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eBook-Guia de Leitura-Os Lusiadas Canto II
eBook-Guia de Leitura-Os Lusiadas Canto II
Complementares
de Os Lusíadas
Canto II
Índice
1. E da casa marítima secreta lhe estava o Deus 8
Noturno a porta abrindo...
das referências históricas e míticas é a que mais nos faz gastar tempo. É verdade
que já deveríamos saber quem foram aqueles varões ilustres de Portugal, citados
para a poesia épica; que o autor esperava que seus leitores reconhecessem ao menos os
heróis da história da humanidade, que se imortalizaram por meio de suas obras valerosas.
referências citadas pelo poeta não nos sejam apresentadas em vão. Sabemos, no
entanto, que não basta apenas ler que o sábio Grego que se encontra nas primeiras
estrofes do Canto I fora o Odisseu, da afamada Odisseia de Homero. Por que Ulisses
de sua epopeia?
mas apenas os nomes delas; e, assim, se não formos atrás de textos que nos façam
criar intimidade com elas, nossa falta de conhecimentos históricos e culturais nunca
será suprida.
Lusíadas por meio de textos que são focados nos aspectos mais importantes de cada
personagem para a leitura da obra. Se Ulisses é sábio, o leitor encontrará textos que
realçam essa qualidade; se Alexandre, o Grande, é citado por suas conquistas, o leitor
É claro que houve uma seleção das referências que se encontram neste canto:
algumas serão explicadas pelo próprio poema, em episódios narrados por Camões;
contenha; por fim, algumas divindades míticas aparecerão com mais frequência na
PARÁFRASE ORAL: a criança, após o término da leitura, pode recontar com suas próprias
criança escreve aquilo que leu, com suas próprias palavras, sem consultar o texto já
estudado.
após a leitura, sem consultar o texto, fazer uma paráfrase oral do que leu para o professor.
autores muito bons, e portanto mais exigentes. Através deles, a criança pode aumentar o
delas.
necessário que esteja atenta à forma de escrita das palavras. Através da cópia de textos,
ela pode ser corrigida em seus eventuais erros ortográficos; assim, se lembrará da
correção feita e aprenderá a escrever corretamente as palavras que estão nos textos
Érebo e a Criação
segundo os Mitos
(Mitos Gregos – Robert Graves)
Da união entre o Ar e o Dia surgiram a Mãe Terra, o Céu e o Mar. Da união entre o
a Batalha e também Oceano, Métis e outros titãs, o Tártaro e as três Erínias, ou Fúrias.
Da união entre o Mar e seus Rios surgiram as nereidas. Mas, até então, não havia
Netuno ou Poseidon
(Mitos Gregos – Robert Graves)
Z eus, Poseidon e Hades, após destronarem seu pai Cronos, tiraram a sorte
num elmo para decidir quem governaria o céu, o mar e o lúgubre mundo
subterrâneo, deixando a terra como domínio de todos. Zeus ganhou o céu; Hades, o
mundo subterrâneo; E Poseidon, o mar. Este último, igual a seu irmão Zeus em dignidade
construir seu palácio submarino perto de Aegae, na Eubeia. Em seus espaçosos estábulos
guardava cavalos brancos de tração, com cascos de bronze e crinas douradas, e um carro
Como necessitasse de uma esposa que se sentisse em casa nas profundezas do mar,
ele cortejou a nereida Tétis. Mas quando Têmis profetizou que qualquer filho nascido
de Tétis seria superior ao pai, ele desistiu e permitiu que ela se casasse com um mortal
chamado Peleu. Então tentou se aproximar de outra nereida, Anfitrite, mas causou-
lhe tanta repugnância que ela acabou fugindo na direção do monte Atlas. Contudo,
com tanta arte a causa de Poseidon que ela acabou cedendo, e pediu-lhe que cuidasse
[...] Presume-se ter sido ele o criador do cavalo, ainda que alguns digam que, logo
depois de seu nascimento, Reia tenha dado um cavalo a Cronos para que o comesse no
lugar da criança. Também se atribui a Poseidon a invenção das rédeas, apesar de Atena
já as ter inventado antes. Mas do que ninguém duvida é que foi ele quem instituiu
“Deméter, a Fúria”.
O Nascimento de Baco
revestida das feições de uma velha ama de Sêmele, Béroe, recomendou à jovem, já
grávida de seis meses, que exigisse de seu misterioso amante uma prova de verdadeiro
amor: que lhe revelasse sua verdadeira forma e natureza. Senão, como poderia ela ter
certeza de que ele não era um monstro? Sêmele acatou o conselho e, diante da recusa
de Zeus a seu apelo, passou a proibi-lo de visitar a sua casa. Ele, então, furioso, surgiu na
forma de trovão e raio, fulminando-a. Mas Mercúrio conseguiu salvar o filho que estava
no sexto mês de gestação e o costurou dentro da coxa de Zeus, para que ali maturasse
por mais três meses. No tempo devido, ele nasceu. Por isso Baco é chamado de “nascido
duas vezes” ou “a criança da porta dupla”. Explica-se esta circunstância dizendo que a
criança foi criada sobre uma montanha da Índia chamada Meros, palavra que na língua
grega significa barriga da perna. Assim, renascido de Zeus, Baco torna-se imortal.
A infância de Baco
(Mitologia – Albino Pereira Magno)
A lgum tempo depois, o pequeno Baco saiu do seu esconderijo e foi confiado
aos cuidados da sua velha tia Ino, que lhe deu por amas as Ninfas e as Horas,
a cultura da vinha. Juno, tendo descoberto onde se ocultava a criança, perseguiu-a para
Um dia Baco, muito fatigado, adormeceu à sombra de uma árvore. Juno mandou-
lhe uma enorme serpente de duas cabeças. Ao ruído feito por este animal, Baco acordou
e teve tempo de o estrangular. Outra vez, Juno feriu-o de loucura, e Baco pôs-se a
correr o mundo até à Frígia, onde Cibele o curou. Ainda escapou a outro perigo: tinha
adormecido na ilha de Naxos, quando os piratas tírios, inspirados por Juno, vieram roubá-
os piratas em delfins.
As conquistas de
Baco no Oriente
(Mitologia – Albino Pereira Magno)
dos mais ilustres conquistadores. Os seus projetos de conquistas nada tinham de terrível
e de sanguinário – o seu único desejo era levar a civilização e a arte de fazer o vinho
às regiões mais remotas. Partiu, pois, para as Índias acompanhado do velho Sileno e
dum grupo de homens e de mulheres armados de tirsos (lança ou dardo ornado de era e
Baco ia no seu carro puxado por dois tigres, levava a cabeça coroada de era e
à terra desejada, que em pouco tempo foi submetida ao suave e pacífico domínio do
deus das vindimas, e as nações vizinhas vieram, de sua livre vontade, submeter-se à sua
lei. Depois de lhes ter ensinado a arte de cultivar a vinha, depois de ter estabelecido
por toda a parte a mais perfeita harmonia, Baco embarcou levando consigo o amor e a
ouro num carro cor de fogo puxado por quatro cavalos brancos.
ternissimamente Titão, príncipe e mancebo célebre pela sua formosura, de quem teve
um filho, a que chamou Mênon. A paixão para com aquele príncipe foi tão grande, que
havendo-lhe proposto lhe pedisse à vontade qualquer cousa em penhor da sua afeição,
conseguiu uma prolongada vida até que chegou a uma extrema velhice em que foi
A Aurora abre as portas do céu anuncia todas as madrugadas a vinda de seu pai.
suas virtudes e os seus vícios, as suas qualidades e excentricidades. A beleza foi também
divinizada e a esta nova divindade chamaram os latinos Vênus, os gregos Afrodite, isto é
nascida da espuma. Vênus era filha do Céu e do Mar, contando-se o seu nascimento pelo
seguinte modo:
Urano, tendo sido ferido por Saturno, algumas gotas do seu sangue caindo no
ondas viu-se então sair uma donzela duma beleza arrebatadora, embalada pelas vagas e
acariciada pelo suave sopro dos zéfiros. Os Tritões e as divindades do mar colocaram-na
suaves perfumes. Coroada de rosas subiu, brilhante e radiosa, para o Olimpo. À sua
chegada, a admiração foi grande e geral. Júpiter adotou-a por sua filha e colocou-a no
trono ao lado das outras deusas. Todos os deuses a cobiçaram para esposa, mas foram
todos repelidos, só Vulcano, que não se tinha manifestado por causa da sua deformidade
e da sua fealdade, foi preferido a todos os seus rivais por vontade soberana de Júpiter.
O casamento de Vênus com Vulcano, o mais disforme dos deuses, significa que o império
Julgamento de Páris
banquete, a deusa Discórdia, que não tinha sido convidada, querendo vingar-se desta
afronta, atirou para cima da mesa uma maçã de ouro com esta inscrição: “Para a mais
bela”. Todas as deusas quiseram apoderar-se da maçã, mas Júpiter interveio e entregou
a decisão desta importante polêmica a um pastor da Frígia chamado Páris, célebre pela
sua beleza, sabedoria e inteligência. Páris era filho de Príamo, rei de Tróia, e guardava os
três rivais, Juno, Minerva e Vênus, que compareceram perante o julgador: Juno e Minerva,
para conseguirem vencer, prometeram a Páris, uma, honras e riquezas, a outra, sabedoria
e virtude; Vênus nada prometeu, mas o seu porte nobre e decente, o seu sorriso cheio de
graça e a doçura dos seus olhos encantaram o jovem troiano que lhe deu o prêmio da beleza.
Nereu, filho do Oceano e de Tétis, desposou Dóris, sua irmã. Desta união nasceram
tinham o poder de aplacar as tempestades. Pelas costas do mar Egeu estavam espalhadas
vontade para escapar aos importunos que vinham consultá-lo sobre o futuro.
Predisse ao troiano Páris os males que o rapto de Helena devia trazer sobre a
cidade de Tróia. Foi ainda ele que fez conhecer a Hércules os meios de se apoderar dos
velho de longa barba azulada e rodeado das suas filhas, dançando em coro.
Nereidas
A s suas filhas, notáveis pela graça dos seus movimentos e beleza das suas
a aliança destas graciosas divindades, personificação das vagas e das ondas, e que, pela
graça dos seus movimentos e brilho variado das suas cores, feriram a imaginação dos
T ritão, filho de Netuno e de Anfitrite, meio homem, meio peixe, era o mensageiro
e o arauto de Netuno, cujo carro ele precedia, fazendo sair do fundo das águas
toda a população marinha, ao ruído terrível do seu búzio. Como Nereu, era considerado
um sábio do mar por sua sabedoria e conhecimento dos acontecimentos futuros. A fim
de cumprir com mais rapidez as mensagens do seu soberano, deram-lhe uma legião
potências deste vasto império. Eram representados com uma longa cabeleira azuladas,
orelhas grandes, olhos azuis, mãos com garras, braços em forma de barbatanas e o
Júpiter histórico
H avia na Tessália uma alta montanha chamada Olimpo. O seu cume estava
semelhantes aventureiros, construiu num dos mais elevados picos destes montes uma
formidável fortaleza; alargando o seu poder e os seus domínios, não podendo governar
sozinho os seus vastos estados, dividiu-os pelos seus irmãos Netuno e Plutão; guardou
para si a parte oriental, a ocidental rica em minas de ouro e de prata deu-a Plutão e a
à sua caprichosa vontade, fizeram de Júpiter o rei do céu e do monte Olimpo a sua
dos seus sacerdotes, chamados Curetes, Coribantes, Idéas, ou Dáctilos; com receio de
que os vagidos da criança denunciassem o seu esconderijo, ordenou aos sacerdotes que
Júpiter e
Amaltéia
U ma ninfa chamada Amaltéia foi transformada em uma
Já crescido...
J úpiter crescendo tornou-se vigoroso e forte, pôde então tomar a defesa de
seu pai Saturno, que os Titãs tinham destronado e encarcerado; nem sempre,
porém, se mostrou filho submisso e dedicado, porque expulsou seu pai do céu. Tornado
senhor supremo de um império usurpado, repartiu esse império com os irmãos; Netuno
ficou sendo o soberano dos mares, dos rios e das fontes; Plutão do Tártaro, do Inferno e
D iana, irmã de Apolo, era filha de Júpiter e de Latona. O triste destino de sua
mãe lançara a sua alma numa profunda melancolia e dera-lhe uma grande
aversão ao casamento, pelo que fez voto de castidade; escolhia de preferência os retiros,
a solidão dos bosques, a sombra e o silêncio das noites para sua habitação.
Teve três cargos distintos: presidir às florestas e à caça; alumiar o mundo durante
a noite; vigiar as almas nos infernos: Diana caçadora ou Artemisa na terra; Diana, a lua
ou Febe, no céu; Diana a tenebrosa, a guarda dos infernos, também chamada Hecate.
um coturno, vestindo uma leve túnica, aos ombros um carcaz (aljava das setas), na mão
um arco, seguida de oitenta ninfas, que tomam cuidado da sua matilha de cães e das
suas armas, percorre as florestas caçando e à tarde, assentada à beira-mar, deita as suas
redes. Esta deusa dotada de um caráter irascível e vingativo fez sentir mais duma vez os
Vinganças de Diana
U m hábil caçador chamado Ácteon percorria incessantemente os bosques e as
dia, perseguindo com ardor um javali, perdeu-se na floresta e achou-se por acaso à borda
de um lado, onde Diana com as suas ninfas se banhavam e repousavam das fadigas do
dia. Irritada por ser assim surpreendida, atirou ao rosto do caçador uma porção de água;
Ácteon fugiu, mas foi transformado em veado e no mesmo momento os seus cães, não
quem deu morte não menos deplorável, seu nome era Órion.
jovem caçador.
de suspender o corpo da sua vítima na abóbada celeste, onde forma uma das mais
brilhantes constelações. Outros dizem que Órion morreu com a picada de um escorpião.
Templo de Diana
O seu templo em Éfeso era uma obra-prima de arquitetura e uma das sete
maravilhas do mundo. Todos os povos iam ali levar as suas oferendas; a Ásia inteira ali
depusera os seus tesouros e lhe consagrara cem anos de trabalho. No dia do nascimento
de Alexandre Magno, um louco de nome Heróstrato, para imortalizar o seu nome, deitou
Vulcano ou Hefesto,
deus das forjas
(As Mais Belas Histórias da Antiguidade Clássica – Gustav Schwab)
H efesto (em latim Vulcanus) era o filho de Zeus (Júpiter) e de Hera (Juno). Veio
a o mundo manco e feio, e por isto foi atirado por Hera do Olimpo ao mar. A
nereida Tétis o abrigou, apiedada, e cuidou dele. Quando cresceu, logo deu mostras de
grande habilidade. Para sua mãe Hera ele construiu um trono de ouro, enviando-o a ela
como presente. E quando ela se sentou ali, não pôde mais levantar-se, pois engenhosas
correntes a mantinham presa, e ninguém foi capaz de soltá-la. Hefesto então foi
Foi só Dioniso, o deus do vinho, quem conseguiu enganá-lo. Deu-lhe vinho para
Tornou-se o deus do fogo e de todas as artes e ofícios que fazem uso deste elemento,
em particular dos fundidores de bronze. Construiu o palácio dos deuses no Olimpo, fez
a égide de Zeus, uma armadura artisticamente elaborada, que depois Atena usou, e o
cetro, símbolo de seu poder soberano, além de muitas outras obras de arte. Por causa
de seu trabalho, ele sempre tinha uma aparência robusta, e ainda que mancasse e fosse
feio, conquistou como esposa a mais bela das deusas, Afrodite. Mas esta não lhe foi fiel.
Apaixonada por Ares, uma vez ela foi surpreendida por Hefesto, que envolveu ambos
com uma teia de ouro, sem que eles o percebessem, e então chamou todos os deuses
Sua oficina situava-se no Olimpo, sob o vulcão Etna, onde ele trabalhava juntamente
O Nascimento de
Vulcano
(Adaptado de As 100 Melhores Histórias da Mitologia, A.S. Franchini/Carmen Seganfredo)
primogênito de Júpiter. Que tal seria? Teria a audácia viril do pai ou a beleza austera da
mãe? E que inclinações traria do ventre? O gosto pelas batalhas? O pendor bucólico dos
Todas as indagações ficaram suspensas nas línguas, pois Juno estava agora prestes
Tais foram as primeiras palavras ditas pela mãe ao receber nos braços a criança
e familiar de uma série que teria de enfrentar. Juno, a seu turno, com a cabeça voltada
O choro horrendo do bebê não cessava; não era, nem de longe, aquele choro forte
e melódico que se esperaria do filho do senhor do Universo. Não, aquilo não era um
com toda a força a polpa dos dedos roídos sobre a entrada de suas divinas orelhas. Mas
Seu destino parece ser o revolto mar que se abre lá embaixo, como uma goela azul e
Duas massas líquidas e azuis, separadas como dois imensos lábios salgados, recebem,
então, o bebê, para se fechar logo em seguida com o fragor de duas ondas gigantescas
- Que espantoso ruído foi esse? – pergunta Eurínome, filha de Tétis e do Oceano,
à sua mãe.
a superfície:
As duas estão preparando a nova morada para o bebê, quando Tétis, voltando-se
para onde ele estava, percebe que o pequeno sumiu. O garoto, engatinhando, metera-
se numa escura furna. Atraído pelo fogo da lava que se agitava nas profundezas da terra,
lá vai ele, destemido, descobrir que coisa seria aquela. Será um pedacinho desprendido
Um grito rouco atrai a atenção de Tétis e de sua filha. Elas o encontram sentado,
- Já que se interessa tanto por vulcões, vamos chamá-lo de Vulcano – diz Tétis a
Eurínome.
brilham duas pequenas coisinhas, delicadas e douradas. Com um brilho radiante nos
olhos, o pequeno Vulcano estende às suas mães adotivas um par maravilhoso de brincos,
Sim, Vulcano, acossado desde o primeiro instante pelo infortúnio, é alma forte e
lúcida, com discernimento bastante para fazer mudar em beleza a dor que o destino lhe
remete. Assim ele cresce, metido em sua forja nas profundezas da terra, confeccionando
Cupido ou Eros
A união entre Vênus e Marte gerou um filho chamado Cupido, o deus do amor.
os corações. Uma só das suas flechas bastava para desencadear as paixões mais vivas.
embarcados num pequeno navio, naufragaram em pleno mar. Uma tempestade terrível
durante nove dias, errou ao sabor das vagas. Por fim, abraçado aos restos da quilha do
navio, o mar atirou-o às paias da ilha de Ogígia, onde morava Calipso. A ninfa recolheu
Ulisses com verdadeiro carinho. Achou-o logo tão digno do seu amor que se propôs
casar com ele, prometendo-lhe que o tornaria imortal e eternamente jovem. Mas Ulisses
não queria ser imortal, nem eternamente jovem... O que ele sonhava e ambicionava era
voltar a governar o seu povo, era ficar o resto da vida junto da mulher e do filho.
Apesar de ser muito bem tratado – a própria Calipso o servia às horas das refeições;
de andar vestido com tecidos ricos e macios, dos tecidos com que se vestiam os deuses;
de não sofrer nem frio nem fome; de estar longe de temporais, de aventuras, de lutas
e de necessidades; de ter tudo quanto lhe apetecesse e lhe fosse preciso –, Ulisses
A saudade de Ítaca não o abandonava nunca. Para saudade tão grande, nem
Ao fim de sete anos, Minerva, do alto Olimpo, radiosa pátria dos deuses,
habilidade. E agora sentia que já era tempo de não o fazer sofrer mais. Conseguiu então
que Júpiter, seu pai, e pai de todos os deuses, mandasse o mensageiro Mercúrio dizer a
Calipso que desse a liberdade a Ulisses e lhe fornecesse todos os meios indispensáveis
Estava Calipso na sua habitação, que era uma gruta encantadora, trabalhando
num lindo tear de rico marfim com uma lançadeira de ouro. Madeiras olorosas ardiam
as pedras. Quatro fontes prateadas nasciam, cada uma de seu lado, e cercavam com
abate algumas árvores da floresta, constrói uma jangada que te leve sobre as vagas;
farei com que um vento favorável te conduza em boa hora à tua pátria, se os deuses te
Ulisses quase nem acreditava em tal promessa! Mas quando verificou que era
A noite chegara, e teve de conter a sua impaciência até ao dia seguinte. Mas,
assim que a manhã rompeu, Calipso entregou-lhe um belo machado de bronze, de finos
gumes, com sólido cabo de oliveira, e levou-o à extremidade da ilha, onde as árvores
eram mais fortes e maiores. Com traves de olmo, de choupo e de pinheiro fez Ulisses
a jangada. Sempre que uma ferramenta era necessária – agora uma serra, logo uma
leme. No fim de quatro dias a obra ficou pronta. No quinto dia, vestido com as magníficas
roupagens que a ninfa lhe dera, provido de pão, de carne, de vinho e de água doce,
Ulisses, confiadamente, abriu as velas ao vento e pôs-se ao leme, atento e lembrado dos
conselhos de Calipso. Esta recomendara-lhe, para quando a noite caísse, rumar sempre
sequer – tão entusiasmado partia – receava os perigos que certamente teria de vencer...
Cila e Caríbdis
(Mitologia – Albino Pereira Magno)
F órcis, um deus marinho de segunda ordem, era filho de Netuno. Expulso por
Atlas do país da Corsega e da Sardenha, foi ter com o pai, que lhe deu a
Caríbdis é assaz perigosa para os navios, e por isso, quando se quer escapar de Cila,
Dizem que Caríbdis era uma mulher cruel que assaltava os passageiros para roubá-
los. Furtou alguns bois a Hércules, pelo que foi transformada em um monstro marinho
ou em um pego fronteiro ao de Cila. Caríbdis hoje chama-se Galofaro, e Cila, Cilo. São
Ulisses em Cila e
Caríbdis
(Odisseia, adaptada da versão de Edmund Carpenter – O Livro das Virtudes II)
imaginários. Nenhum, porém, era mais temido do que uma certa passagem
estreita que diziam haver na costa sul da Itália. Era um estreito traiçoeiro, ladeado por
O primeiro era um penhasco tão alto que seus picos chegavam ao céu. O ponto
mais alto, cercado por eternas nuvens negras, era imerso em perpétua escuridão. A
encosta era tão íngreme e tão lisa que nenhum mortal conseguia subir ou descer, ainda
que tivesse vinte mãos e vinte pés. À meia altura dessa escarpa havia uma caverna tão
acima do nível da água que nenhum arqueiro, por mais forte que fosse, poderia atingi-la
Nessa caverna vivia Cila, o monstro horrendo que dava nome ao penhasco. Tinha
seis pescoços longos, cobertos de escamas, cada um sustendo uma tenebrosa cabeça
que latia. Cada cabeça tinha três carreiras juntinhas de vorazes dentes pontiagudos.
A história dizia que Cila vivia escondida na caverna, mas de vez em quando se debruçava
para fora e examinava as águas do estreito com os olhos faiscantes arregalados nas seis
cabeças. Não havia peixe ou golfinho que escapasse à horrível vigilância, pois bastava
passar por ali que ela o apanhava com as bocas enormes, arrastava para a caverna e
Do outro lado do estreito havia outro penhasco, chamado Caríbdis. Não era tão
escarpado quanto o outro e no topo havia uma frondosa figueira, sempre carregada
da água era tão violenta que formava um tremendo redemoinho. E de repente a água
borbulhava para fora com violência igual à da sucção, lançado às ondas carcaças de
vista tragado pelo vórtice ou seria projetado contra a rocha, fazendo-se em pedaços, e
Na longa viagem de volta, após a guerra de Troia, Ulisses e seus homens tinham
que passar entre Cila e Caríbdis. Chegando ao horrível estreito, encheram-se de terror.
Os remos caíam de suas mãos, o sangue sumia de suas faces. O pavoroso murmúrio dos
tripulação e lembrando que haviam passado perigos maiores. Pediu que continuassem a
confiar nele, assegurando que os conduziria ao outro lado. Bastava que se empenhassem
com todo o vigor e destreza. Destacou o trabalho do piloto que estava no timão, que
agora precisava mostrar mais firmeza que qualquer outro a bordo, pois tinha a maior
levando nas mãos duas lanças bem compridas, em guarda, pronto a enfrentar a medonha
viu a horrível garganta negra escancarar-se inteira, girando loucamente, deixando à mostra
agitadas numa imensa nuvem de espuma, fazendo o mar ferver como uma chaleira.
vento se juntavam num ruído ensurdecedor, aterrador. Mas incitados por Ulisses, os
Mas não seria assim. Do fundo da gruta escura, Cila avançou de repente os
seis pescoços monstruosos e, antes que Ulisses a golpeasse, agarrou meia dúzia de
marinheiros! Ulisses ouviu os berros dos infelizes erguidos no ar, de pés para cima e as
mãos estendidas em sua direção, implorando socorro. Ele nada podia fazer. Em todos os
remou loucamente para escapar ao perigo, antes que o monstro armasse um segundo
bote. Furiosos com a escapada do restante da presa, Caríbdis urrava e Cila latia, mas o
Maomé
(Guerra Santa – Nigel Cliff)
Q uando Maomé Ibn Abdallah ouviu pela primeira vez a palavra de Deus no
ano de 610 – ou por volta desta data –, não tinha a intenção de fundar um
império mundial.
surgiu: a fé de Abraão e Jesus era a fé verdadeira, mas ela tinha sido corrompida. Havia
[...] Para que sua mensagem se espalhasse, ele teve primeiro que considerar Meca.
Num dos momentos mais obscuros, Maomé, com o rosto esmagado e manchado de
sangue, foi retirado do campo de batalha por um de seus guerreiros, e somente o rumor
de que estava morto salvou os remanescentes de seu exército. A moral da ummah foi
pulverizada, e foi nessa hora que Maomé fez aos seus guerreiros uma promessa que
ecoaria através da história. Aqueles que foram assassinados na batalha, foi-lhe revelado,
seriam levados ao mais alto nível do Paraíso: “Eles serão alojados juntamente, em paz,
entre jardins e fontes, vestidos em ricas sedas e finos brocados [...] Nós os casaremos
628, Maomé apareceu inesperadamente perante Meca com mil peregrinos desarmados
e afirmou eu direito legítimo como árabe de adorar na Caaba. Em 630, Maomé retornou
com fileiras cerradas de seguidores. Ele novamente circulou o santuário sete vezes,
Dois anos mais tarde, quando já estava morto, Maomé foi responsável por uma
proeza que nenhum líder na história jamais tinha imaginado: ele fundara uma nova fé
Mercúrio ou Hermes
(Contos e lendas da Mitologia Grega – Claude Pouzadoux, por Eduardo Brandão)
enquanto multiplicador dos rebanhos. Já em sua primeira infância ele deu provas de
grande astúcia:
Quando Apolo ainda era pastor, seu irmãozinho Hermes lhe pregou uma peça e
roubou-lhe as ovelhas.
Apolo estava longe de desconfiar que aquele menino, o qual imaginava ainda ser
de colo, fosse capaz de enganá-lo. Mas era ele mesmo que conduzia agora o rebanho
pelas planícies e vales até o denso bosque de Pilo. Ali deixou as ovelhas descansando,
escondidas numa gruta. Depois voltou para junto da sua mãe Maia, com um sorriso
Apolo acabou encontrando a pista do rebanho. O voo dos pássaros, que ele sabia
autor do roubo:
“Menino feio”, ralhou com o irmão, “você tem sorte de ainda usar fraldas. Senão,
Mas a raiva de Apolo se aplacou quando ele ouviu os sons melodiosos que o menino
“É para você. É uma lira que acabei de inventar. Beliscando as cordas presas a
cada extremidade desta carapaça de tartaruga, você vai obter os sons cristalinos que
acompanharão seus cantos.” Esquecendo os motivos do seu mau humor, Apolo até
excepcional. Sempre curioso, o jovem deus não se limitou a esse achado. Teve a ideia
instrumento. Levou-o aos lábios e soprou delicadamente em cada orifício. Foi assim que
inventou a flauta.
Apolo ficou encantado com essa nova invenção e quis logo adquiri-la. Em troca,
ofereceu ao irmãozinho o cajado de ouro que usava para pastorear. Esse cajado virou o
Feliz com a habilidade que ele manifestava em todas as ocasiões, seu pai, o
poderoso Zeus, fez dele seu mensageiro. Hermes passava a maior parte do tempo
correndo o mundo; para isso, usava sandálias aladas, que lhe permitiam mover-se mais
rapidamente. Suas viagens às vezes o levavam muito longe, até o reino subterrâneo,
Representações
de Mercúrio
(Mitologia – Albino Pereira Magno)
meio coberto com um manto, com asas nos pés e na cabeça e nos ombros,
ordinariamente com o seu caduceu na mão. Como mensageiro dos deuses, tinha asas
brancas e o dedo sobre a boca; como deus dos negociantes, costumava ter uma bolsa
na mão; como guia das almas, davam-lhe uma varinha e asas pretas nos pés; como deus
da eloquência, tinha uma cadeira de ouro suspensa nos lábios; como deus dos pastores,
trazia um carneio aos ombros; como deus da música, sustinha uma tartaruga, porque as
liras eram feitas das conchas destes animais e era por isso que os latinos chamavam à
Diomedes – Oitavo
Trabalho de Hércules
(As Mais Belas Histórias da Antiguidade Clássica, por Gustav Schwab)
as éguas do trácio Diomedes. Diomedes era filho de Ares e rei dos bistônios,
um povo guerreiro. Possuía éguas que eram tão fortes e selvagens que precisavam
aveia como os cavalos normais, devorando, em vez disso, a carne dos estrangeiros
que tinham a infelicidade de chegar àquela cidade e que lhes eram atirados. Quando
Héracles chegou, seu primeiro ato foi atirar o desumano rei às suas próprias éguas,
depois de ter dominado os vigias que estavam diante das cocheiras. Com essa comida
Busíris
(Dicionário da Mitologia Grega e Romana – Pierre Grimal)
das dinastias faraônicas, mas talvez seja uma deformação do nome do deus
Osíris. Busíris era um rei muito cruel. A sua tirania tinha obrigado Proteu a fugir do Egito.
Tinha também projetado enviar uma expedição de bandidos para raptar as Hespérides,
que eram afamadas por sua beleza. Héracles encontrou-as no seu caminho quando ia
procurar as maçãs de ouro e matou-as, tal como tinha morto o próprio Busíris.
Com efeito, uma série de más colheitas abatera-se sobre o Egito, e Frásio, um
os anos, a fim de aplacar o deus e recuperar a prosperidade. Foi o que fez Busíris,
começando por sacrificar o próprio Frásio. Quando Héracles passou pelo Egito, Busíris
prendeu-o, atou-o com faixas, coroou-o com flores e conduziu-o ao altar como vítima.
Mas Héracles desatou os nós, matou Busíris, o seu filho Ifidamante, o arauto Calves e
todos os assistentes.
Egito pelo rei Osíris, quando este partira para a sua grande expedição à volta da Terra.
Busíris em Os Doze
Trabalhos de Hércules
(Monteiro Lobato)
alcoólicos, Lelé. Muito perigoso. Você perde a cabeça e põe-se a fazer estragos nestes
pobres líbios tão entusiastas.” Hércules obedeceu e só tomou água com mel.
remédios. “Um mortal comum cura-se com qualquer laxante de sulfato de magnésia,
— Grande Héracles, meu país também está necessitado de uma limpeza no trono.
Temos como rei um verdadeiro monstro, talvez ainda pior que Anteu.
— Quem é ele?
aportados na Líbia. Busíris sacrifica no altar de Zeus todos os que aportam ao Egito. Por
que não vais lá e não libertas o nosso povo daquela calamidade feita homem?
Hércules olhou para Emília como quem pede parecer. Emília disse:
— O papel dos heróis é limpar de monstros o mundo. Vá, Lelé, e achate com o
tal Busíris.
Busíris no começo não se revelara cruel, e assim foi até o dia em que uma grande
seca assolou o país. Nove anos durou tal seca. Os bois foram definhando todos. As
plantações secaram-se. Gente morria de fome por todos os cantos. Vendo a gravidade
da situação, um famoso adivinho daquela época, de nome Frásio, procurou o rei e disse:
— O meio de pôr fim à horrível estiagem que está destruindo o Egito é um só:
Frásio era estrangeiro, e Busíris fez como o tirano Fálaris: mandou agarrá-lo e
sacrificá-lo no altar de Zeus. E como por coincidência viesse uma chuva no dia seguinte,
Busíris convenceu-se de que o meio de fazer chover estava realmente naquilo — nunca
Minervino advertiu ao herói do grande perigo que era para um estrangeiro penetrar
no reino de Busíris, o qual possuía grandes exércitos. Mas aconselhado pela Emília o
e lançou contra ele um exército de dez mil núbios ferozes como tigres. Hércules foi
— Sei o que fizeste para o meu grande amigo Anteu — disse-lhe Busíris – mas
vou vingar a majestade real ofendida pelo teu crime. Serás sacrificado amanhã no altar
de Zeus.
Os pica-pauzinhos ficaram numa grande aflição. Pela primeira vez viam Hércules
— Como, boba? — Não sei; só sei que no último momento dá um jeito. Tenho a
acorrentado de pés e mãos e, por ironia, coberto de guirlandas de flores de lótus, que é
a principal flor do Egito. O sacerdote sacrificador, lá diante do altar correu o dedo pelo
fio da faca sagrada. “Se cortasse o dedo seria bem-feito!” — pensou Emília.
Hércules parou diante do altar. Não havia mudado em coisa nenhuma. A sua
Mas o que houve até parece mentira. Naquele momento Hércules contraiu os
se delas como se fossem a sua clava. Num ápice varreu a soldadesca toda. O “espalha”
foi dos nunca vistos. Corpos despedaçados voavam em todas as direções. A grita se fez
imensa. Todo mundo fugia no maior pânico. O chão ficou juncado de escudos e lanças.
fazer. Muitos fugiram a tempo. Os que patetearam foram atingidos pelas correntes que
testa, e a mioleira espirrou como espirra água de poça quando cai uma pedra em cima.
Hércules havia libertado o 231 mundo de mais um odioso rei. E como a mesma corrente
havia alcançado Afidamante, filho de Busíris, e o arauto Calves, ficou o Egito também
livre daquele filhote de serpente e do odioso anunciador das ordens cruéis do soberano
esmigalhado.
Versão em prosa
(Adaptado de As mais Belas Histórias da Antiguidade Clássica – Gustav Schwab)
N a terra de Tiro e Sídon vivia Europa, a filha do rei Agenor, na solidão profunda
do palácio paterno. Certa vez, pouco depois da meia-noite, ela teve um sonho
estranho. Apareceram à sua frente duas partes do mundo, em forma de mulher, brigando
por sua posse. Uma das mulheres tinha a aparência de uma estrangeira, e a outra – a
Ásia – parecia uma conterrânea sua. Esta, amparava-a delicadamente, dizendo ter sido
ela quem dera à luz e amamentara aquela filha. Mas a estrangeira abraçou-a, como se a
estivesse raptando, com um gesto violento, e levou-a embora, sem que Europa pudesse
defender-se.
- Venha comigo, minha querida – disse a estrangeira – vou levá-la para junto de
fora claro como uma imagem diurna. Por muito tempo ficou sentada na cama, imóvel,
perguntando-se:
- Qual dos deuses celestes me enviou aquelas imagens? Quem era aquela estranha
que vi em sonho? Que miraculosa saudade é esta que despertou em meu coração?
E com quanto carinho ela se aproximou de mim, como eram cheios de amor os seus
sorrisos, mesmo quando me raptou com violência! Possam os deuses fazer com que
Amanhecia, e a clara luz do dia apagou na memória dela aquele sonho. Logo suas
à beira-mar, um dos pontos de encontro preferidos pelas moças daquela região. Rindo,
Zeus estava profundamente tocado pela beleza da jovem Europa. Mas, como temia
o ódio da ciumenta Hera, e não tinha nenhuma esperança de poder enganar aquela
jovem donzela, imaginou um novo artifício, transformando-se em touro. Mas que touro!
Não um daqueles que, sob o jugo, puxam carros carregados com cargas pesadas, e
uma papada imponente. Os chifres eram elegantes e pequenos, como se tivessem sido
feitos pela mão de um artista, e mais transparentes do que diamantes. O pelo tinha uma
Antes de se transformar dessa maneira, Zeus chamou Hermes para junto de si,
Fenícia? Dirija-se para lá e conduza o rebanho do rei Agenor, que está pastando nas
conduziu o rebanho do rei, em meio ao qual, sem que Hermes suspeitasse, também
estava Zeus, transformado em touro, até as ravinas onde a filha de Agenor brincava
O rebanho espalhou-se pelos campos. Só o belo touro, dentro do qual o deus estava
oculto, aproximou-se do gramado onde Europa brincava com suas amigas. Soberbo, ele
andava pela grama esplêndida, sem parecer ameaçador ou assustador. Seu aspecto era
costas reluzentes. O touro parecia perceber aquilo, pois se aproximava cada vez mais
delas e, por fim, colocou-se junto a Europa. Esta deu um salto e recuou alguns passos,
as flores e a delicada mão da donzela, que começou a acariciá-lo com muita ternura.
Então ele deitou-se aos pés da princesa, olhando-a cheio de paixão e oferecendo-lhe o
– Aproximem-se, vamos nos sentar nas costas deste belo touro e divertir-nos!
Acho que há lugar para nós todas. Ele parece amigável e delicado, é diferente dos outros
touros. Acho que ele tem inteligência, como um ser humano; só lhe falta a capacidade
de falar!
Depois dessas palavras, tirou das mãos de suas companheiras as coroas de flores,
enfeitou com elas os chifres do touro e montou-o, corajosa, enquanto suas amigas
observavam, indecisas.
companheiras de Europa não eram capazes de manter o mesmo passo. Mas quando
voador. E antes mesmo que Europa pudesse perceber o que estava acontecendo, ele
mergulhou no mar e lá se foi nadando com sua presa. Ela, temerosa, olhava para a terra
que se afastava, chamando em vão por suas amigas. Logo a margem desapareceu, o Sol
E assim foi, mesmo depois de a aurora aparecer. Ao anoitecer deste dia, chegaram
a uma praia distante. O touro subiu para terra firme e, sob uma árvore, deixou que
um homem esplêndido, semelhante aos deuses, que lhe declarou ser o senhor da ilha
de Creta e que a protegeria se ela concordasse em casar-se com ele. Europa, em seu
Perturbada, olhou à sua volta e chamou por seu pai. Mas então se lembrou do que
acontecera e lamentou-se. Passou as mãos pelos olhos, como se quisesse apagar o terrível
dela, e junto dela seu filhinho, o deus do amor, que baixara o arco. Um sorriso pairou nos
– Esqueça o seu ódio, não se zangue, linda moça! O touro odiado voltará, e
oferecerá os seus chifres para que você os arrebente. Sou eu quem enviou aquele sonho
a você. Console-se, Europa! Foi Zeus quem a raptou. Você agora é a deusa terrestre do
deus invencível! Seu nome será imortal, pois doravante a terra longínqua que a acolheu
Os filhos de Zeus e Europa foram os sábios e poderosos reis Minos e Radamonte, que
depois de sua morte foram nomeados juízes dos mortos nos Ínferos. Seu terceiro filho foi o
herói Sarpédon, que morreu muito velho, como rei da Lícia, na Ásia Menor.
Febo ou Apolo
(Adaptado de Contos e Lendas da Mitologia Grega – Claude Pouzadoux, por Eduardo Brandão)
A pobre Latona teve grande dificuldade para pôr no mundo seus dois filhos com
Quando ela estava prestes a parir, a deusa, morrendo de ciúme, proibiu todos
Latona já estava quase sem forças quando uma pequena ilha, sem levar em conta
rochedo deserto, batido pelos ventos e pelas ondas, nada tinha a perder. Foi aí, ao pé da
O nascimento de Apolo foi anunciado por um sinal prodigioso: sete cisnes sagrados
deram sete voltas ao redor de Delos; sete vezes eles cantaram para a parturiente. Na
oitava volta, calaram-se de súbito, e o bebê saiu do ventre materno. Desde então, essas
aves de voz melodiosa passaram a ser os queridos de Apolo, e Delos, seu lugar favorito.
O menino cresceu entre os hiperbóreos, para junto dos quais os cisnes o levaram
quando nasceu. Esse povo habitava uma região distante, no extremo Norte do oceano,
e vivia sob um céu sempre puro. Ao se tornar adulto, o deus foi para a Grécia.
Mal chegou a Delfos, onde queria fundar um santuário, soube que um dragão
Libertou a região desse monstro e foi aclamado salvador por seus habitantes, que logo o
adotaram. Edificaram para ele um templo colossal, onde Apolo instalou sua sacerdotisa,
a Pitonisa ou Pítia. Ela era encarregada de pronunciar as palavras que o deus lhe soprava.
A seguir, um adivinho explicava o oráculo aos que vinham de toda a Grécia conhecer seu
Apolo não era amado apenas por seus atos benéficos; também lhe apreciavam a
um atleta. Sua pele muito branca se destacava sob os cachos da cabeleira castanha.
Atribuições de Apolo
(Mitologia – Albino Pereira Magno)
A polo, como filho que era dos deuses, deixou a terra para ir sentar-se no meio
dos imortais que ficaram encantados com a sua beleza arrebatadora, com os
maviosos sons da sua voz e com os melodiosos sons da sua lira. Júpiter fê-lo deus da
luz, da poesia, da música, das letras, das belas artes, da eloquência, da medicina e dos
augúrios. É ele que guia o carro do sol puxado por quatro cavalos – Píroo, Éroo, Éton
e Flégon, cujo ardor impetuoso e cujos movimentos ele regula. É igualmente ele que
O Zodíaco
O s antigos astrônomos, observando o curso do sol, notaram que este astro
a cada mês do ano. Nestes doze espaços estavam colocadas outras tantas constelações
Touro
Capricórnio
Gêmeos
Câncer
Sagitário
Escorpião
Leão
Libra
Virgem
atravessaram o Helesponto.
de Júpiter.
por Hércules.
outras constelações:
Origem da Grande Ursa: Calisto, uma das ninfas de Diana, foi amada por Júpiter. Juno,
que com ela podiam ter parte no coração de seu marido, por vingança metamorfoseou-a
da caça. Um dia, estando para atirar uma seta mortífera contra sua mãe, Júpiter, para
amas de Júpiter.
Plêiades eram sete filhas de Atlante: apareciam na primavera, estação própria para
a navegação. O seu nome vem de pleo, verbo grego, que significa “navegar”.
Híades eram outras sete filhas de Atlas, assim chamadas de Hias, seu irmão, que
amavam em extremo, e que tendo-o perdido despedaçado por um leão, não cessavam
constelação.
Héspero, rei da África: os poetas fingem que ele foi mudado em estrela da tarde,
chamada Hésperus, quando segue o sol para o poente, e Lúcifer, quando o precede ao
nascente.
Órion, a mais brilhante das constelações, foi um grande caçador. Sendo ferido por
Ulisses e Alcino
(Adaptado de O Livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch)
ilha dos feácios, enquanto ele ainda dormia em seu leito de folhas, a
filha do rei, Nausícaa, teve um sonho mandado por Minerva, lembrando-lhe que o dia do
seu casamento não estava distante e que seria aconselhável, como preparativo daquele
Agora devemos imaginar Ulisses, um náufrago, que escapara das ondas havia pouco
arbustos se interpunham entre ele e um grupo de jovens donzelas que, por sua atitude
e por suas vestes, ele percebeu que não eram simples camponeses, mas pertenciam a
uma classe mais elevada. Embora precisadíssimo de ajuda, como poderia aventurar-
se nu como estava, a aparecer e revelar suas necessidades? Não havia dúvida de que
respeitosamente afastado, expôs sua triste situação e implorou à bela criatura (se era
Aquele homem, explicou, era um infeliz peregrino, que tinham por obrigação
alimento e vestuário, pois havia na carroça algumas roupas de seus irmãos. Quando
isso foi feito, e Ulisses, retirando-se para um lugar escondido, lavou do corpo a espuma
do mar, vestiu-se e retemperou as forças com o alimento, Palas dilatou suas formas, e
Ao vê-lo, a princesa foi tomada de admiração e não teve escrúpulo em dizer às suas
damas que desejaria que os deuses lhe tivessem mandado um marido assim. A Ulisses,
recomendou que fosse à cidade, seguindo-a e ao seu séquito, enquanto estivessem nos
garboso estranho.
Ao longo das paredes, estavam colocados bancos cobertos em toda a sua extensão
de panos do mais fino lavor, trabalho das donzelas feácias. Nesses bancos sentavam-se
os príncipes, enquanto estátuas de ouro de graciosos jovens traziam nas mãos tochas
empregadas para moer o trigo, outras, para tecer a púrpura ou fiar, pois as mulheres
feácias superavam todas as outras mulheres nas artes caseiras, do mesmo modo que os
Afinal, depois de haver contemplado a cena por bastante tempo, Ulisses entrou,
com passos rápidos, no salão onde se achavam reunidos os chefes e senadores, fazendo
libações a Mercúrio, cujo culto seguia-se à ceia. Avançando até o lugar onde estava
seu regresso à terra natal, depois do que, se retirou, sentando-se, segundo o costume
— Não convém que um estrangeiro que vem pedir hospitalidade seja deixado à
espera, como um suplicante, sem que ninguém o saúde. Deixemo-lo, portanto, assentar-
assento de onde tirou o próprio filho, para ceder lugar ao estrangeiro. Foram colocados
Depois que os convidados saíram e Ulisses ficou a sós com o rei e a rainha,
esta perguntou-lhe quem ele era e de onde vinha e (reconhecendo as vestes que ele
trazia, pois fora ela própria, com suas damas, que as fizera) de quem recebera aqueles
vestuários. Ulisses narrou sua estada na Ilha de Calipso e sua partida de lá; o naufrágio
da jangada, como conseguira salvar-se a nado e o socorro que lhe prestara a princesa. O
rei e a rainha escutaram com ar de aprovação, e o rei prometeu fornecer um navio para
reuniram no palácio, onde foi servido lauto repasto. Depois da festa, o rei sugeriu que
a mostrar suas habilidades, recusou-se, a princípio, mas, sendo escarnecido pelos jovens,
pegou um disco, muito mais pesado do que qualquer um dos que haviam sido lançados
pelos feácios, e atirou muito mais longe do que aqueles haviam lançado os seus. Todos
O rei propôs que todos os chefes lhe oferecessem um presente, dando ele próprio
No dia seguinte, Ulisses partiu no navio dos feácios e, dentro de pouco tempo,
Íris
(Dicionário da Mitologia Grega e Romana – Pierre Grimal)
lado paterno e pelo materno. Por isso, é irmã das Hárpias. Simboliza o arco-íris
e, de um modo geral, a união entre a Terra e o Céu, entre os deuses e os homens, que o
Na maior parte das vezes, representa-se alada e revestida de um véu ligeiro que,
ao sol, adquire as cores do arco-íris. Por vezes, diz-se que é mulher de Zéfiro.
dos deuses. Está mais estreitamente ligada ao serviço de Zeus e, sobretudo, de Hera,
de quem surge quase como uma serva. Outras divindades recorrem por vezes ao
seu serviço.
Éolo
(Mitologia – Albino Pereira Magno)
É olo era o poderoso rei dos ventos e filho de Júpiter. Habitava as sete
harmoniosos, que eram o ruído dos ventos que tinha encerrado nas profundas cavernas
debaixo do seu palácio e que, armado do seu tridente, fazia sair ou entrar à sua vontade.
Ulisses, tendo abordado aos seus estados, foi por ele presentado com muitos
odres dentro dos quais estavam recolhidos os ventos. Os companheiros de Ulisses, não
podendo refrear a sua curiosidade, abriram os odres, donde, saindo os ventos, fizeram
uma horrível desordem e suscitaram uma tão furiosa tormenta, que Ulisses perdeu
filhos dos deuses, eram favoráveis aos mortais. Os quatro ventos principais eram: Bóreas,
vento do norte; Austro, vento do sul; Euro, vento do oriente; Zéfiro, vento do ocidente –
O mais impetuoso era o Bóreas, que habitava a Trácia, a mais setentrional das
Zéfiro era o vento tutelar dos marinheiros. A sua brisa era branda e tépida; quando
se fazia sentir, os navios saíam da Itália e dirigiam-se para as ilhas. Zéfiro desposara
de grinaldas, com asas de borboleta, deslizando levemente através dos ares, e semeando
bem quando praticavam o mal. Pretenderam escalar o céu e cercar Júpiter, e para isso
amontoaram rochedos sobre rochedos, montanhas sobre montanhas, o monte Ossa sobre
o Pélion e, quando atingiram a região das nuvens e das tempestades, atacaram o céu.
Júpiter chamou em seu socorro todos os deuses e deusas. Stix (ou Estinge), filha
De uma e outra parte a resistência foi igual. Júpiter aparecia e toda a parte, multiplicava-
esmagar tudo com os seus cem braços, fazendo chover no Olimpo árvores e rochedos.
um gigante a é precipitado nos infernos. Vulcano, seu filho, deus do fogo, traz varas de
deuses, mas Minerva avança com o seu carro de fogo e ele, amedrontado, foge. Então a
poderosa deusa, levada nas asas dos ventos, toma a Sicília nos seus braços, arremessa-a
Significado simbólico
E sta luta dos gigantes contra Júpiter recorda a luta dos maus anjos contra
das regiões superiores do ar, ou antes o próprio ar. As montanhas parecem sair das
entranhas da terra e querer com seus soberbos cumes, quase sempre cobertos de neve,
escalar o céu. O vulcão, no momento da sua erupção, dir-se-ia um gigante que se agita
Teseu e Pirítoo
(As Mais Belas Histórias da Antiguidade Clássica, por Gustav Schwab)
T eseu era conhecido por sua força e coragem extraordinárias, Pirítoo, um dos
à prova e para tanto furtou as reses do herói. Quando soube que Teseu, armado, o
perseguia, conseguiu o que queria. Quando os heróis se defrontaram, cada qual admirou
a força, a beleza e a coragem do adversário. Como se alguém lhes tivesse dado um sinal,
ambos jogaram suas armas no chão e correram um para o outro. Pirítoo estendeu o
braço direito para Teseu, exortando-o a julgar ele mesmo o roubo das reses.
- A única indenização que exijo – respondeu Teseu com os olhos brilhantes – é que
Teseu perseguindo
as mulheres
Graças à sua amizade com o jovem Pirítoo, Teseu, que já envelhecia, viu renascer
morrera pouco tempo depois de seu casamento, e como Teseu também estava de novo
Teseu no Tártaro
(Os Mitos Gregos – Robert Graves)
Depois da morte de Hipodâmia, Pirítoo convenceu Teseu, cuja esposa Fedra havia
se enforcado não fazia muito tempo, que o acompanhasse numa visita a Esparta e
arrebatasse Helena, irmã dos Dióscuros Castor e Pólux. No lugar onde está o santuário de
Serápis em Atenas, eles, que desejavam estabelecer com Helena uma aliança mediante
sortear a irmã dos Dióscuros depois de havê-la conquistado; e encontrar depois uma
outra filha de Zeus para o perdedor, não importasse que perigos surgissem.
Ele, entretanto, intuiu que os atenienses não aprovariam o fato de ele ter provocado
uma briga com os temíveis Dióscuros, de maneira que Teseu enviou Helena, que ainda não
era núbil — mas uma criança de 12 anos ou, conforme alguns, até menos —, para o vilarejo
ático de Afidna, encarregando seu amigo Afidno de cuidar dela com a máxima atenção e
segredo. Etra, mãe de Teseu, acompanhou Helena e cuidou dela com muito zelo.
Alguns anos depois, quando Helena já tinha idade para se casar com Teseu, Pirítoo
lembrou-o do seu pacto. Foram juntos consultar um oráculo de Zeus, a quem haviam
invocado como testemunha de seu juramento, e sua irônica resposta foi: “Por que não
visitar o Tártaro e pedir a mão de Perséfone, esposa de Hades, para Pirítoo? Ela é a
mais nobre de minhas filhas.” Teseu sobressaltou-se quando Pirítoo, que havia levado
a resposta a sério, obrigou-o a manter sua promessa. Ele, contudo, não se atreveu a
instante, tornou-se parte de sua carne, de maneira que eles não podiam se levantar
as Fúrias os açoitavam e Cérbero os mordia, tudo isso sob o olhar sombrio e zombeteiro
de Hades.
Assim permaneceram em tormento durante quatro anos inteiros, até que Hércules,
vindo por ordem de Euristeu para agarrar Cérbero, reconheceu-os ao estenderem suas
ares superiores, caso fosse capaz. 5 Hércules apanhou Teseu com ambas as mãos e
o ergueu com uma força descomunal, até ouvir-se um som de algo que se dilacera, e
então o libertou, arrancando-o do seu assento; mas grande parte da carne de Teseu
ficou presa à rocha; por isso, os descendentes atenienses de Teseu têm um traseiro
minúsculo. Em seguida, ele tomou as mãos de Pirítoo, mas, ao tremor ameaçador da terra,
desistiu. Pirítoo havia sido, no final das contas, o mentor daquela empresa blasfema.
6 e. Segundo alguns relatos, entretanto, Hércules teria libertado Pirítoo e Teseu, mas
há outros que dizem não ter ele libertado nenhum dos dois, mas abandonado Teseu
Íxion num divã dourado a contemplar, famintos, magníficos banquetes que a maior das
Fúrias constantemente lhes arrebatava. Dizem também que Teseu e Pirítoo jamais foram
ao Tártaro, mas a uma cidade, na Tesprótia ou na Molóssia, chamada Ciquiro, cujo rei,
Aidoneu, ao descobrir que Pirítoo planejava raptar a sua esposa, atirou-o a uma matilha