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Mestrado em Psicologia Social e da Saúde

Ano Letivo 2023/2024

UC: Atitudes e Comportamentos de Saúde

Vi(ver) Atrás das Telas:


Os Efeitos Negativos da Exposição Constante a Dispositivos Eletrónicos na Infância

Docente:
Professora Cristina Camilo
Professora Marta Matos

Discentes:
Inês Hilário Lopes, nº 120816
João Raposo, nº 121475
Maria Teresa Saldanha, nº 92992
Mariana Filipa Bessa Nunes, nº 120307

18.12.2023
Índice

Definição do problema de saúde e população alvo: 3

Implicações para a qualidade de vida: 4

Identificação dos principais determinantes comportamentais e sociocognitivos do

problema de saúde: 6

Revisão de literatura sobre principais determinantes sociocognitivos de um

determinante comportamental escolhido de forma justificada 9

Apresentação de modelos Teóricos do Processo 11

Métodos e técnicas de mudança comportamental 15

Ilustração dos métodos de mudança comportamental 16

Anexos 22

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Resumo (PT):

Foi solicitado aos alunos da Unidade Curricular (UC) de Atitudes e Comportamentos

de Saúde que escolhessem um problema de saúde. No caso do presente trabalho, foram

escolhidos os danos oculares e problemas socioemocionais causados por dispositivos

eletrónicos, nas crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 9 anos de idade.

Foi ainda proposto aos alunos que identificassem os determinantes sócio-cognitivos e

comportamentais e, posto isso, escolhessem alguns métodos de mudança para prevenir ou

evitar este comportamento.

Dessa forma, o principal objetivo deste trabalho seria adotar um plano de ação nas

escolas de Lisboa de forma a consciencializar os cuidadores a ter um papel mais ativo e

consciente no controlo da frequência e tempo de utilização dos dispositivos electrónicos por

parte dos seus filhos. Para que isso fosse possível, adotar-se-ia um método de mudança

descrito em Bartholomew et al. (2011) e duas técnicas de mudança comportamental de

Michie et al. (2013).

Palavras-chave: Danos oculares; crianças; dispositivos eletrónicos; mudança

comportamental; técnicas e métodos;

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Definição do problema de saúde e população alvo:

O problema de saúde que se pretendeu explorar ao longo deste trabalho tem como

foco as crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 9 anos de idade, procurando

estudar especificamente a problemática em torno dos dispositivos eletrónicos, que podem

causar problemas a nível da saúde física, como, por exemplo, danos oculares graves, mas

também problemas socioemocionais, como por exemplo, dificuldades em gerir as emoções e

dificuldades na aprendizagem.

Foi considerado que este tema merece rigorosa atenção, uma vez que tem sido

constatado que o uso excessivo destes dispositivos por parte das crianças, conduz a

consequências sociais, psicológicas, físicas e neurológicas (Reid Chassiakos, et al., 2016).

Entre os inúmeros riscos que as luzes falsas podem trazer às crianças, quando existe

uma elevada exposição, frequência e proximidade aos ecrãs, existe uma maior probabilidade

das crianças virem a desenvolver problemas físicos, essencialmente a nível ocular, tais como:

fototoxicidade (inflamação ocular), síndrome do olho seco (SOS), que se caracteriza por uma

vermelhidão ocular, conjuntivite, mal-estar corporal, ceratites e ainda, erros de refração. O

síndrome do “Olho de Computador” (Computer Vision Syndrome), é muito comum em

crianças e adolescentes e é conhecido por sintomas como: dor-de-cabeça, desconforto ocular,

olhos secos, irritação, diplopia (visão dupla) e visão “desfocada”, devido às acomodação

ocular (Rosenfield, 2011).

Além disso, é também sabido que as crianças que desde pequenas criam o hábito de

passar muitas horas em frente a um ecrã, para além de poderem desenvolver problemas

oculares, podem também desenvolver problemas de aprendizagem associados a isso. Muitas

vezes os problemas de aprendizagem como dislexia, dificuldades de leitura e défice de

atenção, podem estar relacionados com este mesmo comportamento. Também é possível que

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crianças que não socializem tanto até uma certa idade, por passarem muito tempo expostas a

luzes falsas, tenham mais dificuldades a nível de socialização e de gestão de emoções (Spina

et al., 2021)

Implicações para a qualidade de vida:

Como é de conhecimento geral, os dispositivos eletrónicos foram inseridos na

sociedade contemporânea e rapidamente se tornaram indispensáveis no quotidiano (Reid

(Chassiakos, et al., 2016). Consequentemente o acesso a estes dispositivos tornou-se mais

fácil, e a sua presença cada vez mais constante. Todos os aparelhos eletrónicos, sem exceção,

emitem luz violeta artificial de elevada potência luminosa, para a qual, o ser humano não tem

qualquer proteção natural pelo que, a exposição à mesma tem efeitos nocivos (Vandewalle,

2009).

Por “dispositivos eletrónicos” entende-se telemóveis, tablets, computadores e

televisões. Numa análise mais personalizada, para além de se ter em consideração a

frequência com que o comportamento acontece, deve-se averiguar a intensidade com que esse

comportamento ocorre, isto é, se a tecnologia foi usada por longos períodos de tempo, o risco

é maior. Mas esta ameaça não se considera em contextos escolares ou ambientes formais de

aprendizagem, dizem sobretudo respeito ao contexto mais global de utilização,

nomeadamente em contextos familiares em que a tecnologia, seja em que plataforma for, está

presente e promove a maior parte do tempo de entretenimento das crianças (Shields &

Behrman, 2000).

Tem vindo a ser cada vez mais comum o aparecimento de sintomas e diagnósticos de

problemas oculares tais como a miopia, a sensação de corpo estranho, os olhos lacrimejantes

e xeroftalmia, isto dever-se-á ao tempo passado em contacto com dispositivos eletrónicos,

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principalmente no caso de crianças e jovens a quem, não seria previsto diagnosticar este tipo

de incapacidades oculares em tão tenra idade (Mohan A, et al., 2021; Kim J, et al., 2016).

Será ainda relevante mencionar que, além dos problemas oculares, a utilização

recorrente de dispositivos eletrónicos acarreta uma panóplia de implicações para a vida do ser

humano tais como dificuldades na aprendizagem, sendo a baixa literacia e reduzida

capacidade para resolver problemas matemáticos, as dificuldades mais comuns apresentadas

por crianças que têm acesso diário a dispositivos eletrónicos. Poderá ainda existir uma maior

dificuldade em regular as emoções e socializar quando o uso de dispositivos eletrónicos é

excessivo (Spina et al., 2021)

Além disso, sabe-se que a iluminação natural ajuda a manter o ciclo circadiano, que é

o mecanismo responsável por adaptar o organismo humano para o dia e a noite. Ou seja, este

relógio biológico permite que as pessoas consigam acordar, comer, manter-se ativos durante o

dia e sentir-se cansadas para dormir à noite. A par disso, o ciclo circadiano ajuda a manter a

atividade cerebral, melhorando a memória, aprendizagem, humor, sentido de alerta e

bem-estar (Vandewalle, 2009). Já a iluminação artificial causada pelos dispositivos

eletrónicos, traduz reações diferentes e a sua exposição prolongada faz com que as

consequências sejam nocivas para a saúde ocular, trazendo lesões, patologias oculares e

consequências abruptas para quem pratica este comportamento por um alargado período de

tempo (Vandewalle, 2009).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 12,8 milhões de crianças em

todo o mundo, entre os 5 e os 15 anos, apresentam constrangimentos na visão. Sendo a visão

um dos maiores instrumentos de aprendizagem, é crucial a sua preservação para que as

crianças se desenvolvam social e intelectualmente. O ambiente em que a criança se insere,

seja a escola ou o meio doméstico também permitem que esta molde a sua personalidade e o

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seu intelecto, daí ser crucial a integridade da percepção sobre o que a rodeia. (Canheto et al.,

2018).

Entre todos os malefícios do uso excessivo de tecnologia na infância, a miopia é a

condição mais comum e é já considerada um problema mundial de saúde pública. É ainda de

apontar que o aumento da prevalência destes sintomas resulta num grande impacto

socioeconómico, gerando custos acrescidos para o governo português, nomeadamente nas

consultas oftalmológicas, na compra e comparticipação de óculos e lentes de contacto

(Ramamurthy D., et al,. 2015). Posto isto, torna-se urgente identificar os fatores de risco que

podem ser alterados para mudar este padrão e por isso, deve-se promover estratégias e

políticas públicas que visam diminuir estes sintomas (Kim J., et al., 2016).

Identificação dos principais determinantes comportamentais e sociocognitivos do

problema de saúde:

Neste sentido, considera-se como determinante comportamental neste problema o

facto das crianças serem colocadas em frente a um ecrã de forma a evitar outros

comportamentos tais como birras, impaciência e necessidade de atenção, enquanto o

determinante cognitivo seria apenas o facto dos pais não estarem conscientes dos riscos e

consequências que isto pode trazer para a saúde física e emocional das crianças

O rápido e exponencial crescimento de casos de danos oculares na infância, tem sido

uma problemática da saúde que, sendo ainda relativamente recente, tem vindo a ser alvo de

vários estudos. Isto deve-se aos avanços tecnológicos, que dia após dia vêm trazendo mais

ecrãs ao quotidiano.

Estes avanços tecnológicos aliaram-se aos tempos de pandemia de COVID-19 o que

levou a uma quantidade de exposição diária a ecrãs muitíssimo superior ao que seria

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desejável, como foi observável no estudo de Trott et al. (2022). Mesmo com o final da

pandemia e o retomar das atividades presenciais, as crianças, já habituadas a passar os seus

tempos livres em casa a jogar videojogos ou a ver vídeos e desenhos animados nos seus

dispositivos eletrónicos, acabaram por continuar estes comportamentos, que já acabam por

fazer parte da sua rotina e da vida que conhecem.

A exposição das crianças aos ecrãs tem também para os pais um fator particularmente

aliciante uma vez que, com a revolução tecnológica e o surgimento de diversas plataformas de

streaming para crianças como o Youtube Kids ou o Disney+ entreter as crianças que, como é

natural da idade, têm muita energia e necessitam de atenção constante, se tornou mais fácil e

imediato. Com apenas uns toques no ecrã é possível pôr filmes, séries ou até mesmo jogos

interativos que deixem a criança distraída durante o tempo necessário.

Numa sociedade em que, regra geral, ambos os pais estão empregados, chegar a casa

ao final de um dia de trabalho por si só já é cansativo, e ainda ser necessário tratar de todas as

tarefas domésticas e necessidades da criança num espaço muito reduzido de horas torna-se

um desafio. Na verdade, foi encontrada uma relação direta entre o tempo despendido por dia

em frente a dispositivos eletrónicos e a situação de emprego dos pais sendo que, no estudo de

Birken, et al. (2011) foi confirmado que em famílias em que ambos os pais estão empregados,

o tempo de exposição diário das crianças a ecrãs é superior ao tempo de ecrã de crianças em

famílias em que apenas um dos pais trabalha.

Se a esse desafio acrescentarmos arranjar energia e forças para ainda conseguir

brincar ou fazer algum tipo de atividade lúdica com os filhos, facilmente nos apercebemos do

difícil que tudo se torna e do porquê dos pais verem os ecrãs como uma ferramenta tão

aliciante.

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Esta rotina de chegar do emprego, ter de tratar das tarefas da casa e ter de brincar com

as crianças torna-se particularmente difícil em famílias monoparentais em que, como já vimos

anteriormente, mesmo tendo a energia e a vontade de brincar com os filhos, o tempo

dispendido nas tarefas domésticas e em cuidados básicos como ajudar a fazer os trabalhos de

casa ou dar banho, torna impossível dar a atenção há criança que esta requer, o que abre

portas para a exposição aos dispositivos eletrónicos: seja a ver televisão na sala, ou a jogar

jogos num tablet, a possibilidade de satisfazer as necessidades de atenção e de brincadeira de

maneira tão simples, e que permite que a criança fique em segurança e contente sem grande

supervisão, torna-se completamente irresistível.

É também neste segmento de deixar as crianças entretidas e sem necessidade de

supervisão que a utilização de ecrãs por parte de menores em espaços públicos se tornou tão

banalizada. Com cada vez mais frequência se vê pais em espaços públicos com os seus filhos,

como por exemplo em restaurantes e supermercados, em que as crianças estão com um tablet

ou telemóvel na mão a brincar sossegadamente enquanto os adultos conversam entre si.

Dar acesso a ecrãs é visto quase como uma espécie de babysitting não remunerado

uma vez que é uma forma dos adultos irem jantar fora com amigos, fazerem chamadas

importantes ou até mesmo ir às compras podendo levar os filhos, mas sem precisar de lhes dar

grande atenção (Beyens & Eggermont, 2014).

Na geração do imediatismo, o acesso à internet e aos ecrãs tornou-se o aliado perfeito

dos pais que querem continuar a ter tempo para si mesmos e para a sua vida social sem terem

a necessidade e a inconveniência de deixar os filhos em casa dos avós ou familiares, ou

contratar alguém que tome conta das crianças.

No seguimento do que foi já anteriormente exposto, acreditamos que o alto nível de

normalização da exposição de crianças pequenas a dispositivos eletrónicos pode estar

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correlacionado com a falta de conhecimentos dos pais acerca dos riscos que uma quantidade

excessiva de exposição a ecrãs pode trazer para a vida dos seus filhos.

Além do alto risco de desenvolver danos oculares, a exposição a dispositivos

eletrónicos desde a primeira infância tem uma relação direta e significativa com dificuldades

de regulação emocional, bem como problemas de aprendizagem, em particular na disciplina

da matemática, bem como problemas de literacia (Cerniglia et al.,2020).

Esta desinformação generalizada por parte dos pais, acaba também por ser por si só

um fator de risco para a saúde física e mental das crianças, uma vez que é esta falta de

conhecimento que torna possível que as crianças pequenas tenham acesso recorrente, e muitas

vezes prolongado, aos ecrãs.

De forma a colmatar esta falha de informação para com os pais acerca dos possíveis

perigos para a saúde dos filhos que a exposição a dispositivos eletrônicos trazem, propomos

que seja feita uma intervenção aos Encarregados de Educação.

Revisão de literatura sobre principais determinantes sociocognitivos de um

determinante comportamental escolhido de forma justificada

Desde 2019, devido ao impacto da pandemia de COVID-19, o aumento do uso de

tecnologias em crianças aumentou, uma vez que, uma das medidas para reduzir o contágio foi

fechar escolas e promover o isolamento social (Gomes et al., 2020). De forma a dar

continuidade ao período escolar, foi implementado o ensino à distância, recorrendo à

utilização de aparelhos eletrónicos, através dos quais eram dadas as aulas. Além do uso de

dispositivos eletrónicos durante o tempo de aulas, as crianças viram-se também compelidas a

utilizar o seu tempo de lazer, que outrora fora ao ar livre, em casa, substituindo as

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brincadeiras com os seus pares pela tecnologia, onde podia jogar sozinho, ou com outros

online, por forma a respeitar a quarentena implementada.

Todo este contexto trouxe um aumento exponencial da frequência e tempo de

utilização de dispositivos eletrónicos o que, logicamente, potencializou os fatores de risco

para problemas oculares (Gomes et. al., 2020).

Num estudo de Rafael A. et al, (2020), foram apresentados dados quantitativos

relativos ao tempo de exposição a ecrãs das crianças em Portugal. Apurou-se que 54,3% das

crianças entre os 11 meses e os 6 anos e meio mantinham um “tempo de ecrã”, isto é, tempo

de contacto direto com um ecrã, superior a duas horas diárias (Póvoas M., et al., 2013). Já em

relação a crianças até aos 10 anos de idade, os resultados apontam para uma exposição a

equipamentos eletrónicos de aproximadamente duas a cinco horas por dia e por fim,

relativamente a crianças entre os 9 e 17 anos de idade, a média de acesso à tecnologia era, no

mínimo, de três horas diárias (Ponte & Batista, 2019).

De forma geral, as crianças são introduzidas à tecnologia por influência dos seus pais,

sendo o primeiro contacto cada vez mais cedo e normalmente em idades bastante precoces

(Zimmerman, Christakis, & Meltzoff, 2007). A teoria da aprendizagem social proposta por

Bandura em 1977 vem confirmar este facto, alegando que as crianças demonstram bastante

atenção às atividades e comportamentos dos seus progenitores e acabam por modelá-los para

estarem em sintonia com eles. O modelo parental caracteriza-se por um processo de

aprendizagem com base na observação dos pais que atua como estímulo para um

comportamento espelhado/semelhante por parte do filho (Berger & Riojas-Cortez, 2012).

Posto isto, as crianças mais novas são estimuladas pelos seus pais e acabam por desenvolver

aptidões tecnológicas através da imitação, daí a psico-educação parental e a modelagem

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serem estratégias eficazes para controlar a utilização segura e equilibrada dos equipamentos

eletrônicos (Van den Bulck & Van den Bergh, 2000).

Em suma, por haver a indicação em vários estudos que existe uma relação entre o uso

prolongado de aparelhos tecnológicos e o desenvolvimento da danos ocular, a utilização

destes recursos por parte das crianças deve ser controlada pelos pais (Alcaraz, C., et al.,

2020), daí o contributo deste trabalho ser fornecer técnicas de mudança comportamental

adaptadas à problemática em questão.

Apresentação de modelos Teóricos do Processo

Para o modelo de intervenção, dado o tema da problemática, considerou-se pertinente

a utilização do Modelo HAPA (Health Action Process Approach) (Schwarzer, 2016). Este

modelo é um modelo que se divide em duas fases distintas: a fase de motivação e a fase

volitiva.

Dentro da primeira fase (fase de motivação) encontram-se três diferentes parâmetros

que contribuem para a criação da intenção, ou seja, estes três parâmetros serão o levará a que

o indivíduo tenha, de forma consciente, uma intenção de mudar ou adotar certo

comportamento por forma a melhorar a sua saúde ou, neste caso em particular, a saúde dos

seus educandos, como foi observado no estudo de Schwarzer (2016).

O primeiro destes parâmetros é a auto-eficácia percebida, este diz respeito ao quanto é

que a pessoa confia em si mesma e acredita que é, ou não, capaz de parar determinado

comportamento. Neste caso seria até que ponto é que os pais acreditariam que conseguiriam,

a longo prazo, deixar de dar aos filhos dispositivos eletrónicos de maneira excessiva, quando

estão cansados ou estão a ter uma refeição num restaurante, por exemplo (Schwarzer, 2016).

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De seguida, os resultados esperados, que se podem caracterizar como resultados

positivos ou negativos. No caso apresentado, um exemplo de um resultado negativo e de um

resultado positivo que a mudança de comportamento poderia trazer, seria a menor

probabilidade da criança contrair problemas de visão como resultado positivo, mas a

necessidade dos pais terem de dar mais atenção à criança no dia a dia, estando dispostos a

brincar com a mesma apesar do cansaço sentido (Schwarzer, 2016).

Por fim, como último parâmetro influenciador da formação de uma intenção

apresenta-se a percepção de risco. Esta diz respeito ao estado de saúde da pessoa, neste caso

da criança, e deverá ser sempre de forma negativa, ou seja, até que nível é que os cuidadores

e\ou encarregados de educação percebem que, se continuarem a permitir que os seus

educandos tenham acesso fácil a aparelhos eletrónicos e ecrãs diariamente e por tempo

prolongado, as crianças podem desenvolver problemas oculares e de aprendizagem. Se esta

perceção de risco for baixa, ou seja, se os cuidadores não compreenderem que a

probabilidade dos seus filhos contraírem doenças oculares é real e elevada, a probabilidade de

agirem é menor do que se esta compreensão foi estabelecida (Schwarzer, 2016).

Com estes três parâmetros: a auto-eficácia percebida, a expectativa de resultados e a

perceção de risco pode finalmente ser gerada uma intenção, que no âmbito deste trabalho

seria, idealmente, a intenção de deixar que as crianças sejam expostas diariamente e por

períodos prolongados de tempo a ecrãs (Schwarzer, 2016).

Com a intenção já construída progride-se então para a fase volitiva onde, tendo como

ponto de partida a intenção se passa então há composição de um plano de ação e de um plano

de coping. O plano de ação deverá ser um plano que tenha em si quando, como e onde é que

se vai começar a implementar de forma ativa a um plano que vise concretizar o objetivo já

estabelecido. No caso que se apresenta, um bom exemplo de plano de ação completo seria,

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primeiramente perceber em que ocasiões é que os pais se costumam sentir mais compelidos a

dar dispositivos eletrónicos aos seus filhos, que poderia ser, imagine-se, depois de jantar,

enquanto os pais costumam de ver o noticiário; depois, já com a consciência de que costuma

ser neste registo que os pais dão um tablet ou telemóvel às crianças para que estas brinquem

sem os importunar, definir uma estratégia clara que poderia ser depois do jantar, a família

reunir-se na sala de estar para jogar jogos tradicionais como cartas, ou jogos de tabuleiro, por

exemplo (Schwarzer, 2016).

Apesar de, idealmente, já se ter um plano de ação traçado, e mesmo tendo a maior das

intenções de o cumprir à risca diariamente, a probabilidade de surgir algum imprevisto ou

neste caso em específico, de nalgum dia a família não cumprir a sua rotina habitual de jantar

em casa, é enorme, aliás, é quase garantido que surgirão imprevistos algures no tempo, e é

por isso que é indispensável conceber um plano de coping (Schwarzer, 2016).

Este plano será posto em prática quando, por alguma razão, não se reunirem as

condições necessárias para que o plano de ação habitual seja implementado. Um bom

exemplo de um plano de coping seria, voltando a pegar no exemplo da família que se tem

vindo a utilizar, quando forem jantar fora, depois das crianças jantarem, em vez de receberem

um dispositivo eletrónico para brincarem, os pais poderiam levar lápis de cor e papel, e os

filhos seriam incentivados a fazer desenhos (Schwarzer, 2016).

É relevante mencionar que para a concretização de ambos os planos, além da

intenção, se apresenta ainda uma influência da auto-eficácia percebida de coping

(maintenance self-efficacy), neste ponto do modelo, a auto-eficácia percebida foca-se na

quantidade de autoconfiança que o indivíduo tem, não só tem confiança em que é capaz de

parar o comportamento negativo para a saúde, mas é capaz de não voltar a este

comportamento nocivo mesmo quando forem encontrados obstáculos ou barreiras e já não

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existir tanta motivação como no início, como por exemplo quando ao chegarem ao final do

dia, estiverem mais cansados e querer dar um dispositivo eletrónico aos filhos em vez de

brincar com eles for a opção mais tentadora (Schwarzer, 2016).

Por último, apresenta-se uma pequena caixa de informação que é composta por três

fases que ocorrem de forma cíclica. A primeira fase é a Iniciativa, que é a intenção que

formamos com recurso à perceção de auto-eficácia, expectativa de resultados e perceção de

risco. De seguida, a fase de manutenção, que é quando o plano de ação é executado,

idealmente quase todos os dias; a terceira fase é a fase de Recuperação que diz respeito aos

dias em que, por alguma razão a rotina familiar não é a habitual e então é posto em marcha o

plano de coping (Schwarzer, 2016).

Acredita-se que o modelo HAPA (Schwarzer, 2016), seria o melhor modelo a

implementar no caso proposto, uma vez que além de ser um modelo específico de saúde,

como é o caso da problemática apresentada, é também um modelo que vai para além da

superfície, e dá a oportunidade aos pais de perceberem por si mesmos qual é a circunstância

em que no seu agregado familiar mais se dão os comportamentos nocivos para a saúde, e a

responsabilidade acrescida de serem os próprios a criarem um plano de ação e de coping

personalizado às necessidades e rotinas singulares da sua família.

De forma a dar a entender aos Encarregados de Educação destas crianças quais são os

comportamentos corretos relativamente ao tempo de ecrã e as consequências de não os

alterar, seria então importante sensibilizar esta população para esta mudança de rotinas. Para

além disso, seria ainda importante dar conhecimento aos pais de que estas crianças podem

demonstrar alguma resistência a esta mudança de comportamento, e mostrar quais as

alternativas possíveis para os compensar. Seria ainda vantajoso mostrar evidências e casos

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onde isso tenha realmente resultado, apresentando também as consequências oculares e

cognitivas que este comportamento pode trazer no futuro da criança.

Métodos e técnicas de mudança comportamental

Pela ótica de Bartholomew et al., (2011), optou-se pelo método de aprendizagem

ativa, que se foca numa agregação de persuasão, comunicação, matrix, modelo de

probabilidade de elaboração e a teoria cognitivo-social.

Este método pretende encorajar a aprendizagem a partir de objetivos definidos e

atividades baseadas na experiência (isto é, evidências comprovadas). Para esta intervenção é

necessário tempo, informação e conhecimento para a sua aplicação. Por exemplo, no

workshop proposto, poderia-se aconselhar aos pais que perguntem à criança o que ela gostaria

de fazer para além de estar no tablet, ou quando vão ao supermercado perguntar se gostaria

de comprar algum dos brinquedos expostos, de forma a evitar que a sua única fonte de

entretenimento fossem os ecrãs e as luzes falsas, e dando-lhe assim soluções alternativas a

esse comportamento.

De forma semelhante, de acordo com as técnicas de Michie et al., (2013),

considerou-se que a que mais se adequa para ser implantada neste problema de saúde, seria o

método (4) moldar o conhecimento. Esse método foca-se essencialmente em demonstrar aos

pais da criança outras formas de evitar este comportamento, implementando assim

alternativas de comportamentos mais saudáveis. Existem assim alguns temas que devem ser

abordados para uma melhor compreensão não só do problema, mas também das suas

soluções:

Numa ótica de intervenção prática, (4.4.) as experiências comportamentais entram

como forma de identificar e testar hipóteses sobre esse comportamento, as suas causas e as

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suas consequências, sobretudo recolhendo e interpretando os dados. Seria importante então,

nesta fase da intervenção, apresentar as consequências deste comportamento relativamente

aos danos oculares cada vez mais presentes mas também noutras áreas da vida da criança

(p.e., decadência dos resultados académicos, desregulação emocional e dificuldades sociais) e

os motivos pelos quais as crianças passam tanto tempo em frente a um ecrã (p.e., quando o

seu filho faz uma birra, tem tendência a metê-lo em frente ao tablet para ele sossegar? talvez

deva tentar entender o porquê da birra, atendendo assim às necessidades da criança)

Para além disso, seria ainda vantajoso utilizar a estratégia (7) Associações de Michie

(2013). Neste sentido, (7.4.) Remover o acesso à recompensa seria importante, uma vez que

esta estratégia se foca em aconselhar ou providenciar situações para que a criança seja

separada de momentos em que o comportamento indesejado (neste caso a exposição a ecrãs)

possa ser recompensado, a fim de reduzir o comportamento (inclui o “tempo esgotado” - por

exemplo, aconselhar a utilização da aplicação “family link”, de forma a controlar o tempo de

ecrã familiar e desta forma facilitar também a gestão do tempo de qualidade familiar,

melhorar as relações e diminuir os problemas de saúde, nomeadamente os danos oculares

(p.e., miopia, astigmatismo e/ou hipermetropia).

Assim, seria de todo pertinente a implementação de acções diversas juntos dos pais,

encarregados de educação ou até tutores legais de forma a fornecer-lhes estratégias e

conhecimentos para uma melhoria significativa da saúde dos seus educandos.

Ilustração dos métodos de mudança comportamental

Neste sentido, uma das estratégia tendo em linha de vista o público alvo definido (os

cuidadores das crianças), seria um grupo responsável pela iniciativa deslocar-se aos

agrupamentos escolares, onde com o apoio das comissões de pais e professores e/ou diretores

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de turma, seriam convocadas reuniões com os encarregados de educação destas faixas etárias,

dando a conhecer a proposta que consistiria em frequentar um Workshop dinâmico e didático,

o qual se realizaria nas escolas que os educandos frequentariam. Esta iniciativa seria efetuada

num dia não-útil (de preferência sábado), de forma a não prejudicar o normal funcionamento

familiar e potenciar que alguns funcionários da escola ficassem responsáveis pela guarda das

crianças, caso necessário, nos períodos em que as atividades se realizassem.

Face ao anteriormente descrito, salienta-se ainda que, o facto das atividade se

realizarem nestes locais potenciaria desde logo a coesão e homogeneidade dos grupos, uma

vez que muitos dos participantes desta formação seriam vizinhos ou conhecidos de reuniões e

interações anteriores, o que também potenciaria pequenos ajustes face aos grupos com os

quais se iria trabalhar.

Assim, e depois de nas reuniões iniciais serem demonstradas as várias potencialidades

da formação ministrada, passariam-se a descrever as formas como o Workshop seria

estruturado e organizado. O Workshop teria como denominação “Vi(ver) atrás das lentes”

Posto isto, como foi já anteriormente descrito, o Workshop teria início pelas 09h00,

onde seria realizada uma pequena sessão de abertura por parte dos organizadores do projecto

onde se devia descrever as temáticas a abordar, bem como o programa do mesmo.

Pelas 09h30, dar-se-ia início aos trabalhos teóricos e de discussão com a

concretização de três mesas de oradores distintas. A primeira mesa seria composta por um

médico pediatra, por um médico oftalmologista e por fim um médico neurologista, todos com

formação na área da pediatria, com conhecimento da população alvo e se possível do centro

de saúde mais próximo, para assim ajustar o discurso à população local. De realçar, este

painel serviria para expor os problemas observados a nível da medicina, resultantes da

excessiva exposição a ecrãs.

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Seguidamente, e após um pequeno “coffee break”, seria composta uma nova mesa de

trabalho, composta por um Psicólogo Clínico, com formação na área das crianças com idades

entre os 5 e os 9 anos, um Psicólogo Educacional, de preferência pertencente ao agrupamento

escolar onde se está a realizar a formação, um pedopsiquiatra e por fim um professor. Nesta

mesa pretenderia-se que cada profissional, dentro da sua área de intervenção, exponha os

malefícios observados. Seria também importante, nesta fase preparar já para o uso de

estratégias de coping adaptativas para os encarregados de educação, deixando no ar a ideia de

que na continuação do Workshop seriam fornecidas ferramentas que potenciam tanto a

segurança dos educandos, como também diversas estratégias para diminuir a quantidade de

horas de exposição a ecrãs e para melhorar as rotinas sociais e até a higiene do sono.

Pretenderia-se que os oradores finalizassem a atividade perto das 12h30, sendo essa a hora

estimada para a qual existiria um almoço de convívio entre os encarregados de educação.

Já pelas 14h30, dar-se-ia novamente início aos trabalhos e aqui compunha-se uma

última mesa composta por apenas dois oradores: um técnico de informática e um técnico de

cibersegurança, que dentro das suas áreas de atuação deveriam demonstrar aos presentes os

malefícios e algumas formas de melhor utilizar as ferramentas digitais, e, explicar os

benefícios, os constrangimentos e até mesmo onde e como se pode obter a ferramenta

“Family Link”, reforçando os seus aspetos positivos, nomeadamente a nível se segurança.

Esta aplicação permite aos encarregados de educação saber onde os seus educandos se

encontram, bem como o controlo de uso de certos aparelhos (já que a aplicação tem

funcionalidades que restringem o uso de certas aplicações), bem como o tempo de uso das

mesmas ou ainda o desligar dos aparelhos a horas que permitam às crianças o descanso e as

interações sociais necessárias.

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Ainda com auxílio dos técnicos presentes, seria interessante criar pequenos grupos,

com o objetivo de dar a explorar aos encarregados de educação as funcionalidades da

aplicação e alguma tutoria por parte dos técnicos para a sua instalação e utilização.

Por fim, tendo como objectivo que o programa fosse divulgado numa perspetiva de

utilização dos Órgãos de Comunicação Social, seriam convidados para moderadores dos

vários painéis (p.e., televisão, rádio, jornais), alguns jornalistas com os quais o público se

identificasse, sendo que a sua presença deveria, ainda assim, possibilitar que toda a formação

fosse dinâmica e teria intenção também de troca de ideias com a plateia, para com isto

envolver no projeto a população fora dos agrupamentos e dinamizar a ideia que pretendemos

propagar.

19
Referências

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23
Anexos

Ficha técnica 1

Método e modificação comportamental: Aprendizagem Ativa

1. Identificação e definição geral do método

A aprendizagem ativa consiste em incentivar a aprendizagem a partir de experiências

orientadas por objetivos e baseadas em atividades. Pretende-se que se baseie numa

persuasão-comunicação (isto é, de que forma é possível a partir de uma comunicação

saudável com perguntas e respostas existir uma persuasão para alterar um comportamento),

numa matriz, num método de probabilidade de elaboração (ou seja, qual é a probabilidade de

conseguir de facto colocar determinado método em prática e fazer com que seja aplicável e

cumprido) e na teoria social cognitiva.

É importante que o tipo de aprendizagem esteja adequado às características da

população-alvo (neste caso, os cuidadores das crianças dos 5 aos 8 anos). Este método

pretende apresentar as causas e consequências de um determinado comportamento, de forma

a sensibilizar a população do que pode fazer (ou não) de melhor forma para contribuir

positivamente para a saúde, neste caso, dos seus filhos.

Definição: “Encouraging Learning from goal-driven and activity-based and experience”

(Bartholomew, 2011, p.328)

2. Objetivos do método

Os objetivos de uma aprendizagem ativa são essencialmente os de proporcionar uma

tomada de decisão mais consciente e com uma base de conhecimento maior. Pretende-se

então:

24
1. Conhecimento das causas do comportamento/problema

2. Conhecimento dos riscos/consequências

3. Alternativas a esse comportamento

4. Aceitação da mensagem

5. Aumento da aceitação da mudança de comportamento tendo por base outros exemplos

práticos (p.e., pessoas que já o tiverem feito e tenham tido resultados de sucesso)

Revisões da literatura concluíram que os indivíduos que utilizam esta estratégia têm

tido resultados muito positivos e relevantes, existindo uma maior probabilidade que mudem o

seu comportamento devido a uma decisão mais consciente e com mais informação.

3. Origem teórica do método

A aprendizagem ativa surge como proposta para focar o processo de ensinar e

aprender, mas tendo como base a busca por mais informação e participação por parte de

quem está a aprender. Surge como abordagem centrada no aluno e não no professor. Camargo

e Daros (2018) apresentam a aprendizagem ativa como um conjunto de atividades

organizadas com a presença de uma intencionalidade educativa, em que quem está a aprender

é um membro ativo que decide o trajeto e o curso da aprendizagem.

4. Parâmetros de aplicação

Identificação prévia de variáveis relacionadas o tempo (p.e., quantas horas\dias\semanas

seria a aprendizagem), a informação (p.e., a informação seria nova ou repetida para o nível de

formação da população que iria assistir) e as skills (p.e., a pessoa que está a ensinar é formada

para isso)

25
5. Formas de aplicação

Para o desenvolvimento de uma intervenção com base na aprendizagem ativa, seria

necessário que a população-alvo que iria aprender estivesse interessada e pronta a participar

ativamente nos conteúdos e dinâmicas apresentados.

Seria vantajoso que existisse algum tempo para ser possível uma discussão saudável de

ideias, contrapondo e justificando argumentos, tentando chegar a um meio-termo.

Abertura por parte dos participantes para aprenderem estratégias e instrumentos para

mudarem ou adaptarem algum tipo de comportamento que seria prejudicial para a saúde

física e\ou mental.

6. Exemplos de aplicação

a. Um professor consegue que os alunos façam perguntas sobre como prevenir SIDA e a

procurar pelas respostas

b. Um professor consegue explicar aos pais que os seus métodos parentais podem não

ser os mais corretos para a saúde dos seus filhos, e consegue que eles vão a um

workshop para aprender mais sobre isso, onde lhes é dada uma oportunidade de expor

as suas questões e partilhar a sua opinião

7. Outros recursos

Apesar de não ser essencial para este método de mudança comportamental,

considera-se vantajoso utilizar dispositivos eletrónicos para uma melhor facilidade de

compreensão por parte dos participantes. Neste caso, pode-se apresentar o exemplo do

telemóvel, que para além de ser um instrumento acessível e próximo, apresenta também uma

26
grande facilidade de utilização, bem como de pesquisa para ativamente procurar mais sobre o

assunto.

Ficha técnica 2

Método e modificação comportamental: Moldar o conhecimento - experiências

comportamentais

1. Identificação e definição geral do método

As experiências comportamentais pretendem moldar o conhecimento do participante.

Para isto, é necessário que se identifiquem as hipóteses sobre o comportamento, bem como as

causas e as consequências do mesmo. É essencial que seja feita uma recolha e interpretação

de dados, para que as hipóteses e estratégias tenham como base dados fidedignos.

Para que os participantes sintam que estão a aprender algo que tem por base algo real

e científico, é essencial que sejam apresentadas referências das quais se tirou determinada

informação, bem como exemplos e provas de que a intervenção resulta.

Definição: “Advice on how to identify ant test hypotheses about the behavior, its causes and

consequences, by collecting and interpreting data” (Michie, 2013)

2. Objetivos do método

Os principais objetivos desta estratégia têm por base fornecer informação suficiente

para que os participantes vejam motivos válidos para mudarem o seu comportamento. Desta

forma, é essencial:

1. Apresentação de provas científicas da veracidade desta estratégia

2. Causas e consequências do problema

27
3. Dados recolhidos de uma população semelhante para comprovar os resultados

Revisões da literatura concluíram que os indivíduos que utilizam esta estratégia têm

tido resultados muito positivos e relevantes, existindo uma maior probabilidade que mudem o

seu comportamento devido a uma decisão mais consciente e com mais informação.

3. Origem teórica do método

As experiências comportamentais tiveram início com a abordagem

cognitivo-comportamental (TCC) de forma a encontrar determinadas técnicas que

facilitassem a identificação de padrões de pensamento e crenças que estariam na origem dos

problemas psicológicos. Desta forma, estas técnicas têm como objetivo alinhar e educar

alguns comportamentos dos participantes para que com isso seja possível ter hábitos mais

saudáveis e adaptativos.

4. Parâmetros de aplicação

Recolha de dados e pesquisa na literatura científica, para ter conhecimento e instrução

suficiente para apresentação do problema aos participantes; Identificação prévia de variáveis

sociodemográficas (isto é, na recolha de dados é essencial que os grupos de avaliação sejam

semelhantes para uma maior fidelidade de resultados);

5. Formas de aplicação

Para o desenvolvimento de uma intervenção com base nas experiências comportamentais,

é essencial que a população alvo que participaria na abordagem estivesse pronta a mudar de

opinião caso fossem apresentados argumentos irrefutáveis e resultados de sucesso da

intervenção adaptada em populações semelhantes. Seria vantajoso que existisse tempo para

28
uma discussão saudável de ideias, contrapondo e justificando argumentos, tentando chegar a

um meio-termo onde os participantes concordassem com a mudança de atitude.

6. Exemplos de aplicação

c. Pedir a um médico de família que dê conselhos baseados em provas, em vez de em

vez de prescrever antibióticos e para registar se os pacientes estão agradecidos ou

aborrecidos

d. No workshop proposto, pedir aos profissionais que levassem consigo provas

científicas, em vez de apenas falarem de possíveis problemas de saúde que as crianças

poderiam vir a desenvolver e apresentarem formas práticas de alterar esse

comportamento

7. Outros recursos

Ficha técnica 3

Método de modificação comportamental: Associações – Remover o Acesso à

Recompensa

1. Identificação e definição geral do método

As promoções pelos acessos a recompensas pretendem que se formule associações

comportamentais por parte do participante. Assim, estas associações tendem a observar que

determinado comportamento realizado por parte do participante é recompensado quer de

forma positiva quer de forma negativa.

Para que estas associações se verifiquem, o participante tem que reconhecer os

benefícios ou os malefícios de que determinado comportamento pode potenciar, sendo estes

muitas vezes fundamentados pelo seu valor real e científico, bem como levar em conta o

29
conhecimento adquirido por experiências ou conhecimento anterior, para que isto leve à

alteração de comportamento.

Assim, é também tido em conta que nesta situação em particular que o

comportamento indesejado deverá ser alterado, para assim existe recompensa efetiva.

Definição: “Advise or arrange for the person to be separated from situations in which

unwanted behavior can be rewarded in order to reduce the behavior (includes ‘Time out’)”

(Michie, 2013)

2. Objetivos do método

Os principais objetivos da utilização desta estratégia prende-se com o facto de

fornecer aos participantes informação relevante para que estes observem que as suas

alterações comportamentais têm sentido. Assim é extremamente importante que exista:

1. Apresentação de provas científicas da veracidade desta estratégia

2. Causas e consequências do problema

3. Resultados futuros dos comportamentos mantidos até então

4. Recompensas das alterações comportamentais

Revisões da literatura concluíram que os indivíduos que utilizaram esta categoria

como estratégia para alteração de comportamento, têm evidenciado resultados positivos,

sendo isto baseado na informação fornecida, o que geralmente é acompanhado de evidência

científica.

3. Origem teórica do método

As associações derivam das Teorias da Aprendizagem, uma vez que têm origem no

conhecimento adquirido, potenciando isto melhor conhecimento do Self, para que se

30
facilitem alterações de comportamento. e com isto neste caso específico o reforço de um

determinado comportamento, no sentido de alcançar hábitos mais saudáveis, quer biológicos,

quer psicológicos ou até mesmo sociais.

4. Parâmetros de aplicação

Recolha de dados e pesquisa na literatura científica, para ter conhecimento e instrução

suficiente para apresentação do problema aos participantes; Identificação prévia de variáveis

sociodemográficas (isto é, na recolha de dados é essencial que os grupos de avaliação sejam

semelhantes para uma maior fidelidade de resultados);

5. Formas de aplicação

Para o desenvolvimento de uma intervenção com base nas experiências comportamentais,

é essencial que a população alvo que reconhece-se os benefícios das alterações dos seus

comportamentos, desta forma para seria pertinente uma exposição clara dos malefícios, bem

como uma explicação também ela clara e adaptativa dos benefícios e perceber até pontos os

participantes estariam dispostos a alterar rotinas e comportamentos em benefício da saúde das

crianças.

6. Exemplos de aplicação

a. Solicitar ao médico de família rastreio visual às crianças, bem encaminhamento dos

casos necessários para oftalmologista

b. No workshop proposto, pedir aos profissionais que levassem consigo provas

científicas, em vez de apenas falarem de possíveis problemas de saúde que as crianças

poderiam vir a desenvolver e apresentarem formas práticas de alterar esse

comportamento

31
c. Solicitar aos técnicos de ciber segurança que no Workshop, mostrem quais os perigos

que as crianças estão sujeitas no uso de internet sem supervisão

d. Solicitar aos psicólogos presentes no Workshop que abordem as temáticas da

aprendizagem, bem como das interações sociais, bem como os malefícios dos

excessos do uso de tecnologias

7. Outros recursos

a. Uso de telemóveis, computadores ou aparelhos que permitam o acesso a internet

b. Rede WiFi desbloqueada e que permita aos participantes nos Workshops a exploração

da ferramenta “Family Link”

32

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