metmuseum.org

Uma unidade isolada pesa mais do que uma semelhante próxima a outras unidades.

Figura 42 – Pears series XIII #2 (1984-1985), Martha Alf


Fonte: portlandartmuseum.us

A atração entre os pesos vizinhos determina a direção das forças visuais


da composição.

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Nivelamento e Aguçamento
O nivelamento e o aguçamento podem ser compreendidos, respectivamente,
como a estabilidade ou a tensão causada por unidades que se concentram ou se
desviam dos eixos horizontal e vertical centrais da composição. Em uma organização
com nivelamento, as unidades são posicionadas no centro da composição ou sobre
os eixos estruturais horizontal e vertical, de modo que não oferecem nenhuma
surpresa visual e são estáveis.

Figura 43 – The painter on his way to work (1888), Vicent van Gogh
Fonte: vangoghgallery.com

Em contrapartida, com aguçamento, unidades posicionadas fora dos eixos


rompem com a sensação de centralidade e estabilidade do campo visual, criando
tensão na composição.

Figura 44 – The sower (1888), Vicent van Gogh


Fonte: vangoghgallery.com

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UNIDADE Composição

Atração e agrupamento
Atração e agrupamento são princípios de organização diretamente ligados às
Leis da Gestalt, ou seja, a propensão humana de perceber os elementos ou as
partes como todos unificados.

Na composição, trata-se de uma condição que cria circunstâncias nas relações


que envolvem interação. Unidades não similares que se encontram distantes em uma
composição parecem repelir-se mutuamente e disputam a atenção do observador.

Figura 45 – Brownish (1931), Wassily Kandinsky


Fonte: wassilykandinsky.net

A aproximação, por si, cria uma atração visual e esse efeito é intensificado
pela similaridade entre as unidades, seja no tamanho, na forma ou na cor. O olho
sempre tende a completar as lacunas entre as unidades para perceber um todo,
porém, relaciona automaticamente e com maior força as unidades semelhantes.

Figura 46 – Fragile (1931), Wassily Kandinsky


Fonte: wassilykandinsky.net

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Positivo e Negativo
Positivo e negativo correspondem a uma sequência de visão alternada entre
campos visuais, o positivo refere-se às unidades mais ativas que criam uma tensão
visual e absorvem a atenção do espectador – figura – e o negativo, a tudo aquilo
que se apresenta de maneira mais passiva na composição – fundo.

Figura 47 – Portrait of Katharina Cornell (1951), Salvador Dalí


Fonte: art-dali.com

A segregação entre figura e fundo e a alternância entre os campos torna a


manifestação visual da forma ambígua e muitas vezes engana o olhar.

Figura 48 – Circle limit IV (1960), Escher


Fonte: mcescher.com

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UNIDADE Composição

Podemos olhar para o campo visual e perceber um elemento que ali não existe,
ou ainda não identificar claramente o positivo e o negativo, como no exemplo
clássico do vaso e dos rostos: é a figura de um vaso cujo contorno sugere a imagem
dos rostos – fundo – ou é a figura de dois rostos de perfil cujo espaço entre os quais
– fundo – sugere o contorno de um vaso?

Figura 49 – Segregação figura e fundo

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Caro(a) aluno(a),
Há vários materiais, como vídeos, filmes, livros e sites, que podem ampliar seu
conhecimento sobre a composição. Indica-se aqui os seguintes:
Livros
Sistema de leitura visual da forma do objeto
GOMES FILHO, João. Exemplos práticos de leitura visual da forma do objeto. In:
Gestalt do objeto. São Paulo: Escrituras, 2000. p. 103-119.
Nestes capítulos, o autor propõe dois passos básicos para a leitura visual de uma
forma e, em seguida, apresenta alguns exemplos práticos. O primeiro passo propõe
uma análise orientada exclusivamente pelas Leis da Gestalt e o segundo, que o autor
denomina de categorias conceituais, inclui os princípios de organização aplicados
à composição e às técnicas de composição visual que estudaremos na próxima
Unidade. Ambas as análises se encerram com uma interpretação conclusiva sobre a
pregnância da forma.

Vídeos
À Mão Livre - Composição Básica e À Mão Livre - Estrutura da Composição
Vídeos mão livre – composição básica – 01 e À mão livre – estrutura da composição –
12. Direção de Cristina Winther e roteiro, conteúdo e apresentação do artista plástico
e arte-educador Philip Hallawell.
Estes vídeos fazem parte da série À mão livre – a linguagem do desenho, 24 programas
de quinze minutos, cada, exibidos pela TV Cultura na década de 1990, os quais
apresentam os fundamentos, as técnicas e os processos criativos do desenho, além de
sugerirem exercícios de composição. Um rico material para aprimorar sua percepção
e expressão visual, assim como a sua criatividade.
Disponíveis em: http://goo.gl/fwkQk2 e http://goo.gl/MpXm9w.
Exercício de Análise e Composição - "Waldemar Cordeiro: Fantasia Exata"
Neste vídeo, realizado pelo Instituto Itaú Cultural, Analívia Cordeiro e Renato Carvalho
realizam um exercício de análise e composição de uma obra do artista brasileiro
Waldemar Cordeiro. O exercício é inspirado pelas obras concretas, geométricas e
desenhadas à mão.
Vídeo Exercício de análise e composição – “Waldemar Cordeiro: fantasia exata” (2013).
Disponível em: http://goo.gl/DN18Xe

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Referências
ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma Psicologia da visão criadora: nova
versão. 11. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.

CAGE, J. A cor na arte autor. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins


Fontes, 2003.

ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural. [20--]. Disponível em: <http:// enciclopedia.


itaucultural.org.br>. Acesso em: 6 out. 2015.

FRASER, T.; BANKS, A. O guia completo da cor. 2. ed. São Paulo: Senac, 2010.

GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto. São Paulo: Escrituras, 2000.

OCVIRK, O. et al. Fundamentos da arte – teoria e prática. 12. ed. Porto Alegre,
RS: AMGH, 2014.

OSTROWER, F. Universos da arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

PEDROSA, I. O universo da cor. Rio de Janeiro: Senac, 2004.

WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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