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Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Curso de Psicologia

NOTA: PROFESSOR(a):
SEMESTRE: 7 BIMESTRE: 1º
Aline Souza Martins
1160836
CURSO: Psicologia DATA: 21/03/24

Nomes: Tobias Schmidt Mattos Lopes Pereira RA: 10388606


Beatriz Alves de Santana RA: 10381422
Tainá Araújo Cruz Bevilacqua RA: 10382477
Matheus Amendola De Gino RA: 10381581

Atividade de Participação - Teorias e Técnicas Psicoterápicas Psicodinâmicas ENEX51593

I) Responda às seguintes questões e use como argumento pelo menos dois autores
estudados no curso até o momento para cada resposta. As respostas devem ser
estruturadas com introdução, desenvolvimento e conclusão e os grupos devem ter
em torno de 4 pessoas.

1) Discuta o conceito de complexo de Édipo pensando sua relação com as


estruturas de poder dentro da nossa sociedade.

O Complexo de Édipo é uma teoria desenvolvida por Sigmund Freud para


descrever um estágio do desenvolvimento psicossexual da criança em que esta se
apaixona pela mãe e cria uma rivalidade com o pai. Diante disso, tem-se o
fenômeno da castração, em que o sujeito é frustrado pela força punitiva do pai e
vê-se submetido à lei. Para compreender melhor como esse processo ocorre e
como está relacionado com as estruturas de poder na sociedade, podemos recorrer
ao livro “As políticas de Psicanálise”, de Stephen Frosh, em que o autor descreve e
explora essa conjectura.
Para estabelecer a relação entre Édipo e Poder, Frosh explora o postulado
por Freud em “Totem e Tabu” que, em dado momento, houve uma “horda primeva”
em que havia um pai com tantas mulheres quanto desejasse, e seus filhos
revoltados, viram-se contra ele. Essa agressividade contra o pai tinha origem no
ódio que, como descreve Freud, fazia parte também de uma lógica ambivalente na
qual também estava presente o amor. Essa contradição fez com que, após o
parricídio, imperasse a culpa e o remorso, e desta forma, os irmãos incorporaram a
autoridade do pai mesmo quando este já não estava presente. Desta forma, vê-se
como o pai (enquanto representação e não enquanto corpo) é, de maneira
primordial, a introdução do sujeito às leis e a cultura, uma vez que há a introjeção
das figuras de autoridade a partir do complexo de castração, e desta maneira, “a
civilização não é um presente para as pessoas em busca de sua satisfação
instintual”.
O princípio do prazer rege a vida do indivíduo até sua castração e a formação
do super-eu, e a culpa internalizada se torna um artifício para que se faça possível a
convivência entre os homens. No entanto, há um debate: este é um modelo que tem
sua origem nas formações da sociedade burguesa e assumir a sua reprodução em
toda a espécie humana, incluindo diferentes culturas e sociedades, é um ato
conservador e reducionista. Além disso, a linha de raciocínio desenvolvida por
Freud reproduz uma lógica que assume a natureza humana como inerentemente
destrutiva, legitimando a repressão social. Frosh argumenta que “quanto maior a
repressão, maior o sentimento de culpa”, e a generalização dos mecanismos de
repressão tiram do indivíduo a sua capacidade de controle instintivo e criam um
sistema de repressão que se retroalimenta, em que uma atuação coletiva resulta,
muitas vezes, num intenso sofrimento individual.

2) Problematize a relação entre cuidado com as categorias de classe, raça e


gênero na psicanálise.
Na psicanálise, o cuidado está ligado à função estruturante na
constituição de nossa subjetividade, sendo que o trabalho de constituição e de
desenvolvimento do sujeito humano se desencadeia nos momentos da sua
concepção até a sua morte, se manifestando sob diversas formas e modalidades de
cuidado. Quando uma criança nasce, como Freud designou, há um estado de
desamparo, significando a total incapacidade de poder ajudar a si mesmo, sendo
que há uma abertura para a alteridade quando um grito é lançado na direção de um
outro em aguardo de uma resposta, trazendo um apelo de que o cuidado deve ser
entendido como uma preocupação, uma solicitude amorosa.

Freud (1926/1982), quando


trabalha o conceito de Hilflosigkeit
no texto "Inibição, sintoma e
angústia", levando em consideração
a imaturidade biológica e psíquica
do recém-nascido e o fato de ser o
homem, quando nasce, o mais
desamparado de todos os animais,
escreve: "por isso o valor do objeto
único que pode proteger contra os
perigos e substituir a vida
intrauterina perdida é enormemente
elevado... e cria a necessidade de
ser amado que jamais abandonará o
ser humano"
(Rocha, 2013)

Porém, Winnicott aparece com a questão clínico-teórica que abre novas dimensões
para as confirmadas falas de Freud.

Winnicott (1962/1983)
defende que toda criança, desde o
momento em que entra no
misterioso mundo da vida, tem uma
tendência natural inata ao
amadurecimento e à integração.
Todavia, embora essa tendência
seja natural, paradoxalmente ela
não pode ser realizada
naturalmente, pois para isso ela
precisa contar com um ambiente
favorável que forneça os meios
indispensáveis para o
recém-nascido poder assegurar a
sua continuidade de ser e se
desenvolver como um ser vivo e
criativo. Somente quando vê
assegurada essa continuidade de
ser e, desse modo, pode dar um
sentido ao seu existir no mundo, a
criança consegue sentir-se como um
ser vivo e defrontar-se com as
dificuldades e as ameaças da
existência, entre as quais as mais
duras e difíceis serão, seguramente,
aquelas do sem-sentido.

(Rocha, 2013)

Por causa do cuidado da mãe suficientemente boa, o bebê poderá vivenciar, no seu
imaginário, uma ilusão de onipotência que lhe vem da união com a mãe, que para
ele é onipotente, e começa, então, a se sentir capaz de criar seus objetos, primeiro
no campo lúdico do brincar e, depois, no mundo da realidade externa. Em suma,
pode-se afirmar que, na teoria winnicottiana, o cuidado e, especialmente, o cuidado
materno são fatores estruturantes da subjetividade e têm um papel decisivo no
desenvolvimento afetivo do ser humano. O cuidado como um todo sempre nos trará
alusão à Interseccionalidade.

O termo interseccionalidade indica a interdependência das relações, neste


caso, de poder de raça, gênero e classe social. Surgindo em seu próprio momento
histórico, conforme supracitado, reforçando a ideia de que as categorias de raça,
gênero e classe são historicamente construídas, tornando as análises ligadas à
questão histórica. Tais categorias citadas podem ser colocadas separadamente
cada qual se comportam, devem ser especificamente destacadas. Ainda que sob a
escassa literatura a respeito de temas no campo da psicanálise, às alusões
encontradas geralmente seguem a referida tônica: raça, gênero e classe social
tomados em separado e, por isso, demandando reformulações teórico-clínicas em
função de suas particularidades.
O percurso histórico fornece exemplos que atestam a afirmativa, a história
evidencia a tentativa de expurgar o caráter construído do discurso, apagando os
rastros da hierarquização a que se propõe. No Brasil, é possível recorrer ao
exemplo da adoção de medidas compensatórias nas políticas educacionais que têm
como alvo crianças provenientes de classes ditas populares. A justificativa central é
que apresentariam "carências culturais", as pretensões responsáveis pelo fracasso
escolar. Raça, gênero e classe social estão associados às dimensões fundamentais
na construção de hierarquias sociais e, ao mesmo tempo, aos movimentos sociais
que buscam evidenciá-las e lutar contra as exclusões que produzem.
É notável que diversos fatores contribuem para a construção do ser e, queira
ou não, há categorias que fazem parte dessa construção. O cuidado necessário
com cada trecho estimula um aprofundamento maior quando se diz respeito a
partes como questões raciais, classe e gênero, o que demanda muitas discussões.
Se desde a concepção da vida já há a necessidade humana por cuidado devido a
sua demanda e incapacidade inicial, por certo, as categorias alvo dessa questão
são ramos interligados não somente à história como também ao cotidiano,
evidenciando muitas problemáticas a serem resolvidas em algum momento futuro
da humanidade.

3) Qual a função da psicanálise como uma teoria de análise do inconsciente em


sua relação com problemas políticos como o racismo e a misoginia? Justifique.

A função da psicanálise como teoria de análise do inconsciente em relação a


problemas políticos como o racismo e a misoginia é de investigar,analisar e produzir
reflexões tanto em nível individual, quanto coletivo acerca de tais questões.Segundo
Frosh (1987,p.137) O sujeito nunca é separado do mundo social, é sempre
totalmente permeado por ele e passível as distorções inculcadas pelas ideologias
predominantes. [...] Essas ideologias são institucionalizadas na cultura e se
manifestam na prática linguística, sendo assim, elas entram no centro da
consciência humana.Portanto, cabe a psicanálise assumir um papel político de
subversão dos valores que a ideologia produz.A nível individual, cabe ao analista ter
a concepção de que ele mesmo é um agente de mudança social e não ocultar
dentro da sua prática terapêutica as relações de poder estabelecidas. De todo
modo, por qualquer sujeito estar inserido na linguagem e na cultura, ele terá algum
sofrimento psíquico acerca de problemas políticos como o racismo e a misoginia,
com alguns tendo mais e outros menos. Logo, a nível individual o principal objetivo
da psicanálise em relação a essas questões é disponibilizar estratégias, ferramentas
e reflexões que façam com que o analisando diminua o sofrimento psíquico acerca
de tais questões,tentando contribuir para uma mudança social. Já a nível coletivo, a
psicanálise tem como objetivo expor e criticar os discursos predominantes no que se
refere aos problemas políticos em questão. Ela pode ajudar sujeitos a reconstruir
narrativas que perpetuam o racismo e a misoginia, por exemplo. Isso envolve
questionar crenças internalizadas e trabalhar para formar uma identidade que não
dependa do rebaixamento do outro para se afirmar.

4) Escolha uma notícia de jornal e interprete a partir da clínica e política (cite pelo
menos 2 artigos que foram usados como referências para as aulas).

Para relacionar com o artigo lido: “Encontro com a guerra no Brasil, entre
psicanálise, Clausewitz e Foucault”, foi escolhida uma notícia, que relata uma
ocorrência do dia 25 de março de 2024, na qual um Investigador do departamento
antinarcóticos foi preso em operação contra tráfico internacional de drogas. Ela diz
respeito a um policial do Denarc, detido em Amparo e envolvido no envio de drogas,
principalmente cocaína, da Bolívia para SP.
Tendo em vista que existe uma guerra às drogas no Brasil como consequência
do sistema político excludente, o artigo lido abordará como as drogas se inserem no
contexto das populações mais marginalizadas e como isso impacta para toda a
sociedade. Porém, a presente notícia relata um envolvimento de um policial, um
agente do Estado que deveria nos trazer segurança, mas que muitas vezes age
com violência e corrupção. Como mencionado no artigo, os policiais possuem
regalias, entrega de drogas em domicílio e até dentro do quartel. Isso realmente
acontece e, muitas vezes, por ser um “agente do Estado”, eles são protegidos e não
são punidos, diferente do que acontece com as pessoas de periferia inseridas nesse
contexto. Isso pode ser exemplificado no trecho: “A guerra é um conflito entre dois
grupos, na qual agressões e armas são envolvidas e o objetivo se encontra no
extermínio do grupo oponente. Assim, é possível considerar as disputas entre
gangues, grupos ou facções de periferia como guerra. Esses conflitos geralmente
estão associados ao tráfico de drogas, que, como trabalho ilegal, não é protegido
pela lei, nem pela polícia.”
Foucault analisa instituições militares e conclui que a guerra funciona como um
analisador de poder, já que as relações de força podem ser codificadas parte na
forma de guerra e em parte na forma de política, sendo que as duas seriam
estratégias diferentes para integrar essas relações de força desequilibradas. Assim,
essa notícia revela a complexidade das políticas de combate às drogas, destacando
como até mesmo agentes do Estado podem estar envolvidos no tráfico internacional
de drogas.
Ao relacioná-la com as teorias de Foucault, Clausewitz e Stephen Frosh,
podemos entender que o poder e a política estão intrinsecamente ligados à guerra
às drogas. Foucault argumentaria que o controle sobre as drogas é uma forma de
exercício de poder disciplinar, onde o Estado busca regular e punir aqueles que
desafiam suas normas. Clausewitz, por sua vez, poderia interpretar essa situação
como uma manifestação da "política por outros meios", onde a luta contra o tráfico
de drogas se torna uma extensão do poder estatal. Já Stephen Frosh abordaria a
dimensão psicossocial desse fenômeno, destacando como a guerra às drogas
perpetua estigmas e hierarquias sociais, enquanto os próprios agentes do Estado se
envolvem no comércio ilícito. Dessa maneira, a prisão do investigador do
departamento antinarcóticos evidencia como, por trás da suposta ordem e combate
ao tráfico, há uma luta pelo poder e domínio.
De forma geral, de acordo com as aulas e com o texto de Frosh, quando
falamos sobre política, estamos nos referindo às relações de poder que existem
entre pessoas e que estão incorporadas na nossa sociedade. Ao relacionar o
conceito de "assombrações" de Frosh com a notícia, podemos entender como
questões psicológicas, traumas individuais e coletivos podem influenciar o
comportamento humano e as dinâmicas sociais, inclusive dentro de instituições
responsáveis pelo combate ao crime.
Logo, fazendo uma relação do caso do investigador do departamento
anti-narcóticos preso por envolvimento no tráfico de drogas, à luz das ideias de
Stephen Frosh sobre "assombrações" psicanalíticas e transmissões
fantasmagóricas, somos confrontados com as profundas diferenças de tratamento
entre os policiais e os grupos marginalizados envolvidos na guerra às drogas.
Enquanto os agentes do Estado podem se envolver no tráfico de drogas com
impunidade, os indivíduos das periferias são frequentemente criminalizados e
estigmatizados pela mesma atividade. Essa disparidade de tratamento é um reflexo
das desigualdades estruturais presentes na sociedade. Enquanto os policiais,
frequentemente protegidos por sua posição de autoridade, desfrutam de privilégios
e imunidades que os protegem da aplicação rigorosa da lei, as pessoas das
periferias são alvos de discriminação e violência policial, perpetuando um ciclo de
criminalização e marginalização. O caso da notícia mostra que o policial foi pego,
porém não sabemos como será todo o processo de investigação, visto que, os
agentes do Estado, podem ser punidos, mas com privilégios e de uma forma
diferenciada comparada à população das periferias.
O envolvimento de agentes do Estado no tráfico de drogas não apenas expõe as
falhas do sistema de aplicação da lei, mas também tem consequências profundas
em níveis sociais e psicológicos. Isso mina a confiança da população nas
instituições policiais, aumenta o estigma associado aos agentes da lei e levanta
questões sobre a eficácia das políticas de combate às drogas.
Portanto, ao relacionar as ideias de Frosh com este caso específico, ele
acrescenta uma dimensão psicossocial ao debate, destacando como as diferenças
de tratamento entre os policiais e os grupos marginalizados perpetuam estigmas e
hierarquias sociais. Enquanto os agentes do Estado são vistos como representantes
da lei e da ordem, as pessoas das periferias são frequentemente estigmatizadas
como criminosas e imorais, mesmo quando estão sujeitas às mesmas pressões e
desafios sociais. Portanto, ao relacionar as ideias de Frosh com este caso
específico, somos confrontados com a necessidade de enfrentar as desigualdades
estruturais que permeiam as políticas de combate às drogas. É somente ao
reconhecer e confrontar essas disparidades que podemos trabalhar para construir
um sistema mais justo e equitativo para todos os envolvidos na guerra às drogas.

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