Introdução As Sagradas Escrituras Aula 6

Você também pode gostar

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

INTRODUÇÃO ÀS SAGRADAS

ESCRITURAS
AULA 6

Prof. Raimundo Nonato Vieira


CONVERSA INICIAL

No prefácio do livro A Interpretação Bíblica: meios de descobrir a verdade


da Bíblia, Donald K Cambell cita uma declaração de B. Warfield: “A Bíblia é a
Palavra de Deus, de tal forma que, quando ela fala, Deus fala” (Warfrield, citado
por Zuck, 1999, p. 7). Cambell enfatiza a importância de se compreender o que
as Sagradas Escrituras dizem:

Ao longo dos séculos, os cristãos têm estimado muito a Bíblia,


aceitando-a como a Palavra de Deus Escrita. Poucos, porém, já se
precipitaram em dizer que fácil compreendê-la. Contudo, como seu
objetivo é revelar a verdade e não ocultá-la, não há duvida de que Deus
pretende que a entendamos. Além do mais, é vital que
compreendamos a Bíblia, pois nossas doutrinas sobre Deus, o homem,
a salvação e os acontecimentos futuros dependem de uma
interpretação correta das Escrituras. (citado por Zuck, 1999, p. 7)

Compreendendo que em um dado momento você estudará


especificamente este campo do conhecimento teológico, a hermenêutica, neste
ponto da nossa construção de conhecimento faremos apontamentos
introdutórios sobre esta área, em sua relação as Sagradas Escrituras.

TEMA 1 – AS ESCOLAS DE HERMENÊUTICA

É necessário dizer que as escolas de interpretação das Sagradas


Escrituras já se faziam presente entre o judaísmo, pois era comum entre eles
diferenças de interpretação das Escrituras, de acordo com escolas existentes em
cada época. Porém, para o objetivo que se tem nesta abordagem, vamos
descrever apenas as duas grandes escolas do período da história da Igreja: As
escolas de Alexandria e de Antioquia, chamada de oriental, e a Escola dos Pais
Latinos, chamada de ocidental.

1.1 Escolas Alexandrina e Antioquiana

A escola de interpretação de Alexandrina diz respeito à relação com dois


importantes filósofos gregos: Heráclito e Platão (Lopes, 2004, p. 130). Ainda
segundo Lopes (2004), Heráclito inaugurou aquilo que chamou de sentido mais
profundo, uma tentativa de salvar os deuses das narrativas da Ilíada e da
Odisseia. Já Platão desenvolveu o conceito de que “o mundo em que vivemos é
apenas uma representação do que existe no mundo perfeito das realidades
imateriais, o ‘mundo das ideias’”.

2
Pode-se dizer que o foco desta escola era interpretar a Bíblia pelo método
alegórico, pela ideia de que a Bíblia tem um sentido mais profundo do que aquele
que aparenta literalmente. Um dos principais expoentes desta escola foi o pai da
Igreja Orígines.
A escola de interpretação de Antioquia da Síria foi fundada por Luciano
de Antioquia. Luciano, segundo Lopes (2004, p. 134), “fundou em Antioquia uma
escola de estudos bíblicos em oposição consciente ao método alegórico ligado
a Alexandria, particularmente ao método de Orígines”. Ele fora um teólogo
frutífero, e criou uma forte tradição em torno das línguas originais, especialmente
do Novo Testamento.
Essa escola de interpretação tinha uma forte ênfase no sentido literal do
texto bíblico, influenciando outras escolas de interpretação que surgirão depois
de Luciano de Antioquia.

1.2 Escola dos pais latinos

Esta é uma escola riquíssima e com um grande legado para a história da


interpretação das Sagradas Escrituras. Aqui, faremos apenas uma
caracterização desta escola e de dois dos seus grandes expoentes, o que é
suficiente para atender ao objetivo presente, que é transmitir uma noção de como
as escolas de interpretação das Escrituras contribuíram para o seu
fortalecimento e credibilidade.
É importante que se diga que, com a designação do título do tema,
estamos nos referindo a uma escola criada pelos pais da Igreja, que viveram do
quarto ao quinto século, e que tiveram suas obras escritas e publicadas em latim.
Augusto Nicodemos Lopes (2004, p. 141-6, grifos nossos) apresenta uma
caraterização dessa escola com os seguintes pontos:

Preferência pela interpretação literal: [...] eles favoreciam a


interpretação literal, sendo geralmente atentos ao sentido natural do
texto bíblico; [...] Contexto histórico: Os pais latinos eram mais
sensíveis ao contexto em que as Escrituras foram produzidas; [...]
Intenção do autor: [...] Muito embora conscientes dos diversos
sentidos que se poderia atribuir a um único texto, os interpretes latinos
manifestaram preferência por aquele que melhor reflete a intenção do
autor bíblico; [...] Alegorias ocasionais: Algumas vezes os interpretes
alegorizavam o Antigo Testamento; Regra de fé da Igreja: [...] os Pais
Latinos praticavam uma exegese “fechada”, seguindo os dogmas dos
concílios da época, onde o texto aceitava apenas uma interpretação,
que devia ser crida e recebida por todos.

3
Para justificar a robustez desta escola de interpretação da Escrituras, que
busca se inspirar na escola de Antioquia, basta dizer que dois dos grandes
nomes dessa tradição da interpretação da Bíblia foram Agostinho, o maior
teólogo da igreja antiga, e Jerônimo, que deixou um grande legado com a
tradução da Vulgata Latina.

TEMA 2 – BÍBLIA E SOCIEDADE

Quando se pensa na relação da Bíblia com a sociedade, pensamos no


quanto ela pode ser uma chave hermenêutica para compreender a história de
qualquer sociedade e seus dilemas. Essa perspectiva serve também como base
para entender as relações entre os variados núcleos humanos nas sociedades.
Vamos apontar aqui apenas a sua relação com os problemas sociais e com as
ciências, exemplificando com alguns ramos da ciência.

2.1 Os problemas sociais

Os problemas sociais são realidades que transpassam a história dos


seres humanos em sociedade. Desde os primeiros conflitos humanos, como o
que ocorrera entre Caim e Abel, pessoas vivem de lados opostos, e isso vai
minando a capacidade de produzirem juntos e de resolverem os seus problemas,
especialmente os de ordem social. Teologicamente, dizemos que essas
desestruturas são resultado do pecado estrutural, ou seja, do desvio do ser
humano da companhia e da provisão graciosa de Deus, que lhes coloca diante
de uma estrutura de egoísmo, em que há busca de um prevalecer sobre o outro,
como um influxo cultural.
Os profetas do Antigo Testamento viram esse mal e o denunciaram. Eles
não denunciaram o mal como algo em si, mas como as ações egoístas de grupos
que se fortalecem para subjugar aqueles que são enfraquecidos, seja como
resultado sistêmico, ou por tramas carregadas de intencionalidade.
Ao longo dos tempos, homens e mulheres se ampararam nas Sagradas
Escrituras para denunciar esses males, agindo para que os problemas sociais
fossem amenizados nas suas muitas estruturas. Para exemplificar apenas um
caso dessa longa história, temos Bartolomé de Las Casas.
O Frei Bartolomé de Las Casas mudou de destino ao ouvir um impactante
sermão do dominicano Antônio de Montesinos: do lado dos colonizadores,

4
passou a se colocar ao lado dos colonizados, e com o sustento das Escrituras
se tornará o grande defensor dos indígenas da América Andina:

O padre catequista continua como representante da coroa e da igreja


na Colônia, mesmo depois de “ser impactado” com as palavras de
Montesinos, e somente depois da investida na Ilha de Cuba se dá,
segundo o próprio padre, a mudança na sua prática, fruto de sua
compreensão do que Deus pensava daquela gente, após deparar-se
com um texto da Bíblia em Eclesiástico 34.18 para preparar seu
sermão em 1514, por ocasião da festa de Pentecostes. (Vieira, 2012,
p. 14)

Quando o dominicano tem uma visão do índio como ser racional, e não
como uma criatura desprovida de razão, que segundo a concepção de
Aristóteles seria o indicativo de merecedor da escravidão natural, Las Casas
torna-se um pregador libertário dos povos indígenas.

2.2 A Bíblia e a ciência

A relação da Bíblia com a ciência – ou melhor, dos cientistas com relação


ao conteúdo das Sagradas Letras – sempre gerou muitas tensões, e até
distanciamento nas suas postulações. Fernandes (2015) tem uma boa
percepção disso:

A Bíblia recebe o maior número de objeções dos meios científicos


ligados à História, à Arqueologia e às Ciências Naturais. A juventude,
por ter maior acesso aos estudos, é a mais influenciada e disposta a
erguer bandeiras, quando se depara com docentes capazes de
apresentar critérios e argumentos que, à primeira vista, parecem
irrefutáveis.

As ciências, como aponta Fernandes, especialmente as chamadas de


humanidades e ciências naturais, não aceitam que a explicação para tudo que
se vê seja acomodada em grande parte nas narrativas das Escrituras, e que a
ciência bíblica pode ser considerada um campo na interdisciplinaridade na
construção desses saberes.
Fernandes (2015) ainda oferece uma importante contribuição a essas
considerações, quando sublinha que os dois horizontes podem se enxergar
como possibilidades epistemológicas:

Se o horizonte da Ciência é o desconhecido e o ainda não solucionado


– por exemplo, quanto à formação da matéria e a compreensão da
antimatéria do universo, por certo, em expansão – o horizonte da Bíblia
é o ser humano direcionado para a harmonia do seu ser e da busca da
felicidade. Quando os dois horizontes se alinham e não se ofuscam,
como em um eclipse, são superadas as incertezas e iluminadas

5
obscuridades da história do saber humano, e projeta-se luz sobre as
realidades inacessíveis à razão.

Quando se pensa nessa relação, não é visando o distanciamento, mas


uma interação, até porque a teologia e o que está no seu campo de relações,
não forma ilhas culturais, mas sim um fluxo de construções do conhecimento
cultural, da humanidade e para a humanidade.

TEMA 3 – A BÍBLIA DIANTE DAS TENSÕES EPISTEMOLÓGICAS

O que vem a ser a epistemologia? Segundo as considerações de Brabo


(2002), a epistemologia está ligada ao estudo filosófico: “A epistemologia é
essencialmente o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados
das diversas ciências, destinado a determinar a sua origem lógica (e não
simplesmente psicológica), o seu valor e sua objetividade”.
O problema dessa definição é o reducionismo, pois em tempos de
compreensão das ciências integradas, e servindo epistemologicamente em
espírito de mutualidade, não cabe tal reducionismo. É correto afirmar que a sua
origem está ligada à filosofia, que dava conta da teoria do conhecimento. Será
possível um estatuto epistemológico para a teologia, tendo as Escrituras como
base epistêmica?

3.1 Como se conhece na teologia

Susin se pergunta sobre a base teórica para a pesquisa bíblica e


teológica, e se há a necessidade de se buscar uma resposta para o fazer
teologia, como algo coerente e dentro da sua matriz natural.

Há uma pergunta que a filosofia, mais do que as ciências, se


encarregou de retomar reiteradamente: o que é mesmo ciência? O
Ocidente privilegiou, impenitentemente, durante cinco séculos, a
verdade elaborada no paradigma da experimentação, da verificação,
da matematização e do pragmatismo. As ciências humanas, sociais,
jurídicas, econômicas também se sentem em saia justa com esses
critérios de reconhecimento científico. (Susin, 2016)

A concepção de ciência pura, oriunda da racionalidade kantiana, coloca a


teologia e suas relações como um campo fora das possibilidades epistêmicas,
mas a realidade é que já se concebe a fé e suas relações como matiz
epistemológica, pois afinal trata-se de uma racionalidade por meio de outros
princípios. Pode-se averiguar a tão discutida objetividade, ainda que se corra o
risco que todas as ciências correm, que é a proximidade e envolvimento do
6
pesquisador com o seu objeto de pesquisa – ainda que atualmente isso não seja
mais um problema.
Portanto, o conhecimento na teologia se dá na compreensão da fé e dos
fenômenos que a circundam como uma racionalidade, ainda que tomando
premissas diferente para alcançar uma afirmação cientifica-teológica.

3.2 Cristo como possibilidade epistemológica

Já tem sido apontado o fato de que a Bíblia é uma metanarrativa, ou seja,


ela dá conta de todo o objeto do seu interesse. A Bíblia não é um livro de ciência
natural ou humana; seu objeto é Deus como o centro da história e como ele criou,
como esta criação precipitou-se em afastar-se dele, como esse criador está
restaurando a sua criação, e como planejou consumar essa história para
alcançar o objetivo inicial da criação. A metanarrativa das Sagradas Escrituras é
teleológica – ela aponta para uma finalidade.
Mas, como essa metanarrativa ganha sentido histórico-teleológico? Os
primeiros cinco capítulos de Apocalipse introduzem um cenário de sofrimento
das igrejas cristãs, e faz constantes intercalações com o que ocorrera no
passado, com o que está ocorrendo no presente, apontando um futuro
encortinado. Finalmente, surge a pergunta: Quem é digno de abrir o livro? A
narrativa apocalíptica pinta um cenário de choro e lamento. Por quê? Porque não
havia quem pudesse abrir o livro.
O que tinha no livro de tão importante? Por que era necessário alguém
especial para esse ofício? A resposta do restante do livro é que ali estava o
sentido do que havia passado na história, o que estava acontecendo e o que
viria. Logo, Cristo é apresentado como a matiz epistêmica para compreender
toda a realidade do que havia passado, das realidades presentes e do que
estava por vir. Cristo é o centro das Escrituras, ele é o centro da história, ele é o
centro de compreensão de todas as realidades.

TEMA 4 – INTERSUBJETIVIDADES: UMA POSSIBILIDADE HERMENÊUTICA


NO TRATAMENTO DO TEXTO BÍBLICO?

Neste penúltimo ponto de nossa aula, vamos dialogar com um grande


biblista brasileiro da atualidade, que vem fazendo apontamentos para que a

7
exegese da atualidade se ocupe com outros objetos, fazendo o percurso da
pesquisa por outros métodos. Vamos trabalhar com o Dr. Júlio P. T. Zabatiero.

4.1 A história do aproximar-se da Bíblia a partir do paradigma


sujeito/objeto

No artigo de Zabatiero, “Novos rumos da pesquisa bíblica”, o autor faz um


resumo sobre a caminhada metodológica, com o entendimento do que se busca
no texto das Escrituras. Ele inicia dizendo que Jesus e a comunidade primitiva
interpretaram a Bíblia fazendo uma crítica à dominação religiosa de então, que
reduzia a Palavra de Deus aos dogmas do poder religioso de então (Zabatiero,
2006). Segundo ele, a Reforma retomou a mesma leitura crítica contra a
dominação religiosa e a apropriação institucional das Escrituras.
Zabatiero continua na sua descrição histórica afirmando que, na tentativa
de perdurar essa crítica, surgiram métodos que fundamentaram sua
compreensão da Palavra de Deus, a partir da relação sujeito/objeto referenciado
pela autoridade do texto bíblico, abandonando a crítica religiosa da reforma;
enquanto outras perspectivas voltaram-se à crítica do texto, tendo a necessidade
de se comprovar, mas com a tensão do racionalismo.
O que resume as novas buscas descritas é que “o texto é fonte de
motivação para a vida e não fonte de sentido para a doutrina” (Zabatiero, 2006).
Mas, segundo Zabatiero (2006):

Os novos modelos de leitura bíblica, porém, mantiveram-se dentro dos


limites do paradigma da consciência em sua compreensão do sentido
textual. Ou seja, não modificaram radicalmente a concepção sujeito-
objeto, nem a dependência do sentido para com a intenção autoral e a
referencialidade extra-textual. Neste aspecto, pode-se dizer que
solucionaram apenas parcialmente a crise paradigmática da
Modernidade.

Para Zabatiero, vem havendo tentativas de dar um sentido crítico na


aproximação da Palavra de Deus, mas ainda insuficiente. O que é o ideal, nessa
proposta?

4.2 Quem disse o quê?

A proposta de Júlio Zabatiero é superar o paradigma do sujeito. Ele define


o que seria a intersubjetividade aplicado à pesquisa bíblica como sendo aquilo
que diz que:

8
o sentido não deve mais ser visto como correspondente à intenção do
sujeito, nem ao referente do texto, mas como fruto da interação
humana (ou seja, passamos da crítica do sujeito para a
intersubjetividade crítica); a distinção entre hermenêutica e exegese se
dilui, já que não se trata mais de dois objetivos distintos: saber o que o
texto significava e, depois, aplicá-lo à realidade atual; ler é fazer
dialogar entre si os discursos do presente com os do passado; a
historicidade passa a ser vista, principalmente, como parte da cadeia
sem fim da produção de sentido na interação humana, e não como uma
cadeia objetiva de acontecimentos. (Zabatiero, 2006)

Para o autor, a busca do sentido no texto desaparece, a necessidade de


ter alguém falando para alguém também, pois a hermenêutica e a exegese
passam a ter um papel de interpretar as realidades e fornecer esperança a partir
da construção de significados coletivos, sem o foco no texto, seu autor e o que
ele tencionava, mas pensando na construção de diálogos a partir de discursos –
não discursos fechados com objetividade histórica, mas abertos.
Para o autor, há muitos ganhos nisso, entre eles,

Podemos destacar alguns ganhos para a pesquisa bíblica que


decorrem de superar o paradigma do sujeito: a) teríamos viabilizadas
uma boa dose de unidade teórica e metodológica, bem como a
pluralidade de enfoques e interesses; b) simultaneamente, porém,
abrir-se-iam as portas para a inter- e a trans-disciplinaridade. Pelas
vias da ação e do discurso podem se estabelecer relações fecundas
com as demais divisões do campo teológico e com as ciências
humanas, cuja mediação viabilizaria o diálogo com as ciências
“naturais”; c) fé e razão não seriam mais vistas como antagônicas, mas
como distintos olhares discursivos para a realidade – dilui-se o risco de
fideísmo ou racionalismo.

O objetivo desta breve e incompleta descrição das postulações de Júlio


Zabatiero sobre esta temática foi deixar o leitor ciente de possibilidades em curso
na área das ciências bíblicas. Ainda assim, podemos reforçar a ortodoxia quanto
a este tema.

TEMA 5 – O SIGNIFICADO OBJETIVO/HISTÓRICO NO TEXTO SAGRADO

Brevemente, faremos uma descrição sobre o trato ortodoxo da Bíblia em


relação à busca do seu significado, considerando um autor histórico.

5.1 O texto

O texto sempre foi a fonte básica e confiável para a busca da mensagem


revelada. Lutero (citado por Lopes, 2004, p. 161), em uma crítica à interpretação
dos escolásticos, diz o seguinte, interpretando a Carta aos Galatas:

9
O que eles [os sofistas] deveriam é vir ao texto vazios, derivar suas
ideias da Escritura Sagrada, e então prestar atenção cuidadosa às
palavras, comparar o que precede com o que vem em seguida, e se
esforçar para agarrar o sentido autentico de uma passagem em
particular, em vez de ler as suas próprias noções nas palavras e
passagens da Escritura, que eles geralmente arrancam do seu
contexto.

Nicodemos enfatiza que “os Reformadores ensinavam que cada texto tem
um só sentido, que é o literal – a não ser que o próprio contexto ou outro texto
das Escrituras requeiram claramente uma interpretação figurada ou metafórica”
(Lopes, 2004, p. 161). Isto apontava para o trato do texto como tendo um
significado objetivo.

5.2 O autor

Há uma importância do texto que chega até os seus destinatários, mas a


mesma importância é dada ao autor, pois recebeu de Deus a condução para a
produção daquela mensagem. Augusto Nicodemos Lopes (2004, p. 164),
tratando das ênfases dos Reformadores, aponta:

Em lugar do conceito da alegorese medieval de que um único texto da


Bíblia tinha quatro sentidos, os Reformadores insistiram que havia
apenas um sentido em cada texto, que era o pretendido pelo seu autor
humano. Já que o autor humano havia sido inspirado por Deus, havia
a coincidência de intenções. Logo, achar o sentido do autor humano
era achar o sentido pretendido por Deus.

Diferente das perspectivas das opções da Pós-Modernidade, há soluções


como a intersubjetividade para a interpretação das Escrituras, com foco no leitor
coletivo e nos discursos, uma perspectiva que leva em consideração que o texto
e seu autor têm objetividade, valorizam a historicidade, bem como o significado
pretendido do autor.

5.3 Os destinatários

Para um texto escrito há tanto tempo, que tem autoridade para a vida de
toda a criação humana, há um fluxo que revela sua unidade, com um selo
inspirado por Deus, para que se tenha um sentido claro para os dias atuais,
sendo sustentado pela crença de que se trata objetivamente da Palavra de Deus
escrita. Assim, é preciso compreender a que realidade humana esse texto foi
endereçado. Logo, objetivamente, visava-se responder, com tais postulações, a
trajetória histórica e a relevância para os seus leitores da atualidade.

10
Por essa razão, para a ortodoxia cristã, tanto o texto como o seu autor
humano, bem como os seus receptores primários, são importantes para a
captação da compreensão objetiva do texto bíblico para todos os tempos.

NA PRÁTICA

A disciplina que ora se finaliza é considerada pré-requisito para o estudo


da hermenêutica, pois interpretar a Bíblia é tarefa que requer compreensão do
ambiente histórico em que esse livro foi escrito, e como foi interpretado. Por esse
motivo, julgamos apropriado localizar o estudo introdutório das Sagradas
Escrituras em relação à sua interpretação.

FINALIZANDO

Esta abordagem focou na relação das Sagradas Escrituras com a


hermenêutica, identificando pontos importantes, como uma introdução às
Sagradas Escrituras: as escolas de hermenêutica, a relação da Bíblia com a
sociedade e a Bíblia diante das tenções epistemológicas. Finalizamos com duas
considerações associadas: uma abordagem que confere sentido à Bíblia a partir
da teoria dos discursos – intersubjetividade, e uma abordagem mais ortodoxa,
que considera o texto bíblico como apontando para significados objetivos.

11
REFERÊNCIAS

BRABO, L. Filosofia sistemática. Filosofia Católico, 2002. Disponível em:


<http://filosofia.catolico.org.br>. Acesso em: 15 jun. 2019.

FERNANDES, L. A. Bíblia como Palavra de Deus. Estudos Bíblicos, 2015.


Disponível em: <http://www.estudosbiblicos.teo.br/?p=303>. Acesso em: 15 jun.
2019.

LOPES, A. N. A Bíblia e seus intérpretes: uma breve história da interpretação.


São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

SUSIN, L. C. O estatuto epistemológico da teologia como ciência da fé e a sua


responsabilidade pública no âmbito das ciências e da sociedade pluralista.
Revista TEO, 2016. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/inde
x.php/teo/article/download/1748/128>. Acesso em: 15 jun. 2019.

VIEIRA, R. N. Bartolomé de Las Casas, conservador ou destruidor das


culturas nativas americanas. 44 f. TCC (Trabalho de Conclusão do Curso de
Licenciatura Plena em História) – FUNESO – Fundação de Ensino Superior de
Olinda, Olinda, 2012.

ZABATIERO, J. P. T. Novos rumos na pesquisa bíblica. Estudos Teológicos,


2006. Disponível em: <http://www3.est.edu.br/publicacoes/estudos_teologicos/v
ol4601_2006/et2006-1b_jzabatiero.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2019.

ZUCK, R B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. 1.


ed. São Paulo: Vida Nova, 1999.

12

Você também pode gostar