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AULA MAGNA

27 de julho de 2021
Evento organizado pelo Centro Acadêmico de Filosofia

Caracterização do filosofar: filosofar por quem e para quê

Dr. Gonzalo Armijos Palacios/UFG

1. Por que estudar, em geral, num curso de filosofia.


Resposta: o que sempre levou as pessoas a filosofarem é a situação
em que estavam inseridas e os problemas e desafios que sua
situação lhes punha pela frente.
2. Por que estudar, HOJE.
Hoje não é diferente. Além de infintas outras, questões de
discriminação, reivindicação de direitos das minorias, ou das
pessoas tradicionalmente discriminadas e injustiçadas. Pessoas
“invisíveis” ao olho público, ao olhar convencional da sociedade
que hoje estão aparecendo e marcando sua presença combativa no
espaço público, contra o tradicionalismo e contra o autoritarismo
tradicionalista. Por isso, desde sempre, filosofar é um desafio à
concordância passiva, às verdades estabelecidas, aos modelos
impostos, ao autoritarismo e à prepotência. No fundo, a filosofia
ou, melhor, o ato de filosofar, é um ato de insurgência. Pois por
trás do filosofar está a discordância, a falta de conformismo e o
desejo de sair da própria ignorância ou superar a ignorância
imposta de cima, quando se nos proíbe pensar, agir e ser de
determinadas maneiras. Pode soar paradoxal, mas filosofa-se a
partir e apesar da tradição. A partir da tradição filosófica, na qual
apredemos e na qual bebemos como de uma fonte, e apesar do
tradicionalismo que quer impor essa tradição como obrigatória,
como naturalmente necessária, inquestioável e eterna.
3. Como eu particularmente fui a estudar filosofia.
Eu fui estudar filosofia porque queria entender a origem da
miséria, da pobreza, das profundas e gritantes desigualdades no
meu país. Depois, naturalmente, foram aparecendo outras
questões.
4. Deixar claro que as pessoas podem ter as mais variadas
razões para isso, mas se supõe que elas querem se dedicar à
filosofia profissionalmente.

5. A falta de unidade temática do curso.


Assim como, suponho, todas as áreas e disciplinas, quem vai
estudar nelas se topa com as mais variadas possibilidades de
enfoque e pesquisa.
6. Mudança de interesse o orientação dentro do curso. Quem
tem uma ideia definida ao entrar pode, naturalmente, ir
modificando seus interesses à medida que o curso avança e novas
temáticas e problemas lhe são apresentados.
7. Orientação de cada docente. Dentro das mesmas
disciplinas, por exemplo, podem-se estudar, dependendo de quem
as ministra, os mais variados enfoques e problemas. Porque cada
docente tem uma área específica de interesse e atuação. Ninguém
está interessado pela filosofia como um todo nem por todas as
obras filosóficas, mas por algumas, aqueles que nos atraem pelos
seus problemas, abordagens etc.
8. Cada docente tem uma abordagem e uma concepção do
que seja interessante teoricamente tratar, estudar, pesquisar.

9. A formação em filosofia.
Agora temos a pergunta: e como fazemos para nos formar
nesta área? A formação, em filosofia, é, num sentido, formação
própria. É o discente que aprende, pois, na verdade, ninguém
ensina nada. Estamos, em princípio, para mostrar como se fez
filosofia, nas diversas temáticas e pelos mais variados autores, os
clássicos.
10. Leitura dos clássicos.
Assim, a leitura dos clássicos é fundamental na própria
formação, formação esta que nunca termina, de fato. Pois sempre
vamos aos clássicos como quem vai beber das fontes necessárias
para o aprofundamento filosófico.
11. A filosofia e o pretenso “repasse de conhecimentos e
conteúdos”.
Como consequência do anterior, não podemos falar em
“repasse de conhecimentos”, mas apresentação de problemas,
soluções e concepções na maior parte das vezes CONFLITANTES.
12. Não existe A RESPOSTA, nem A VERDADE. Assim
como não existe, propriamente A FILOSOFIA, mas respostas que
se supõem verdadeiras pelos pensadores que as forneceram,
construíram e propuseram.
13. A filosofia NÃO É UM ACHADO, mas uma
CONSTRUÇÃO, uma CRIAÇÃO. Constrói-se, faz-se filosofia,
não se a encontra, como quem encontra um tesouro escondido.
14. Ela não é um templo.
A filosofia, que existe como FILOSOFIAS, não é um templo,
mas um conjunto de caminhos que transitam os mais variados
terrenos e podem ou não se cruzar, mas certamente se distanciam
e podem a maioria das vezes se contradizer, quando apontam
rumos e objetivos diferentes.
15. Ela não é bíblia. Devemos falar, em filosofia, de
abordagens, aproximações existentes nos mais diversos textos
filosóficos e nunca como uma bíblia composta por livros sagrados
escritos por santos ou santas que são donos da verdade. Essas
abordagens e aproximações às soluções dos problemas terminam
em propostas que praticamente sempre encontram propostas
conflitantes.

16. O próprio caminho. O que cada pessoa fez e faz na


filosofia é, num sentido, abrir e trilhar seu próprio caminho. A
gente não percorre os caminhos dos outros, que os abriram com
determinados objetivos e motivados por questões específicas. Por
outro lado, esse trilhar é também um andar do jeito que a pessoa
anda, não do jeito que outras andam. Cada um de nós tem um
jeito para cada coisa que faz. Isso nos faz únicos, nos faz o que
cada um de nós é, à diferença de todas as outras pessoas. E o
pensamento não pode ser diferente. Não podemos deixar de
pensar de forma diferente da dos outros. E se houver
concordância, ele dificilmente é total.
17. “Procurei a mim mesmo.” “Procurei por mim mesmo”.
Heráclito. ((Explicar isto)).
Assim, num sentido, cada pessoa que se dedicou, dedica e
dedicará à filosofia vai encontrar, no final, o que ela é realmente.
Ela vai simplesmente fazer desabrochar a semente que está nela.
O que alimenta essa semente pode vir de fora, mas o terreno em
que ela aflora de desabrocha é único, assim, a flor que ela dá é
única. Obviamente, para isso é preciso muito trabalho, dedicação,
e, insisto, não se faz sem a leitura dos clássicos que, volto a dizer,
nos resulta absolutamente imprescindível, mesmo que o que esteja
em jogo seja nós mesmos, a nossa maneira de ver o mundo, nossa
perspectiva do mundo, nossos ideais, projetos, motivações. Não há
duas grandes mentes filosóficas que trilharam exatamente o
mesmo caminho, porque isso é impossível. Podemos percorrer o
caminho dos outros, mas se simplesmente fizermos isso, esse
caminho continuará sendo algo alheio para nós. Se, pelo contrário,
procuramos por nós e a nós, no final de nossos esforços filosóficos
vamos encontrar o que cada um de nós é, o que intimamente
somos, e somos o que nós fizemos de nós mesmos. Estará em jogo
a forma em que escolhemos andar, pelos terrenos que nos
propusemos nos aventurar.
18. Finalmente, não existe “a” filosofia, mas existe uma
ação, que é a de filosofar. Como as ações são realizadas pelas
pessoas, há tantas formas de se filosofar como pessoas que se
dediquem a essa atividade. Assim, não existe “a” filosofia nem ela
é contemplação, mas ação. Ela se realiza no fazer de cada um, no
trabalho daqueles que exercem a ação de filosofar.

19. Filosofia, arte, literatura, poesia, música, escultura,


teatro. De forma semelhante, não existe, em abstrato, ‘arte’,
‘beleza’. Ela é feita de inúmeras maneiras, seja pela pintura,
escultura, pela música, a literatura. E em cada uma dessas formas
de arte temos incontáveis formas de pintar, de esculpir, de compor,
tocar, escrever. O ato de filosofar não se distingue, nesse sentido,
do ato criativo de qualquer arte, e por isso não pode ser
enclausurado numa definição, pois é impossível prever todas as
infinitas formas em que os seres humanos podemos criar beleza.
A partir do Cícero: A filosofia de cada grande autor é uma
biografia intelectual.
Renata diz que traz coisas riquíssimas. Ela diz que faz parte
da filosofia é escrever. Escrever é uma forma de pensar. Escrever
faz parte da rotina de se fazer filosofia.
Sílvio: Nós aprendemos do trabalho mútuo, em sala de aula,
com os discentes. E os discentes que são agora professores do
nosso câmpus nunca foram meus orientandos. Ser professor e ser
filósofo.
RICARDO:
ANA GABRIELA: A filosofia não é auto-ajuda.

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