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Brazilian Journal of Development 92699

ISSN: 2525-8761

Educação do campo: relato de análise de fatores que interferem no


processo de ensino e aprendizagem na escola Florestan Fernandes no
município de Arataca – BA

field education: report of analysis of factors that interfere the teaching


and learning process in the Florestan Fernandes school in Arataca –
BA

DOI:10.34117/bjdv7n9-438

Recebimento dos originais: 24/08/2021


Aceitação para publicação: 24/09/2021

Alexsandro Crispim de Almeida


Licenciatura em Ciências Biológicas
Endereço: Rua da Roseira, 06 - Centro - Arataca - 45695-000
E-mail: alexcrispim@yahoo.com.br

Emerson Antônio Rocha


Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal pela UFPE.
Professor Titular da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)
Rod. Campus Soane Nazaré de Andrade, Rodovia Jorge Amado, km 16, Bairro
Salobrinho CEP 45662-900. Ilhéus-Bahia
E-mail: earmlucena@uesc.br

Arlete Ramos dos Santos


Pós-Doutorado em Educação e Movimentos Sociais pela UNESP, Doutora e Mestre em
Educação (FAE/UFMG).
Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Professora
do Programa de Pós-Graduação em Educação da UESB (PPGEd/Uesb); Profa. do
PPGE/UESC; Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Movimentos Sociais,
Diversidade e Educação do Campo e Cidade – Gepemdecc/CNPq.
Estrada do Bem Querer, 3293-3391 - Candeias, Vitória da Conquista - BA
E-mail: arlerp@hotmail.com

RESUMO
O município de Arataca tem no Assentamento Terra Vista (ATV), espaço para o
desenvolvimento de políticas e ações de reforma agrária do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A educação do campo é uma condição idealizada
por membros do MST. O Centro Integrado Florestan Fernandes (CIFF), escola inserida
no ATV, foi instituído em 1997 por membros do MST e se tornou um exemplo concreto
da luta do povo no campo, na Bahia e no Brasil. Entretanto o processo de ensino e
aprendizagem na escola do campo, apresenta várias dificuldades para a sua efetivação e
consequentemente apresenta uma deficiência na formação de sujeitos críticos e
conhecedores de suas realidades que possam transformar o meio em que vivem. Sendo
assim, um relato de observações, apontam os principais fatores que dificultam o processo
de ensino e aprendizagem com os alunos da escola CIFF. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, focada na técnica de observação e vivência, visando analisar o cotidiano
escolar, sob a ótica de um discente/docente em uma escola do campo no Sul da Bahia.
Problemas de locomoção, material didático utilizado e desmotivação quanto aos trabalhos

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desenvolvidos, são aspectos agravantes na dificuldade do processo de aprendizagem dos


alunos e não é raro encontrar professores que desconhecem a realidade do local, do
movimento social e às vezes sem formação específica para exercer tal cargo. Embora
ainda seja muito tímido, o modelo de alternância, com vivência na comunidade do
assentamento, é uma opção para que o processo de ensino e aprendizagem flua
naturalmente.

Palavras-Chave: Educação do Campo, Movimento Social, Observação, Ensino-


Aprendizagem.

ABSTRACT
The municipality of Arataca has in the Terra Vista Settlement (ATV), space for the
development of land reform policies and actions of the Landless Rural Workers
Movement (MST). Field education is a condition idealized by MST members. The
Florestan Fernandes Integrated Center (CIFF), a school inserted in the ATV, was
established in 1997 by MST members and became a concrete example of the struggle of
the people in the countryside, in Bahia and in Brazil. However, the teaching and learning
process in the rural school presents several difficulties for its implementation and
consequently presents a deficiency in the training of critical subjects who are aware of
their realities that can transform the environment in which they live. Thus, a report of
observations, point out the main factors that hinder the process of teaching and learning
with students of the CIFF school. This is a qualitative research, focused on the technique
of observation and experience, aiming to analyze the school routine, from the perspective
of a student / teacher in a rural school in southern Bahia. Locomotion problems, didactic
material used and demotivation about the developed works, are aggravating aspects in the
difficulty of the students learning process and it is not uncommon to find teachers who
do not know the reality of the place, the social movement and sometimes without a
specific training to exercise. such a post. Although still very shy, the alternation model,
with experience in the settlement community, is an option for the teaching and learning
process to flow naturally.

Keywords: Rural Education, Social movement, Note, Teaching, Learning.

1 INTRODUÇÃO
Curiosamente a educação no Brasil começa direcionada para o povo mais
humilde, quando os Jesuítas ensinavam a população local (índios), criando escolas e
modelos educacionais que atendiam, prioritariamente à tutela religiosa. Em meados do
século XVIII, com a expulsão dos jesuítas, o comando da educação é passado para o
Estado. Em 1767 foi criada a Real Mesa Sensória que, entre outras atribuições, estava
incumbida de substituir o sistema educacional, desenvolvendo melhorias e avanços nesse
campo. Nesse intuito, foi instituído um imposto denominado “subsídio literário” que,
segundo Carvalho (1978, p. 128):

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Os recursos deste imposto, chamado subsídio literário, além do pagamento dos


ordenados aos professores, para o qual ele foi instituído, poder-se-iam ainda
obter as seguintes aplicações: 1) compra de livros para a constituição da
biblioteca pública, subordinada à Real Mesa Sensória; 2) organização de um
museu de variedades; 3) construção de um gabinete de física experimental; 4)
ampliação dos estabelecimentos e incentivos aos professores, dentre outras
aplicações.

Dessa forma, houve a primeira modernização do sistema educacional, com maior


atuação do Estado, porém, muito elitista já que o acesso à educação estava condicionado
ao pagamento do imposto. Sendo assim, em nossa opinião, começa a partir desse
momento um longo período de exclusão e discriminação ao povo menos favorecido, em
especial do campo. Essa realidade ainda é percebida hoje. Os abastados têm o privilégio
de ingressar em escolas renomadas, da rede particular. Já os menos favorecidos seguem
na rede pública, enfrentando problemas de diversas ordens para conseguirem se manter
na escola, quando conseguem. E mesmo nas escolas públicas, há diferenças no ensino
entre as unidades escolares urbanas e as do campo.
De acordo com essa percepção, esse trabalho teve como objetivo analisar o
processo de ensino e aprendizagem na escola do campo, identificando possíveis
dificuldades encontradas pelos discentes e docentes. Para isso, optamos por fazer
observação do meio de transporte e material didático utilizados pelos alunos, assim como
o modelo de pedagógico aplicado, relacionando a evasão escolar à metodologia de ensino
adotada, descrevendo-as com um relato de um estudante universitário da licenciatura em
Ciências Biológicas. Essas ações foram realizadas no Centro Integrado Florestan
Fernandes (CIFF), uma escola do campo, localizado no Assentamento Terra Vista (ATV),
no município de Arataca, interior do Estado da Bahia.

2 A EDUCAÇÃO DO CAMPO E O CENTRO INTEGRADO FLORESTAN


FERNANDES
O Assentamento do Terra Vista
O ATV é um Assentamento de reforma agrária, que teve sua história iniciada em
08 de março de 1992. Aproximadamente 350 famílias ocuparam a Fazenda Bela Vista,
uma área de 913 hectares, no município de Arataca - BA, localizado às margens da BR –
101 (km – 560) e BA – 676 (km 01), pertencente ao Território de Identidade Litoral Sul,
Sul da Bahia (Figura 1). O processo de luta e ocupação dessa terra foi demorado e após
vários despejos das famílias o número caiu de 350 em 1992 para apenas 29 em 1994,

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quando, em 21 de junho deixam a posição de acampados para se tornarem efetivamente


assentados (MST, 2017).

Figura 1. Vista aérea do Assentamento Terra Vista (ATV).

O pensamento sobre a educação no “Terra Vista” começa já no natal de 1993,


após a efetivação de ocupação da Fazenda Bela Vista, por integrantes do MST. Em
conversa com o coordenador do Assentamento, Joelson Ferreira (Informação Verbal,
2017) conta que cansados da luta pela terra e buscando um espaço coletivo para a
produção de alimentos no campo, um pequeno grupo de acampados reúne-se ao lado de
uma fogueira e comendo uma pequena caça, tomaram uma decisão: “Os filhos de
assentados não sofrerão como seus pais”. Ali no meio do mato, a decisão do grupo foi de
construir uma escola e o desejo era que aquela terra produzisse, além de alimento,
“doutores”, fazendo jus à reivindicação prioritária do MST que é: terra, reforma agrária
e mudanças gerais na sociedade (STÉDILE, 2011, p. 24). Assim, foi fundada a primeira
turma de alunos do Acampamento Terra Vista (Figura 2).

Figura 2: Foto da primeira turma de alunos do Acampamento/Assentamento Terra Vista.

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O meu primeiro contato com o ATV, ocorreu em 2010, quando iniciei um Curso
Técnico em Agroecologia no Centro Estadual Milton Santos (CEEMS), uma escola de
Ensino Técnico inserida dentro do próprio ATV, hoje Centro Estadual da Floresta do
Cacau e do Chocolate Milton Santos (CEFCCMS), centro destinado à formação técnica
em várias áreas como Agroecologia, Meio Ambiente, Zootecnia, entre e os cursos em
alternância de Técnico em agroecologia (PROEJA e PROSUB) (MDS, 2018). Mais tarde,
passo a desenvolver um trabalho de coletividade e apoio a projetos no setor de produção
e meio ambiente do assentamento. Esse contato com a realidade do assentamento fez com
que eu tivesse um olhar mais crítico em diversas áreas. Principalmente, no que se refere
à educação.

Centro Integrado Florestan Fernandes e a educação do campo


O Centro Integrado Florestan Fernandes (CIFF) é uma escola pública municipal,
que tem como finalidade atender aos princípios de educação do campo, fundada em 1998,
que atende os níveis da educação infantil, do Ensino Fundamental I, do Ensino
Fundamental II e Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Educação Básica. Essa escola
faz parte da formação educacional para os filhos de agricultores que moram no próprio
assentamento, atendendo também a estudantes que moram em fazendas da região onde o
ATV está inserido.
A construção dessa escola foi justificada pela quantidade de crianças do recente
assentamento, após várias reivindicações da coordenação do MST ao governo estadual e
municipal, em 1997 foi autorizada a construção da escola que recebeu o nome em
homenagem ao sociólogo Florestan Fernandes (Figura 3).
Ao ter contato com o CIFF, percebi diferença gritante, entre os alunos das escolas
da cidade (escola da sede como é conhecida) e alunos das escolas da área rural. Entre
essas diferenças estavam à formação desses alunos. Muitos possuem dificuldade de
aprendizagem. Nesse sentido, uma inquietação me tomou conta e questionamentos foram
inevitáveis, e fez com que eu cada vez mais buscasse entender o que acontecia com aquela
escola diferenciada do município de Arataca.

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Figura 3: Vista frontal do Centro Integrado Florestan Fernandes (CIFF).

Existem dois elementos que fundamentam a Educação do Campo: a superação da


dicotomia entre o rural e o urbano; e a necessidade de recriar os vínculos de pertença ao
campo. A concretização desses fundamentos, exige a implementação de políticas que
compreendam a Educação e a Escola do Campo a partir de alguns princípios citados nos
Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo, a seguir:

I. A Educação do Campo de qualidade é um direito dos povos do campo;.


II. A Educação do Campo e o respeito às organizações sociais e o
conhecimento por elas produzido;
III. A Educação do Campo no campo;
IV. A Educação do Campo enquanto produção de cultura;
V. A Educação do Campo na formação dos sujeitos;
VI. A Educação do Campo como formação humana para o Desenvolvimento
Sustentável;
VII. A Educação do Campo e o respeito às características do Campo.
(SANTOS; NEVES, 2012).

A educação como estratégia fundamental para o desenvolvimento sustentável do


campo deve se constituir nas políticas públicas como uma ação cultural comprometida
com o projeto de reinvenção do campo brasileiro (SANTOS, 2001). Para o MST (2003),
a educação é uma área fundamental, já que ela visa a elevar o conhecimento cultural dos
trabalhadores rurais e busca implantar uma escola de qualidade para todos.

O acesso à educação, tanto no sentido da escolarização ampla como a de bens


e valores culturais, é condição necessária para uma Reforma Agrária e para a
democratização da sociedade.
A educação que queremos está vinculada a um novo projeto de
desenvolvimento econômico, social e ecológico para o campo e que tem como
sujeito as próprias pessoas que vivem na comunidade (MST, 2006, p. 35)

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A elitização das cidades, a busca por mão de obra qualificada, fez o homem migrar
para o campo, onde entendia-se não haver a necessidade de conhecimentos técnicos em
várias áreas para ter o seu sustento. Com o passar do tempo a família do trabalhador rural,
do homem do campo, evidentemente busca melhor qualidade de vida e a mecanização
das propriedades rurais, ocupando maior parte dos espaços da mão-de-obra, causa a saída
do meio rural para o urbano. Isso pode ser comprovado com os dados de Palmeira (1989),
quando cita que “inverteram-se os percentuais das populações rural e urbana, a primeira
caindo de aproximadamente 70% da população total para cerca de 30%, enquanto a
segunda aumentava de 30% para 70%” (PALMEIRA, 1989, p. 88).
O caminho para a mudança de uma realidade dura vivida é a educação. Mas uma
educação diferenciada, voltada para o os interesses do campo. Nesse sentido, surge uma
preocupação dos movimentos sociais organizados, principalmente o MST, estabelecendo
então a “Educação Rural”.
Anteriormente citada como “Educação Rural”, com a realização da I Conferência
Nacional Por Uma Educação do Campo, no ano de 1998, sob a iniciativa de diversos
segmentos sociais, a expressão “campo” passa a substituir o termo rural. Entende-se que,
em tempos de modernização, com esta expressão “campo”, há uma abrangência maior de
sociedades diversas que habitam as regiões do país que não se dizem urbanas e confere a
condição fundamentada não apenas no aprendizado do ato de ler, escrever e fazer conta
(SIMÕES; TORRES, 2011, p. 02-03).
Por orientação, segundo Rosa e Caetano (2008), “Procura-se diferenciar educação
rural e educação no campo, como uma forma de constituir uma nova abordagem para a
educação do campo”. O conceito de Educação do Campo nasceu em julho de 1997,
durante a realização do Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma
Agrária – ENERA, no campus da Universidade de Brasília - UnB, promovido pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, em parceria com a própria UnB,
o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, a Organização das Nações Unidas
para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO e a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil – CNBB (ARROYO, 2008).
É indispensável uma importante discussão de um projeto pedagógico próprio,
sendo de construção democrática, onde a participação da comunidade escolar, o qual se
diferencia por considerar o espaço, o tempo, os saberes, a valorização da cultura local e a
autonomia da escola, dos educandos e da comunidade escolar, possa ter relação íntima.

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De acordo com Nascimento, 2016 (informação verbal), ainda é possível encontrar


pensamento de que para a “educação do campo, não há necessidade de especialistas
qualquer professor pode conduzir um trabalho com meninos da roça”. Indo na contramão
do que se espera para uma área mais específica.

Entre as transformações fundamentais para a concepção da escola do campo,


encontra-se a formação dos educadores, principais agentes deste processo, mas
que, muitas vezes, são desvalorizados no trabalho que exercem, e cuja atuação
no meio rural é colocada como penalização e não como opção. A não
viabilização para a qualificação profissional destes professores diminui sua
autoestima e sua confiança no futuro, o que os coloca numa condição de
vítimas provocadoras de novas vítimas, na medida em que realizam um
trabalho desinteressado, desqualificado e desmotivado (OLIVEIRA, 2014, p.
65).

Aparentemente, a educação do campo fica sempre em segundo plano. É possível


afirmar isso, quando analisamos as condições das escolas localizadas em áreas de difícil
acesso, escolas com estruturas físicas quase sempre em péssimo estado de conservação.
O professor dessas escolas, quase sempre encontra uma dificuldade considerável para se
deslocar da cidade para o campo e encontrar salas multisseriadas, testando
constantemente suas habilidades como educador. Diante de tantas dificuldades, não é raro
ver o esforço de professores e alunos para que as aulas, os momentos de ensino
aprendizagem, sejam aproveitados da melhor forma, cria-se a necessidade de saber qual
a relação da qualidade do ensino nessas escolas (do campo) com a aprendizagem
adquirida por seus alunos.
Morando em uma cidade basicamente de economia agrícola, onde quase metade
da população se concentra na zona rural (CENSO, 2010), é comum encontrar pessoas, na
cidade, que tem ou já teve uma relação com alguma das várias escolas do campo. É natural
perceber certas diferenças na forma de pensar, falar e agir, entre os alunos do campo com
relação aos alunos da sede (alunos da cidade). Mesmo entre aqueles alunos que moram
no campo e estudam na cidade, percebem-se sutis diferenças. O conhecimento da relação
ensino e aprendizagem impulsiona a uma reflexão sobre a naturalidade e equilíbrio da
relação professor/aluno.
Algumas dificuldades já são claramente observadas como possíveis explicações
para uma resistência de relação ensino e aprendizagem pelos alunos. Dificuldades como
acesso à escola, que normalmente não possuem boas estradas ou carros adequados para o
transporte, embora o Ministério da Educação (MEC) disponibilize condições de
transporte (exemplo do programa Caminho da Escola), a grande maioria dos carros já está

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sucateada; A falta de material didático ou o uso de um material de baixa qualidade pelos


professores e a principal dificuldade: a evasão escolar. A evasão escolar nas escolas do
campo normalmente está relacionada com a carga diária de trabalho que o aluno exerce
na ajuda à família, com as atividades corriqueiras na roça. É comum o aluno ajudar a
família no cultivo dos produtos, na organização e cooperação com a propriedade rural,
que faz com que haja uma desmotivação para o estudo, proporcionando ao aluno uma
dificuldade de corresponder positivamente com o proposto em sala de aula, levando-o à
baixa autoestima e consequentemente a evasão escolar.

Os desafios de ensinar e aprender em uma escola do campo


A família é a primeira estrutura social que possibilita a educação ao indivíduo, “na
economia camponesa, mesmo em nossos dias, a sede da aprendizagem social e para o
trabalho continua sendo a família” (ENGUITA, 1991). Com o decorrer do tempo, outras
organizações e instituições surgiram com a capacidade de prover a educação do indivíduo,
como a igreja e a escola, mais para alimentar o sistema capitalista que inicia o seu
domínio.

A educação institucionalizada no modo de produção capitalista, especialmente


nos últimos 150 anos, esteve centrada nos propósitos de fornecer
conhecimentos e pessoal necessários à máquina do capital em favor da
expansão do sistema capitalista e ainda gerar e produzir um quadro de valores
morais que validam os interesses dominantes, por meio da internalização ou da
“dominação estrutural” implacavelmente imposta (MÉSZÁROS, 2005. p. 17).

Rosa e Caetano (2008) citam que até as primeiras décadas do século passado, a
educação, de modo geral, era privilégio de poucos. Quando olhamos para o espaço rural,
isso se torna ainda mais real e gritante. Historicamente, houve uma omissão do Estado
brasileiro em implementar um sistema educacional que atendesse às necessidades da
população do campo. Esta situação direcionou a população do campo a uma privação ao
acesso às políticas e serviços públicos em geral, ocasionando em linhas gerais, o êxodo
rural. Tal situação começa a mudar, no final do século passado, a partir dos anos 90, com
a pressão dos movimentos sociais na busca pela construção de políticas públicas para a
população do campo.
Várias dificuldades para o processo de educação do campo são encontradas
constantemente e essas dificuldades possibilitam e impulsionam a ação de movimentos
sociais que buscam por uma valorização da realidade dos moradores de zona rural, da
população rural, para a formação de sujeitos que possam amenizar os problemas do

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campo. Para tanto, se faz necessário considerar fatores políticos, sociais, culturais e outros
que direcione essa população no intuito de obter políticas próprias para essa valorização
da realidade do campo (OLIVEIRA, 2008).
Não há qualquer justificativa para explicar uma qualidade inferior de ensino para
o campo, se comparado com a da cidade. Não há mais espaço para se permitir a figura
dos estudantes do campo, como sendo algo irrelevante. Na tentativa de trazer uma
discussão sobre a figura do homem do campo, Miguel Arroyo, em uma palestra em Goiás
no ano de 1998, cita:

[...]. Como a escola vai trabalhar a identidade do homem e da mulher do


campo? Ela vai reproduzir os estereótipos da cidade sobre a mulher e o homem
rural? Aquela visão de jeca, aquela visão que o livro didático e as escolas
urbanas reproduzem quando celebram as festas juninas? Ou a escola vai
recuperar uma visão positiva, digna, realista, dar outra imagem do campo?
(ARROYO, 2011).

Leite (2002) apresenta a afirmação de que “a Educação Rural no Brasil, sempre


foi relegada a planos inferiores” e de certa forma, um elitismo amparado por ideologia
derivada do processo educacional “instalado pelos jesuítas e em interpretação política
ideológica da oligarquia agrária”. Ainda é muito comum a expressão: “gente da roça não
carece de estudos. Isto é coisa de gente da cidade”. Absurdo. Entretanto é algo ainda
percebido, como uma forma de herança ‘maldita’, mas que merece grande atenção ao seu
conteúdo.
A população que trabalha e vive no campo, merece uma educação de qualidade e
diferenciada, com especificidade do campo, que possa atender às suas necessidades
colocando-os como sujeitos de suas ações e não apenas obedecendo às ações de grupos
que traz consigo outras realidades, que não a do campo (CALDART, 2005). Quando
pensamos em uma educação de qualidade voltada para a área rural, deve existir uma
compreensão de que tanto “o povo da roça” quando o da cidade é amparado por direitos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, em seu artigo
28 é contudente na garantia desses ao afirmar que: "na oferta de Educação Básica para a
população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua
adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região".
A educação que se espera para a comunidade rural, nas escolas do campo, precisa
atender a interesses, prioritariamente, das pessoas que vivem no campo. A escola do
campo possui suas especificidades e essas devem ser consideradas. O intuito de qualificar
e dignificar o modo de viver das pessoas do campo, exige a preocupação com a qualidade

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do ensino disponibilizado nas escolas. Notadamente, os alunos são capazes de elaborar


ideias próprias que já trazem, conhecimentos aprendidos na vida familiar e social. Sabe-
se que o processo de construção de conhecimentos e de valores se dá por todos envolvidos
no processo educativo (BAPTISTA, 2003).
Os processos de ensino-aprendizagem nas escolas do campo, ainda passa por
adequação. O campo ainda é visto como um lugar de atraso, um lugar que ainda impera
o tradicionalismo cultural: “O homem da roça deve sempre ser o coitado” (LEITE, 2002).
Isso dificulta uma implementação de modelo mais refinado de educação, e talvez isso não
seja o que busca a população rural. Há a preocupação de definir modelos específicos que
atendam a necessidade do homem do campo, para o campo. Não abrindo mão das
oportunidades e da qualidade no ensino ofertado para a educação na cidade (urbana).
O que se espera é que o ensino disponibilizado na escola do campo sirva não só
apenas para a qualificação de uma mão de obra que irá, futuramente, alimentar os espaços
de subempregos nas grandes cidades, mas que seja uma educação inclusiva, um ensino
capaz de transformar o ser. A escola é o local mais legítimo para produção do
conhecimento, com espaços característico e usual, um local de aprendizagem que
possibilite a problematização das verdades (ditas) absolutas.
No processo educativo, normalmente, ensino e aprendizagem são processos que
sempre acompanham um ao outro, estão unidos e para uma explicação do que venha ser
aprendizagem, Iturra (2013), citando Paulo Freire, afirma que a prática é a forma melhor
de aprendizagem. Faz-se necessário usar o seu conhecimento em prol de sua comunidade,
de sua gente, em benefício coletivo para que o que foi aprendido em sala de aula tenha
um significado maior. Muito embora seja notado o desejo de aproveitar o conhecimento
adquirido nas escolas, os alunos passam por situações que são capazes de criar uma
desmotivação enorme para os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Além
de dificuldade de acesso (estradas precárias) e material (material didático atualizado),
Pinheiros (2011), aponta outras problemáticas que buscam justificar a qualidade da
educação do campo:

[...] a educação do campo tem se caracterizado como um espaço de


precariedade por descasos, especialmente pela ausência de políticas públicas
para as populações que lá residem. Essa situação tem repercutido nesta
realidade social, na ausência de estradas apropriadas para escoamento da
produção; na falta de atendimento adequado à saúde; na falta de assistência
técnica; no não acesso à educação básica e superior de qualidade, entre outros
(PINHEIROS, 2011).

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Observando algumas contribuições de Piaget (1996, p. 13), no que se refere à


construção do conhecimento, destaca-se os processos individuais, onde há a preocupação
em analisar como os alunos aprendem e de que forma acontece o processo de ensino.
Fernández (1998) orienta que ao analisarmos a situação atual da prática educativa nas
escolas, problemas serão percebidos. Problemas como: a ênfase da memorização e pouca
preocupação com o desenvolvimento de habilidades para reflexão crítica, assim como a
autocrítica daquilo que se aprende; o que se percebe é que “as ações ainda são centradas
nos professores que determinam o quê e como deve ser aprendido e a separação entre
educação e instrução” (FERNÁNDEZ, 1998, p. 23).
Enquanto houver a fronteira, o abismo, do que se propõe ensinar com o que se
possibilita aprender e a forma como esse ensinamento é passado na intenção da
construção do sujeito crítico e consciente, a educação, principalmente a educação do
campo, continuará a padecer. O aprofundamento de como os educandos aprende e o
conhecimento do processo de ensinar, pode ser a solução para a problemática da
qualidade do ensino e o mecanismo mais seguro para uma aprendizagem de qualidade. O
processo de ensino-aprendizagem é uma integração dialética entre o instrutivo e o
educativo que tem como propósito essencial contribuir para a formação integral da
personalidade do aluno. O estudante que depende de um ambiente educacional para a
formação de suas ideias e construção de seu conhecimento, necessita de estrutura propícia
para que seja possível a condição do desenvolvimento da autocrítica e a potencialização
de suas reflexões.
Quem mora no campo, tem que conviver dia-a-dia com problemática de diversas
áreas para possuir uma condição mínima de estudo. Aqueles que conseguem manter-se
em sala, continuar seus estudos, aqueles que conseguem evitar a evasão, se deparam quase
sempre com salas multisseriadas, com a dependência do transporte escolar que passam
por estradas horríveis, desmotivação de professores que nem sempre possui uma
qualificação para o trabalho em sala de aula. São vários os desafios para os alunos de uma
escola do campo. O que “o povo do campo” busca, é um ambiente educacional, que
possibilita a sensação de conforto e bem-estar, ajuda na formação profissional do
indivíduo. Esse ambiente deve prevalecer à condição da união de estudo, vivência e
currículo. Paulo Freire reforça que o ensino e aprendizagem promove o diálogo entre o
conteúdo curricular (formal) e os conteúdos únicos (vivências, história, individualidade)
tanto do professor quanto do estudante. A partir dessa relação a transformação do
ambiente e a concretização de uma educação de qualidade se faz possível.

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Vários pontos são observados como dificuldade do processo de aprendizagem


para os alunos das escolas do campo. Desde uma estrada esburacada até a desmotivação
do profissional para a atividade de ensinar. “As dificuldades podem advir de fatores
orgânicos ou mesmo emocionais e é importante que sejam descobertas a fim de auxiliar
o desenvolvimento do processo educativo, percebendo se estão associadas à preguiça,
cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, dentre outros, considerados fatores que
também desmotivam o aprendizado” (BARROS, 2016). A aprendizagem depende ainda
do que será aplicado às tarefas propostas. Sendo assim, compreender os pontos que
dificultam a relação de ensino e aprendizagem é fundamental para o sucesso de uma
educação de qualidade.

O modelo de Alternância
A relevância dos conhecimentos objetivos e subjetivos na dinâmica da vida social
e de trabalho cotidiano, sustentam os saberes, linguagens, cultura, marcando as atuações
dos grupos na sociedade. Para os movimentos sociais, a Pedagogia da Alternância (PA)
é uma ferramenta pedagógica importante por trazer as marcas discursivas e ideológicas
de suas lutas e de suas experiências, visto que trata das relações entre o pensamento e o
contexto social dentro do qual os sujeitos vivem (OLIVEIRA; CAMPOS, 2012).
Essa proposta metodológica chamada de Pedagogia da Alternância é utilizada, em
território brasileiro, dentro do movimento internacional denominado CEFFAs (Centros
Familiares de Formação em Alternância), que no Brasil constitui-se como uma rede que
abrange as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) e Casas Familiares Rurais (CFRs) e que
ao nível mundial está filiada à AIMFRs (Associação Internacional de Movimentos
Familiares Rurais), formando uma rede mundial, nos cinco continentes, em mais de 40
países (PINA, 2017. apud ZAMBERLAN, 2003).
A Pedagogia da Alternância é um método de ensino que busca a interação entre o
estudante que vive no campo e a realidade que ele vivencia em seu cotidiano. Um dos
principais documentos que abordam esse método, é o Parecer CNE/CEB nº 1/2006, no
qual afirma:

A Pedagogia da Alternância é uma forma de organização do ensino que


conjuga diferentes experiências formativas distribuídas ao longo de tempos,
espaços e saberes diferentes, tendo como finalidade uma formação integral do
estudante. Requer um método que busca a interação entre o estudante e a
realidade que ele vivencia em seu cotidiano, de forma a promover permanente
troca de conhecimentos entre seu ambiente de vida e trabalho e a escola
(BRASIL, 2006, p. 11).

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Dessa forma, promove constantemente a troca de conhecimentos entre o ambiente


em que o estudante vive com o ambiente que estuda. Entretanto ainda é muito tímida a
busca por esse método de ensino. Talvez haja a preocupação de que o método de
alternância perpetue as crianças e adolescentes no campo, criando um efeito contrário ao
que a educação se propunha que é de ampliar as possibilidades do indivíduo (UNEFAB,
2009).
Alguns problemas das escolas estão direta ou indiretamente ligados ao modelo de
educação aplicado. Os problemas com a escola devem ser identificados pelo corpo
docente e submetidos a um projeto pedagógico próprio, bem fundamentado por um corpo
de profissionais qualificado. Para a escola do campo, inevitavelmente o regime de
alternância se apresenta como sendo o mais eficaz. Já que prepara o aluno, utilizando o
meio em que ele vive, para uma mudança social aproveitando o conhecimento prático de
suas atividades.
Para Rodrigues (2009) o modelo para a educação do campo deve ser um modelo
próprio, não seguindo o modelo tradicional de ensino em sala de aula. A pedagogia da
alternância possibilita uma educação diferenciada e consciente para uma comunidade que
quer se manter no campo. O modelo de alternância educativa, que busca uma associação
com a escola, família e ambiente (comunidade), adiciona uma relação positiva entre os
envolvidos de forma a integrar conhecimentos.
A Pedagogia da Alternância compreende um modelo metodológico para a
organização para a educação do campo, onde unifica experiências diferentes para a
formação profissional. Essa proposta (Alternância) tenta articular diferentes espaços e
tempos formativos, intercalando as atividades desenvolvidas na comunidade com o
momento educacional, visando o conhecimento mais consistentes, mantendo as
experiências dos envolvidos no processo. Assim sendo, Silva (2006), pontua que:

A alternância, enquanto princípio pedagógico, mais que característica de


sucessões repetidas de sequencias, visa desenvolver na formação dos jovens
algumas situações em que o mundo escolar se posiciona em interação com o
mundo que o rodeia (SILVA, 2003. p. 6).

No Brasil existem fundamentos aparados por leis onde Educação do Campo


permita a Pedagogia da Alternância como usual. Para isso, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº 9.394/1996 – em seu Arts. 23 e 28 assegura a flexibilidade dos
períodos de estudos, com isso prevê possivelmente o uso da alternância, para tanto uma

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adaptação ao calendário escolar da instituição deve ser observada. Levando em


consideração as peculiaridades (ciclo agrícola, clima, etc) da região.

Caracterização da pesquisa
É primordial o entendimento do que seja uma pesquisa e como está caracterizada.

Pesquisa é a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da


realidade (...) embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento
e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido,
em primeiro lugar, um problema da vida prática (MINAYO; GOMES, 2008.
p. 22).

A pesquisa qualitativa se define a partir da abordagem do problema formulado,


visando à checagem das causas atribuídas a ele. Entenderemos essa escolha, quando
observarmos, o ponto de vista interno à organização (qualitativa). Para nossa pesquisa,
desenvolveu-se uma abordagem do problema com uma classificação qualitativa, pela
abordagem observacional, sem necessidades de atribuição de exatidão de números e
fórmulas para a obtenção de resultado satisfatório. A construção do conhecimento
humano é sistematizada pela investigação dos fatos ou problemáticas que o cerca. O
conhecimento adquirido no processo de pesquisa tem por objetivo a satisfação da
resolução de problemas aparentemente inquietantes para uma sociedade.
Por definição, segundo Gil (2010), a pesquisa pode ser definida como sendo “o
procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar resposta aos
problemas que são propostos (...)”. Para o desenvolvimento de uma pesquisa de qualidade
de satisfatória, essa deve ser desenvolvida “ao longo de um processo que envolve
inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação
dos resultados” (GIL, 2010).

Métodos de pesquisa
Optou-se pela metodologia de pesquisa “qualitativa” onde, priorizou-se pela
observação, para a compreensão do problema, e com isso, sugerir uma melhoria na
qualidade do ensino e aprendizagem com os alunos nas escolas do campo. Segundo Alves
e Silva (1992):

A análise qualitativa de dados é um fenômeno recentemente retomado, que se


caracteriza por ser um processo indutivo que tem como foco a fidelidade ao
universo de vida cotidiano dos sujeitos, estando baseada nos mesmos
pressupostos da chamada pesquisa qualitativa (ALVES; SILVA, 1992. p. 9).

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Nesse processo científico pelo qual submetemos a pesquisa, Rudio (1978), aponta
como melhor forma de obtenção de dados, a observação, quando afirma que: “Não se
pode falar em ciência sem fazer referência à observação”. Conhecer o ambiente em que
se pretende submeter à pesquisa é fundamental para obtenção de um resultado satisfatório.
Para isso acessar a escola em diversos momentos para observação e obtenção de dados
deve ser primordial.

Observação
Neste estudo utilizou-se a técnica de observação e vivência, visando analisar o
cotidiano escolar, sob a ótica de um discente/docente em uma escola do campo no Sul da
Bahia, observando os seus acertos, erros, contradições e dificuldades encontradas pela
comunidade escolar. De acordo com Rudio (1978), a técnica de observação é a maneira
mais frequente e comum para entender o ambiente, pessoas envolvidas e situações, com
sentimento das particularidades apresentadas no problema. Ainda segundo este autor, não
se pode falar em ciência sem fazer referência à observação. Entretanto, um cuidado maior
foi tido ao que se observava, a fim de manter a integridade do objeto e ter uma pesquisa
satisfatória.
Para Gil (2010), a observação pode ser classificada como: a) observação simples;
b) observação participante; c) observação sistemática. Para o autor supracitado, a
observação simples é aquele em que o pesquisador não se identifica perante os sujeitos
envolvidos com o objeto de trabalho. Dessa forma, o pesquisador torna-se de fato um
mero expectador, colhendo e anotando seus dados ou suas percepções.
A observação e coleta de dados apresentam diferentes tipologias segundo Barros
e Lehfeld (2002). O presente estudo é uma observação sistemática, participante,
individual e militante realizada em campo. A observação foi feita de maneira vivenciada
em ambiente escolar, participando como espectador de algumas aulas e atividades no
CIFF, em momentos distintos do ano letivo, tanto em período chuvoso, quanto
ensolarado. Desde o momento do embarque no transporte escolar (ônibus) em um
assentamento (Assentamento Rio Aliança) distante alguns quilômetros do ATV, até o
desembarque na escola.
Também foi observada a relação entre professor e aluno, com uma comparação
entre a diferença da didática aplicada na escola do campo com a da escola da cidade de
Arataca. Na observação procurou evidenciar o método de ensino, material didático
utilizado pelos professores em sala de aula e suas atividades propostas, além das

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orientações teóricas em que a professor se baseia. A intenção com esse modo de


observação, mais aproximado, sem interferência, foi de presenciar e comprovar se as
dificuldades poderiam interferir diretamente no rendimento escolar dos alunos do CIFF.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quando pensamos em Educação do Campo, imaginamos uma educação
direcionada para a comunidade que reside no campo, ou seja, uma educação que visa a
atender as especificidades do povo do campo. Este seria uma educação referenciada nos
desejos de mudança de uma sociedade que por muito tempo tem sido discriminada. Mas
a realidade não é essa. Para a efetivação de uma educação de qualidade no campo, vários
fatores devem ser levados em consideração e esses fatores se apresentam como
dificuldades no processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
Após a observação do processo de educação na escola CIFF, vários problemas
foram identificados. Entre eles, destacam-se o fato do aluno se deslocar de sua casa
(quando não mora na comunidade onde a escola está inserida) e não encontrar uma com
condições de trabalho adequadas a atividade docente e com uma perspectiva de ensino
direcionado para atender as exigências da comunidade rural.
As estradas de acesso à escola, geralmente estão em estado precário. Cheias de
buracos. A não manutenção dessas estradas quase sempre é justificável, pela prefeitura,
devido ao período chuvoso da região. Mas entendo que a utilização de cascalho, em
trechos mais críticos, amenizaria o desconforto da viagem para a escola. O transporte
utilizado para a condução à escola, não disponibiliza qualquer tipo de segurança. Utiliza-
se de uma estrutura defasada, péssimos ônibus. Mesmo com o incentivo do governo
federal através do MEC, é comum o transporte escolar estar quase totalmente sucateado,
em péssimas condições de uso, sem extintores, estepes, cinto de segurança, com estofados
rasgados e a parte mecânica do veículo quase sempre falhando. O interior desses veículos
utilizados no transporte dos alunos, quando não está molhando, no período chuvoso, é
tomado pela poeira constante em dias ensolarados.
Após percorrer algumas regiões, utilizando o transporte disponibilizado pela
prefeitura para os alunos, percebi que as viagens se tornam cansativas e certamente é um
agravante no que se refere à desmotivação dos alunos e torna a viagem, para a escola,
uma verdadeira aventura. Já que nem todos os estudantes dessa escola moram dentro do
ATV e precisam se locomover vários quilômetros para chegar à sala de aula. O que mais
foi presenciado dentro do ônibus, durante a ida desse transporte da cidade de Arataca para

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o ATV, foram reclamações a respeito do trajeto, da velocidade do motorista e até da


sujeira no interior do veículo.
Esses transportes (ônibus), em situações (até) preocupantes, circulando com os
alunos (crianças) sem equipamento de segurança. Alguns destes ônibus encontravam-se
até sem vidros laterais (janelas), ficando uma parte lateral aberta e sendo motivo de
brincadeiras por alguns alunos mais afoitos, os quais colocavam parte de seu corpo para
fora do veículo. Durante o trajeto do ônibus com esses estudantes, não escutei, em
momento algum, qualquer troca de informação, dúvidas ou orientação referente as aulas
que acabaram de participar.
Os alunos que moram em regiões mais distantes, precisam utilizar outro
transporte: O chamado “pau-de-arara”, onde os alunos são carregados nas carrocerias de
pick-ups, como por exemplo, caminhonetes abertas, montados em tábuas que substituem
bancos, possuindo pouca ou nenhuma segurança, demorando um tempo enorme para
chegar até a sala de aula, explorando uma estrada, às vezes esburacada e coberta de lama
no período chuvoso (de março a final de julho) e no restante do ano, quase sempre tomada
pela poeira.
Toda essa situação, que poderia ser evitada, vai de encontro aos repasses de verbas
do governo federal para as prefeituras, que desde 2004, se beneficiam do Programa
Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE), conforme estabelecido pelo
MEC, que passa ser desenvolvido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar
(FNDE), nos estados e municípios pela Lei nº 10.880/04. O artigo 2º desta legislação
afirma que:

Art. 2º. Fica instituído o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar


– PNATE, no âmbito do MEC, a ser executado pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação - FNDE, com o objetivo de oferecer transporte
escolar aos alunos da educação básica pública, residentes em área rural, por
meio de assistência financeira, em caráter suplementar, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, observadas as disposições desta Lei (BRASIL,
2004).

Enquanto que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei Nº


9.394/96 (com acréscimo da Lei nº 10.709/2003) assegura em seu Art. 10 que:

Os Estados incumbir-se-ão de: [...] VII - assumir o transporte escolar dos


alunos da rede estadual (incluído pela Lei nº 10.709, de 31/7/2003). Art. 11.
Os municípios incumbir-se-ão de: ... VI - assumir o transporte escolar dos
alunos da rede municipal (incluído pela Lei nº 10.709, de 31/7/2003).
(BRASIL, 2003).

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A Lei nº 10.709 foi instituída com o escopo na alteração da Lei nº 9.394/96, onde
se inclui os artigos 10 e 11 e incisos VII e VI para garantir direitos à população e
determinar aos estados e municípios a competência de garantia do transporte escolar para
os alunos. Dessa forma, é notório o descaso da prefeitura municipal para com o transporte
municipal escolar utilizado pelos discentes do CIFF, uma vez que os veículos
disponibilizados não atendem à legislação vigente e chegam a colocar em risco a vida de
muitos estudantes.
Ao chegarem à escola, os alunos se deparam com uma estrutura física aceitável,
mas que deixa muito a desejar, já que algumas salas ainda utilizam cadeiras antigas,
muitas vezes reutilizadas (vindas de escolas urbanas) ou com braço quebrado, que
dificultam a escrita pelos discentes em seus cadernos e livros. Para as atividades na lousa,
a mesma ainda requer o uso do giz branco. Estas lousas estão rachadas e com pouca
visibilidade, porém há promessa pela prefeitura, da troca desses equipamentos, por
quadros brancos que utilizem pincéis atômicos. Mas, a espera por essa melhoria é só mais
um processo de desmotivação dos docentes. Para uma aula minimamente didática, o
professor produz em sua residência algumas apostilas, já que o material didático nas
escolas do campo quase sempre se resume apenas ao Livro Didático (LD).
Para a escolha do LD, os professores, coordenadores e diretores escolhem as obras
didáticas pelo portal eletrônico do FNDE. Para a escolha, deve-se seguir a guia eletrônica
“disponível no portal eletrônico do FNDE, onde traz resenhas e avaliações de coleções e
livros regionais aprovados do Programa Nacional do Livro Didático do Campo (PNLD
Campo), além de orientações sobre o processo de escolha das obras” (BRASIL, 2015),
mas que nem sempre é a realidade, acabando a escola por reutilizar alguns exemplares
vindos das escolas da sede. A dificuldade na disponibilidade de outros materiais didáticos
que promovam maior interesse pelo aluno contribui para a sua desmotivação, pois este
espera novidades no ambiente escolar, mas encontra sempre as mesmas ferramentas e
objetos de ensino, que desconsidera por muitas vezes o seu mundo do trabalho.
Os professores destinados a ensinar na escola do campo sofrem cada vez mais
com um processo de desmotivação, por conta principalmente dos baixos salários,
ausência de material de apoio com qualidade e atualizado, bem como pela convivência
em um ambiente escolar carente de reformas constantes.
Para ampliar esta problemática, quando se analisa a infraestrutura das escolas
rurais, às mesmas ficam para trás comparativamente com as urbanas. De acordo com o
Panorama da Educação do Campo publicado pelo MEC em 2007, apenas 6,1% das

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escolas rurais de Ensino Fundamental possuem bibliotecas (são 48,2%, nas urbanas). A
situação é ainda pior com laboratórios de Ciências, por exemplo, presentes em apenas
0,7% das escolas rurais. Não há energia elétrica em 29% das escolas e faltam instalações
de esgoto em 15% (OLIVEIRA, 2008). O CIFF, assim como outras escolas localizadas
na zona rural, não possui uma biblioteca. Esses alunos quando necessitam de realizar
pesquisas, utilizam computadores particulares (na escola possui alguns computadores,
mas estão sucateados) ou se dirigem-se para a cidade, corroborando com os dados obtidos
por Oliveira (2008).
Embora os problemas para uma educação de qualidade no campo sejam inúmeros,
talvez o que mais se destaca é a evasão escolar. Normalmente os alunos de escolas do
campo, além de percorrer grandes distâncias para chegar à escola, quase sempre vêm de
famílias de agricultores familiares que buscam seus sustentos da terra. Esses alunos
ajudam o pai e a mãe na “lida do dia”, no cultivo de produtos que serão comercializados
nas feiras e comércio local. A dura jornada de trabalho e maratona para chegar à escola,
dificulta muito a continuidade dos estudos por grande número de estudantes, chegando a
registrar um índice de até 35% de evasão (NASCIMENTO, A.R, 2016, Comunicação
pessoal). Não é diferente com os alunos do CIFF, que moram em outros assentamentos
ou fazendas da região. O cansaço muitas vezes é maior que a vontade de continuar os
estudos e a escola é deixada em segundo plano, gerando a evasão escolar. O secretário de
educação do município cita que “no segundo semestre as escolas estão quase vazias, pois
o cansaço desses alunos acaba gerando sua desistência, principalmente daqueles já com
idade para ajudar o pai na roça (adolescentes)” (NASCIMENTO, A. R, 2016,
Comunicação pessoal).
Manter o aluno e professor motivados é um desafio. Acredito que esse é um dos
principais pontos, para uma educação transformadora no campo baseada na alternância,
pois além de sanar as deficiências aqui apresentadas, também é fator que dificulta o
processo de ensino ou a realidade de uma aprendizagem significativa. É importante
destacar que uma escola do campo tem suas peculiaridades e estas devem ser utilizadas
como um diferencial na formação de educandos críticos e sabedores da realidade no nosso
país e no mundo.
Uma escola do campo, baseada apenas em sala de aula e livros, deixa de ser uma
escola do campo e se torna uma escola da cidade, com as necessidades da cidade, inserida
no ambiente rural. De acordo com Pasquetti (2013), as experiências dos cursos do MST,

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o trabalho é uma matriz formadora de fundamental importância. O trabalho está presente


em todos os processos educativos, em diferentes espaços e níveis de formação.
O Assentamento Terra Vista (ATV) oferece uma área de 913 hectares, em
excelente estado de conservação, apresentando áreas de Mata Atlântica em estágios
avançados de regeneração, áreas de Sistema Agroflorestal (SAF) Cacau-Cabruca, matas
ciliares, hortas orgânicas, arboreto, viveiro de mudas nativas, etc. Estes diferentes espaços
poderiam ser mais utilizados pelos docentes nas atividades escolares, trabalhando
diversos conteúdos curriculares articulados com o trabalho rural, contribuindo de maneira
mais significativa para manutenção e atuação desses sujeitos no campo.
A escola do campo nesse processo se mostra como um importante laboratório a
céu aberto, tendo em vista a gama de possibilidades do seu uso pedagógico, que de acordo
com Moreira-Coneglian, Diniz e Bicudo (2004), estes espaços não formais quando
presentes no entorno das escolas, propiciam aos estudantes momentos de aprendizado e
diversão através do contato com elementos naturais próximos a eles. Para Rodrigues apud
Bertin (2001, p. 32), a percepção é: “forma como uma pessoa sente o seu ambiente
geográfico, o que depende de vários fatores, entre eles, o grau de dependência da pessoa
frente ao seu ambiente inserido” e certamente propiciaria uma condição maior de
assimilação de conteúdos e conhecimentos específicos para o aluno.
No entanto, há casos em que a prefeitura do município torna quase uma punição
o docente dar aula numa escola do campo. O fato do professor ser contrário ao partido
político que o prefeito faz parte, o fato do professor apoiar o candidato derrotado no
processo eleitoral, faz desse professor um adversário político. E sendo um adversário, ele
terá que sofrer as consequências. Não é raro o professor adversário político, ser enviado
para uma escola de difícil acesso, passando às vezes até por humilhação para exercer o
seu cargo, enfrentado longas horas de estrada para chegar à escola. E quando chega à
escola, é cobrado pelos pais de alunos, pela direção da escola e por sua própria
consciência, para que dê uma boa aula e contribua para a formação do aluno. Isso
demonstra o total desrespeito com o profissional, os alunos, bem como com as políticas
nacionais de educação do campo, tornando a realidade desses espaços, ainda mais
complicada e geradora de dúvida sobre a sua efetivação.
Em contato com os estudantes, percebe-se que as crianças ainda são levadas a
pensar que trabalhar na roça é para quem não tem estudo. Um erro. O conhecimento é útil
em todas as áreas. A maioria dos pais dos alunos dessa escola priorizou o estudo dos seus
filhos no próprio assentamento, na intenção de evitar o deslocamento das crianças para a

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região urbana. Muito embora, erradamente, ainda acreditam que os estudos na cidade
possam dar maior condição para o ingresso em uma universidade. De acordo com
Rodrigues (2009):

Cerca de 70% dos alunos de Alternância ingressam no Ensino Superior. Nas


escolas públicas, esse índice é inferior a 60%. Mestre em Educação pela
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Neurilene Martins Ribeiro afirma
que o tema precisa de mais debate antes de se tornar uma política pública
(RODRIGUES, 2009, p. 81).

Inevitavelmente, a alternância deveria ser mais um aspecto positivo para


contribuir com um aprendizado consistente e de qualidade, já que havia uma troca de
saberes e experiências entre aquilo que é inerente a sociedade urbana e do campo. No
entanto, na prática não é bem isso que ocorre, pois pudemos observar que está havendo
uma impregnação da cultura urbana no campo. Para Caldart (2005), a escola do campo é
construída para valorizar a vida no meio rural, onde os jovens possam preservar suas
raízes, mas tendo um futuro digno e com orgulho.
Nesse sentido, de acordo com Viana et al. (2020), na Bahia também ocorre uma
proposta educacional inovadora a qual visa uma educação popular, que se desenvolve de
maneira não formal, durante as Jornadas de Agroecologia, considerando os saberes de
diversos povos e comunidades tradicionais, cada um com suas tradições e práticas de
vivências, possibilitando entre estes e a estes, um espaço que promove um diálogo rico,
franco e aberto entre o conhecimento científico e popular, denominado de “Teia dos
Povos”. Dessa forma, a escola do campo deve ser repensada e baseada em propostas como
esta, que promova a disputa contrahegemônica e valorização dos saberes dos campesinos,
considerando não só a sua realidade, mas valorizando-a e contribuindo para sua
preservação cultural e sociambiental.

4 CONCLUSÃO
Em relação às características observadas no CIFF durante esta pesquisa, pode-
se identificar que o processo de ensino e aprendizagem sofre grande influência (negativa)
pelas dificuldades encontradas para a sua efetivação.
Constatou-se ainda que, esta unidade apresenta um transporte escolar em
péssimo estado de conservação, desrespeitando a legislação vigente, colocando em risco
a vida dos alunos que o utilizam, apesar de existir um programa do governo federal que

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garante os recursos para a correta prestação desse serviço pelo município, evidenciando
a irresponsabilidade do poder público local.
Não há dúvida de que existam dificuldades no processo de ensino e aprendizagem
na escola do campo. Entretanto essas dificuldades perpassam principalmente pela
dificuldade de transporte ou estruturas físicas do ambiente escolar. Essas dificuldades
estão relacionadas primeiramente com a formação dos profissionais envolvidos no
processo e pelo modelo de educação aplicado.
Comumente, observa-se a liderança de sala de aula por ocupante de cargos
eleitoreiros, geralmente pessoas que votaram no prefeito eleito e, para ocupar uma vaga,
uma função no novo governo é direcionado para a sala de aula, às vezes, com pouca ou
nenhuma formação/qualificação. Há a desconsideração da concepção de práticas e seus
efeitos, no que tange o assunto campo. A formação seguindo o modelo tradicional (a
mesma aplicada na cidade) não levará a uma educação diferenciada e de fato no campo e
para o campo.
É fundamental que o professor do CIFF tenha um vínculo e conheça a comunidade
do campo onde ela está inserida, avaliando a trajetória histórica do aluno. Quanto mais o
indivíduo está envolvido com o meio, sua presença se torna cada vez mais natural. Arroyo
(2004) cita que: “há a necessidade do conhecimento profundamente sobre a educação
defendida pelos movimentos sociais do campo, sobretudo o MST”, que defende a
educação como base para a transformação social. Visitas periódicas à comunidade e aos
estudantes em seus lares, são necessárias para uma complementação de conhecimento e
entendimento do que deve ou não exigir do aluno enquanto este estiver em sua casa.
Isso, certamente diferenciará a educação aplicada e incentivará ainda mais a busca
por nova modalidade de pesquisa e estudo numa escola do campo. Dessa forma, este
profissional passa a ser parte integrante da comunidade e deve diferenciar as atividades e
utilizá-la com certa flexibilidade, de maneira que essas atividades tenham a ver com
cotidiano do estudante. Atividades estas que contribuam ou demonstrem a importância
dos alunos estarem inseridos no próprio campo ou atuem em algo referente a esta
realidade. A roça, o campo e o trabalho de agricultor ainda é muito estigmatizado,
pensamento que é fruto de um sistema ainda tradicional de ensino no meio rural,
conservando valores e culturas da hegemonia dominante.
Para que o ensino e aprendizagem flua naturalmente, os docentes precisam
identificar os problemas escolares, apresentando possíveis soluções e embasadas em
planejamentos para que estas sejam de fato implementadas, fazendo parte inclusive de

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um Projeto Político Pedagógico (PPP) bem fundamentado, construído por um corpo de


profissionais qualificados e comprometidos com a realidade da escola do campo, onde
possam considerar e trabalhar as especificidades daquela comunidade em que a escola
está inserida.
A busca por uma educação de qualidade e a satisfação no processo de ensino e
aprendizagem, passa pelo comprometimento de toda sociedade, principalmente do
professor, o qual precisa querer fazer a diferença, como um sujeito que assume sua prática
a partir dos diversos significados que ele mesmo lhe dar, possuindo uma formação
específica de qualidade, com conhecimento e um saber-fazer proveniente de sua atividade
laboral, a partir do qual ele planeja e execulta com base na sua vivência/experiência.

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REFERÊNCIAS

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