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PLUUA, MIA, MINA, FUA, MLN-MLNA, UPNA-UPA-FNLA,

MPLA e UNITA.

1.2.1. PCA

Na década de cinquenta, entre 1953-19551, assiste-se à tentativa de


criar o segundo Partido Comunista de Angola, por um grupo de intelectuais
e funcionários, com a preeminência de mestiços, que representa, de facto,
um momento marcante para a história do movimento panfletário angolano,
cuja alma mater foi Viriato Francisco Clemente da Cruz.

A ideia da criação do PCA teria partido, segundo a lenda, de Viriato


da Cruz. As razões para a criação do PCA permaneceram sempre confusas e
à sua volta fizeram-se vários silêncios e omissões. Mesmo entre os
intelectuais da Mensagem, a maior parte deles imbuídos de ideias
marxizantes, os únicos que aceitaram integrar o grupo fundador foram, para
além do seu promotor, Ilídio Machado, Mário António de Oliveira, mestiços
e António Jacinto, branco. Entre os que não aderiram ao projecto do PCA
encontram-se Tomás Jorge, que teria retorquido a Viriato o seguinte: não
eram precisas ideias importadas, para fazer avançar as cousas e também não
se sai debaixo da pata de um coelho, para nos metermos na pata de um urso.
Pensamos que, Tomáz Jorge manifestava sua insatisfação pelo facto de o
PCA ser uma réplica do PCB e o seu estatuto, segundo alguns decalcava do
estatuto do PCB. Monimambo, pseudónimo de Viriato da Cruz foi então

1
É ainda discutível a data de origem do PCA: Carlos Pacheco afirma em MPLA, Um Nascimento Polémico,
Veja, 1997, p.26, que o PCA foi fundado em 10 de Dezembro de 1955, na casa do Ilídio Machado em
Luanda, no entanto este afirmou, no decurso da sua detenção em 1959, que o PCA tinha sido fundado em
1952. António Jacinto afirmaria que o PCA foi fundado a 10 de Dezembro de 1955. Na acta do PCA
existente no Arquivo Histórico Militar português refere que a data da fundação do PCA é de 12 de
Novembro de 1955. Veja-se, O homem e o Mito, p. 124.
nomeado Secretário-Geral e encarregado pelos seus confrades de elaborar os
estatutos e programa da organização.

O PCA tinha como desígnio a luta pelas ideias marxistas-leninistas,


todavia um problema minaria a organização. É que nos anos 50 do volvido
século não exista em Angola um tecido industrial forte, com trabalhadores
africanos imbuídos de uma consciência de classe, com tradições de lutas
sindicais e, ainda menos, uma cultura ideológica marxista. “Não havia nessa
época um proletariado angolano”, o que significava um esforço de
consciencialização nos locais de trabalho, nos bairros indígenas, nos clubes
desportivos e outras localidades mais. A fraca industrialização de Angola era
um dos motivos da inexistência de um proletariado e o Estado Novo
privilegiou por um lado, a agricultura em relação a indústria por formas a
atrasar o aparecimento de uma classe suburbana politicamente hostil.

Este movimento defrontou-se, desde o início com muitas reticências


fora do seu núcleo original, e em 1956 foi extinto com o abandono de Mário
António Fernandes de Oliveira e a fuga de Viriato para Paris. Parece que o
fiasco do PCA deveu-se pelo facto de não ter conseguido mobilizar nem
elementos da pequena burguesia, nem das massas mais urbanizadas de
Angola. Fernando Chasse quanto ao fracasso do PCA afirmaria que “com
isto mostrou, na realidade, que a sociedade africana estava impreparada para
receber conceitos tão avançados como os do marxismo-leninismo”. De
acordo a cultura de medo impregnada na sociedade colonial angolana e o
massivo controlo a que os indígenas estavam sob pena, a atitude de Viriato
da Cruz revelou-se de capital pertinência de tal modo que até o fracasso do
PCA era frívolo. Fernando Chasse continua: “O facto de o Partido Comunista
não ter tido sucesso, não tinha grande importância aos alhos dos seus
conterrâneos, o que importava era o símbolo, o ter ousado desafiar a potência
colonizadora”.
1.2.2. PLUUA

A data da fundação do Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola


(PLUAA) e toda sua existência continua a ser um enigma do nacionalismo
angolano, consubstanciado no MPLA.Segundo a afirmação de alguns dos
seus cofundadores, o PLUAA aparecia assim como alternativa ao PCA e com
objectivo único de atrair as massas populares africanas hostis ao comunismo.

Como substituição ao PCA, cria-se em Fevereiro de 1956 o PLUAA,


mas a sua existência seria mais um mito do que uma realidade, visto que esse
partido nunca teve qualquer actividade digna desse nome, pois não passou
da afirmação da sua existência por parte dos seus fundadores, Viriato Da
Cruz, Castelo Branco e Adriano Sebastião.

O PCA teve fraca adesão, razão pela qual os seus fundadores decidem
então mudar de roupagem exterior e alteram o nome para o de PLUAA, o
qual também não teve grande receptividade. Aparecem, entrementes,
distintos e novos semblantes como, Matias Miguéis, contabilista; André
Franco de Sousa, gerente comercial; Higino Aires de Almeida, músico e com
proveniência do grupo dos mensageiros; “Liceu Vieira Dias”, músico; e
outros tantos como Gabriel Leitão, Germano José Gomes e Francisco Assis
Machado, que num futuro próximo viriam a ter no MIA, uma importante
actividade clandestina.Há indicações de que o PCA e o PLUAA tenham
coexistido, contudo a verdade é que a extinção do PCA colocou o seu
sucedâneo na obscuridade.

O feito mais importante do PLUAA foi o de ter lançado o controverso


(nas palavras de Lúcio Lara citado por Edmundo Rocha) manifesto de 10 de
Dezembro de 1956, que foi adoptado como carta fundadora do Movimento
Popular de Libertação de Angola. Algumas razões evidenciam a controvérsia
deste manifesto, documento que gera no espírito de muitos estudiosos,
muitas dúvidas e reticências.

O manifesto de 10 de Dezembro de 1956 era controverso pelas


seguintes razões:

- Primeiro, porque os historiadores oficiais radicam a fundação do


movimento, o MPLA, na altura do lançamento do Manifesto, em 1956,
engendrando assim um quiproquó de difícil explicação. É de salientar que o
Manifesto, redigido por Viriato e lançado pelo grupo de militantes do
PLUAA, em Dezembro de 1956, não significava fundação de nenhum
partido nacionalista, mas tão-somente, um emocionante apelo à mobilização
de todos os angolanos, para se levantarem contra o colonialismo, de maneira
organizada, criando movimentos, partidos, grupos de contestação em todo o
território angolano2. Consideramos “o Manifesto de 1956 a proclamação que
marca o início do nacionalismo moderno angolano”.

- Segundo, porque a PIDE, que se instala em Angola em 1957, não


consegue encontrar nenhuma cópia do Manifesto entre os numerosos
documentos apreendidos aos nacionalistas detidos em 1959, nem na segunda
vaga de prisões, em 1960, fazendo crer que este documento teria tido uma
difusão muito restrita, senão nula, em Angola, pois não chegou sequer a ser
policopiado. No interrogatório a que Ilídio Machado foi submisso aquando
da sua detenção pela PIDE, em 1959, ele não faz qualquer referência a esse
documento3. Nesse mesmo ano de 1959 nenhum dos outros detidos, no
quadro dos três processos dos diferentes grupos nacionalistas, refere a
existência desse documento. Nem mais tarde encontrámos cópias ou
originais do Manifesto em nenhum dos processos da PIDE consultados nos

2
LARA, Lúcio. “Um Amplo Movimento” Luanda: Edição do autor, 1997, p.30.
3
ANTT, PIDE, Proc. Ilídio Machado, apud ROCHA, Edmundo. Viriato da Cruz: Itinerário Político, In:
ROCHA, Edmundo, SOARES, Francisco & MOISÉS, Fernandes. Angola, Viriato Da Cruz. O homem e o
mito. Op. Cit., pp. 109-206.
Arquivos Nacionais da Torre do Tombo (ANTT), em Lisboa, relativo a
indivíduos angolanos ou a movimentos nacionalistas4.

- Terceiro, porque houve uma testemunha ocular que afirma ter lido
na presença de Marcelino dos Santos, o original manuscrito a tinta verde,
escrito pelo punho de Viriato, mas não assinado nem datado, trazido para
Liège (Bélgica) pelas mãos de Mário de Andrade, vindo de Paris.

- Quarto, porque no seu livro Um Amplo Movimento… Lúcio Lara


reproduz o Manifesto nas páginas 23 a 29, já entretanto datado e
dactilografado e assinado “Movimento Popular de Libertação de Angola”.

- Quinto, porque sendo o Manifesto um texto extenso de várias páginas


manuscritas (tal como os estatutos do PCA) levanta-se o problema do
enorme risco que comportava o transporte desses documentos na viagem de
Viriato da Cruz para Lisboa, quando ele sabia estar estreitamente vigiado
pela PIDE, já nessa altura. Por seu turno, Lúcio Lara afirma que, na reunião
que houve então em Lisboa, com os mais velhos em casa de Amílcar Cabral,
tanto o MANIFESTO como os estatutos do PCA não teriam sido mostrados
nem discutidos com os correligionários. Existem três versões do Manifesto
no espólio de Mário Pinto de Andrade depositado no Arquivo da Fundação
Mário Soares:

A primeira versão é um original, escrito a lápis, com caligrafia de


Viriato da Cruz; e duas outras versões escritas à máquina em papel carbono
preto.

Duas outras versões escritas em carbono preto estão escritas em papel


branco fino: uma contém cerca de onze páginas e não possui qualquer

4
Ibidem, p.127.
anotação manuscrita, que corresponde ao manuscrito tal como estava antes
de o Mário ter acrescentado o título e a data.

A segunda possui título – O Manifesto do MPLA – e no final foi


datado com Dezembro de 1956. Um aspecto pertinente salta aos olhos, no
que tange a data de Dezembro de 1956, que quanto a isto José Carlos Horta
em conversa com Fernando Hedviges Chasse faz o seguinte comentário:

“Porém, esclareço, à data inscrita no referido


manuscrito, isto é, Dezembro 1956 escrito a tinta pelo
Mário, o Viriato encontrava-se em Luanda, pois ele
embarcou com destino a Lisboa a 30 de Setembro de
1957 no paquete Uíge, com pleno e cabal conhecimento
da PIDE, pelo que se julga que terá havido lapso do meu
amigo Mário, certamente perdido nos seus sonhos de um
mito tecido à volta da batalha de Ourique que quis
transpor para o MPLA, pois efectivamente trocou 1957
por 1956. No original, com cerca de trinta folhas, que
me foi dado a ler pelo Mário de Andrade, não continha
título, nem data, alterações que certamente não foram
inscritas pelo Mário no original que recebera das mãos
de Viriato”.
O fracasso das suas primeiras tentativas políticas revelou, todavia,
uma análise política deficiente e inadaptada à fase histórica do contexto
sociopolítico angolano. Em termos de mobilização política, em Angola, tudo
estava nessa época, por fazer. Ressalta-se, porém que já nessa época existiam
condições objectivas de grandes possibilidades de mobilização política, não
só junto dos trabalhadores africanos, todavia também no seio dos
funcionários, nos musseques, nos clubes desportivos africanos e nos espaços
religiosos. Comprova-o o portento préstimo de sensibilização do fórum
íntimo realizado pelos militantes que prosseguiram a luta, já com bandeiras
nacionalistas desfraldadas do MIA e mais tarde, do MINA, até ao início da
luta de libertação a 4 de Fevereiro de 1961.
1.2.3. MIA

Em Luanda, perante o insucesso do PLUUA, os subscritores do


Manifesto lançam, em 1958, um novo movimento menos conotado com o
marxismo e com características nacionalistas mais vincadas. Esse
movimento viria a chamar-se, por iniciativa de André Franco de Sousa, de
Movimento para a Independência de Angola (MIA) e granjeou uma grande
simpatia entre a pequena burguesia africana, conseguindo exercer uma
influência considerável nos meios nacionalistas em Luanda, no Lobito, em
Benguela, no Uíge e em Malanje. Os elementos mais dinâmicos e influentes
foram Ilídio Machado, André Franco de Sousa, Higino Aires de Sousa e
Almeida, Liceu Vieira Dias, Gabriel Leitão, Joaquim Figueiredo, Eduardo
Correia Mendes, António Monteiro, António Rebelo de Macedo e Beto Van-
Dúnem5.

O Movimento para a Independência de Angola (MIA) teve a sua


origem sociológica no vazio social criado pela injustiça e discriminação e,
sobretudo pela irracionalidade do sistema colonial.

Segundo Edmundo Rocha, a criação do PCA constituiu o rastilho, mas


o mérito do prosseguimento da luta clandestina deve ser atribuído, sobretudo,
a Ilídio Machado, o último sobrevivente do grupo fundador do PCA, que
soube reunir à sua volta nacionalistas angolanos determinados, filhos da
pequena burguesia. Este pequeno grupo de militantes substituiu as teses
marxistas-leninistas pelas ideias nacionalistas e independentistas. Aliás, o
próprio título é revelador: Movimento para a Independência de Angola. Já
não evocava trabalhadores ou marxismo, no entanto somente a liberdade, a
independência nacional. Tendo uma franca aceitação, ganhando militantes,
estendendo-se a outros sectores sociais, aos representantes do clero

5
ROCHA, Edmundo, Vol. I. Op. Cit., p.121.
angolano, aos novos assimilados dos musseques, a Angola profunda, às
senzalas e aos quimbos, o MIA conseguiu ultrapassar a restrita tertúlia de
intelectuais luandenses.

Terá um importante papel no período panfletário angolano com a


impressão de alguns opúsculos nas principais cidades, mercê à chegada ao
Lobito de uma policopiadora enviada de Lisboa.

1.2.4. MINA

Em 1959, um grupo de nacionalistas que tinha ficado incólume às


rusgas iniciadas pela PIDE a 28 de Março de 1959, Manuel Pedro Pacavira,
Cândido Fernando da Costa e Bernardo Silas fundaram nos meses de Abril
ou Maio de 1959 o Movimento para a Independência Nacional de Angola
(MINA), cuja origem remota é, verosimilmente, o Movimento para a
Independência Nacional (MIN). Quanto a data e figuras que fundaram o
MINA, o primeiro Volume da História do MPLA afirma o seguinte:

“Ainda no mês de Dezembro de 1959, na casa de


Herbert Pereira Inglês, e com a presença de Manuel
Pedro Pacavira6 José Bernardo Domingos, Joaquim
Bernardo Manuel, Bernardo Joaquim Silas, David
Bernardo d´Eça Queirós, Rodolfo da Ressurreição
Bernardo, Fernando Coelho da Cruz e Adriano
Sebastião, decidiu-se criar o Movimento para a
Independência de Angola (MINA) ”7.
Após a sua criação, o MINA começa imediatamente a sua actividade
política, dando-se a conhecer, com a proliferação dos seus panfletos nas
principais cidades de Luanda8.MINA reconhecendo a premente necessidade
de conjugação dos esforços para a criação de um espírito mais unitário entre
todos os angolanos apela à união dos angolanos sem discernimento do local

6
Seu pseudónimo era PAKASSA.
7
AN/TT, Arquivos da PIDE, Auto de Perguntas de David Bernardo D´Eça de Queirós, fls. 412 apud
História do MPLA, Vol. I. Op. Cit., p. 94.
8
História do MPLA, Vol. I, p. 94.
de nascimento, pois o principal desígnio era o alcance da independência
total, lutando contra a opressão colonial.

1.2.5. ELA

O ELA na sua origem é um pequeno grupo de amigos que exerce


algumas actividades políticas em Luanda a fim de reforçar as autoridades
coloniais portuguesas a implementar rapidamente reformas económicas,
políticas e sociais9.

Também designado por Movimento de Libertação de Angola


(MLA)10 teve a sua origem no início de uma noite quente de Janeiro de
195211, quando um grupo deamigos – António Pedro Benge, Fernando
Pascoal da Costa, e Joaquim de Figueiredo, agentes da administração pública
de Angola, se reuniram na Cervejaria Majestatic, sita na Rua de S. Paulo, em
Luanda, para em amena cavaqueira discutirem os problemas de sua terra, ou
seja, humilhações, injustiças sociais, as perseguições e palmatoadas do chefe
do posto, o Poeira12.

Redigiam algumas epístolas e faziam exposições ao Governador-


Geral, corporizando nas mesmas os queixumes das populações africanas na
esperança vã de receberem riposta alguma que os comprometesse com a
independência de Angola, sendo que os destinatários de tais missivas, jamais
se apoquentaram em dar ripostas. Procurando esquivar-se da PIDE,
adoptaram uma designação, uma sigla tendo como pivô as letras iniciais dos
pseudónimos de cada membro. António Pedro Benge, com o pseudónimo de
Ernest Guendes, Fernando Pascoal da Costa, com o de Luzerna Pinto

9
MBAH, Jean Martial Arsène. Op. Cit., p.94.
10
Cf. Auto de perguntas a Pascoal Gomes de Carvalho, in DGARQ – PIDE/DGS Angola, Processo nº
22/59, NT. 452, 1º volume, fls.227 apud CHASSE, Fernando Hedviges. Op. Cit., p. 87.
11
MBAH na sua citada obra presume ter sido fundado o ELA entre os finais de 1957 ou inícios de 1958.
12
CHASSE, Fernando Hedviges. Op. cit., p. 87.
Mendes e Joaquim de Figueiredo que tinha o de Arnaldo Goreva. É, portanto
assim que com a primeira letra de cada alcunha, formaram a sigla ELA.

Edmundo Rocha afirma que o ELA estava estreitamente ligado à UPA,


com sede em Léopoldville, para onde enviavam informações e dinheiro e
donde recebiam panfletos. Prossegue o autor, provavelmente ligados
também ao «amigo de makarius», (Monsenhor Manuel das Neves) e a
Rosário Neto, os quais tinham contactos secretos com a UPA13. Tempos
mais tarde, o grupo viria a conhecer novos rostos com a adesão de André
Rodrigues Mingas, Belarmino Sabugosa Van-Dúnem, Sebastião Gaspar
Domingos, Nobre Pereira Dias e Pascoal Gomes de Carvalho14.

Como rotineiramente, foi exigido aos noviços do grupo o dever de


sigilo e de segurança e foi imposto o juramento de morte e de fidelidade,
efectuado por cima da espingarda de marca Kinoch, da pertença de Fernando
Pascoal da Costa, ritual que se fazia debaixo de um cajueiro adjacente a
igreja de Fátima. Mendes de Carvalho toma a iniciativa de formação de um
grupo ou associação recreativa, tendo para o efeito contado com o subsídio
dos seus confrades, Adão Domingos Martins, Florêncio Gamaliel Gaspar,
Fialho Gaspar, José Diogo Ventura e outros…, que em espírito de
unanimidade acordaram chamar-lhe de Espalha Brasa, designação
certamente que visava afastar a curiosidade de terceiros, concretamente da
PIDE e outrossim, para discerni-la de outras organizações já então existentes
como o Bota Fogo15. Como o Espalha Brasa era constituído
maioritariamente por enfermeiros, a polícia política batizou-os com o nome
de Grupo dos Enfermeiros16.

13
ROCHA, Edmundo. Vol. I. Op. Cit., p. 128.
14
CHASSE, Fernando Hedviges. Op. cit., p. 88.
15
Ibidem, p.89.
16
Idem.
1.2.6. UPNA – UPA – FNLA

As arbitrariedades impostas pelas autoridades coloniais sobre as


populações indígenas não civilizadas, as melhorias de condições de vida nos
países vizinhos com diferente sistema de dominação ombreando a Portugal
viria a ser um motor para a emigração das populações africanas, mormente
nas regiões fronteiriças dos países vizinhos. Entretanto, Edmundo Rocha
aventa o seguinte:

“Para escapar ao contrato e fugir à miséria, observam-se


desde os anos quarenta, fortes correntes migratórias,
com carácter temporário ou permanente, para as minas
do Sudoeste africano (Namíbia), para a Rodésia do
Norte (Zâmbia), e mesmo para as minas da África do
Sul, no entanto sobretudo para o Congo Belga (Catanga
e Léopoldville)”.
As populações angolanas emigradas lá chegadas, organizavam-se ou
integrava-se nas associações culturais, filantrópicas e políticas já aí
existentes. Sendo assim, é promovida a União das Populações do Norte de
Angolana (UPNA) e a ALIAZO (Aliança dos Originários de Azombo, que
segundo Edmundo Rocha,“ tiveram uma grande importância no despertar do
nacionalismo moderno angolano na emigração no Congo Belga”. Na
Rodésia destacaram-se a Associação dos Chokwe do Congo, Angola
Rodésia (ATCAR) e Associações dos Luvale e Luchazes.

A morte de D. Pedro II em 1955, constituiu um detonador. Por essa


ocasião faz eclodir as hostilidades entre monarquistas católicos e
protestantes. Ora, como o Rei do Congo do D. Pedro VII não deixou
herdeiros directos, sucedeu-lhe a rainha consorte, princesa D. Isabel. Assim,
abriu-se um problema dinástico grave17.

17
CHASSE, Fernando Hedviges, op. Cit., p. 50.
Para preencher o vazio sucessório apareceram alguns candidatos:
António José da Gama, católico, apoiado pelas autoridades coloniais e o
protestante Manuel Barros Nekaka, co-fundador da UPNA apoiado pela
Ngwizako, sucedânea da Liga Nacional dos Maxicongos e pelos fiéis da
igreja Baptista realista. Para a melancolia destes últimos, o poder colonial
que detinha o poder arbitral, não tinha naturalmente, a mesma opinião dos
protestantes e via a ocupação do Congo apenas como uma reminiscência
histórica, pelo que não sentia qualquer repulsa em reconhecer a existência de
uma entidade gentílica com a designação de Rei do Congo. Ainda Assim, a
sua escolha devia recair sempre numa qualquer figura decorativa, de credo
católico e do pleno agrado dos poderes coloniais18. A tese colonial vingou
e foi eleito como Rei do Congo o católico António José da Gama, situação
que despoletou uma grande onda de descontentamento popular, sendo que,
Manuel Sidney Barros Nekaka depressa entrou em confronto com as franjas
da Ngwizako e em dissidência política. Tio materno de um amanuense da
administração belga, nascido em Angola, mas criado no Congo Belga:
Holden Roberto. Nekaka entregou a presidência ao seu sobrinho materno
Holden.

Foi no dia 1º de Dezembro de 1957 que Manuel Barros Nekaka, John


Eduardo Pinnock e Eduardo Tangui, um monárquico católico que se tinha
juntado aos protestantes, assim como outros imigrantes angolanos, se
reuniram em Leopoldville, no domicílio de Holden Roberto, sobrinho de
Nekaka, como já se disse atrás. Na sua génese a UPNA tinha pretensões de
restaurar o antigo reino do Congo.

A UPNA começa a estabelecer contactos que apoiassem e


favorecessem a criação de uma organização que lutasse pela independência
de Angola a partir de Leopoldville. Numa primeira fase, os EUA choca com

18
Ibidem, p.51.
os projectos da UPNA, entretanto nem por isso deixa de apoiá-los. Uma série
de convites foi enviada aos Estados independentes como a Etiópia e Líbia e
outros mais, em nome da solidariedade Africana19. A União Indiana,
dirigida nessa altura pelo Pandita Neru, a China Popular de Mao Tsé Toung
e Chou En Lai, e a União Soviética receberam também convites em nome da
amizade20.

Uma peripécia de fulcral importância veio modificar os dados do


problema e propulsar a UPNA e Holden Roberto para a arena internacional:
a independência da República do Gana e o seu presidente de então, o
Osagyefo Kwame N´Krumah. Eminente personalidade política, assaz
apreciada nos meios políticos e nacionalistas do continente africano pelas
suas ideias progressistas e pan-africanas.

Krumah, após ter provavelmente sido informado em Abril de 1958


pelos membros da ACOA, da criação em Leopoldville de um movimento
nacionalista angolano, envia duas mensagens aos dirigentes da UPNA dos
quais ignorava de resto as identidades. A primeira mensagem tinha um
carácter amistoso, pois Krumah informava pessoalmente do seu casamento.
Pelo contrário, o teor da segunda mensagem era de índole política,
convidando toda direcção da UPNA e outros nacionalistas a deslocarem-se
ao Gana no decorrer desse mesmo ano em 1958, pois o país preparava-se
para organizar a Primeira Conferência dos povos africanos. Esta conferência
ia congregar Estados independentes, outros movimentos de libertação
nacional africanos, entre os quais a FLN argelina e líderes africanos. Para a
viagem de Holden foi preciso colecta de meios financeiros em Léopoldville
e em Angola.

19
Ibidem, p. 52.
20
Idem.
Lá chegando Holden estabeleceu contactos com distintas e
proeminentes personalidades africanas. Dos contactos que Holden
estabeleceu com algumas personalidades pan-africanas, a exemplo de
Kwame Krumah do Gana, Franz Fanon da FNL, Tom Mboya do Quénia,
Patrice Lumumba do Congo Leopoldville, Keneth Kahunda da Zâmbia,
Joshua Nkomo do Zimbabwe, Kamazu Banda do Niassalândia, com especial
destaque à Patrice Lumumba, obteve alguns conselhos, que modificaram a
sua geopolítica, sugerindo, com efeito, a retirar o termo Norte na designação
da UPNA, porque tal tornaria a organização tribal e sectária, pois, pela
dimensão geográfica do reino, a organização estaria sujeita a enfrentar países
como Portugal, o Rei Leopold II e a França que nesta altura colonizavam os
territórios delimitados pelo reino. Reconhecendo o empenho de Patrice
Lumumba, Holden Roberto citado por Jaime & Barber refere o seguinte:

“ […] Foi com Lumumba que eu iniciei a política no


Zaire; ele apoiou-me e ele disse que nós devíamos
colaborar porque se Angola tivesse a sua independência
antes do Zaire nós iríamos ajudar o Congo… se fosse o
Congo primeiro, então iríamos ajudar Angola”21.
Passando a designar UPA a 7 de Dezembro de 1958, Holden Roberto
transformou a UPNA num movimento político de dimensão nacional,
visando a independência de todo o território de Angola. Holden Roberto
adoptara o pseudónimo de José Gilmore, eleito membro do Comité Director
com residência fixa em Acra no Gana, entre 1959 a 1960, passando a
denunciar amiúde a situação crítica na colónia de Angola22 que segundo as
palavras de Jorge A. Valentim [Angola] “era nessa altura vista como o país
do silêncio sepulcral”23.

21
DRUMOND, Jaime & Barber, H. Angola: Depoimento para a História Recente, edições dos autores,
1999, p. 16.
22
Ibidem.
23
VALENTIM, Jorge A. Esperança. Luanda: Editorial Nzila, 2005, p.44.
A mensagem de liberdade difundida pelo dirigente da UPA, a partir
dos microfones da UPA, atingiu Angola, sobretudo nas províncias nortenhas.
Em Luanda, a exemplo paradigmático, a UPA granjeou prestígio e simpatia
nos grupos dos Enfermeiros e alfaiates que haviam fundado o ELA, Bota-
Fogo, Atlético e no Espalha Brasas, com os quais estabeleceu as vias de
comunicação e passaram a colaborar enviando informações e apoio
financeiro, através das missões protestantes Baptista e Metodista, em
Leopoldville, Matadi e São Salvador. Na cidade do Lobito, concretamente
no Bairro Canata, os militantes da Organização Cultural de Angolaque
escaparam da onda de prisões de 1958 [sic], reagruparam-se
clandestinamente e formaram uma célula clandestina, sendo a primeira da
UPA organizada em Angola24.

Em 1957, o profeta Simão Toco cria a Associação Mútua dos


Originários do Zombo (ASSOMIZO), no entanto um grande número de
originários daquela área preferem congregar-se na ALIAZO (Aliança dos
Zombo), cujo primeiro presidente foi André Makassi, da Igreja Baptista,
editor do Jornal Sikama (Despertar). A ALIAZO evoluiu para Partido
Democrático Angolano e veio a fundir com a UPA em 1962, formando
FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), sob presidência de
Holden Roberto.

1.2.7. MPLA

O MPLA surge de um longo processo de aglutinação das diversas


formações políticas e tendências ideológicas que despontaram no interior de
Angola e se desenvolveu no exterior de Angola. Joaquim Pinto de Andrade
citado por Jaime & Barber afirma “até aos dias de hoje a data da sua fundação

24
Edmundo Rocha apud LUACUTE, Bernardino C. B. op. Cit., p. 61.
e a identidade dos promotores continuam envolvidas numa descerrada
controvérsia, quer do ponto de vista histórico, quer em termos sociais”.

Na versão oficial, o MPLA teria sido criado em 10 de Dezembro de


1956, como consequência da junção do Partido da Luta Unida dos Africanos
de Angola (PLUAA), do Movimento para a Independência de Angola
(MINA) e do Partido Comunista Angolano (PCA). Iko Carreira avança que
além destas organizações tiveram também influência na questão a Comissão
do Partido Comunista Português, a Comissão de luta contra o imperialismo
colonial Português, gente da Angola Negra e da Mensagem, membros do
MLA, do MAJE Fuja do ELA.

Politicamente a sua fundação cooptada com a data do lançamento do


manifesto acontecido a 10 de Dezembro de 1956, que aferia sucintamente à
premente necessidade de lançar Um Amplo Movimento Popular de
Libertação de Angola, parece ter implicações e pretensões políticas.

Em 1959 realizou-se em Roma o II Congresso de Escritores e Artistas


Negros, na reunião magna organizada pela Presence Africaine, na capital
italiana, no qual estevam presentes Mário Pinto de Andrade, Joaquim Pinto
de Andrade e Viriato da Cruz. Os contactos destes nacionalistas angolanos
com Franz Fanon, teórico da revolução africana e nacionalista respeitado de
grande envergadura política, tinha servido para abrirem as portas da Tunísia,
que iria albergar em Janeiro de 1960, a IIª Conferência Pan-Africana,
prerrogativa única para o movimento anticolonial (MAC, do qual faziam
parte os citados nacionalistas angolanos) ganhar alguma visibilidade,
ombreada a Holden Roberto, chefe da UPA que já se implantara no noroeste
de Angola e vice-presidente da conferência, com um palmarés político
invejável25.

Viriato da Cruz, Mário de Andrade e outros eram membros e


militantes do MAC, fundado em 1957. Como a Conferência Pan-africana só
admitia movimentos políticos nacionais e estes, se quisessem ser aceites
oficialmente, tinham mesmo que se apresentar como dirigentes de
movimentos nacionais. É nesta ordem de ideias que Viriato apresentou a
proposta do título do novo movimento angolano, repescado do Manifesto de
1956: “Amplo Movimento Popular de Libertação de Angola”. Entrementes,
para os imperativos tácticos face à UPA, como diz Edmundo Rocha, era
necessário dar a noção de anterioridade, e assim se cria o mito de 1956, ano
em que Viriato lançara o PLUAA e o Manifesto. E esse artifício prossegue
o autor, impunha a existência desse movimento (MPLA) no interior de
Angola. Esses dois argumentos – anterioridade e interioridade eram
absolutamente necessários na estratégia para contrapor a presença bem real
da UPA no terreno, em Angola, a qual já era aceite oficialmente pelos líderes
africanos desde a Iª Conferência Pan-Africana de Accra, realizada dois anos
antes.

A fundação do MPLA, em Tunes, em Janeiro de 1960 e a inverdade


histórica – a criação do MPLA em 1956, nascem nessa conferência, pelas
mãos de Viriato da Cruz e Lúcio Lara. A propósito da fundação do MPLA,
afirma o reverendo Joaquim Pinto de Andrade: “É inexato dizer que o MPLA
nasceu antes de 1960, nasceu sim entre Janeiro e Junho de 1960. O MPLA
não nasceu em 10 de Dezembro de 1956, nem mesmo na rua Higino Aires,
nessa casa que estava destinada a acolher o museu do MPLA. Frequentei
essa casa, que era a do Ilídio Machado. Era nessa casa que se reuniam os

25
ROCHA, Edmundo. Viriato da Cruz: Itinerário Político, In: ROCHA, Edmundo, SOARES, Francisco &
MOISÉS, Fernandes. Angola, Viriato Da Cruz. O homem e o mito, op. Cit., pp. 109-206.
militantes da MIA, MINA, e do PLUAA, que mais tarde iriam unir-se uns
aos outros”.

Com relação a testemunhos que argumentam a fundação do MPLA em


1956, Joaquim Pinto de Andrade, referindo-se a Mário Pinto de Andrade,
Lúcio Lara e outros faz o seguinte comentário: “os testemunhos desses
jovens angolanos não serão determinantes e impor-se-ão apenas como fontes
de informação de importância secundária. Tendo a sua maioria deixado
Angola nos finais dos anos quarenta, não eram actores directos dos
acontecimentos políticos que tiveram lugar no período de clandestinidade”.

O único sobrevivente dos subscritores «entenda-se subscritores como


aqueles que aprovaram o texto do Manifesto de 1956», André Franco de
Sousa, afirma que o MPLA nasceu em 1956, tendo essa sigla sido mantido
secreta, só do conhecimento dos fundadores e tendo a sigla MIA sido
utilizada dentro de Angola, reservando-se a sigla MPLA para o exterior. Um
aspecto não menos importante e que vale a pena aqui ressaltar, é que nem
André Franco de Sousa, detido pela PIDE em 1959, isto é, antes da II
Conferência Pan-africana de Tunes, tampouco outros nacionalistas presos na
mesma ocasião e implicados nos processos revolucionários-nacionalistas
havia durante o interrogatório e julgamento, referindo-se a um movimento
chamado MPLA, o que certamente põe em xeque a versão de André Franco
de Sousa e muitos outros.

O próprio Agostinho Neto, só em Maio de 1960 muda a sigla MINA,


para MPLA, na sequência de directrizes do seu amigo Lúcio Lara, em missão
em Brazzaville e, transmitidas para Luanda por Manuel Pedro Pacavira. A
propósito, Fernando Hedviges Chasse argumenta: “Manuel Pedro Pacavira
encontrava-se em fins de Abril de 1960 no Congo (Brazzaville) com Lúcio
Barreto Lara, do qual recebe várias directrizes. Em Luanda, Pacavira informa
que trazia do Congo (Brazzaville) directrizes para ser criado o MPLA no
interior, acontecimento que terá ocorrido à volta do primeiro Domingo de
Maio de1960”.

É, todavia a partir de Tunes que, pela primeira vez, é pronunciada a


sigla MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, cuja origem
remota é no discurso oficial, o manifesto datado de 1956.

1.2.8. UNITA

Entre 11 a 13 de Março de 1966 realiza-se o I Congresso da


organização em Muangai, Leste do país, que marca a fundação da UNITA.
Antes mesmo da sua fundação, Jonas Savimbi tinha contactado movimentos,
governos africanos e dirigentes nacionalistas angolanos e estrangeiros que
combatiam o colonialismo. Passara pelo MPLA, juntara-se à UPA, tentara
recolher apoios na União soviética e nas viagens a Berlim, Praga, Budapest
e Varsóvia, recebe ajuda da China, Congo (futuro Zaire), Egipto, Marrocos
e Tanzânia. É membro da FNLA, e ministro do seu governo revolucionário.
Volta ao MPLA e, de novo afasta-se.

Segundo Bridgland citado por Luacute, Jonas Savimbi e António da


Costa Fernandes, ambos dissidentes do GRAE, depois de sucessivos
encontros num hotel de Champay nos Alpes suíços, idealizaram a formação
de uma nova força de libertação nacional, denominada UNITA26.

Dado facto da já existência de dois movimentos nacionalista


angolanos lutando contra o sistema de dominação colonial, parece
interessante evidenciar algumas razões que estiveram na base da formação
de uma terceira força política. Antes de ter fundado a UNITA, Jonas Savimbi
estabelecera ligações e relações epistolares com o Movimento Popular de

26
LUACUTE, Bernardino C.B., op. cit., p. 144.
Libertação de Angola. Do vínculo estabelecido, Jonas Savimbi depara-se
com duas situações controversas:

1 – O facto de ser bolseiro das igrejas cristãs protestantes;

2 – Integrar um movimento (MPLA) de orientação Socialista com


pendor ideológico comunista, contra a visão e a perspectiva das igrejas
cristãs. Savimbi era bolseiro e, efectivamente integrar ou adoptar tendências
socialistas era demais arriscado. Escrevera em Abril de 1960, para o Comité
Director do MPLA, nos seguintes termos:

“Tenho uma bolsa das Missões Evangélicas […]. Os missionários


suíços já começaram com a língua de eu ser comunista. Os americanos têm
um tal medo do termo comunista que um dia chegado aos seus ouvidos não
sei se hesitarão em me cortar a bolsa […]. Como sabeis, a Suíça é um país
mais capitalista deste pobre ocidente27”.

Jonas Savimbi havia sido aconselhado a ingressar na UPA por Tom


Mboya e Jomo Kenyata, durante o contacto que teve com estes numa
conferência de Estudantes Africanos que se realizara em Makerere na
Uganda. De acordo àqueles dirigentes, “o MPLA era um movimento
comunista de mestiços” e a UPA “a organização ideal que defende a raça
negra28”. Jonas Savimbi na qualidade de negro julgava estar sendo
manipulado por mulatos “para ser exibido em Kampala29” como
representante do MPLA, uma organização conotada, por altura, como sendo
de mestiços30.

27
Cf. LARA, Lúcio Lara, op. cit., pp.410-411.
28
LUACUTE, Bernardino C. B. op. cit., p. 133.
29
Cf. Bridgland, F. Jonas Savimbi, Uma Chave para África. Lisboa: Edição Perspectivas e Realidades,
1988, p. 51.
30
Eram considerados mestiços, indivíduos luso-descendentes, negros abastados e assimilados,
Sendo um autêntico defensor da Negritude e imbuído dos mesmos
ideais, Jonas Savimbi nutria à medula uma grande desconfiança e total
cepticismo quanto à fidelidade a causa africana dos dirigentes mestiços que
dirigiam o MPLA e as reais motivações que movia essa camada a lutar em
prol da liberdade das massas populares negra.

A propósito das desconfianças, numa epístola dirigida ao seu amigo


José Carlos Horta, Viriato da Cruz tece as seguintes considerações: “Para
maioria dos negros, os brancos e mestiços são incapazes de uma fidelidade
absoluta aos negros. Daí que a desconfiança que essa maioria nutre em
relação aos brancos e mestiços”31. Talvez seja este o facto que levaria
Viriato a afirmar, a malta tem esquecido que a luta na qual estamos engajados
é uma luta de reivindicação dos negros.

Jonas Savimbi abandonaria em 196432 a UPA, sua antiga organização


política e arrasta consigo uma grande parte dos companheiros que ele lá
havia levado por influência tribal e regional e outros tantos encontrados por
ele33, pretextando o sectarismo e o facto de Holden ter negado transferir
para o interior uma parte dos seus efectivos. Terá um preponderante papel
na luta de libertação nacional e revitalização da luta na frente-leste.

31
LUACUTE, Bernardino C. B. Op. Cit., p. 134.
32
WHEELER, Douglas & PÉLISSIER, René. Op. Cit., p. 317.
33
MATROSSE, Dino. Memórias e Reflexões. Luanda: editorial, 2008, 107.

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