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Ergonomia 03
Ergonomia 03
ERGONOMIA
MÓDULO III
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pelos trabalhadores. Além disso, as normas de segurança e saúde também não
eram cumpridas pela empresa.
Outras irregularidades que, segundo o procurador do caso, eram cometidas
na unidade da Sadia em Toledo foram: falta de repouso semanal remunerado e de
pagamento de horas-extras, e horários irregulares de intervalo. O procurador
analisou os dados de afastamento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e
constatou que alguns trabalhadores apresentavam doenças ocupacionais.
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pessoal (interesses, tempo, medos, idade, sexo, nível socioeconômico), ambiente
social (família, cultura, clima social), ambiente físico: natural (praias, lagos, planícies)
ou construído (calçadas, ciclovias, pistas de caminhada). O ambinte de trabalho
também pode atuar como fator de influência para se aderir a um estilo fisicamente
ativo.
A realização de algum tipo de exercício físico vem sendo indicado como uma
prática benéfica tanto para a saúde quanto para a realização do trabalho. Porém, o
estudo de Salles-Costa et al. (2003) indicou, por exemplo, uma prevalência de
inatividade física, principalmente relacionada às atividades de lazer. Recentemente,
o estudo de Papini et al. (2010) identificou que a disposição no fim da jornada de
trabalho foi associada à inatividade física no lazer, mostrando que trabalhadores que
têm alguma disposição depois do trabalho são mais ativos no tempo de lazer.
Muitas vezes, é verdade, não há tempo para a prática de um tipo de
exercício físico sistemático e regular quando considerado aqueles momentos que
seriam para o lazer.
Porém, a regulamentação do trabalho já vislumbra destinação às atividades
de no máximo oito horas diárias justamente para o indivíduo ter atividades de lazer e
participação na vida familiar – a chamada combinação entre entre trabalho, vida
pessoal e vida familiar (LEE, MCCANN e MESSENGER, 2009). O Escritório da
Organização Internacional do Trabalho (2009) ainda complementa informando que a
conciliação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar está intrinsecamente
relacionada ao conceito de trabalho decente, principalmente no que tange à
liberdade, inexistência de discriminação e capacidade de assegurar uma vida digna
a todas as pessoas que vivem de seu trabalho.
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De fato, apesar da relevância em se manter um estilo de vida fisicamente
ativo e das indicações de redução das taxas de mortalidade e morbidade por
doenças cardiovasculares (PAFFENBARGER et al., 1978), diabetes, dislipidemias
(PAFFENBARGER e HALE, 1975), como também no aumento da autoestima e
redução da depressão e do isolamento social (GAUVIN e SPENCE, 1996), há em
diversos países diminuição da realização de exercícios físicos (MARTINEZ-
GONZALEZ et al., 1999; TROIANO et al., 2001).
Os problemas em não se ter estratégias preventivas ou de controle para a
manutenção de um estilo de vida ativo estão associados ao fato do
descondicionamento, que segundo Pereira, Teixeira e Etchepare (2006) leva,
consequentemente a uma fragilidade, por exemplo no sistema musculoesquelético.
Os autores ainda apresentam o ciclo do envelhecimento, idealizado por
Nóbrega et al. (1999), sendo que para a presente proposta também pode ser feita
uma analogia em relação à inatividade física e problemas encontrados no trabalho –
problemas ocupacionais (Figura 13). Além de se estar associada ao envelhecimento,
a inatividade física pode comprometer as funções corporais e, teoricamente, aqueles
indivíduos mais condicionados fisicamente poderão se apresentar mais adaptados
às atividades do trabalho.
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FIGURA 13 – CLICLO VISIOSO INATIVIDADE FÍSICA - PROBLEMAS NO
TRABALHO
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Inciso I do Art. 20 – doença profissional → é entendida como aquela
produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a
determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo
Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
Inciso II do Art. 20 – doença do trabalho → é entendida como aquela
adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o
trabalho é realizado e com ela se relacione diretamente, constante da
relação mencionada no inciso I. No entanto, apesar da legislação igualar
doença e acidente de trabalho, eles se distinguem em dois aspectos, o
etiológico e o cronológico.
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FIGURA 14 – DESFECHOS DOS ACIDENTES DE TRABALHO E
CORRESPONDÊNCIA COM OS TIPOS DE BENEFÍCIOS DA PREVIDÊNCIA
SOCIAL NO BRASIL
FONTE: Santana et al.: Acidentes de trabalho: custos previdenciários e dias de trabalho perdidos.
Revista de Saúde Pública, v. 40, n. 6, p. 1004-1012, 2006.
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transtornos mentais, as doenças osteoarticulares, as doenças cardiovasculares, as
epilepsias e as doenças infectocontagiosas.
Curiosamente, os dados do INSS mostram que as aposentadorias emitidas
por invalidez, por exemplo, para o ano de 2008, ultrapassaram as emitidas em
função da idade (Figura 15), demonstrando necessidade de estratégias urgentes em
controle e prevenção dos casos de saúde/doença.
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homens e 96.199 para as mulheres). Estes auxilios apresentam valores de R$
257.242 (R$ 190.309 para os homens e R$ 66.934 para as mulheres).
Brasil (2001) faz referência à lista de doenças relacionadas ao trabalho 1,
citada na Portaria 1.339 de 18 de novembro de 1999 (ilustradas no Quadro 4).
Segundo Lopes, Mello e Ventura (2007), esta lista serve como um parâmetro
para que a lei seja aplicada e os benefícios sejam concedidos. Contudo, está
previsto na legislação que “a lesão corporal, a perturbação funcional ou a doença
não incluídas na lista” de doenças profissionais poderão ser indenizáveis, “(...) desde
que se prove serem consequências, necessárias e directas da atividade exercida e
não representem normal desgaste do organismo” (Código do Trabalho, Art. 310 2).
1
Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho pode ser encontrada em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/lista_doencas_relacionadas_trabalho.pdf
2
Código do Trabalho pode ser encontrado em: http://www.mtss.gov.pt/docs/Cod_Trabalho.pdf
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trabalho;
→ Grupo XI da CID-10: doenças do sistema digestivo relacionadas com o
trabalho;
→ Grupo XII da CID-10: doenças da pele e do tecido subcutâneo
relacionadas com o trabalho;
→ Grupo XIII da CID-10: doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo, relacionadas com o trabalho;
→ Grupo XIV da CID-10: doenças do sistema genitourinário relacionadas
com o trabalho;
→ GrupoXIX da CID-10: traumatismos, envenenamentos e algumas outras
consequências de causas externas, relacionados com o trabalho.
Além disso, pode-se dizer que as empresas também são responsáveis pela
tentativa de promover aos trabalhadores opções para uma vida mais saudável.
Consequentemente, estas propostas devem vir ao encontro da prevenção e do
controle dos adoecimentos.
A importância destas questões centra-se principalmente no fato de que a
motivação para a realização do trabalho e o desempenho dos trabalhadores está
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associado à qualidade de vida. Conte (2003) associou que funcionários com
qualidade de vida no trabalho são mais felizes e produzem mais.
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Associação Brasileira de Qualidade de Vida disponível em: http://www.abqv.org.br
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Desta forma, identifica-se que a abrangência da qualidade de vida engloba as
relações de trabalho, trabalhadores e organizações conforme as aborda Chaves
(2001).
Pode-se dizer que o tema qualidade de vida vem recebendo destaque em
várias áreas de pesquisa, e suas definições são tão numerosas e divergentes
quanto os métodos de avaliação (FERRISS, 2006). A investigação sobre qualidade
de vida ganha espaço quando se busca compreender e sugerir formas para que as
pessoas possam viver melhor, bem como orientar políticas públicas e tratamentos de
saúde que tratem o ser humano de forma mais ampliada (FARQUHAR, 1995).
Apesar da falta de consenso sobre o conceito de qualidade de vida, três
aspectos fundamentais referentes ao construto são apontados pela literatura: (1)
subjetividade; (2) multidimensionalidade e (3) presença de dimensões positivas
como mobilidade e negativas como a dor (WHOQOL, 1998).
Com relação à conceituação da qualidade de vida, Pereira et al. (2009)
realizaram uma revisão bibliográfica discutindo o tema. Resumidamente, os autores
associaram a qualidade de vida às questões de saúde, do estilo de vida e das
condições de vida.
No entanto, dependendo da área de interesse o conceito, muitas vezes, é
adotado como sinônimo de saúde (MICHALOS, ZUMBO e HUBLEY, 2000;
SCHMIDT, POWER e BULLINGER, 2005) felicidade e satisfação pessoal
(RENWICK e BROWN, 1996), condições de vida (BUSS, 2000), estilo de vida
(NAHAS, 2003), dentre outros; e seus indicadores vão desde a renda até a
satisfação com determinados aspectos da vida. Devido a essa complexidade,
conforme abordam Seild e Zanonn (2004) e Dantas, Sawada e Malerbo (2003),
qualidade de vida apresenta-se como uma temática de difícil compreensão e
necessita de certas delimitações que possibilitem sua operacionalização em análises
científicas.
Similar ao conceito de qualidade de vida, a qualidade de vida no trabalho
(QVT) também apresenta uma imprecisão conceitual (TEIXEIRA et al., 2009b), e
segundo Lacaz (2000), vem sendo normalmente relacionada às práticas
empresariais de qualidade total e sua discussão ganhou importância no pós-guerra
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pelo Plano Marshall de reconstrução da Europa, no qual os Estados Unidos buscou,
a partir de investimentos financeiros, alavancar a economia dos países aliados na
Europa.
Teixeira et al. (2009b) esclarecem que sua origem deu-se nos estudos de
Eric Trist e colaboradores na década de 50 na Inglaterra, no qual estudavam um
modelo macro para agrupar o trinômio indivíduo/trabalho/organização. Rodrigues
(1995) afirma que as preocupações com as condições de trabalho e influência
destas na produção e moral do trabalhador vieram a ser estudadas de forma mais
clara somente com a sistematização dos métodos de produção nos séculos XVIII e
XIX.
Na década de 60 o assunto ganhou impulso a partir de uma maior
conscientização dos trabalhadores e das responsabilidades sociais da empresa
objetivando um último plano para atingir altos níveis de produtividade, mas sem
esquecer a motivação e satisfação do indivíduo. Apesar disso, as preocupações com
qualidade de vida no trabalho foram em muitos momentos esquecidas frente às
mudanças do mercado, a economia internacional e a necessidade de mudanças das
formas de produção (RODRIGUES, 1995).
A partir dos anos 80 houve uma tendência que fundamentou a qualidade de
vida no trabalho na maior participação do trabalhador na empresa, na perspectiva de
tornar o trabalho mais humanizado, vendo os trabalhadores como indivíduos ativos
dentro do contexto da produção, sendo que sua realização pessoal está baseada no
desenvolvimento e aprofundamento de suas potencialidades enquanto trabalhador e
ser humano. Até então a preocupação sobre prevenção dos acidentes e doenças
tidas como diretamente relacionados ao trabalho era o foco principal. A superação
disso veio na discussão de outros tipos de agravos relacionados principalmente à
saúde do trabalhador e que não pareciam diretamente ligados ao trabalho (LACAZ,
2000).
Recentemente, Timossi et al. (2009) realizaram um estudo associando a
avaliação da qualidade de vida no trabalho e o modelo de Walton (1973) que
segundo os autores é o mais aceito e utilizado pelos pesquisadores brasileiros que
buscam relacionar a qualidade de vida e o trabalho. Desta forma, os autores
apresentam, mediante adaptações de Fernandes (1996) e Detoni (2001), o modelo
de qualidade de vida no trabalho de Walton (1973).
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Este modelo, conforme indicam Timossi et al. (2009), apresenta oito
categorias conceituais que enfatizam os fatores de influência na qualidade de vida
no trabalho: compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso das
capacidades, oportunidades, integração social, constitucionalismo, trabalho e vida,
relevância social, assim como segue.
→ Condições de trabalho
Aborda as condições físicas e a jornada de trabalho às quais o
trabalhador é submetido em seu emprego. Os aspectos constituintes
destes fatores são: pagamento de horas extras para trabalhos que
excedem a carga horária semanal prevista; condições de trabalho que
diminuam o risco de acidentes e propensão às enfermidades; imposição
de limites (máximo ou mínimo) de idade quando o trabalho pode ser
prejudicial para determinada faixa etária. Para que as condições de
trabalho sejam adequadas, devem ser minimizados os fatores que
podem prejudicar a atuação do trabalhador, como odores, ruídos ou
poluição visual.
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Fonte: Timossi et al. (2009).
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b) aplicações futuras: deve haver a expectativa da utilização de
novos conhecimentos e habilidades no âmbito empresarial;
c) oportunidades de avanço: deve haver a possibilidade de
crescimento do trabalhador, ascensão de cargo e plano de carreira.
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a) privacidade: o trabalhador deve possuir o direito de privacidade
pessoal, como o sigilo de aspectos da vida pessoal e familiar;
b) liberdade de expressão: deve haver o direito de discordância das
visões e decisões dos superiores da organização, sem que haja
qualquer forma de repressão;
c) equidade: o direito ao tratamento igualitário aos trabalhadores
deve ser presente em todas as ocasiões, incluindo o pagamento,
benefícios e segurança no trabalho;
d) igualdade perante a lei: todos os trabalhadores devem possuir as
mesmas oportunidades em todos os aspectos do trabalho, da
privacidade e no que diz respeito à expressão de suas ideias.
Com as características do mundo atual, pode-se dizer que cada vez mais as
empresas que desejem sobreviver e perpetuar-se deverão investir nas pessoas. Isto
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representa maior produtividade, menores custos de assistência médica, melhor e
maior satisfação interna, melhor imagem externa e maiores lucros (MERINO e
TEIXEIRA, 2010).
Os prejuízos em não manter um indivíduo saudável dentro das organizações
repercurtem tanto nas questões sociais quanto nas questões econômicas para o
Estado, empresas e indivíduo.
Para a empresa, há redução no número de trabalhadores e de horas
trabalhadas, o que provoca uma perda na produção e na qualidade do serviço; para
o Estado, no Brasil, as despesas recaem sobre o Ministério da Previdência Social
que, por meio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), tem a missão de
garantir o direito à previdência social. Esta é definida como um seguro social
destinado a reconhecer e conceder direitos aos segurados, cujas contribuições
destinam-se ao custeio de despesas com vários benefícios, sendo entre eles, a
compensação pela perda de renda quando o trabalhador encontra-se impedido de
trabalhar por motivo de doença, invalidez, idade avançada, morte, desemprego
involuntário, maternidade ou reclusão (DE LUCCA, 1994; CANDEIAS, 1997;
SANTANA et al., 2006). Além disso, o estudo de Santana et al. (2006) demonstrou
que os custos previdenciários, publicados regularmente nos Anuários da Previdência
Social, tornam-se um problema de saúde pública e ainda necessitam da atenção de
empresários, gestores e profissionais da saúde. Segundo os autores, o problema de
acidentes ou de doenças do trabalho ainda são negligenciados.
Para o indivíduo trabalhador, conforme identificado na Figura 19, há
sofrimento, levando-o a um nível de incapacidade não só para o trabalho, mas para
grande parte das atividades cotidianas (DE VITTA, BERTAGLIA e PADOVANI,
2008). Guérin et al. (2001) complementa ainda que as consequências para os
trabalhadores alastram-se em sua vida profissional, social e econômica.
Silva e Marchi (1997) confirmam as informações de Guérin et al. (2001); De
Vitta, Bertaglia e Padovani, (2008) e indicam que as ações de implementação de
programas de qualidade de vida podem alcançar benefícios que contemplam tanto o
próprio trabalhador quanto a empresa.
Segundo Silva e Marchi (1997), para os indivíduos são encontrados os
seguintes benefícios:
- Melhor relacionamemento;
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- Melhor autoimagem;
- Maior eficiência no trabalho;
- Maior motivação;
- Maior estabilidade emocional;
- Maior resistência ao estresse.
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