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XII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 07 a 09 de novembro de 2005.

Prevenção das Ler/Dort em bancários.

Ana Maria Saraiva Coneglian (UNESP) anasconeglian@aol.com

João Guarnetti dos Santos (UNESP) guarneti@feb.unesp.br

Abílio Garcia Filho Santos (UNESP) pg@faac.unesp.br

Resumo
Este artigo faz uma revisão bibliográfica breve, se utilizando de artigos mais recentes publicados
sobre as formas de prevenção em Ler/Dort, mostra dados estatísticos da doença, discorre sobre
o sistema bancário e o sujeito bancário. Faz um breve histórico da ergonomia no Brasil, dá
definições e classificações desta ciência. Aponta dois meios preventivos para os bancários: a
ginástica laboral e o projeto ergonomicamente concebido para o posto de trabalho.
Palavras-chave: Ler/Dort; Bancários; Prevenção; Ergonomia.

1. Introdução
Este estudo faz uma revisão bibliográfica, utilizando artigos mais recentes publicados sobre as
formas de prevenção da Ler/Dort, mostra dados estatísticos sobre a doença, discorre um pouco
sobre a história da legislação que beneficia o trabalhador acometido por este mal e questiona a
situação deste indivíduo hoje no seu trabalho, tendo que contar com a nova nomenclatura.
A palavra prevenir tem o significado segundo o dicionário do Aurélio, de: dispor com
antecipação; preparar, chegar antes de; adiantar-se ou antecipar-se a, dispor de maneira que evite
dano ou mal, evitar; impedir que se realize; ir ao encontro de; interromper, cortar, ...
Segundo MACIEL, prevenir é eliminar as causas de algum evento antes que ele aconteça, então
prevenir Ler/Dort significa eliminar ou neutralizar os eventos ou condições que levam ao seu
aparecimento. MACIEL pontua a importância desta definição porque em alguns locais de
trabalho, a gerência e até mesmo os trabalhadores, acreditam que a prevenção está relacionada ao
tratamento e diagnóstico das afecções. Estes aspectos são importantes na visão da autora para
garantir a saúde e o bem estar dos trabalhadores e o diagnóstico precoce das afecções pode ser
importante para evitar o aparecimento de novos casos ou agravamento dos já existentes, mas não
são sinônimos de prevenção. A empresa pode ter um bom programa médico de acompanhamento
dos afetados para Ler/Dort, mas não ter um programa de prevenção eficiente.MACIEL supõe que
prevenir é eliminar ou neutralizar as causas do problema, para isso deve se investigar quais são as
causas ou condições que estão associadas ao aparecimento da Ler/Dort. Dentre as causas está a
organização do trabalho: tarefas repetitivas e monótonas, obrigação de manter um ritmo
acelerado de trabalho, excesso de horas trabalhadas e ausência de pausas; ambiente de trabalho:
mobiliário e equipamentos que obrigam a adoção de posturas incorretas durante a jornada;
condições ambientais impróprias: má iluminação, temperatura inadequada, ruídos e vibrações;
fatores psicossociais: estresse no ambiente de trabalho.
Dentre as causas apontadas acima, somente as condições ambientais acima citados não fazem
parte dos problemas enfrentados pelos bancários, todos os outros itens são adequados e precisam
de uma intervenção ergonômica.
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De acordo com dados obtidos por O’NEILL, 2000, a cada 100 trabalhadores do estado de São
Paulo, 1 apresenta sintomas de LER/DORT, segundo a Organização Mundial de Saúde.
O Sistema Nacional de Saúde dispende uma enormidade de gastos, embora esta contabilização
não seja precisa, estima-se, no entanto que as empresas tenham um gasto de aproximadamente
89.000 reais por ano, por funcionário, entre encargos sociais, afastamento, substituição deste
trabalhador por outro, etc., dados fornecidos pelo INSS. Dá para perceber que este é um problema
que afeta aos dois lados: tanto o empregado, quanto o empregador, então a prevenção deve ser
um objetivo comum a ser alcançado por ambas as partes. Parece óbvio e claro este interesse
comum, mas na prática, a teoria se distancia um pouco desta praticidade.(Figura 1)

Fonte:http://www.spbancarios.com.br/spb/saúde.asp
Figura 1 - Empregado e empregador armados

Faz-se pertinente fazer um breve relato sobre a nomenclatura da doença e o que afetou e talvez
afastou este beneficiário de seus direitos, um breve histórico da ergonomia no Brasil, definições e
classificação desta ciência para poder entender um pouco mais sobre a sua importância para o
homem que produz e que portanto deve desenvolver a consciência cada vez maior de si próprio e
como se situar diante de um sistema produtivo para retirar as benesses, não apenas aquelas que se
apresentam de forma concreta, mas também aquelas que estão engendradas no cerne do porquê
de ser ativo, ou seja de se encontrar o prazer do trabalho; a importância de se relatar sobre o
sistema bancário; o bancário como era e como está nos dias de hoje, as estatísticas e finalmente
apontar soluções para alguns dos problemas.

2. Ler ou Dort?
O’NEILL, 2000 disse que apenas em 1987 esta patologia foi reconhecida pela Previdência Social,
como doença ocupacional, classificada como “tendinite do digitador”. Em 1993, obteve o nome
de Lesões por Esforços Repetitivos e em 1998 houve uma mudança nessa nomenclatura e nas
normas do INSS, de lesões para distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho(DORT).
O significado das palavras lesão e distúrbio no dicionário do AURÉLIO, 1994 são:
lesão: ato ou efeito de lesar; dano, prejuízo; no jurídico – violação de um direito; na medicina –
dano produzido em estrutura ou órgão; lesão corporal: ofensa à saúde ou à integridade corporal
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de alguém; distúrbio: ato de disturbar; perturbação; ato de disturbar: causar distúrbio, perturbar.
Nessa procura pelo significado destas palavras, é possível entender o porquê da mudança da
nomenclatura de lesão para distúrbio, na lesão, o indivíduo foi prejudicado, teve um dano real em
sua saúde, é mais fácil, portanto conseguir os direitos pertinentes a ele, já no distúrbio, há uma
névoa, não há clareza, uma perturbação, há que se investigar mais e mais... É possível fazer uma
amarração no pensamento, quando se entra no portador, na sua realidade, o que ele sente, trata-se
de uma doença invisível, esse fato traz uma forte conseqüência o preconceito e aumenta ainda
mais a nebulosidade sobre o diagnóstico. Apesar de ser altamente incapacitante, apenas em
estágios mais avançados da doença é que poderá haver sinais laboratoriais que comprovem
efetivamente e possibilitem a emissão da CAT(comunicação de acidente de trabalho) por
motivo, o que dá a configuração de doença ocupacional. Além do que há hoje um grande medo
por parte dos trabalhadores de terem em sua carteira de trabalho esta “mancha”, se por acaso
perderem o emprego, aonde haverão de encontrar outro com este passado? Como se o empregado
fosse o completo responsável por estar doente, não é a intenção, no entanto, deste artigo de retirar
toda a sua responsabilidade e sim dar-lhe subsídios para um maior enfrentamento dessa situação,
enfrentamento este, focado em uma consciência plena e responsável sobre seus direitos,
baseados nos deveres, que por conseguinte deverão ser seguidos de uma forma compartilhada,
quando se há consciência, a possibilidade de crescimento pode ser mais real e portanto estes
deveres poderão ser mais respeitados.

3. Ergonomia
3.1 Um breve histórico da ergonomia no Brasil
Segundo MORAES apud GONÇALVES, 1995, a ergonomia surgiu por volta dos anos 60,
quando Sergio Penna Kehl, no curso de Engenharia de Produção da Politécnica da USP, faz uma
abordagem sobre o tema. Em 1966, o professor Karl Heinz Bergmiller inicia o ensino da
engenharia para o desenvolvimento de projetos de produtos na ESDI (Escola Superior de
Desenho Industrial), segundo o modelo de Tomás Maldonado. Os professores Rozestraten e
Stephaneck em 1967 se instalam na USP de Ribeirão Preto e implantam uma linha de psicologia
ergonômica com ênfase na percepção visual e com aplicação no estudo do trânsito. Em 1968,
Itiro Iida leciona na pós-graduação de Engenharia de Produção na COPPE/UFRJ, fazendo do
curso um centro de conhecimentos de ergonomia. Em 1970 o professor Franco Lê Presti propicia
a vinda do professor Alain Wisner ao Brasil, que possibilitou um grande incentivo para a
ergonomia brasileira e orientou muitos trabalhos na Fundação Getúlio Vargas. Em 1974
aconteceu o Primeiro Seminário Brasileiro de Ergonomia, que foi um marco na história da
ergonomia brasileira. Em 1975, foi implantado o primeiro curso de especialização no Brasil, na
Fundação Getúlio Vargas. Em 1983 foi fundada a ABERGO (Associação Brasileira de
Ergonomia). Em 1985 foi implantado o setor de ergonomia na FUNDACENTRO. Em 1993, foi
criado na UFSC o primeiro mestrado em ergonomia no Brasil.
Por esses relatos é possível perceber que a ergonomia nasce junto com o Desenho Industrial no
Brasil e claro a ergonomia deve estar atrelada ao Design, sendo inerente a ele.

3.2 Definições e classificações


MORAES conceitua a ergonomia como tecnologia projetual das comunicações entre homens e
máquinas, trabalho e ambiente.
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BUNGE apud MORAES classifica a atuação da ergonomia tendo como teoria tecnológica
substantiva e teoria tecnológica operativa.
A teoria tecnológica substantiva diz que a ergonomia busca através de pesquisas descritivas e
experimentais, sobre limiares, limites e capacidades humanas (a partir de dados da fisiologia, da
neurofisiologia, da psicofisiologia, da psicologia, da psicopatologia, da biomecânica,
principalmente aplicadas ao trabalho, bem como da anatomia e da antropometria), fornecer bases
racionais e empíricas para adaptar ao homem bens de consumo e de capital, meios e métodos de
trabalho, planejamento, programação e controle de processos de produção, sistemas de
informação.
A teoria tecnológica operativa diz que a ergonomia objetiva através da ação, resolver os
problemas da relação entre homem, máquina, equipamentos, ferramentas, programação de
trabalho, instruções e informações, solucionando os conflitos entre o humano e o tecnológico,
entre a inteligência natural e a “inteligência” artificial nos sistemas homens x máquinas. Tais
conflitos se expressam através de custos humanos do trabalho para o operador: fadiga, doenças
profissionais, lesões temporárias ou permanentes, multilações, mortes e de acidentes, incidentes,
erros excessivos, paradas não controladas, lentidão e outros problemas de desempenho, assim
como danificação e má conservação de máquinas e equipamentos, que acarretam decréscimos na
produção, desperdício de matérias primas, baixa qualidade dos produtos, o que acaba por
comprometer a produtividade do sistema homem x máquina.
A ergonomia tem como centro focal de seus levantamentos, análises, pareceres, diagnósticos,
recomendações, proposições e avaliações, o homem como ser integral. A vocação principal da
ergonomia é recuperar o sentido antropológico do trabalho, gerar o conhecimento atuante e
reformador que impede a alienação do trabalhador, valorizar o trabalho como agir humano
através do qual o homem transforma e transforma a sociedade, como livre expressão da atividade
criadora, como superação dos limites da natureza pela espécie humana. (MORAES, 1992)

4. Sistema bancário
GONÇALVES, 1995 relata que os bancos seguiram a evolução ocorrida em todo o mundo nos
últimos anos. A população atendida pelos bancos cresce a cada dia e os seus serviços estão cada
vez maiores, em número. A intermediação dos bancos inclui salários, contas de serviços públicos,
impostos, empréstimos, financiamentos e outras operações.
FLEURY apud GONCALVES,1995,aponta que além da multiplicidade de serviços prestados, os
bancos apresentam um papel ativo dentro da economia, influenciando, mesmo sem produzir nada
materialmente.
Por outro lado, a evolução ocorrida no trabalho bancário não parece muito promissor. No
passado, o trabalho bancário oferecia certo grau de “status”, era visto como um trabalho
intelectual e as exigências para o ingresso no setor iam até o diploma de contabilidade. Nos dias
atuais, o que se percebe são trabalhos rotineiros, parcelados, repetitivos, que podem levar ao
estresses (figura 2).
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Fonte: www.bancariosal.com.br/.../expediente75.html

Figura 2 - Bancário estressado

A mais alta hierarquia, a alta administração é aquela que toma as decisões estratégicas. Os
departamentos de apoio são aqueles que tratam de forma operacional as questões definidas no
nível superior. As agências são os setores onde se distinguem os serviços de atendimento ao
público e a retaguarda que oferece o suporte necessário ao atendimento.
Os principais aspectos da evolução do sistema bancário brasileiro são: crescimento, dispersão
geográfica e diversificação dos serviços. Houve uma centralização do processo administrativo
que deu como conseqüência uma padronização das rotinas e atividades.
Em 1980 a informatização dos serviços começa a chegar aos clientes.
GUIMARÃES apud GONÇALVES, 1995 faz uma imagem do futuro dos bancos: “todos os
bancos estarão aparelhados a atender a clientela 24 horas/dia, durante toda a semana, sem
precisar se deslocar dos locais de trabalho, bastando para isso pagar pelo serviço. As agências
serão menores e seu trabalho será mais racional, graças ao desenvolvimento dos recursos
informatizados e aos outros serviços”. Este futuro que Guimarães em 1991 vislumbrou já faz
parte do nosso presente.

4.1 Ler/Dort em bancários


SANTOS apontou os principais fatores contributivos para o desenvolvimento das Dort no setor
bancário diagnosticado nas análises ergonômicas são: posturas incorretas, movimentos
biomecânicos com sobrecarga muscular estática e dinâmica, exigências de produção, jornadas de
trabalho contínuas e prolongadas na mesma tarefa, ritmo de trabalho intenso, mobiliário
inadequado, equipamentos posicionados incorretamente sobre o mobiliário, ambientes de
trabalho mal planejados arquitetonicamente e condições ambientais que não atendem às
recomendações normativas da NR – 17 e de outras normas relativas à segurança e Medicina do
Trabalho.
Em análises ergonômicas realizadas em agências bancárias, os principais problemas detectados
foram: Dort, distúrbios oculares, varizes, dores no corpo e dor de cabeça, problemas
gastrintestinais, irritabilidade, ansiedade, depressão e estresse, problemas cardíacos, insatisfação
no trabalho, desmotivação, monotonia e erros operacionais freqüentes.
Com estes problemas detectados e com as informações disponíveis nos SESMETS dos próprios
bancos, no Sindicato dos Bancários e CRSTs(Centro de Referência de Saúde do Trabalhador),
fica evidenciada a necessidade e importância dos fatores humanos na concepção e/ou adaptação
no projeto dos postos de trabalho com computador, e também, na organização do trabalho deste
importante setor da economia.
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Todas estas inadequações causam problemas de saúde ocupacional, elevado índice de


absenteísmo, baixo desempenho dos funcionários na realização das tarefas e erros operacionais
freqüentes.

5. Dados Estatísticos
No Brasil, o sistema nacional de informação do Sistema Único de Saúde não inclui os acidentes
de trabalho em geral e nem LER/DORT, em particular, o que não permite se ter dados
epidemiológicos que cubram a totalidade dos trabalhadores, independentemente de seu vínculo
empregatício. Os dados disponíveis são aqueles da Previdência Social, que se referem apenas aos
trabalhadores do mercado formal e com contrato trabalhista regido pela CLT, o que totaliza
menos de 50% da população economicamente ativa (FUNDAÇÃO IBGE, 1991). Cabe ressaltar
que esses dados são coletados com finalidades pecuniárias e não epidemiológicas.
Feitas essas ressalvas, na tabela 1 pode-se constatar que das doenças consideradas ocupacionais
pelos critérios da Previdência Social, o grupo das “tenossinovites e sinovites”, da Classificação
Internacional de Doenças, no qual foram codificadas as LER/ DORT, é amplamente majoritário.

Código Internacional de
Total Típico Trajeto Doença
Doença – CID
Sinovite e tenossinovite 12.258 2.605 126 9.527
Condições suspeitas não
2.761 1.823 261 677
especificadas
Lumbago 3.060 2.727 92 241
Convalescença 6.149 5.047 926 176
Fonte: Comunicação de Acidentes de Trabalho, CAT, DATAPREV.
Tabela 1 - Distribuição de acidentes de trabalho no Brasil, segundo algumas doenças mais incidentes em 1997

É importante ressaltar que nem todos os acidentes de trabalho registrados no ano de 1997 estão
representados nesta tabela 1. No caso das doenças, por exemplo, foram registrados nessa tabela,
cerca de um terço do total de doenças.
Estes dados e os da tabela 2 a seguir permitem concluir que o aumento de casos de doenças
ocupacionais registrado pela Previdência Social a partir de 1992 deu-se às custas de LER/DORT,
a despeito da subnotificação existente (IOT-HCFMUSP; CEREST/SP-SES; SMS Campinas,
1998).
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Ano Freqüência
1982 2.766
1983 3.016
1984 3.233
1985 4.006
1986 6.014
1987 6.382
1988 5.025
1989 4.838
1990 5.217
1991 6.281
1992 8.299
1993 15.417
1994 15.270
1995 20.646
1996 34.889
1997 29.707
Total 171.006

Fonte: Boletim Estatístico de Acidentes do Trabalho - BEAT, INSS (Protocolo LER Ministério da saúde).

Tabela 2 - Distribuição de doenças ocupacionais no Brasil segundo ano, entre 1982 a 1997

De acordo com dados da Fundacentro, que coletou a partir das comunicações de acidente de
trabalho (CAT) por motivo, o que configura as doenças do trabalho:
Brasil: Média anos 70: 3.227 Estado de São Paulo: 2001: 7479;
Média anos 80: 4.220; 2002: 8860.
Média anos 90: 19.706;
No ano 2000: 19.605;
No ano 2001: 18.487;
No ano 2002: 20.886;
A partir desses números é possível perceber que a média nesta década atual vêm se mantendo ou
até aumentando em relação à década passada, sinalizando uma necessidade de intervenção
ergonômica, baseada em levantamentos mais apurados em postos de trabalho de risco.
Pesquisa Data Folha realizada em julho de 2001, apontou 310.000 trabalhadores paulistanos
(14%) portadores de Ler/Dort. Fica evidenciado que há uma incongruência nos dados da
Fundacentro com os dados obtidos pela pesquisa Data Folha. A questão não é duvidar da
metodologia e/ou da seridade dos órgãos acima citados, mas sim levantar um questionamento de
como são levantados os números e aonde buscá-los, pois é certo que não há uma centralização
desta estatística e este fato deixa ainda mais confuso os doentes e postos de trabalho
contaminados por este mal, à mercê de toda a sorte de riscos, sendo que daria para ser mais
combativa esta enfermidade no campo da prevenção.
O sindicato dos bancários no ano de 2000, relacionou a incidência de Ler/Dort com o stress.

6.Prevenção Ler/Dort em bancários


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MACIEL disse que a conscientização ergonômica passa pela implicação e humanização da


organização do trabalho, tanto dos funcionários, como dos diretores. Há que se retirar as
máscaras, desnudar a doença, dizer sobre ela, tanto no plano dos subordinados, quanto no plano
dos que detém as ordens.

Fonte: http://www.coshnetwork.org/caderno9%20ler-dort.pdf
Figura 3 - Os sintomas mascarados

No caso dos bancários, necessariamente passa pela organização do trabalho, pressões excessivas,
fomentando sensações e sentimentos que possam disparar o gatilho das dores corporais.
Dentre os músculos mais afetados pelos riscos estão o deltóide e os trapézios.
Os músculos do ombro são muito utilizados no trabalho em bancos.
A área do "músculo deltóide" (figura 4) é uma das que geram desconforto quando se trabalha no
computador por tempo prolongado. Isto por ser uma das regiões responsáveis em manter a
elevação do braço.

Fonte: www.drsergio.com.br/erghtm/aombr.html

Figura 4 - Músculo deltóide

Geralmente associa-se também um desconforto na região do "músculo trapézio" (figura 5), pois
para manter-se o braço elevado, toda a região do ombro é elevada por ele.
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Fonte: www.drsergio.com.br/erghtm/aombr.html

Figura 5 - Músculo trapézio

Os meios preventivos propostos neste estudo, no entanto, não privilegiam a organização do


trabalho, precisando para isso de um levantamento mais detalhado para exposição à níveis
superiores dos custos/benefícios da intervenção nesta sistematização. As soluções propostas são:
atividades corporais e projeto ergonômico no posto de trabalho.

7. Atividades corporais
Dentre as inúmeras atividades corporais que podem trazer benefícios para esta população está a
ginástica laboral.
Segundo ZILLI, ginástica laboral ou cinesioterapia é uma das ferramentas de que dispomos na
área da saúde, somada à ergonomia, que preconiza o bem-estar do trabalhador. Ginástica de
pausa ou cinesioterapia/ginástica laboral é um tipo de atividade física executada no próprio local
de trabalho, justificada pelo seu próprio nome, pois laboral vem de labor, que significa trabalho.
Ginástica nas empresas, ginástica matinal, ginástica preparatória, ginástica de pausa, ginástica
compensatória, ginástica corretiva, ginástica no trabalho, cinesioterapia... essas são algumas
denominações e/ou formas de atuação da ginástica laboral.
ZILLI prefere o termo Cinesioterapia Laboral. “Cinesio” significa movimento; “terapia” significa
tratamento e “laboral” vem de labor, que significa trabalho. Então, o tratamento através do
movimento no ambiente de trabalho passa a ser uma ferramenta na prevenção e terapêutica dos
possíveis distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e doenças ocupacionais
diretamente relacionadas ao sistema músculoesquelético.
A ginástica laboral pode ser considerada também um momento de sociabilização. Através do
encontro de colegas de trabalho para desenvolver atividades físicas e lúdicas agradáveis, ocorre a
valorização do grande grupo e de cada um em particular. Além disso, a ginástica laboral pode ser
tida também como um espaço onde as pessoas podem, por livre e espontânea vontade, exercer
várias atividades e exercícios que estimulam o auto-conhecimento, levando à ampliação da
consciência.

7.1. Tipos de ginástica laboral


Existe 3 tipos de realizar a ginástica laboral:
- Primeiro: Ginástica preparatória ou de aquecimento, feita no início da jornada de trabalho,
com duração de 10 a 12 minutos e com o objetivo principal de trabalhar os grupos musculares,
aquecendo-os e despertando-os para melhorar a disposição no trabalho;
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- Segundo: Ginástica compensatória ou de distensionamento, realizada nos momentos de


pausa durante a jornada de trabalho, com duração de 5 a 8 minutos, com o objetivo de quebrar a
monotonia operacional, alongando e reduzindo as tensões musculares oriundas de posturas
estáticas e movimentos repetitivos;

- Terceiro: Ginástica de relaxamento, feita no final do expediente de trabalho, com duração


de 10 a 12 minutos, com o objetivo de oxigenar e relaxar os músculos, evitando, assim, o
acúmulo de ácido lático.
Os 3 tipos são executados em horários e de maneiras distintas e devem ser executadas de forma
harmônica.
Os objetivos da ginástica são: melhorar a postura durante o trabalho; equilibrar os gestos do
trabalhador (músculo agonista e antagonista); promover o bem-estar geral; aumentar a
produtividade; diminuir o absenteísmo e a rotatividade; diminuir os acidentes de trabalho;
melhorar a qualidade total e diminuir o estresse.
Diante destes objetivos tão audaciosos e ambiciosos, deve-se ressaltar que a ginástica laboral por
si só, não resolve os problemas ergonômicos daquele ambiente de trabalho e é preciso estar
atento a todas as interfaces, para se recorrer a ergonomia e poder instalar de fato um programa
preventivo.

8. Projeto ergonômico do posto de trabalho


O projeto deve ser concebido para o posto de trabalho bancário e suas determinadas funções,
nascem de um minucioso levantamento de estudos e diagnósticos e assim ficam divididos,
segundo SANTOS:
- estudo antropométrico: estatura de clientes e operadores de ambos os sexos, 1,60 metro
para o mínimo até 1,80 metro para o máximo, procurando ser o mais abrangente possível;
- análise biomecânica: estudo das posturas de trabalho, dos movimentos corporais
necessários na realização das tarefas e dos alcances físicos e visuais necessários na realização das
tarefas durante a jornada de trabalho;
- análise das tarefas: estudo detalhado das tarefas e atividades realizadas, de forma a
detectar o trabalho real e o trabalho prescrito, a sobrecarga de trabalho, bem como, as ligações e
interdependências de pontos de trabalho no mesmo processo de produção, entre outras;
- mock-up de testes ergonômicos: construir mock-up para realização de testes com
simulações das operações bancárias, utilizando-se os equipamentos de uso nos diferentes postos
de trabalho.
-
Estes testes devem ser divididos em 2 grupos: testes antropométricos e os testes biomecânicos.
Os testes em mock-ups dos postos de trabalho devem ser feitos com operadores de ambos os
sexos, de diferentes estaturas e com níveis diferentes de aptidão e experiência na realização das
tarefas.
Os testes permitem avaliar o dimensionamento do mobiliário e a adaptabilidade destes para
diferentes estaturas de funcionários e clientes, a posição dos equipamentos de operação sobre os
planos de trabalho e também as preferências pessoais na utilização dos equipamentos.

9. Considerações finais
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Depois de todo o relato é possível perceber que o bancário portador de Ler/Dort não carece de
leis que o protejam, mas carece sim, de consciência em seu ambiente de trabalho para que se
instale um ambiente equilibrado e favorável.
Houve um retrocesso para o trabalhador nas normas e nomenclaturas vigentes em 1993 às
mudanças ocorridas em 1998, obrigando os personagens deste drama se readaptarem,
personagens estes que são os portadores e os profissionais envolvidos. Os doentes vivenciaram
mais intensamente a sua via crucis, pois conseguir uma CAT por motivo se tornara muito mais
difícil. Pelo outro lado, o médico do trabalho foi mais exigido e ficou mais exigente em emitir a
CAT por motivo, havia agora uma série de restrições.
A situação do bancário hoje é um sujeito submetido a diversas pressões oriundas do próprio
sistema. Apesar de se evidenciar problemas na organização do trabalho, o objetivo deste estudo é
mostrar algumas soluções práticas para adaptar o posto de trabalho na sua concepção para o
bancário, projetando postos ergonomicamente corretos e oferecendo a ginástica laboral, para
melhorar a qualidade de vida deste funcionário, estes dois meios que fazem parte de um
programa de prevenção para Ler/Dort nos bancários.
É importante salientar que um programa completo de prevenção é muito mais abrangente, este
artigo, no entanto se restringe aos caminhos diretamente relacionados com os fatores
biomecânicos, adaptando-os ao funcionário.

Referências
FERREIRA, A. B. de H. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Obra em 19 fascículos semanais
encartados na Folha de São Paulo, de outubro de 1994 a fevereiro de 1995.
FUNDACENTRO. Estatística Ler/Dort. Disponível em: < http://www.fundacentro.gov.br > Visitado em
06/06/2005.
GONÇALVES, C.F. F. Ergonomia e qualidade do serviço bancário: uma metodologia de avaliação.
Florianópolis, 1995. Tese de doutorado. Disponível em: <
http://www.eps.ufsc.br/teses/cristina/capit_2/cap2_crihtm#2 > Visitado em 30/05/2005.
INSTITUTO DATAFOLHA. Opinião pública de 06/10/2001. Disponível em: <
http://www1.folha.uol.com.br/folha/datafolha/ > Visitado em 05/06/2005.
MACIEL, R. H. Prevenção da Ler/Dort. O que a ergonomia pode oferecer.. Cadernos de Saúde do Trabalhador.,
Disponível em: <htpp:// www.coshnetwork.org/caderno9%20ler-dort.pdf > Visitado em 25/05/2005.
MORAES, A. Ergonomia. Disponível em: <http://www.venus.rdc.puc-rio.br/moraergo/define.htm> Visitado em
27/05/2005.
O’NEILL, M. J., 2000. Prevenir é conhecer. A sociedade precisa inteirar-se do que são Ler/Dort, bem como das
formas de prevenção. Folha de São Paulo, 29/02/2000. Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/prevler/artigos/art-fsp29fev.htm > Visitado em 06/06/2005.
SANTOS, Carlos Mauricio Duque dos. DAC ERGONOMIA & DESIGN. Disponível em: <
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SILVA, S. C. Ergonomia. Saúde Ocupacional. Ergonomia em Escritórios. Disponível em: <
http://www.drsergio.com.br/erghtm/aombr.html > Visitado em 01/08/2005.
SINDICATO DOS BANCÁRIOS – CUT – Saúde – Publicações da Secretaria (arquivos em PDF). Disponível
em: < http://spbancarios.com.br/spb/saude.asp > Visitado em 06/06/2005.
ZILLI, C.M. Ginástica Laboral. Disponível em: < www.cbesaude.com.br > Visitado em 29/05/2005.

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