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O ENSINO DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS DESTINADA ÀS POPULAÇÕES DO/NO CAMPO (EJA


CAMPO): UMA ANÁLISE SOBRE OS DESAFIOS E DIFICULDADES
PARA ATUAÇÃO DOCENTE

Bruno Vilela da Silva


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
bruno.vilela@ufpe.br

RESUMO

A Educação do Campo é uma conquista histórica, resultante das lutas oriundas dos
movimentos sociais campesinos. A modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos
do/no Campo é reconhecida como uma política pública no âmbito das Escolas da Rede Estadual
de Ensino de Pernambuco, pautados no protagonismo dos povos do campo, na garantia de uma
educação de qualidade, que valoriza suas raízes culturais, seus saberes, seus modos de vida, de
organizar-se e de trabalho na produção agrícola. O professor tem atuação primordial nesta ação
educativa, que tem como foco neste estudo, o docente da disciplina de Geografia. Este
profissional tem o domínio dos conceitos que são necessários ao entendimento da dinâmica
rural, como o espaço, território, lugar, paisagem e região, para assim gerar uma preservação da
vida no campo. Porém, os docentes apresentam dificuldades metodológicas por falta de
formações especificas e recursos didáticos para a concretização do ensino. Este artigo tem como
objetivo conhecer os principais desafios e dificuldades no processo de ensino geográfico numa
comunidade rural do município de Bom Conselho, situado no Agreste Meridional de
Pernambuco, onde ocorrem aulas no período noturno, em duas turmas, sendo uma de ensino
fundamental de anos finais e noutra de ensino médio. Como metodologia para realização deste
trabalho, houve levantamento bibliográfico e documental com a utilização de pesquisa
exploratória de caráter qualitativo com a realização de entrevista com o docente e aplicação de
questionários a fim de conhecer a realidade dos estudantes que frequentam as aulas. Após a
apreciação das informações preliminares da pesquisa, verificou-se que as dificuldades e
desafios que permeiam a prática do ensino de Geografia, estão relacionados com a falta de
formação especifica para o público da EJA Campo, poucos recursos didáticos que auxiliem no
processo de ensino-aprendizagem, conteúdos descontextualizados da realidade dos estudantes,
o tempo de deslocamento dos estudantes e do professor que é agravado no período das chuvas,
as condições deficitárias do espaço, o analfabetismo e a evasão. Apesar de ser um direito
conquistado e garantido legalmente, há obstáculos a serem superados na educação do campo,
no ensino como um tudo e em especial em Geografia que necessita de recursos diferenciados.

Palavras-chave: Educação do Campo; Ensino de Geografia; professor; EJA campo.


THE TEACHING OF GEOGRAPHY IN YOUTH AND ADULT
EDUCATION FOR RURAL POPULATIONS (EJA CAMPO): AN
ANALYSIS OF THE CHALLENGES AND DIFFICULTIES TEACHING
PERFORMANCE

ABSTRACT

Rural Education is a historic achievement, resulting from struggles arising from


rural social movements. The teaching modality for Young People and Adults from/in the
countryside is recognized as a public policy within the scope of the Schools of the State
Education Network of Pernambuco, based on the protagonism of the rural people, in the
guarantee of a quality education, which values their roots cultures, their knowledge, their
ways of life, of organizing themselves and of working in agriculture. The teacher has a
primordial role in this educational action, which is focused in this study, the teacher of
the discipline of Geography. This professional masters the concepts necessary to
understand rural dynamics, such as space, territory, place, landscape and region, to
preserve rural life. However, teachers have methodological difficulties due to the lack of
specific training and didactic resources to carry out teaching. This article aims to know
the main challenges and difficulties related to the teaching of geography in a rural
community in the municipality of Bom Conselho, located in the Agreste Meridional of
Pernambuco, where classes take place at night, in two classes, one of them in elementary
school final years and another of high school. As a methodology for carrying out this work,
there was a bibliographical and document consultation with the use of exploratory
research of a qualitative nature with the accomplishment of an interview with the
professor and application of questionnaires in order to know the reality of the students
who attend the classes. After assessing the preliminary research information, it was found
that the difficulties and challenges that permeate the teaching of Geography are related
to the lack of specific training for the EJA Campo public, few didactic resources that help
in the teaching-learning process , themes taken out of context from the students' reality,
the commuting time of students and the teacher, which is aggravated during the rainy
season, poor space conditions, illiteracy and evasion. Despite being a right conquered and
legally guaranteed, there are obstacles to be overcome in rural education, in teaching as a
whole and especially in Geography, which needs different resources.

Keywords: Rural Educacion; Teaching Geography; teacher; EJA field.


INTRODUÇÃO

O campo de pesquisa para este trabalho é a escola provisória existente na Associação


Comunitária dos Produtores Rurais do Sítio Lajeiro dos Cabral, que desde o ano de 2016, recebe
a ação educativa da modalidade de Educação de Jovens e Adultos, destinada às Populações do
Campo (EJA Campo), fruto de reivindicação da associação e parceria entre o Movimento
Quilombola de Bom Conselho e a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE-
PE). Tendo como instituição certificadora a Escola de Referência em Ensino Médio Coronel
José Abílio, conhecida popularmente como “CERU” antigo Centro de Educação Rural,
localizada na sede do município. Em 2023, oferta uma turma de anos finais de ensino
fundamental (sede da associação) e noutra de ensino médio (cozinha comunitária desativada)
no período noturno, atendendo tanto os estudantes da própria comunidade, como de sítios
vizinhos.

Esta pesquisa pretende como objetivo identificar e trazer análises e reflexões sobre a
atuação do docente, buscando proporcionar respostas as problemáticas observadas em relação
ao ensino de geografia na Educação de Jovens e Adultos, destinada às populações do campo na
comunidade de Lajeiro do Cabral, ampliando formulações teóricas e possibilitando alternativas
que visem solucionar os entraves existentes através de estratégias que contribuam na prática
pedagógica em relação à dinâmica rural da coletividade, como a associação, a escola, as práticas
agrícolas, o calendário agropecuário, as festividades locais, a religião e outras manifestações
sociais que permeiam a vida em sociedade.
O presente trabalho foi desenvolvido, após observação da dinâmica do ensino
geográfico na comunidade, onde atuo como Professor de Práticas Agrícolas. Motivado pela
disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, ministrada pelo Docente Rodrigo Dutra
Gomes da graduação de Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), campus Recife, semestre letivo de 2023.1.

A EDUCAÇÃO DO CAMPO E O ENSINO DE GEOGRAFIA

A educação do campo na modalidade EJA, enfrenta muitos desafios em proporcionar


uma efetiva prática educativa de qualidade, desde a formulação do currículo até a formação
contínua do educador. A oferta e a promoção desta ação educativa é fruto de mobilizações
históricas de movimentos sociais, em especial o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra). Diante disso, Silva (2019) afirma que a educação do campo requer “um novo olhar,
pensar e sentir sobre a construção de uma concepção de educação para o povo campesino e não
apenas a ser implantada na área rural”.

Constitui como um dos pilares de luta e libertação dos povos, tendo o trabalho e a
produção agrícola baseados na economia solidária, a agroecologia, a agricultura indígena, a
quilombola, o extrativismo e demais atividades exercidas pelos povos da natureza como
essenciais para a preservação e a perpetuação da vida na garantia de continuidade das famílias
e das futuras gerações rurais.

É considerado populações do campo, segundo o DECRETO Nº 7.352, DE 4 DE


NOVEMBRO DE 2010 “os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais,
os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados
rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam
suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural” e escola do campo
“aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda
predominantemente a populações do campo” e com “turmas anexas vinculadas a escolas com
sede em área urbana, que funcionem nas condições especificadas no inciso II do § 1o.”
(BRASIL, 2010).

O ensino de Geografia tem papel fundamental no fortalecimento da identidade e


cidadania do homem e da mulher campesina, pois deve integrar os conteúdos escolares ao
conhecimento advindo da vida no campo. De acordo com Louzada e Dias (2008) “A Geografia
é uma disciplina, que pode auxiliar na educação do campo, através de metodologias que os
alunos compreendam que existem diferentes lugares, culturas, religiões, relações sociais e a
relação sociedade/natureza.” Estes conhecimentos devem estar aliados a realidade da
comunidade/território em que ocorrem as aulas de geografia. No entanto, a prática de ensino-
aprendizagem em Geografia, enfrenta discrepâncias. SILVA e SERAFIM (2022) abordam essa
problemática do ensino de Geografia, segundo as autoras, os conteúdos ministrados nas salas
de aulas rurais são alheias a realidade campesina aliado a falta de formações específicas para o
educador, estruturas precarizadas no ambiente escolar, ausência de materiais didáticos, grande
curricular descontextualizada, dentre outros obstáculos.

METODOLOGIA

Pautou-se na utilização do método hipotético-dedutivo de raciocínio para a análise e


experimentação das informações em documentos bibliográficos como artigos científicos que
tratam de diferentes perspectivas em relação ao ensino geográfico no campo na modalidade
EJA (Educação de Jovens e Adultos), com registro fotográfico e levantamento cartográfico dos
espaços onde ocorrem as aulas.

Através de pesquisa exploratória de caráter qualitativo e descritivo com saída a campo


para a realização de entrevista não estruturada com a educadora, observação da dinâmica de
ensino-aprendizagem em sala de aula no mês de agosto de 2023, em dois espaços que são de
responsabilidade de uma associação rural, que recebem a ação educativa no período noturno.

Aplicação de questionários de modo a conhecer o perfil, os aspectos sociais e a realidade


dos estudantes que frequentam as aulas de Geografia com o propósito de conhecer e de levantar
hipóteses na busca do entendimento aos problemas encontrados e a elaboração de possíveis
soluções a prática docente em geografia na educação do campo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após o levantamento das informações através da aplicação de questionários junto


aos estudantes que frequentam as aulas, foi constatado que o público das turmas de ensino
fundamental e médio são agricultores e a faixa etária compreendendo entre os 44 e 60 anos,
tendo o gênero feminino como maioria, constituído por 59 por cento, enquanto o masculino
por 41 por cento, como pode ser observado na figura 2:

Figura 3

Fonte: Elaborado por Fabiana Cerqueira Nogueira de Sá. Adaptado pelo autor, 2023.

A fonte de renda dos estudantes é oriunda das atividades agrícolas, aposentadorias e


benefícios sociais. A produção agrícola é para a subsistência da família que consiste no cultivo
sazonal de grãos, como o milho e o feijão e das raízes constituída pela mandioca e a macaxeira.
O início do plantio ocorre entre os meses de abril e maio, e a colheita de agosto a setembro. A
pecuária é pouco expressiva, voltada a criação de galináceos e ao gado leiteiro e de corte.

A professora que leciona a disciplina de Geografia tem formação em Licenciatura em


História pela Universidade de Pernambuco, tendo 10 anos de experiência na modalidade de
Educação de Jovens e Adultos Destinada às Populações do Campo. A profissional foi indagada
sobre os principais desafios e dificuldades para lecionar na comunidade e citou os principais
obstáculos que enfrenta como: a ausência de formação acadêmica na área de geografia;
inexistência de livro didático e recursos tecnológicos como conexão a internet e projetor de
slide, a base nacional comum curricular, descontextualizada da realidade do campo; formações
continuadas aquém da realidade rural, o curto tempo de aula proveniente das condições de
trafegabilidade das estradas, transporte escolar instável e as condições precárias dos espaços
onde ocorrem as aulas como a iluminação e a lousa desgastada, constituindo deficiências no
que se refere a recursos mínimos para acolher o professor e os estudantes interferindo no
desenvolvimento do ensino.
No início da entrevista, buscou-se compreender como é lecionar Geografia, tendo
formação em História, a professora afirmou:

Na faculdade de História a gente não vê geografia, a gente não vê nada de geografia.


Uma professora minha tentou ainda trabalhar cartografia com a gente, mas numa visão
mais historiográfica do que da geografia mesmo. Então eu acho que...faz com que a
gente de história, quando pega a disciplina de geografia, não só a geografia, mas a
sociologia e filosofia, que são as disciplinas que a gente pega, tem que ter um estudo
maior, um aprofundamento maior e principalmente um olhar diferenciado, porque
como não é a disciplina que eu me formei, que eu fiz uma pós, então eu tenho que
tratar ela da mesma forma como a de história. Então eu tenho que ter...um estudo, uma
compreensão para poder dar o meu melhor. (professora que leciona em geografia)

Apesar da ausência de formação em Geografia, a professora dedica-se ao ensino,


trazendo exemplos relacionados a realidade dos estudantes, como pode ser visto na resposta,
quando foi questionada sobre a adequação do ensino para a comunidade:

Numa linguagem mais simples, pegando elementos que eles compreendam melhor.
Então, quando a gente vai, quando eu vou trabalhar... qualquer assunto eu tento dar
exemplos que eles conhecem, que eles podem encontrar onde vivem ou então já ouviu
falar em noticiários, já ouviu falar em algum lugar, então procuro sempre fazer isso.
(professora que leciona em geografia)
Quando elabora o conteúdo para os estudantes, esbarra na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC):

No que diz respeito à educação do campo, quando a gente vai trabalhar o que a
BNCC pede, foge um pouquinho da realidade deles, do que eles já conhecem, como
a maioria já tem uma certa idade e já tem o conhecimento prévio, vamos dizer assim,
de algumas questões voltadas para o campo, né? Aí você vai trazendo novas
realidades e perspectivas para eles que não estão no alcance deles. Então fica mais...
vamos dizer assim, mais trabalhoso para a gente. Porque você vai falar, vamos dizer
assim, você vai falar sobre os continentes. Então você já vai fazendo uma coisa ampla
que não é tanto assim da realidade deles, do conhecimento deles, principalmente
para a idade. A maioria dos nossos alunos não estavam indo para a escola para fazer
o ENEM, fazer vestibular, alguma coisa, mas para dar continuidade a um sonho que
não tiveram condição de fazer mais novos. Então, se você trabalhasse mais a questão
deles mesmo, do que eles já têm vista, e do local que eles moram, ficava mais fácil
para a gente. (professora que leciona em geografia)

Cabe ressaltar ser é assegurado através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional de 1996 a adequação do currículo as peculiaridades das comunidades em que a escola
está inserida.

Concordando com SILVA e SERAFIM (2022):

A necessidade de uma base nacional comum é constatada, porém é preciso que haja
complementações advindas das necessidades e individualidades de cada
estabelecimento escolar, e da comunidade a qual faz parte. Características
econômicas, culturais e sociais diferenciam os aspectos regionais de cada instituição
escolar, sendo necessárias adaptações nos sistemas de ensino em nível estadual e
municipal, e dentro desses, adaptações a realidade de cada escola a partir de sua
localização e público atendido.

Outra questão observada é o horário das aulas. No diário de classe eletrônico da


educadora, conhecido no meio educacional das escolas estaduais de Pernambuco como
“SIEPE” que é o Sistema de Informações da Educação de Pernambuco, as aulas na comunidade
deveriam começar as 18:40 e findar-se as 22:00. Segundo a grande de ensino, a aula de
Geografia deveria ser de 80 minutos semanais, sendo 40 minutos por aula, tanto na turma de
ensino fundamental e do médio, porém não é possível seguir o horário oficial, porque segundo
a professora, tanto ela como os estudantes chegam ao espaço de aprendizagem as 19:20 e as
21:00 se organizam para irem embora, reduzindo o tempo de instrução para 30 minutos
semanais sendo 15 minutos para cada encontro. Tendo o percurso como fator de redução do
tempo escola, a professora afirma ser normal:

Apesar daqui assim, já se acostumou, né? Mas as estradas tem tudo aquele, vamos
dizer assim, tem empecilhos que fazem com que a gente perca o tempo que já é
reduzido, que é o tempo noturno da escola que já é reduzido. Então a gente encontra
vários obstáculos que fazem com que ele se torne...mais reduzido ainda. (professora
que leciona em geografia)
Devido ao tempo gasto no deslocamento, acaba-se precarizando o ensino e desgastando
os estudantes, contribuindo para evasões. Indagada sobre a importância do professor de
geografia para a educação do campo, a professora reconheceu:

Eu acho que a maior importância do professor de geografia é fazer com que o aluno
compreenda não só o espaço onde ele vive, mas como ele pode transformar esse
espaço, como ele pode melhorar o espaço em que ele vive. Principalmente pegando
as práticas que eles já produzem, que eles já conhecem e tentando mostrar que se pode
fazê-las de uma forma mais sustentável, de uma forma que não agrida tanto a natureza,
que faça com que eles convivam melhor onde eles moram, com a natureza, com o
meio ambiente. (professora que leciona em geografia)
Através de observação, na sede da associação onde ocorriam as aulas de ensino
fundamental, o tema em questão versava sobre o espaço geográfico, enquanto na cozinha
comunitária desativada destinada ao ensino médio a aula era a respeito de paisagem natural e
humanizada, assuntos relacionados a dinâmica rural. Em ambos os espaços a professora
utilizava-se do método tradicional, constituído de registro no quadro e explanação com a
utilização de textos impressos, seguindo o planejamento da disciplina. Não havia a
possibilidade de participação ativa do estudante no que tange dúvidas e contribuições por conta
do curto tempo de duração da aula, interferindo no rendimento escolar das turmas. Contudo, a
professora apresentou boa desenvoltura na exposição dos conteúdos fazendo com que os
estudantes despertassem interesse e respeito aos temas apresentados. Não utiliza mapas nem
globos, pois a escola certificadora não fornece. Vale destacar ainda a baixa frequência e a
dificuldade em relação à habilidade de ler e escrever em alguns estudantes das duas turmas,
dificultando a compreensão e o entendimento em Geografia e demais áreas do conhecimento.

Figura 4

Registro do início da aula de geografia nos anos finais do ensino fundamental. Observa-se a baixa frequência da
turma, somente 5 estudantes.
Fonte: de autoria própria, 2023.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O campo deve ser visto como uma potencialidade em aprendizados para a instituição de
atividades pedagógicas que transforme a territorialidade em algo educativo que vise articular a
geografia e as demais áreas do conhecimento através da realidade da comunidade para
contribuir no desenvolvimento local para que os estudantes e demais povos possam permanecer
no campo, usufruindo de um espaço de vida digna e significativa para o exercício da cidadania
rural. O estudante do campo deve possuir o entendimento macro sobre as relações humanas
com o meio natural através do saber geográfico assimilando através de seu olhar um ensino
dirigido ao mundo rural e que não reproduza os conhecimentos urbanos.

O professor de Geografia, enquanto educador do campo tem na escola um leque de


possibilidades para o ensino aprendizagem, mas antes de tudo deve analisar espacialmente as
peculiaridades da comunidade e dos estudantes para uma melhor aplicabilidade, para que a
forma de ensino seja lúdica e que os estudantes absorvam com clareza os conteúdos e que os
envolvam através de aulas dinâmicas e interativas que estimule sua criatividade e protagonismo
para a construção do aprendizado. É necessário pensar o papel da Geografia na Educação do
Campo, compreendendo as dimensões espaciais campesinas, para que o ensino geográfico se
aproxime da educação do campo e possa formar sujeitos através de seus saberes populares
práticos e vividos em seu cotidiano.

Formar o professor de Geografia e das demais áreas do conhecimento no contexto da


educação de jovens e adultos do campo é de suma importância para a concretização de um
ensino inclusivo e de qualidade, considerando a multiplicidade e diversidade de homens e
mulheres do espaço rural.

Trazer para as aulas temas relacionados a realidade do estudante é dever de todo


educador que atua no campo, em especial o professor de Geografia que pode usar destas
informações para tornar a escola, um lugar potencializador do conhecimento geográfico.

Como afirma FARIAS e LEITE (2023):

Entender que a escola é potencializadora de um território, significa afirmar que se


trata de um espaço composto por multiplicidades de vivências e experiências, pois
circulam professores, estudantes entre outros grupos. Estes, carregam histórias
coetâneas, embora estabeleçam diferentes relações de poder em suas espacialidades.
Assim, entender os territórios mobilizados pelos estudantes e as Geografias presentes
nos espaços, podem servir como referências importantes para mobilizar os
conhecimentos cotidianos aos conhecimentos geográficos.
É evidente as carências encontradas na comunidade de Lajeiro do Cabral, desde
instalações insuficientes, o curtíssimo tempo de aula, a formação do educador responsável pelo
ensino de geografia, sendo necessário intervenções por meio da instituição que oferta a
modalidade de ensino com a substituição da educadora por um (a) licenciado (a) em Geografia,
visto que é importante salientar a importância da Associação Comunitária dos Produtores
Rurais do Sítio Lajeiro dos Cabral para o acesso às políticas públicas no âmbito federal,
municipal e estadual como a Educação do Campo na modalidade EJA que visar oportunizar o
acesso à educação aos jovens, adultos e idosos que outrora não puderam estudar por questões
sociais.

Portanto, o ensino de Geografia pode contribuir com a transformação da comunidade,


pelo entendimento das formas de viver, de produzir e a formas que se dão as relações no espaço
geográfico para refletir e debater sobre as questões agrícolas e ambientais, onde o estudante
agricultor é um agente de transformação das dinâmicas espaço-temporais. Para que o ensino
seja significativo e que o educando possa relacionar o que foi aprendido na escola com a
construção social de sua realidade campesina.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. BRASIL.

______. Decreto nº 7.352. Política de educação do campo e o Programa Nacional de


Educação na Reforma Agrária – Pronera. 2010. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7352.htm. Acesso em 30
agosto de 2023.

DE FARIAS, Ricardo Chaves; LEITE, Cristina Maria Costa. Unidade territorial de


aprendizagem: o território simbólico de estudantes no espaço geográfico mobilizado pela
escola. Revista Brasileira de Educação em Geografia, v. 13, n. 23, p. 05-25, 2023.

LOUZADA, Angélica Rodrigues; DIAS, Liz Cristiane. EDUCAÇÃO DO CAMPO E O


ENSINO DE GEOGRAFIA. Eventos Unioeste, 2008. Disponível em:
https://eventosunioeste.unioeste.br/images/Default/anais/sifedoc/Anais/Eixo%2008/
Ang%C3%A9lica%20Rodrigues%20Louzada.pdf. Acesso em 24 de agosto de 2023.

SILVA, Juliana Andrade da; SERAFIM, Ana Regina Marinho D.B da Rocha. DESAFIOS
PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA NAS ESCOLAS RURAIS E URBANAS. Portal de
Periódicos UFPE, 2022. Disponível em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/ruralurbano/article/viewFile/250305/41276. Acesso em 24
de agosto de 2023.

SILVA, Marcos Antônio Soares da et al. O currículo da EJA do campo: uma análise entre
as perspectivas do MST e da Secretaria de Educação de Pernambuco. 2019.

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