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trabalho EREPEG
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RESUMO
A Educação do Campo é uma conquista histórica, resultante das lutas oriundas dos
movimentos sociais campesinos. A modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos
do/no Campo é reconhecida como uma política pública no âmbito das Escolas da Rede Estadual
de Ensino de Pernambuco, pautados no protagonismo dos povos do campo, na garantia de uma
educação de qualidade, que valoriza suas raízes culturais, seus saberes, seus modos de vida, de
organizar-se e de trabalho na produção agrícola. O professor tem atuação primordial nesta ação
educativa, que tem como foco neste estudo, o docente da disciplina de Geografia. Este
profissional tem o domínio dos conceitos que são necessários ao entendimento da dinâmica
rural, como o espaço, território, lugar, paisagem e região, para assim gerar uma preservação da
vida no campo. Porém, os docentes apresentam dificuldades metodológicas por falta de
formações especificas e recursos didáticos para a concretização do ensino. Este artigo tem como
objetivo conhecer os principais desafios e dificuldades no processo de ensino geográfico numa
comunidade rural do município de Bom Conselho, situado no Agreste Meridional de
Pernambuco, onde ocorrem aulas no período noturno, em duas turmas, sendo uma de ensino
fundamental de anos finais e noutra de ensino médio. Como metodologia para realização deste
trabalho, houve levantamento bibliográfico e documental com a utilização de pesquisa
exploratória de caráter qualitativo com a realização de entrevista com o docente e aplicação de
questionários a fim de conhecer a realidade dos estudantes que frequentam as aulas. Após a
apreciação das informações preliminares da pesquisa, verificou-se que as dificuldades e
desafios que permeiam a prática do ensino de Geografia, estão relacionados com a falta de
formação especifica para o público da EJA Campo, poucos recursos didáticos que auxiliem no
processo de ensino-aprendizagem, conteúdos descontextualizados da realidade dos estudantes,
o tempo de deslocamento dos estudantes e do professor que é agravado no período das chuvas,
as condições deficitárias do espaço, o analfabetismo e a evasão. Apesar de ser um direito
conquistado e garantido legalmente, há obstáculos a serem superados na educação do campo,
no ensino como um tudo e em especial em Geografia que necessita de recursos diferenciados.
ABSTRACT
Esta pesquisa pretende como objetivo identificar e trazer análises e reflexões sobre a
atuação do docente, buscando proporcionar respostas as problemáticas observadas em relação
ao ensino de geografia na Educação de Jovens e Adultos, destinada às populações do campo na
comunidade de Lajeiro do Cabral, ampliando formulações teóricas e possibilitando alternativas
que visem solucionar os entraves existentes através de estratégias que contribuam na prática
pedagógica em relação à dinâmica rural da coletividade, como a associação, a escola, as práticas
agrícolas, o calendário agropecuário, as festividades locais, a religião e outras manifestações
sociais que permeiam a vida em sociedade.
O presente trabalho foi desenvolvido, após observação da dinâmica do ensino
geográfico na comunidade, onde atuo como Professor de Práticas Agrícolas. Motivado pela
disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, ministrada pelo Docente Rodrigo Dutra
Gomes da graduação de Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), campus Recife, semestre letivo de 2023.1.
Constitui como um dos pilares de luta e libertação dos povos, tendo o trabalho e a
produção agrícola baseados na economia solidária, a agroecologia, a agricultura indígena, a
quilombola, o extrativismo e demais atividades exercidas pelos povos da natureza como
essenciais para a preservação e a perpetuação da vida na garantia de continuidade das famílias
e das futuras gerações rurais.
METODOLOGIA
Figura 3
Fonte: Elaborado por Fabiana Cerqueira Nogueira de Sá. Adaptado pelo autor, 2023.
Numa linguagem mais simples, pegando elementos que eles compreendam melhor.
Então, quando a gente vai, quando eu vou trabalhar... qualquer assunto eu tento dar
exemplos que eles conhecem, que eles podem encontrar onde vivem ou então já ouviu
falar em noticiários, já ouviu falar em algum lugar, então procuro sempre fazer isso.
(professora que leciona em geografia)
Quando elabora o conteúdo para os estudantes, esbarra na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC):
No que diz respeito à educação do campo, quando a gente vai trabalhar o que a
BNCC pede, foge um pouquinho da realidade deles, do que eles já conhecem, como
a maioria já tem uma certa idade e já tem o conhecimento prévio, vamos dizer assim,
de algumas questões voltadas para o campo, né? Aí você vai trazendo novas
realidades e perspectivas para eles que não estão no alcance deles. Então fica mais...
vamos dizer assim, mais trabalhoso para a gente. Porque você vai falar, vamos dizer
assim, você vai falar sobre os continentes. Então você já vai fazendo uma coisa ampla
que não é tanto assim da realidade deles, do conhecimento deles, principalmente
para a idade. A maioria dos nossos alunos não estavam indo para a escola para fazer
o ENEM, fazer vestibular, alguma coisa, mas para dar continuidade a um sonho que
não tiveram condição de fazer mais novos. Então, se você trabalhasse mais a questão
deles mesmo, do que eles já têm vista, e do local que eles moram, ficava mais fácil
para a gente. (professora que leciona em geografia)
A necessidade de uma base nacional comum é constatada, porém é preciso que haja
complementações advindas das necessidades e individualidades de cada
estabelecimento escolar, e da comunidade a qual faz parte. Características
econômicas, culturais e sociais diferenciam os aspectos regionais de cada instituição
escolar, sendo necessárias adaptações nos sistemas de ensino em nível estadual e
municipal, e dentro desses, adaptações a realidade de cada escola a partir de sua
localização e público atendido.
Apesar daqui assim, já se acostumou, né? Mas as estradas tem tudo aquele, vamos
dizer assim, tem empecilhos que fazem com que a gente perca o tempo que já é
reduzido, que é o tempo noturno da escola que já é reduzido. Então a gente encontra
vários obstáculos que fazem com que ele se torne...mais reduzido ainda. (professora
que leciona em geografia)
Devido ao tempo gasto no deslocamento, acaba-se precarizando o ensino e desgastando
os estudantes, contribuindo para evasões. Indagada sobre a importância do professor de
geografia para a educação do campo, a professora reconheceu:
Eu acho que a maior importância do professor de geografia é fazer com que o aluno
compreenda não só o espaço onde ele vive, mas como ele pode transformar esse
espaço, como ele pode melhorar o espaço em que ele vive. Principalmente pegando
as práticas que eles já produzem, que eles já conhecem e tentando mostrar que se pode
fazê-las de uma forma mais sustentável, de uma forma que não agrida tanto a natureza,
que faça com que eles convivam melhor onde eles moram, com a natureza, com o
meio ambiente. (professora que leciona em geografia)
Através de observação, na sede da associação onde ocorriam as aulas de ensino
fundamental, o tema em questão versava sobre o espaço geográfico, enquanto na cozinha
comunitária desativada destinada ao ensino médio a aula era a respeito de paisagem natural e
humanizada, assuntos relacionados a dinâmica rural. Em ambos os espaços a professora
utilizava-se do método tradicional, constituído de registro no quadro e explanação com a
utilização de textos impressos, seguindo o planejamento da disciplina. Não havia a
possibilidade de participação ativa do estudante no que tange dúvidas e contribuições por conta
do curto tempo de duração da aula, interferindo no rendimento escolar das turmas. Contudo, a
professora apresentou boa desenvoltura na exposição dos conteúdos fazendo com que os
estudantes despertassem interesse e respeito aos temas apresentados. Não utiliza mapas nem
globos, pois a escola certificadora não fornece. Vale destacar ainda a baixa frequência e a
dificuldade em relação à habilidade de ler e escrever em alguns estudantes das duas turmas,
dificultando a compreensão e o entendimento em Geografia e demais áreas do conhecimento.
Figura 4
Registro do início da aula de geografia nos anos finais do ensino fundamental. Observa-se a baixa frequência da
turma, somente 5 estudantes.
Fonte: de autoria própria, 2023.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O campo deve ser visto como uma potencialidade em aprendizados para a instituição de
atividades pedagógicas que transforme a territorialidade em algo educativo que vise articular a
geografia e as demais áreas do conhecimento através da realidade da comunidade para
contribuir no desenvolvimento local para que os estudantes e demais povos possam permanecer
no campo, usufruindo de um espaço de vida digna e significativa para o exercício da cidadania
rural. O estudante do campo deve possuir o entendimento macro sobre as relações humanas
com o meio natural através do saber geográfico assimilando através de seu olhar um ensino
dirigido ao mundo rural e que não reproduza os conhecimentos urbanos.
SILVA, Juliana Andrade da; SERAFIM, Ana Regina Marinho D.B da Rocha. DESAFIOS
PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA NAS ESCOLAS RURAIS E URBANAS. Portal de
Periódicos UFPE, 2022. Disponível em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/ruralurbano/article/viewFile/250305/41276. Acesso em 24
de agosto de 2023.
SILVA, Marcos Antônio Soares da et al. O currículo da EJA do campo: uma análise entre
as perspectivas do MST e da Secretaria de Educação de Pernambuco. 2019.