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Um Camelo pelo fundo de uma Agulha?! O que significa isso?

Está escrito:
“E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha
do que entrar um rico no Reino de Deus” (Mateus 19:24).
Mas, a que Rabi Yeshua HaNotzeri se referiu quando concebeu este Mashal (metáfora)?
As interpretações populares são várias: alguns dizem que "agulha" era o nome dado
às brechas nos muros de Jerusalém por onde os arqueiros atiravam flechas em tempo
de guerra, outros dizem que "agulha" na verdade significava as próprias portas
situadas nos muros da cidade, e ainda há "estudiosos" que afirmam que, "agulha" se
refere à agulha mesmo, porém o termo "camelo", neste versículo, se refere a uma
corda grossa que era usada para amarrar os navios no cais.
Bom, são muitas opiniões. Mas, ainda resta a questão: o que realmente significa
"passar um camelo pelo fundo de uma agulha"?
Devemos ter em mente que Rabi Yeshua HaNotzeri (Jesus de Nazaré) era judeu, nascido
na Judeia e era Rabino (João 38), logo, sua linguagem enquanto cidadão do lugar era
a linguagem comum de todos daquela localidade, e enquanto Rabino seus ensinamentos
seguiam as mesmas linhas de raciocínio gerais dos rabinos seus contemporâneos,
assim como um Padre raciocina como os padres e um Pastor raciocina como os
pastores, um Rabino raciocina como os rabinos, e com Rabi Yeshua HaNotzeri não
houve exceção (pelo menos do ponto de vista histórico). Portanto, a resposta a esta
intrigante questão só pode vir da própria Tradição Judaica, como está escrito:
"A Gemara relata: Houve um incidente semelhante em Neharde'a, e Rav Sheshet
resolveu a questão a partir desta Baraita e decidiu que o tribunal não autoriza um
parente a descer à propriedade de um cativo (para vendê-la). Rav Amram disse a ele:
Talvez tenhamos aprendido na Baraita que os tribunais não permitem que um parente
desça e venda a terra? Rav Sheshet disse zombeteiramente a ele, empregando um
estilo semelhante: Talvez você seja de Pumbedita, onde as pessoas passam um
elefante pelo buraco de uma agulha, ou seja, elas se envolvem em raciocínios
ilusórios. Mas a justaposição entre as esposas e os filhos no versículo não ensina
que o significado é semelhante em ambos os casos? Assim como lá, em relação às
esposas, isso significa que elas não podem se casar novamente, assim também aqui,
em relação aos filhos, significa que eles não podem descender à propriedade (Talmud
da Babilônia, Tratado Baba Metzia 38B).
Ou seja: de acordo com os nossos Sábios, "um camelo passar pelo buraco de uma
agulha" equivale a "um elefante passar por um buraco de uma agulha", trata-se de
uma impossibilidade absurda, um raciocínio ilógico. Portanto; tanto o "camelo" no
versículo está se referindo ao animal mesmo, tal qual no Talmud está se referindo
de fato a um elefante, quanto a lógica da afirmação de Mateus 19:24 é: É realmente
impossível que um rico passe pelo Reino dos Céus.
Isso coaduna com o que afirmaram os nossos Sábios em outro lugar, de que no Mundo
Vindouro os dominados de nosso mundo serão os dominadores, e os pobres de nosso
mundo serão os ricos do Outro Mundo, logo, estar no Reino dos Céus significa ter
sido recompensado por todas as injustiças sofridas passivamente neste mundo através
das mãos dos poderosos, e um rico deste mundo, salvo no que tange à sua vaidade e
ambição, ele não tem do que reclamar, logo, não há injustiça a ser reparada lá,
pois, para o rico aqui neste mundo, a vida está boa demais.
Este é, portanto, o sentido real do versículo: “E, outra vez vos digo que é mais
fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de
Deus” (Mateus 19:24).
O Elihud Miranda, um Judeu de Caruaru, após ler este texto acima, observou que o
termo hebreu para "camelo", que é "Gamal" (‫)גמל‬, compartilha da mesma raiz do termo
hebreu para "Recompensa", que é "Guemul" (‫)גמול‬. Neste sentido, o versículo estaria
afirmando que: "É mais fácil que um camelo passe pelo funda de uma agulha do que as
recompensas dos ricos deste mundo passem para o Reino dos Céus".
Rav Maorel Melo

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