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Poder Judiciário

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5002030-14.2014.4.04.7006/PR


RELATORA: DESEMBARGADORA FEDERAL VÂNIA HACK DE ALMEIDA
APELANTE: FUNDACAO FACULDADE VIZINHANCA VALE DO IGUACU - FACULDADE VIZIVALI (RÉU)
APELANTE: ESTADO DO PARANÁ (RÉU)
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (AUTOR)
INTERESSADO: IESDE BRASIL S/A (RÉU)
INTERESSADO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

EMENTA

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ENSINO SUPERIOR. CURSO SEMIPRESENCIAL


REALIZADO PELA FACULDADE VIZIVALI NO ÂMBITO DO
PROGRAMA ESPECIAL DE CAPACITAÇÃO PARA A DOCÊNCIA DOS
ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDMAMENTAL E DA EDUCAÇÃO
INFANTIL INSTITUÍDO PELO ESTADO DO PARANÁ. PEDIDO
INDENIZATÓRIO. INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES DO STF. SENTENÇA EXTINTIVA.
REEXAME NECESSÁRIO. IMEDIATO JULGAMENTO (TEORIA DA
CAUSA MADURA). ART. 1.013, § 3º, DO CPC/2015. LITISPENDÊNCIA.
RECONHECIMENTO PARCIAL. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. FALTA
DE INTERESSE PROCESSUAL. INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE.
TEMA STJ Nº 928. DANO MATERIAL. PROFESSORES COM VÍNCULO
FORMAL. IMPROCEDÊNCIA. DANO MORAL. PROCEDÊNCIA. JUROS
E CORREÇÃO MONETÁRIA.

1. Na esteira dos precedentes do Supremo Tribunal Federal, há de ser conformada


a decisão proferida ao entendimento pelo qual se reconhece o interesse da União em demandas
que digam respeito às consequências das condutas comissivas ou omissivas relacionadas à
expedição de diplomas por entidades integrantes do Sistema Federal de Ensino, ainda que a
pretensão seja limitada ao pagamento de indenização, atraindo, com isso, a competência da
Justiça Federal nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal.

2. De acordo com o art. 1.013, § 3º, inciso I, do CPC/2015, o Tribunal deve


decidir desde logo o mérito quando reformar sentença que extingue o feito, sem resolução do
mérito, desde que o processo esteja em condições de imediato julgamento (teoria da causa
madura).

3. Consoante já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, por "aplicação analógica


da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65, as sentenças de improcedência de ação civil
pública sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário" (REsp 1.108.542/SC, Rel. Ministro
Castro Meira, j. 19.5.2009, DJe 29.5.2009). Nesse sentido: AgRg no REsp 1219033/RJ, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 25/04/2011.

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4. A emenda à inicial apresentada pelo autor após determinação do juízo para
adequação do pleito ao que decidido pelo STJ no REsp 1.344.771 é acolhida parcialmente
apenas quanto à inclusão da União e do Estado do Paraná no polo passivo haja vista a
impossibilidade inovação nos pedidos e na causa de pedir disposta no art. 264 do CPC/73
aplicável à época da prática do referido ato processual.

5. Nos termos dos artigos 5º, I, da Lei n. 7.347/1985, e 82 da Lei n. 8.078/1990, o


Ministério Público ostenta legitimidade para propor ação coletiva que vise à proteção de
interesses ou direitos difusos, interesses ou direitos coletivos e interesses ou direitos individuais
homogêneos.

6. O Termo de Convênio entre a Vizivali e a Iesde Brasil S/A não atribui a esta
legitimidade passiva na medida em que tinha por finalidade o desenvolvimento de ações
conjuntas para a implantação e a oferta, pela instituição de ensino, do Programa de Capacitação
de Docentes, sendo, pois, daquela entidade, a legitimidade passiva por ter permitido a matrícula
de alunos que não se adequavam à autorização recebida pelo órgão estadual.

7. Para que se caracterize a litispendência há a necessidade de que a ação na qual


arguida a causa impeditiva apresente as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo
pedido daquela ação já em curso (art. 337, §2º e §3º do CPC).

8. Registra-se que a jurisprudência do STJ possui entendimento de que, nas ações


coletivas, "por se tratar de substituição processual por legitimado extraordinário, não é
necessária a presença das mesmas partes para configuração da litispendência, devendo
somente ser observada a identidade dos possíveis beneficiários do resultado das sentenças, dos
pedidos e da causa de pedir". (REsp 1.726.147/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 14/05/2019, DJe 21/05/2019)

9. À época do ajuizamento desta ação já não mais vigia a Portaria nº 634/2004,


que havia prorrogado a vigência da autorização dada pelo Conselho Estadual de Educação do
Paraná à Vizivali para a oferta do aludido curso e, além disso, já havia sido exarado o Parecer
CNE/CES nº 139/2007, o qual veio a encerrar a discussão acerca da competência para aquele
ato autorizativo, reconhecendo a incompetência da autoridade que autorizou sua oferta,
impedindo, portanto, a continuidade daquela situação fática, tornando desnecessário a
veiculação em âmbito judicial de pretensão relativa à lide já pacificada no âmbito
administrativo.

10. Conformando o entendimento da 2ª Seção desta Corte à tese fixada pelo


Superior Tribunal de Justiça relativa ao Tema 928, a responsabilização pelo pagamento da
inedenização por danos morais deve ser assim observada: (a) a União é responsável
exclusivamente pelo pagamento da indenização aos alunos que detinham vínculo formal como
professores perante instituição pública ou privada; (b) a União e o Estado do Paraná são
responsáveis de forma solidária pela indenização aos alunos que detinham vínculo apenas
precário perante instituição pública ou privada; (c) a Fundação Faculdade Vizinhança Vale do

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Iguaçu - Vizivali é responsável pela indenização relativamente aos alunos estagiários. O valor
da indenização em todos os casos é fixado em R$ 10.000,00 (dez mil reais) nos termos do
precedente desta Corte.

11. Tanto à condenação imposta à Vizivali como à Fazenda Pública, tratando-se de


indenização extrapatrimonial, a correção monetária há de ser observada a partir da
quantificação do montante indenizatório (Súmula 362 do STJ), devendo-se em relação à
primeira observar os critérios previstos no Manual de Orientação de Procedimentos para os
Cálculos na Justiça Federal e, em relação à Fazenda Pública, aplicar-se o IPCA dada a tese
fixada pelo STF ao julgar o Tema 810.

12. Com relação aos juros de mora, a condenação imposta à Vizivali também
observará os critérios previstos no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na
Justiça Federal, os quais deverão ser computados a partir de sua citação tendo em vista a
natureza contratual do litígio, não se aplicando ao caso a Súmula 54 do STJ.

13. Distintamente se dá no que tange à origem dos danos morais causados pela
Fazenda Pública, pois não há relação contratual na espécie, atraindo, assim, o conteúdo da
Súmula 54 do STJ, a fim de que os juros moratórios sejam contabilizados a partir do evento
danoso, observando-se sua fixação em parâmetros idênticos aos juros aplicados à caderneta de
poupança dada sua constitucionalidade, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no
artigo 1º-F da Lei 9.494/1997 com a redação dada pela Lei 11.960/2009.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 3ª
Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu, por unanimidade, dar provimento
aos recursos de apelação do Estado do Paraná e da Faculdade Vizivali para o fim de declarar a
competência desta Justiça Federal para o julgamento desta ação; conhecer da remessa oficial
tida como interposta; e, na forma prevista pelo art. 1.013, §3º, do CPC, acolher em parte a
emenda à inicial apresentada; rejeitar a preliminares veiculadas pelas requeridas; declarar a
ilegitimidade passiva de Iesde Brasil S/A; julgar extinta em parte a ação por litispendência no
que tange aos pedidos condenatórios e por falta de interesse processual em relação aos pedidos
cominatórios; afastar a prejudicial de prescrição; e, no mérito, julgar improcedente o pedido de
indenização pelos danos materiais sofridos pelos aprovados no curso na condição de professor
com vínculo e procedente o pedido para condenar os réus ao pagamento de indenização pelos
danos extrapatrimoniais nos termos da tese fixada pelo STJ ao Tema 928, com ressalva do
entendimento da Desembargadora Federal MARGA INGE BARTH TESSLER, nos termos do
relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 31 de agosto de 2021.

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Documento eletrônico assinado por VÂNIA HACK DE ALMEIDA, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19
de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o
preenchimento do código verificador 40001726641v7 e do código CRC 9432ef77.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): VÂNIA HACK DE ALMEIDA
Data e Hora: 6/9/2021, às 9:24:30

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