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Projeto e Implementação da Manutenção em Frotas, um relato de experiência

Autor: Eng. Acires Dias


João Renato Padula Castro
Frederico F. de C. Matos (*)
País: Brasil

O objetivo deste trabalho é orientar os agentes de manutenção na escolha de métodos, ferramentas e


processos que facilitem a melhoria das práticas existentes ou a implementação de novas práticas. O trabalho
foi implementado considerando que a atividade de manutenção, para se tornar um diferencial competitivo,
deve ser programada seguindo os mesmos passos do desenvolvimento de um produto. Para tanto se
apresenta a metodologia utilizada, sistematizada nas fases do projeto informacional, projeto conceitual, projeto
preliminar e projeto detalhado. Faz-se um relato de cada uma destas fases, voltada para a implementação da
manutenção. Como resultado obteve-se a evidenciação dos verdadeiros problemas de manutenção, o que
ajudou a redirecionar a logística da frota, a tomada de decisão para renovação da frota e a compra de novos
modelos, agora com características apropriadas às operações específicas, visando o aumento de
disponibilidade. Em termos de índices, tem-se disponível dados relativos à redução de custos, a redução de
socorros, aumento da satisfação dos clientes internos e externos, aumento da confiabilidade e redução
manutenção corretiva.

1. Introdução negócios. O conhecimento oportuniza planejar e


implementar processos de olho no futuro. A
As exigências de mercado vêm incentivando as estabilidade é possível de ser obtida mediante o
empresas dos mais diversos ramos de atividade a controle das informações e dos processos de
reverem suas prioridades relativamente à análise quando perfeitamente dominados e
manutenção. Essa mudança de atitude é integrados ao momento econômico vivido.
impulsionada pela necessidade de redução de Esses desafios e a perspectiva de contribuir com a
custo, aumento de confiabilidade e de atividade de manutenção de frotas, motivaram o
disponibilidade de seus negócios. É um momento desenvolvimento deste trabalho. Assim
ou uma oportunidade para pensar, discutir, estudar estabeleceu-se como objetivo, desenvolver uma
e implementar processos e metodologias que metodologia para orientar os agentes de
proporcionem conhecimento e estabilidade para os manutenção na escolha de métodos, ferramentas e

01
processos que facilitem a melhoria das práticas É neste contexto geral que se desenvolveu este
existentes ou a implementação de novas práticas. trabalho. Ele é o resultado de um conjunto de
A validação da metodologia foi feita numa empresa fatores assim resumidos: a necessidade e a
de ônibus da região de Florianópolis. O momento consciência da problemática por parte dos
foi adequado para a implantação do processo dirigentes da empresa, a vontade de fazer da
devido à ocorrência da fusão de duas empresas de manutenção uma vantagem competitiva, a
ônibus, com frotas e linhas de operação bem oportunidade de reestruturar todo o sistema de
distintas. Uma frota operava em linhas curtas e manutenção, aproveitando o momento que estava
pavimentadas e a outra operava em linhas longas, sendo propiciado pelo desenvolvimento de uma
com estradas com longos trechos ainda não dissertação de mestrado focado nesta temática,
pavimentados. A empresa tinha agora duas junto ao programa de pós-graduação da
equipes de manutenção bastante distintas, em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de
relação às suas práticas, costumes, forma de Santa Catarina (Matos, 1999).
trabalho, salários, funções, ferramental, respectivos 2. Metodologia para estruturação da
encarregados, etc, numa mesma oficina.
A frota ficou constituída, inicialmente, de 84 manutenção da frota
veículos de marcas, práticas de manutenção e A metodologia apresentada neste trabalho, foi
idade diferenciadas. Para se ter uma idéia, a nova baseada na Metodologia de Projeto de Produtos
frota possuía 5 padrões de pintura. Industriais, que vem sendo desenvolvida no NeDIP
O maior problema estava associado às Núcleo de Desenvolvimento Integrado de Produtos,
informações sobre a frota: almoxarifado; processo UFSC (Back and Forcellini, 1997, Matos, 1999). A
para cálculo dos custos; registros de tempo médio metodologia incorpora os conceitos de manutenção
entre falha; tempo médio de manutenção; peças e mantenabilidade. A manutenção é entendida
sobressalentes. Pode-se dizer que o histórico era como o conjunto de estruturas, inter-relacionáveis,
praticamente inexistente e, as informações que se que atuam com o objetivo comum da dar suporte e
tinha eram pouco consistentes para análises mais ou executar ações de manter ou reparar algo.
apuradas. Mantenabilidade é assumida como uma
A manutenção era exclusivamente corretiva, característica inerente do produto, definida no
excetuando uma pequena ronda e lubrificação projeto (Matos, 1999 e Blanchard, 1995).
noturna o que gerava grande concentração dos O objetivo foi adequar a metodologia para ser
serviços no horário noturno, devido à pequena frota aplicada em qualquer empresa. Contudo, as
reserva. Diante desse quadro, a empresa sentiu a maiores carências estão nas empresas pequenas,
necessidade de usar uma metodologia para auxiliar prestadoras de serviço, cujo ramo de atividade está
no processo de reestruturação do sistema de circunscrito a uma cidade ou região, com mão de
manutenção (SM). Desejava resolver esses obra pouco qualificada. Por isso optou-se por
problemas conjunturais para conseguir o objetivo validar a metodologia numa empresa deste porte e
de ter uma empresa equilibrada financeiramente e, neste ramo de atividades.
ao mesmo tempo, prestar um serviço de qualidade A metodologia está dividida em quatro fases. Na
a população. primeira fase, chamada de informacional, obtém-se
É interessante considerar o aspecto particular da as informações necessárias para conhecer as
manutenção em frotas. Nesse caso o dispositivo de características da empresa, as expectativas de
produção, o ônibus, não está concentrado num seus dirigentes e colaboradores e, levantar o
espaço físico determinado. Esse fato exige uma estado da arte em relação ao contexto da empresa.
logística adequada para diminuir os custos Após, na fase conceitual, é estabelecido os
provenientes das falhas. Sabe-se que a principal conceitos para a implementação e prática do
função do ônibus é transportar o usuário ao seu sistema de manutenção que deverá ser discutido
destino, com conforto, segurança e num tempo com todos os agentes. Após definir-se por um ou
previamente determinado. As falhas que geram o mais conceito de manutenção, inicia-se a fase
impedimento dessa função principal, proporcionam preliminar que define a principais estruturas e
transtornos que vão além do não cumprimento da práticas possíveis de serem utilizadas. Finalmente,
função. Têm efeitos diretos nos usuários, atuação vem a fase de detalhamento das ações e a
da fiscalização com possíveis aplicações de aplicação. A figura 1, apresenta a síntese das
multas, congestionamentos devido à interrupção diferentes fases e os relacionamentos existentes,
das vias de acesso, além dos elevados custos de que serão detalhadas ao longo do trabalho.
socorro.

02
INÍCIO DA
ANÁLISE Entrada
Necessidade percebida por
manutenção da frota veículos; e características operacionais dos
veículos.
Informações
FASE 1.0 PROJETO INFORMACIONAL
3.2. Identificação dos usuários do
Saída

Não
sistema de manutenção
Satisfazerm as Especificações: objetivos e metas para o
necessidades? sistema de manutenção da frota
Objetiva identificar todos as pessoas ou entidades
Sim
que se relacionam com o SM da frota, quer sejam
FASE 2.0 PROJETO CONCEITUAL
Informações
os funcionários da manutenção, diretores, gerentes
Pesquisar Saída
novas
informações Não Banco de
de operação e produção, motoristas, dentre outros.
e
adaptá-las
Satisfazem as
especificações?
concepções de manutenção para o sistema de
manutenção da frota
dados
principal do É importante levantar informações também
processo de
a lista de
requisitos Sim
análise do
sistema de
daqueles que sofrem as conseqüências do SM e
de para a
manutenção.
Informações
manutenção que não pertencem à empresa, como o meio
FASE 3.0 PROJETO PRELIMINAR
Ampliar e
melhorar
Saída
ambiente e os passageiros.
Não
É a melhor Definição das estruturas do sistema de
manutenção e do plano de ações
solução? Projeto informacional do
Desejos e
Sim SM da frota
necessidades
Informações
FASE 4.0 PROJETO DETALHADO
Saída Estudo preparatório

Não Documentação, projeto e planejamento de


Adequado? implementação das estruturas físicas, Identificação dos usuários do SM
lógicas, logísticas e humanas
Sim
Definição das necessidades de cada
usuário em relação ao SM
FIM DO Instruções para
Saída
PROJETO implantação do sistema
de manuteção da frota Conversão das necessidades em
requisitos de usuários

Lista dos requisitos de projeto


Figura 6: Metodologia para análise e estruturação de
sistemas de manutenção de frotas (Matos, 1999) Relacionamento entre requisitos de
usuários e requisitos de projeto
Não
3. Projeto Informacional Satisfazem
Elaboração das especificações
necessidades
O projeto informacional é a fase na qual o analista estratégicas? Especificações do SM
busca identificar as necessidades da empresa em Sim
Projeto conceitual
fazer manutenção da frota traduzindo-as em Figura 2: Seqüência de etapas da fase Informacional
especificações técnicas, objetivas e sem
ambigüidades para o setor de manutenção. As Além destas, outras características devem ser
especificações devem descrever quais os objetivos conhecidas:
e metas do SM para satisfazer, da melhor maneira
possível, as necessidades da empresa. Características do ramo de atividade:
A figura 1 sistematiza a seqüência de etapas para a) Características do mercado no qual a empresa
tratamento das informações, baseada na está inserida tem as seguintes características:
metodologia proposta por Fonseca (1996). Sistema de transporte público de passageiros
3.1. Estudo Preparatório de Florianópolis é composto por 05 empresas
concessionárias; é gerenciado por um núcleo
Neste estudo procura-se conhecer e compreender
de transporte da própria prefeitura; A
o campo de trabalho onde o analista irá atuar,
remuneração é por passageiro transportado;
antes de iniciar a pesquisa das necessidades junto
Está suscetível às decisões políticas; Usuários
aos usuários do sistema.
tem com boa instrução; A diretoria preocupa-se
Na condução dessa tarefa, diferentes parâmetros
com a competência técnica em realizar a tarefa
devem ser considerados para caracterizar a
(transportar passageiros) com custos
configuração do SM: demanda ambiental,
operacionais e níveis de qualidade cada vez
compromissos com pontualidade, variedade e
menores; As variações provocadas pela
estrutura de produtos, cadeias de fornecimento e
economia local na quantidade de passageiros
suprimento, demanda de qualidade, processo de
transportados são pouco significativas; Não há
produção requerido, necessidade de segurança e
dependência da empresa em relação a outras
qualificação de mão de obra (Riis, 1997). Estes
empresas.
parâmetros podem ser agrupados em:
características do ramo de atividade; b) Legislações: o CONTRAN (1997) e inspeções
características da organização; características dos periódicas da prefeitura.

03
Características dos veículos:
c) Meio ambiente e vizinhança.
Os modelos de chassis da frota são diversos, com
d) Efeitos, devido à deficiência de manutenção, idade média inicial de 4,8 anos, com estado de
percebidos pelos clientes da empresa: conservação e limpeza bastante precário. Dados
Acidentes que podem provocar danos históricos inexistentes e a verificação da condição
materiais, físicos ou mesmo fatais; dos veículos são, informalmente, realizadas pelo
Pontualidade do transporte; Limpeza interna motorista quando do início da operação.
dos ônibus; Excesso de ruído no interior da Características operacionais:
cabine; Farpas e parafusos expostos que O pessoal de manutenção fica concentrado em
provocam danos físicos e materiais aos uma única garagem. A operação da frota se
passageiros. concentra em uma região da cidade de
Florianópolis. Todas as linhas convergem para um
d) Competitividade da concorrência: a distribuição
único terminal central. Durante o dia os veículos
das linhas não favorece a competição entre as
escalados para operação ficam a disposição no
empresas; A empresa opera 19 linhas que
terminal, juntamente com alguns reservas. No caso
servem a uma determinada região da cidade de
de falha de algum ônibus, este é, de imediato,
Florianópolis.
substituído por um reserva. Os veículos são
Características da organização:
deslocado até a garagem para reparos. Há
Administrativamente é organizada em 04 necessidade de um veículo para socorro. Devido às
departamentos: Manutenção: responsável pela
condições das linhas o serviço é caracterizado de
manutenção da frota e instalações prediais além do
severidade alta. Não há qualquer índice estipulado
gerenciamento dos recursos humanos da
pela prefeitura que avalie o desempenho
manutenção (treinamento, seleção para
operacional de cada empresa do sistema. Não há
contratação e política motivacional), informática
exigências quanto idade média da frota, apenas
relativa à manutenção, abastecimento,
idade máxima do veículo (10 anos convencionais e
armazenamento e compra de combustível, controle
15 anos os articulados). A empresa não dispõe de
de pessoal da manutenção, gestão ambiental,
dados de tempo médio de atendimento de
limpeza da garagem e dos veículos, administração
emergência a falhas em operação.
de materiais (suprimento e almoxarifado), equipes
de emergência, emissão de laudos técnicos, 3.3. Definição das necessidades de
pequenos projetos sobre veículos e equipamentos cada usuário em relação ao sistema de
das instalações prediais. Operação, manutenção
Administração e financeiro, Departamento de
pessoal. Objetiva captar os desejos e expectativas de cada
usuário em relação ao SM complementando e
Observou-se também: Não existência de um
certificando as informações colhidas no estudo
sistema computacional que integre todos os
preparatório.
setores da empresa. Duas equipes de manutenção
Tal tarefa torna-se muito importante na medida em
distintas dentro da mesma oficina. Controles,
que capta a experiência interna da empresa, pois
procedimentos e fluxos de informações da
muitas das decisões são reflexos de características
manutenção são atualmente caracterizados pela
particulares, difíceis de serem captadas por um
informalidade. Não haviam dados que totalizassem
observador externo. Transforma as informações
os custos diretos e indiretos. Custo operacional
empíricas de domínio individual dos funcionários
total não foi fornecido, portanto não se pode
em informações técnicas organizadas para
estimar a parcela relativa dos custos de
treinamento interno.
manutenção sobre este. Sem meta orçamentária
Para execução dessa tarefa são indicadas técnicas
para manutenção. Sem previsão orçamentária para
como: questionários estruturados (entrevistas ou
estruturar o sistema de manutenção. Qualificação e
formulários) específicos a cada usuário;
habilidade profissional. Qualificações diversificadas
observações; e posicionamento do analista como
de acordo com o cargo ocupado: de serventes,
um usuário. Recomenda-se também uma lista de
ajudantes a mecânicos experientes e supervisores.
verificação (check-list) de informações a serem
Pessoal antigo, com forte fator cultural; Grande
pesquisadas junto aos usuários da frota.
resistência em registrar os serviços realizados.
Sem procedimentos de contratação, políticas de 3.4. Conversão das necessidades em
formação e treinamento, plano de carreira, requisitos de usuários
incentivos, planos de desempenho, até mesmo
As necessidades identificadas pelo analista até
devido ao estágio de estruturação da empresa.

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este ponto devem agora ser compiladas buscando humana para manter níveis de manutenção
uma expressão mais técnica, ainda mais qualitativa desejados; disponibilidade da frota;
que quantitativa. Ao fazer esta conversão, os dependabilidade da frota: capacidade de atender
requisitos do usuário foram agrupados em: as manutenções de emergência sem prejudicar a
requisitos operacionais dos veículos e requisitos operação; considerações humanas: importância
estratégicos da organização, como mostrado na que a estrutura de manutenção deve ter em relação
tabela 1. aos limites humanos; suporte logístico: suporte à
atividade de manutenção; econômicos:
T ABELA 1: REQUISITOS DOS USUÁRIOS PARA O SISTEMA DE MANUTENÇÃO DA FROTA consideração da importância do desdobramento
equisitos Estratégicos da Organização Requisitos Operacionais dos custos necessário para avaliar a manutenção
Reduzir custos da manutenção d) Evitar falhas em operação
dos veículos, das taxas financeiras e inflacionárias
Reduzir acidentes com funcionários e e) Reduzir poluição
clientes
f) Reduzir ruído
e das estimativas de gastos futuros; eficácia da
Reduzir acidentes com veículos
manutenção: equilíbrio entre desempenho técnico e
Maior comprometimento com funcionários g) Realizar missões sem falhas
Maior produtividade h) Cumprir missões com poucas falhas
custos – confiabilidade a um baixo custo por
Reduzir reclamações dos clientes i) Prever comportamento dos veículos exemplo.
Organizar estoque de peças e acessórios j) Reduzir consumo de combustível
Prever demanda de peças e acessórios a) Diminuir o tempo de inatividade dos veículos 3.6. Relacionamento entre requisitos
Maior integração operação/ manutenção
Preservar imagem da empresa
b) Cumprir programações operacional
c) Aumentar a segurança
de usuários e requisitos de projeto
Estabelecer orçamento para a manutenção d) Indicar melhores marcas e modelos para
renovação de veículos
Para compor a lista de especificações do sistema
Atingir previsão de faturamento anual e) Controlar grande fluxo de informações de manutenção é necessário agora promover uma
Evitar multas e penalidades f) Reduzir manutenções de emergência
análise associativa de quais características
Custo relativo (custo total manut. por g) Aumentar o MTBM
passageiro) técnicas de desempenho do SM – requisitos de
Diminuir custo de operação
Melhorar ou manter qualidade de operação
h) Reduzir corretivas não planejadas;
i) Reduzir corretivas planejadas por solicitação
projeto - melhor se identificam e assim satisfazem
dos motoristas os requisitos dos usuários – necessidades da
j) Preservar a pontualidade
k) Aumentar controle sobre operação dos veículos
empresa. Ou seja, os requisito de confiabilidade em
sistemas de transporte coletivo, por exemplo,
3.5. Lista dos requisitos de projeto relacionam-se com o desejo de pontualidade,
expresso pelos passageiros, e o desejo de reduzir
A atividade de manutenção para caracterizar seu multas decorrentes de manutenções de
sucesso deve ser mensurada. Neste sentido, os emergência, desejo dos gerentes e diretores da
requisitos de projeto referem-se às características empresa.
técnicas mensuráveis do SM. Para executar tal tarefa, pode-se utilizar o QFD
Assim, os requisitos de projeto de um SM refletem- (Quality Function Deployment), através da sua 1a
se exatamente nas características de matriz – a casa da qualidade, figura 3. A tabela 2
mantenabilidade dos veículos: medidas de apresenta a síntese dos requisitos do sistema de
eficiência e suporte de manutenção associado ao manutenção da frota que está sendo analisada,
projeto dos veículos. identificando os 12 mais importantes.
As medidas de mantenabilidade dos veículos são
os parâmetros técnicos que caracterizam o
desempenho e o suporte que o SM deve possuir
para satisfazer as necessidades do frotista, seus Requisitos de Projeto
funcionários e usuários. Determinam as métricas (como fazer)
que o sistema de manutenção deve cumprir e Requisitos de Pes-
justificam todas as estruturas necessárias ao Usuário Notas
sos
sistema de manutenção. (O que necessita)
As características de mantenabilidade dos veículos Pontos Totais (Quanto)
(requisitos de projeto) podem ser agrupadas num Figura 3: Casa da qualidade
conjunto de fatores (Blanchard et al, 1995):
confiabilidade da frota: relacionados às falhas em
operação; tempos de manutenção: duração das 3.7. Elaboração das especificações
tarefas de manutenção; freqüências de do SM
manutenção: freqüência das tarefas para satisfazer A lista de especificações será formada pelos
as necessidades; custos diretos de manutenção; requisitos de projeto que se revelaram, na matriz
custos indiretos de manutenção; utilização de mão do QFD, como relevantes para a satisfação das
de obra: necessidade de quantidade e qualificação necessidades. Para descrever totalmente a

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especificações faltam ainda definir o índice de desta fase, comentadas a seguir.
desempenho que irá medir, a meta a alcançar para
satisfação e o período de análise das metas. A Projeto Conceitual
Tabela 3 mostra as últimas especificações em
Análise operacional da frota
relação aos requisitos mais relevantes.
As metas entretanto, à exceção da disponibilidade Análise das alternativas de solução
da frota, não puderam ser estimadas com exatidão
Síntese de concepções de manutenção
pela falta de dados disponibilizados que Não
viabilizasse as análises. Concepções
Tabela 2: Síntese dos requisitos do sistema de manutenção da satisfazem Concepções de
frota manutenção para a frota
especificações?
Posição Requisito Pontuação

1o (-) custo direto de manutenção 9077,14


Sim Projeto Preliminar
o
2 (+) confiabilidade da frota 8071,38
o
Figura 4: Seqüência de etapas da fase conceitual
3 (+) disponibilidade da frota 7968,12
o
4 (+) eficácia da manutenção 7643,49
5
o

o
(-) utilização de MDO 7443,97 3.8. Análise operacional da frota
6 (-) custos indiretos de manutenção 6057,18
7
o
(-) frequência de manutenção 5794,03 Esta etapa objetiva identificar as funções e fluxos
8
o
(+) dependabilidade da frota 5758,76 funcionais necessários à manutenção da frota.
9
o
(-) tempos de manutenção 4928,89 Para tal, deve-se, primeiramente, compreender
o
10
o
(+) considerações humanas 4889,82
como ela opera (Blanchard et al., 1995; Kelly,
11 (-) suporte logístico 4263,97
12
o
(-) fatores econômicos 1112,06
1989).
A análise operacional da frota é, propriamente, um
complemento da caracterização dos requisitos
TABELA 3: ESPECIFICAÇÕES DOS SISTEMAS DE MANUTENÇÃO operacionais da frota realizado no projeto
informacional, pois, como conseqüência destas e
Importância

Objetivo

Período

Requisito Índice de avaliação Meta em conjunto com as características de


mantenabilidade dos veículos, as funções
Custo direto necessárias à manutenção se evidenciam, no
1 - Custo por quilômetro ($/km) 0,223851438 s
manutenção
sentido de corrigir ou prevenir desvios na eficiência
2 Confiabilidade + Taxa de falha ( λ ) 0,769230e-6 s
80% execut.
operacional.
3 Disponibilidade + Disponibilidade operacional (Ao)
88% conv.
s
Nesta etapa deve-se também identificar as funções
Eficácia da
Confiabilidade média dos veículos por custo auxiliares à operação dos veículos que estejam,
4 + total de manutenção para 5000km de operação 95% s
manutenção
desde a última preventiva (C5000) gerencialmente, agregadas ao departamento de
Produtividade de MDO (taxa de utilização das manutenção, devendo o SM estar estruturado para
5 Utilização de MDO - horas contratadas para execução das tarefas 80% s
de manutenção) suprí-las. Exemplos destas funções auxiliares são:
abastecimento do veículo, administração de
materiais e tratamento dos resíduos originados da
3.1 Projeto conceitual manutenção (sucatas e esgoto). Assim, as funções
que o SM devem gerir podem tornar-se bem
A fase conceitual objetiva a formulação de diversificadas.
concepções de manutenção. Visa estabelecer, Identificadas as funções e fluxos necessários à
sobretudo, uma idéia de como poderá ser a manutenção, ficam expostas a composição da
manutenção dos veículos, de forma que sirva de estrutura geral do SM. Contudo, a questão de como
base para estabelecimento das metas e objetivos estas funções serão estruturadas dependerão das
definidos no projeto informacional e de base para diretrizes estratégicas da organização. É o caso da
estabelecimento para suporte logístico total do SM necessidade de instalação para recuperação e
(Blanchard & Fabricky, 1990). montagem de motores. Caso a empresa adote uma
Neste ponto da estruturação, as análises não são política de renovação prematura da frota, não há
muito objetivas, sendo mais uma compreensão necessidade de prever instalações de recuperação
genérica das estruturas humana, lógica, física e e montagem de motores.
logística da organização necessária para satisfação A primeira tarefa desta etapa é analisar a
das especificações do projeto, mas capaz de distribuição exercida durante a operação da frota,
consubstanciar o direcionamento das análises da buscando identificar: localidades e trechos de
fase preliminar. A figura 4 mostra as três etapas operação; distância de cada uma à central de

06
manutenção (garagem); concentração de veículos A figura 6 ilustra as funções e fluxos do SM de uma
em cada localidade; possíveis tempos previstos de frota inglesa (Kelly, 1989). Pela análise operacional
intervalo entre viagens, momento em que os desta frota, foram identificadas como funções
veículos estão disponíveis para pequenos reparos; necessárias à manutenção: serviços
e os tempos médios de viagens. (abastecimento, lavagem, limpeza, calibrações,
Em seguida são realizadas análises para identificar inspeções), trabalhos de reparos e reforma, socorro
os ciclos de operação dos veículos. A figura 5 mecânico, almoxarifado, recondicionamentos e
ilustra um conceito de integração entre o fluxo de compras. Observa-se na figura que após a
operação e a estrutura de manutenção. O ciclo execução de socorro mecânico (2.4) os veículos
operacional, neste exemplo, equivale a um dia de retorna ao estado de operação (REF. 1.0) e que
operação. Verifica-se que o veículo alterna três após sofrer reparos, serviços ou reforma, fica
funções: em operação, no estacionamento, em disponível no estacionamento (REF. 0.0).
manutenção. No estacionamento significa que o 3.9. Análise das alternativas de
veículo está disponível para operação.
1.3 1.5 1.6 1.7 solução
Cumpre
viagem
TerminalY
Cumpre
viagem
Garagem Identificadas as funções que devem ser geridas
1.1 pela manutenção da frota o próximo passo é
TerminalX ou Não Ok
Não Ok
2.0 REF.
analisar as alternativas para sua estruturação
1.0 REF.
1.4
Manutenção
(Figura 4). O processo de decisão das alternativas
Estado de
Ônibus em Prontidão deve recair tanto sobre os objetivos declarados
ou (reserva) 0.0
Operação 1.2 REF pela organização em relação à manutenção e ao
Estado de Estacionamento
Prontidão (tempo não desempenho dos equipamentos como também
(reserva) requerido) sobre as características da situação da empresa.
Estas devem, por sua vez, estar bem definidas nas
Figura 5: Diagrama de fluxos da operação dos veículos especificações – Projeto Informacional.
ü Para entender o objetivo desta etapa, deve
No início do ciclo operacional, o veículo pode estar claro que uma concepção de manutenção é
encontra-se em dois estados: de prontidão ou ativo. uma solução genérica para o projeto do SM em
O estado de prontidão pode localizar-se na foco. Assim, não deve se concentrar em análises
garagem ou no terminal “ X” . Em atividade, no específicas de como fazer o plano de ação em
terminal “ X” , ele inicia a primeira viagem até o cada componente do equipamento. Deve
terminal “ Y” , do terminal “ Y”, cumprindo a viagem, concentrar-se em compor uma estrutura que
retorna ao terminal “ X” e neste loop, prossegue até dimensione, delegue e direcione, em termos gerais,
cumprir sua programação, quando retorna à as políticas de reparo necessárias pela execução
garagem. A figura indica também os momentos em da manutenção, ajustadas à capacidade de
que a manutenção deve atuar. Sempre quando investimento, da gestão dos recursos de
qualquer falha aparecer durante as viagens ou manutenção e dos objetivos da empresa.
após cumprir a programação do dia e retornar à 3.10. Síntese de concepções de
garagem.
manutenção
Verifica-se que as funções de manutenção derivam
das necessidades operacionais e de Na última etapa para definição das concepções de
mantenabilidade dos veículos; função manutenção. manutenção (Figura 4) o analista sintetiza soluções
2.1 2.7 gerais para o SM através da combinação das
Garagem Almoxarifado alternativas apresentadas na etapa anterior.
dereparos
2.5 Como resultado desta síntese, várias configurações
2.2 0.0
2.0
REF REF Recondicionamentos serão expostas como possibilidades de solução
Estacio-
Manutenção ou
Garagem
Serviços namento
menores para o SM da frota. A tarefa então é destacar a
2.6
2.8 melhor, ou as melhores soluções (no caso de não
2.3
Recondicionamentos Compras haver grande diferencial da melhor solução em
Ônibusem principais
reforma relação a outras soluções) que serão
2.4 1.0
REF
desenvolvidas no projeto preliminar.
Socorro Operação
Como meio de decisão para selecionar quais
Mecânico alternativas serão mais ajustada às pretensões da
empresaanálises comparativas devem ser
Figura 6: Sistema de manutenção de frota de ônibus realizadas sob critérios como vida programada dos
urbano

07
veículos, custo de manutenção da frota, funcionamento dos veículos da frota, através da
comprometimento à segurança e ao meio análise da interação dos subsistemas, e de sua
ambiente, desempenho operacional, composição, através dos agrupamentos e
disponibilidade requerida e outros desde que esquemas de montagem de seus subsistemas. A
estejam de acordo com as especificações (projeto análise funcional facilita a percepção dos efeitos
informacional). das falhas na operação dos veículos e, ao
3.11. Projeto preliminar evidenciar o esquema de montagem, ajuda no
estabelecimento de metas e objetivos mais
Neste ponto do projeto, já se tem em mente específico para cada subsistema.
algumas alternativas para a estrutura do SM, ou Primeiro objetivo é retratar a composição dos
seja, as concepções de manutenção. Então, na veículos através de seus subsistemas e esquemas
fase preliminar, é desenvolvido um detalhamento de montagem. Este diagrama facilita a
buscando embasar o processo de decisão sobre compreensão dos itens constituintes dos veículos e
qual concepção será, seguramente, a melhor. Visa reduz a possibilidade da não consideração de
responder, para cada alternativa de concepção, algum item relevante quando da análise da
questões como: ferramentas necessárias; mantenabilidade.
capacidade de sobressalentes; plano das ações No segundo, diagrama de fluxo funcional, é
(corretiva, preventivas, preditivas) sobre os modos descrito o funcionamento do veículo através das
de falhas dos veículos; necessidades de recursos funções e fluxos de seus subsistemas, promovendo
humanos (quantidade, treinamento, qualificação); o entendimento dos relacionamentos e da interação
teste de monitoramento da condição dos veículos e entre os subsistemas, facilitando a compreensão
equipamentos de suporte são recomendado; dentre dos efeitos de falhas de um em relação aos outros
outras. e no veículo.
Esses questionamentos se justificam pois, a A figura 9 exemplifica um diagrama de fluxo
eficácia na execução das tarefas de manutenção é funcional de um ônibus, chassis Scania F-113. No
função tanto da configuração do projeto dos nível 1 (REF. 1.0) fica registrado o entendimento da
veículos como das instalações, ferramentas, testes, interação dos seus subsistemas, como por
planejamentos e qualificação do pessoal requerido exemplo, o sistema elétrico (1.1), mais
para realizá-las apropriadamente (Blanchard et al., acionamento humano gera uma tensão e,
1995). juntamente com ar e óleo diesel, aciona o sistema
A fase conclui pela seleção da melhor concepção motriz (1.3).
de manutenção para o SM, porém, agora, com Para completar as informações do diagrama de
descrições apresentadas em termos de fluxo funcional, cada um dos sinais de força,
especificações detalhadas que servirão de base movimento, pressão e outros que possam ocorrer,
para as tarefas executadas no projeto detalhado. podem ser identificados através de suas medidas
Para orientar os questionamentos, a figura 7 máximas e mínimas.
mostra as cinco etapas recomendadas. 3.13. Análise da mantenabilidade
Projeto Informacional
PROJETO PRELIMINAR Na segunda etapa do projeto preliminar, sobre
cada subsistema desdobrado são pesquisados os
ANÁLISE FUNCIONAL DOS VEÍCULOS recursos impostos pela configuração de projeto dos
subsistemas dos veículos a sua manutenção
ANÁLISE DA MANTENABILIDADE DOS VEÍCULOS
(estruturas lógica, logística, humana e física) (figura
10).
OTIMIZAÇÃO DA ANÁLISE DA MANTENABILIDADE
A composição da estrutura lógica é formada por
SELEÇÃO DA MELHOR CONCEPÇÃO DE MANUTENÇÃO
três conjuntos de informações: análise de
desempenho, avaliação do projeto do veículos
Não
Especificações quanto a manutenção e modelagem da gestão de
Adequadas? detalhadas
manutenção.
Sim PROJETO DETALHADO
O módulo de análise de desempenho visa
Figura 7: Sequência de etapas do projeto preliminar identificar as informações que caracterizam a
eficiência e a eficácia de desempenho dos
3.12. Análise funcional dos veículos subsistemas dos veículos. Para tal, dois conjuntos
preenhem as necessidades de informações:
Na análise funcional dos veículos o analista ü informações de desempenho passado a partir
aprofunda seu conhecimento sobre o de dados observados relacionados às ações de

08
manutenção e operação. Essas informações são agora, a partir dos recursos identificados para a
fundamentais para formação de um banco de manutenção de cada subsistema, sintetizar
dados de manutenção que seja eficiente e versátil. soluções totais para cada concepção de
ü Informações de expectativa de desempenho manutenção, através da combinação e otimização
futuro a partir de dados observados ou estimados das necessidades de recursos e gestão
de falha, de tempos e do custo de ações de identificados para cada subsistema, ou seja, é
manutenção dos equipamentos aplicados a otimizada a estrutura física, humana, lógica e
modelos matemáticos probabilísticos. logística.
O segundo módulo da estrutura lógica - avaliação Alguns exemplos de estudos de otimização são:
do projeto do veículo quanto a manutenção - análise da necessidade de programas
objetiva descrever as características de projeto dos computacionais (softwares próprios, comerciais,
veículos, não mensuráveis, relacionadas à banco de dados, e capacidade de hardwares;
manutenção, que influenciam o desempenho da estrutura do departamento de controle;
manutenção, posicionando o analista frente às necessidade de sistema de gerenciamento e
dificuldades impostas pelo projeto dos veículos. Tal seleção de pneus; dimensionamento do quadro de
descrição deve ser apresentada na forma de funcionários para todo o SM; regime de contratação
sugestões para reprojeto. (contratada, terceirizada ou mista / temporária,
O último módulo da estrutura lógica - modelagem permanente ou serviços de terceiros); definição dos
da gestão de manutenção - objetiva formar o plano recursos necessários ao abastecimento dos
de ações frente aos sub-sistemas dos veículos veículos (compra de combustíveis, controles de
juntamente com os procedimentos de execução. abastecimento, qualidade, estoque e outros);
A análise da estrutura logística visa identificar a definição do suporte de administração de materiais
estrutura de apoio necessária para execução com e suprimento (estrutura de almoxarifado, controle
eficiência das tarefas de manutenção dos de fluxos e estoque de materiais); definição dos
subsitemas. Compõe a análise do suporte logístico: recursos de transporte de materiais e pessoal;
necessidades de administração de materiais e estrutura e recursos de preservação do ambiente
suprimento; características de consumo de de trabalho (ventilação, filtros de ar, ar
materiais necessidades de estrutura especial para condicionado, iluminação, prevenção de incêndios
manuseio dos materiais de consumo e e outros; dimensionamentos do número de valas
sobressalentes e de transporte de peças e pessoal. para manutenção de toda a frota (Dolce, 1998); e
A análise da estrutura física objetiva identificar o outras.
suporte de ferramental, de testes e de estruturas 3.15. Seleção da melhor concepção de
prediais para realização eficaz e segura das tarefas
de manutenção. Para tal são realizadas análises manutenção
de: ferramentas e teste necessários para Ao concluir as análises de otimização, significa que
monitoramento, equipamentos de segurança foram detalhadas as sínteses de cada concepção
pessoal e ambiental como instalações prediais e de manutenção, selecionadas na fase conceitual. A
especiais. tarefa agora é definir a melhor alternativa através
A análise da estrutura humana objetiva identificar de análises comparativas. Um forma possível é
os requisitos humanos necessários para utilizar as diretrizes propostas nas especificações
desempenhar eficazmente as tarefas de do SM (projeto informacional). Após, deve-se iniciar
manutenção associadas aos susbsitemas dos o detalhamento da melhor concepção.
veículos. Consta das análises: programa de 4. Projeto Detalhado
treinamento; características da mão de obra; e
definição da equipe responsável pela manutenção No projeto detalhado é feito o detalhamento do
(associado ao nível de manutenção que realizará projeto dos componentes do SM definidos no
reparos nos subsistemas). projeto preliminar. Tem-se: desenvolvimento dos
softwares; projeto das instalações prediais; projeto
3.14. Otimização da análise da da central de controle; projeto para tratamentos de
mantenabilidade informações; elaboração dos procedimentos
Terminada a análise da mantenabilidade dos técnicos na forma de manuais técnicos e
veículos, o analista possui, para cada concepção administrativos, elaboração de organogramas,
de manutenção, um conjunto de informações sobre planilhas e outros formulários relativos ao controle
os recursos necessários para manter cada dos serviços e de fluxo de materiais; elaboração do
subsistemas dos veículos. Contudo é preciso plano de compra dos equipamentos de teste, de
suporte, ferramental; planejamento de contratação

P 09
e de treinamentos dos funcionários. observar características específicas do custo de
É importante ressaltar que as frentes de trabalho peças e assim refinar as ações a serem tomadas.
definidas não são desenvolvidas necessariamente Na figura 12 tem-se os primeiros dados referentes
com a mesma velocidade. Enquanto determinadas ao controle de compra para cada um dos sistemas.
tarefas evoluem até a fase de projeto detalhado, O acompanhamento deste tipo de informação
fornecendo feed-back para remodelagens de fases possibilitou ações mais direcionadas como:
anteriores, outras sequer saíram da etapa redução da quebra de motores, política de
informacional. Tal fato demonstra a importância da recondicionamento de componentes elétricos, etc.
metodologia diante de contextos tão variados, onde Atualmente o custo com peças e acessórios
se tem especificado as tarefas a serem cumpridas permite análisar esses componentes considerando
e os diferentes estágios em que se encontram. parâmetros, como: quilômetro rodado, modelo de
A seguir alguns exemplos reais do carro, fabricante, etc. Conta com um estoque de
desenvolvimento do projeto são mostrados. aproximadamente 2400 itens, divididos em 40
4.1. Custos sistemas, abastecidos por fornecedores de toda
região sul e sudeste do Brasil. Uma segunda
O principal requisito levantado na fase reestruturação está sendo feita, onde as peças
informacional foi o custo por isso ele é o primeiro a estão sendo realocadas ou eliminadas através da
ser abordado. análise da curva ABC e o espaço físico ampliado.
Inicialmente a empresa não possuía dados O refinamento dessas informações permite,
específicos sobre os custos de manutenção. Com a seguindo a diretriz básica estabelecida, a
entrada da nova diretoria, os primeiros custos conceituação de soluções apropriada as
foram levantados pelo departamento financeiro necessidades do dia-a-dia. Caso necessário volta-
através do controle de contas a pagar. Identificou- se as fases da metodologia
se que a manutenção, em março de 1998,
representava 25,2% do total de despesas, sendo 4.2. Redução manutenção corretiva
distribuídos em: 25,6% com combustível, 21,3% A análise dos serviços realizados é imprescindível
com peças e acessórios, 6,3% com reforma de na redução das manutenções corretivas. Além de
veículos, 5,2% com pneus e recapagem e 1% com todas as dificuldades impostas pelo contexto já
lubrificantes. A figura 11 mostra a variação destas descrito, deve-se ressaltar ainda a inexistência de
porcentagens ao longo do tempo. Os custos, por manuais de oficina desenvolvidos para as
serem avaliados pelos valores das contas pagas, carrocerias, e o fator cultural que representou
podem apresentar distorções (parcelamentos). O silenciosa resistência à marcação dos serviços.
porcentual do custo de diesel varia com as Nesse cenário iniciou-se o registro dos serviços
mudanças da operação (maior ou menor utilização através da divisão desses em 23 subsistemas do
dos carros). O porcentual do custo de peça sistema ônibus, que se estendeu até maio de 2000.
apresentou retração até o início da preventiva em A partir de junho de 2000, já com um maior
novembro de 2000. comprometimento da equipe, esses registros foram
Porém este é um panorama macro dos custos da aprimorados de maneira a serem especificados e
manutenção, sendo necessário um detalhamento codificados, mantendo-se a referência do sistema.
maior para análises mais criteriosas. A seguir A figura 13 abaixo mostra o total dos serviços
apresenta-se um detalhamento para o custo com realizados pela manutenção corretiva ao longo do
peças e acessórios. tempo. De maneira resumida pode-se fazer a
O custo com peças e acessórios está diretamente seguinte análise: No primeiro mês de registros foi
relacionado com o controle do estoque. Diante do feita uma campanha de conscientização junto ao
panorama anteriormente descrito, iniciou-se uma pessoal da oficina, porém os registros não
reestruturação do estoque através da identificação alcançaram 100% dos serviços executados. Nos
das peças, quantidades, localização nas primeiros meses do processo a cultura do pessoal
prateleiras, instalação de software de controle, falou mais forte, apresentando a cada mês uma
registro informatizado, estabelecimento de quantidade menor de registro, o que não era
procedimentos de saída e entrada do estoque, compatível com a realidade; Após mais um a
responsabilidades e autoridades. campanha em junho de 1999 e já com um novo
Porém todas essas modificações tiveram de estar cenário na manutenção, os registros foram ficando
de acordo com a disponibilidade de recursos e com mais fiéis. A nova sistemática implantada em junho
a dinâmica diária da oficina, levando três anos para de 2000 apresentou um aumento nos registros
sua implementação. Nesse período, os controles dado que alguns serviços foram subdivididos em
intermediários foram criados no sentido de mais partes, ou novos serviços.

10
Nº de Serviços de Corretivas Diminuição real dos socorros e corretivas. Novo
1200
procedimento de limpeza, praticamente, eliminando
1000 as reclamações de usuários. Remodelação da
800 garagem e novo layout da oficina. Novo processo
600 de abastecimento e estocagem. Certificando-se
400
com a ISO 9000.
200
30
28
0
98

99

00

01
8

0
99

00

01
9

1
8

0
9

1
8

0
8

0
8

0
8

98

99

00

1
z/9

z/9

z/0
o/9

r/9

o/9

r/0

o/0

r/0
v/9

v/0

v/0
l/9

t/9

l/9

t/9

l/0

t/0
v/9

v/9

v/0
n/9

n/9

n/9

n/0

n/0

n/0

n/0
ai/

ai/

ai/

ai/
ar/

ar/

ar/
ut/

ut/

ut/
Ju

Ju

Ju
Ab

Ab

Ab
Se

Se

Se
De

De

De
Ag

Ag

Ag
Fe

Fe

Fe
No

No

No
Ju

Ja

Ju

Ja

Ju

Ja

Ju
M

M
M

M
O

O
25

21

Figura 13 – Serviços Corretiva 20


18

Essa análise visa demonstrar a dificuldade de 15 14


Nov/97
Jun/01

obtenção da informação desejada, enfatizando o 10


11 11

8
10

acompanhamento do processo e reforçando a 5


6 6
5 5 5
4 4
6

4
3 3 3 3

importância de uma metodologia que permita 2

0 0
1
0 0 0
0

nortear as ações. Hoje, com uma banco de dados FORD B 1618 MATRA
CMO1615
MERCEDES
BENZ O371U
MERCEDES
BENZ OF-1114
MERCEDES
BENZ OF-1115
MERCEDES
BENZ OF-1314
MERCEDES
BENZ OF-1315
MERCEDES
BENZ OF-1318
SCANIA 113 SCANIA F-113
HL
SCANIA F94 VW-16180 CO VW-16180 CO VW-8.140 CO

parcialmente estruturado, com 800 serviços Figura 15 – Mudança na composição da frota


registrados, com o pessoal bastante comprometido,
iniciou-se o registro das horas trabalhadas.
4.5. Conclusões
4.3. Redução de Socorros
A metodologia apresentada facilitou a
Os socorros representam as falhas do veículo em implementação do processo de manutenção e
operação. Seu registro passou por dificuldades de cumpriu com a expectativa dos vários agentes que
implementação maiores que o registro das dependem de frotas: proprietários, controladores e
corretivas. Muitas vezes o projeto conceitual usuários, na medida em que facilitou a estruturação
desenvolvido para a obtenção dos dados teve de das informações possibilitando satisfazer a
ser revisto e modificado evoluindo para a situação necessidade de cada um deles. Com a
atual que é bem confiável. A figura 14 ilustra a metodologia, o registro da problemática da frota
média de registros de socorros por mês. ocorreu de forma sistematizada e ordenada,
Média de Socorros por Dia
permitindo a gestão processar as mudanças
2,4
2,2
exigidas pela atualidade de forma controlada,
2,0
1,8 compreensível e economicamente viável e, ao
1,6
1,4
1,2
mesmo tempo, constante ao longo do tempo, sem
1,0
0,8 perder o rumo das ações. Deve-se ressaltar ainda
0,6
0,4
0,2
que nas três primeiras fases a alocação de
0,0
Mar/98 Mai/98 Jul/98 Set/98 Nov/98 Jan/99 Mar/99 Mai/99 Jul/99 Set/99 Nov/99 Jan/00 Mar/00 Mai/00 Jul/00 Set/00 Nov/00 Jan/01 Mar/01 Mai/01
recursos para a implementação da metodologia, se
resume ao trabalho de pensar, organizar e decidir.
Observa-se um grande aumento em abril de 2000, Somente na fase de detalhamento é que são
onde foram implantadas novas formas de requeridos os primeiros investimentos. Nesse
levantamento dos dados, e outra em março e maio instante, há um razoável grau de certeza quanto ao
de 2001, onde o projeto atual foi testado e depois retorno do investimento a ser realizado.
implementado. Observando friamente os gráficos apresentados
4.4. Outros aspectos tem-se a impressão que o projeto implantado teve
Pode-se citar ainda outros aspectos importantes um efeito negativo na manutenção da empresa,
relacionados com a implementação do projeto na onde os índices observados parecerem piores do
empresa em questão. São eles: Padronização das que os existentes antes da reestruturação. Porém
pinturas e itinerários. estes dados, além de evidenciarem a carência de
Funcionamento e aferição de todos os odômetros. informações da referida empresa, mostram a
Renovação da frota observando os critérios dificuldade de obtenção deles. Tais fatores
técnicos levantados, conforme mostra a figura 15. comprovam assim a necessidade de utilização de
Racionalização dos recursos humanos. Melhora do uma metodologia que possa orientar os agentes no
nível técnico do pessoal devido aos programas de conturbado cotidiano do setor de manutenção
treinamento. Isonomia salarial. Aquisição de deste tipo de empresa. Sem ela, em função da
ferramental adequado, incluindo alguns complexidade existente, pode-se ficar reinventando
pneumáticos. Fim das corretivas noturnas. a roda o tempo todo.
Implantação da preventiva e preditiva nos motores. 4.6. Referências bibliográficas

11
BACK, N., and FORCELLINI, F.A., 1997, Projeto Wiley & Sons, New;
de Produtos; Apostila de Aulas, UFSC/NeDIP; EUREKA, W.E. and RYAN, N.E., 1992, QFD,
MATOS, Frederico F.de C., 1999, Metodologia para Perspectivas Gerenciais do Desdobramento da
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de Frotas Automotivas, Dissertação de Mestrado, BLANCHARD B. S., and FABRICKY, W. J., 1990,
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FONSECA, A.,J.H., 1996, Desenvolvimento de uma KELLY, Anthony, 1989, Maintenance Planning and
Sistemática para a Obtenção das Especificações Control, Butterworths;
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Mestrado, UFSC; 1997, A Situação da Manutenção no Brasil –
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E. L., 1995, Maintainability, A Key to Effective DOLCE, John, 1998, Analytical Fleet Maintenance
o
Serviceability and Maintenance Management, John Management, SAE, 2 ed., USA; ♦

(*)Acires Dias, Professor at Federal University of Santa Catarina, Department of Mechanical Engineering. Dr. Eng. Universidade
Estadual de Campinas, SP., UNICAMP, 1996, Post Doctorate at University of Maryland, Department of Materials & Nuclear
Engineering, USA (2002-2003). Teaching experience: Strength of Materials, Machine Elements, Agriculture Machines Design, Design for
Reliability and Maintainability, Maintenance Management. Research experience: Mechanics of Elastic-Plastic Fracture, Failure Analysis in
Machine Elements, Appropriate Technology for Machines and Agricultural Implements for Small Farm Lands, Design for Safety in
Agricultural Machines, Reliability Analysis of Automotive Pneumatic Brakes, Methodology for Planning Fleet Maintenance Systems,
Design for Reliability and Maintainability, Assessment of Maintenance Procedures. Granted activities: ELETROSUL – Central Electric of
the South of Brazil, Hydroelectric Power Plant Itaipú, ANEEL- National Agency for Electrical Energy, Camargo Correia Equipments and
Systems S/A., Tigre S/A., State Department of Highway of Santa Catarina.
João Renato Padula Castro, Engenheiro Mecânico formado pela Unviersidade Federal de Santa Catarina (1999). Mestre em Engenharia
de Produção e Sistemas, Unviersidade Federal de Santa Catarina (2002). Engenheiro chefe do setor de manutenção e operação da
Ribeironense Transporte Coletivos Ltda. Florianópolis, SC.
Frederico Freire de Carvalho Matos, Engenheiro Mecânico Universidade Federal da Bahia (1994), Salvador, Bahia. Mestre Eng. Mec.
Universidade Federal de Santa Catarina (1999), Florianópolis, Santa Catarina, Dissertação: Metodologia para Planejamento e Estruturação
de Sistemas de Manutenção de Frota Automotiva. Professor titular do curso de graduação e pós-graduação de Engenharia e Sistemas de
Qualidade da Universidade Salvador - UNIFACS – Salvador, Bahia, disciplinas: Estatística, Sistemas de Qualidade e Materiais de
Construção Mecânica. Experiência profissional: manutenção de frotas com trabalhos relacionados ao planejamento e informatização da
atividade em setores de ônibus urbano e colheita florestal. Consultor de empresas em sistemas de qualidade, certificação ISO 9000 e
planejamento de manutenção de frotas e industrial tendo como principais clientes/trabalhos desenvolvidos: MONSANTO - Manutenção
Centrada na Confiabilidade (RCM, ALCOA - Poços de Caldas/MG - Treinamento em Excelência em Manutenção, CNT - Confederação
Nacional do Transporte - Brasília/DF - Programa de Qualidade no Transporte, AGERBA - Agência Estadual de Regulação de Serviços
Públicos de Energia, Transporte e Comunicação da Bahia - Ferramentas para Avaliação da Qualidade na Prestação de Serviços de
Transporte Rodoviário na Bahia, PARTEK FOREST - equipamentos de colheita florestal - planejamento de manutenção da frota,
Empresas de ônibus urbano - Salvador/Bahia - planejamento de manutenção da frota. Capacit Assessoria e Consultoria Ltda. (71) 9146-
2531

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