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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n9-438
RESUMO
O município de Arataca tem no Assentamento Terra Vista (ATV), espaço para o
desenvolvimento de políticas e ações de reforma agrária do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A educação do campo é uma condição idealizada
por membros do MST. O Centro Integrado Florestan Fernandes (CIFF), escola inserida
no ATV, foi instituído em 1997 por membros do MST e se tornou um exemplo concreto
da luta do povo no campo, na Bahia e no Brasil. Entretanto o processo de ensino e
aprendizagem na escola do campo, apresenta várias dificuldades para a sua efetivação e
consequentemente apresenta uma deficiência na formação de sujeitos críticos e
conhecedores de suas realidades que possam transformar o meio em que vivem. Sendo
assim, um relato de observações, apontam os principais fatores que dificultam o processo
de ensino e aprendizagem com os alunos da escola CIFF. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, focada na técnica de observação e vivência, visando analisar o cotidiano
escolar, sob a ótica de um discente/docente em uma escola do campo no Sul da Bahia.
Problemas de locomoção, material didático utilizado e desmotivação quanto aos trabalhos
ABSTRACT
The municipality of Arataca has in the Terra Vista Settlement (ATV), space for the
development of land reform policies and actions of the Landless Rural Workers
Movement (MST). Field education is a condition idealized by MST members. The
Florestan Fernandes Integrated Center (CIFF), a school inserted in the ATV, was
established in 1997 by MST members and became a concrete example of the struggle of
the people in the countryside, in Bahia and in Brazil. However, the teaching and learning
process in the rural school presents several difficulties for its implementation and
consequently presents a deficiency in the training of critical subjects who are aware of
their realities that can transform the environment in which they live. Thus, a report of
observations, point out the main factors that hinder the process of teaching and learning
with students of the CIFF school. This is a qualitative research, focused on the technique
of observation and experience, aiming to analyze the school routine, from the perspective
of a student / teacher in a rural school in southern Bahia. Locomotion problems, didactic
material used and demotivation about the developed works, are aggravating aspects in the
difficulty of the students learning process and it is not uncommon to find teachers who
do not know the reality of the place, the social movement and sometimes without a
specific training to exercise. such a post. Although still very shy, the alternation model,
with experience in the settlement community, is an option for the teaching and learning
process to flow naturally.
1 INTRODUÇÃO
Curiosamente a educação no Brasil começa direcionada para o povo mais
humilde, quando os Jesuítas ensinavam a população local (índios), criando escolas e
modelos educacionais que atendiam, prioritariamente à tutela religiosa. Em meados do
século XVIII, com a expulsão dos jesuítas, o comando da educação é passado para o
Estado. Em 1767 foi criada a Real Mesa Sensória que, entre outras atribuições, estava
incumbida de substituir o sistema educacional, desenvolvendo melhorias e avanços nesse
campo. Nesse intuito, foi instituído um imposto denominado “subsídio literário” que,
segundo Carvalho (1978, p. 128):
O meu primeiro contato com o ATV, ocorreu em 2010, quando iniciei um Curso
Técnico em Agroecologia no Centro Estadual Milton Santos (CEEMS), uma escola de
Ensino Técnico inserida dentro do próprio ATV, hoje Centro Estadual da Floresta do
Cacau e do Chocolate Milton Santos (CEFCCMS), centro destinado à formação técnica
em várias áreas como Agroecologia, Meio Ambiente, Zootecnia, entre e os cursos em
alternância de Técnico em agroecologia (PROEJA e PROSUB) (MDS, 2018). Mais tarde,
passo a desenvolver um trabalho de coletividade e apoio a projetos no setor de produção
e meio ambiente do assentamento. Esse contato com a realidade do assentamento fez com
que eu tivesse um olhar mais crítico em diversas áreas. Principalmente, no que se refere
à educação.
A elitização das cidades, a busca por mão de obra qualificada, fez o homem migrar
para o campo, onde entendia-se não haver a necessidade de conhecimentos técnicos em
várias áreas para ter o seu sustento. Com o passar do tempo a família do trabalhador rural,
do homem do campo, evidentemente busca melhor qualidade de vida e a mecanização
das propriedades rurais, ocupando maior parte dos espaços da mão-de-obra, causa a saída
do meio rural para o urbano. Isso pode ser comprovado com os dados de Palmeira (1989),
quando cita que “inverteram-se os percentuais das populações rural e urbana, a primeira
caindo de aproximadamente 70% da população total para cerca de 30%, enquanto a
segunda aumentava de 30% para 70%” (PALMEIRA, 1989, p. 88).
O caminho para a mudança de uma realidade dura vivida é a educação. Mas uma
educação diferenciada, voltada para o os interesses do campo. Nesse sentido, surge uma
preocupação dos movimentos sociais organizados, principalmente o MST, estabelecendo
então a “Educação Rural”.
Anteriormente citada como “Educação Rural”, com a realização da I Conferência
Nacional Por Uma Educação do Campo, no ano de 1998, sob a iniciativa de diversos
segmentos sociais, a expressão “campo” passa a substituir o termo rural. Entende-se que,
em tempos de modernização, com esta expressão “campo”, há uma abrangência maior de
sociedades diversas que habitam as regiões do país que não se dizem urbanas e confere a
condição fundamentada não apenas no aprendizado do ato de ler, escrever e fazer conta
(SIMÕES; TORRES, 2011, p. 02-03).
Por orientação, segundo Rosa e Caetano (2008), “Procura-se diferenciar educação
rural e educação no campo, como uma forma de constituir uma nova abordagem para a
educação do campo”. O conceito de Educação do Campo nasceu em julho de 1997,
durante a realização do Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma
Agrária – ENERA, no campus da Universidade de Brasília - UnB, promovido pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, em parceria com a própria UnB,
o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, a Organização das Nações Unidas
para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO e a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil – CNBB (ARROYO, 2008).
É indispensável uma importante discussão de um projeto pedagógico próprio,
sendo de construção democrática, onde a participação da comunidade escolar, o qual se
diferencia por considerar o espaço, o tempo, os saberes, a valorização da cultura local e a
autonomia da escola, dos educandos e da comunidade escolar, possa ter relação íntima.
Rosa e Caetano (2008) citam que até as primeiras décadas do século passado, a
educação, de modo geral, era privilégio de poucos. Quando olhamos para o espaço rural,
isso se torna ainda mais real e gritante. Historicamente, houve uma omissão do Estado
brasileiro em implementar um sistema educacional que atendesse às necessidades da
população do campo. Esta situação direcionou a população do campo a uma privação ao
acesso às políticas e serviços públicos em geral, ocasionando em linhas gerais, o êxodo
rural. Tal situação começa a mudar, no final do século passado, a partir dos anos 90, com
a pressão dos movimentos sociais na busca pela construção de políticas públicas para a
população do campo.
Várias dificuldades para o processo de educação do campo são encontradas
constantemente e essas dificuldades possibilitam e impulsionam a ação de movimentos
sociais que buscam por uma valorização da realidade dos moradores de zona rural, da
população rural, para a formação de sujeitos que possam amenizar os problemas do
campo. Para tanto, se faz necessário considerar fatores políticos, sociais, culturais e outros
que direcione essa população no intuito de obter políticas próprias para essa valorização
da realidade do campo (OLIVEIRA, 2008).
Não há qualquer justificativa para explicar uma qualidade inferior de ensino para
o campo, se comparado com a da cidade. Não há mais espaço para se permitir a figura
dos estudantes do campo, como sendo algo irrelevante. Na tentativa de trazer uma
discussão sobre a figura do homem do campo, Miguel Arroyo, em uma palestra em Goiás
no ano de 1998, cita:
O modelo de Alternância
A relevância dos conhecimentos objetivos e subjetivos na dinâmica da vida social
e de trabalho cotidiano, sustentam os saberes, linguagens, cultura, marcando as atuações
dos grupos na sociedade. Para os movimentos sociais, a Pedagogia da Alternância (PA)
é uma ferramenta pedagógica importante por trazer as marcas discursivas e ideológicas
de suas lutas e de suas experiências, visto que trata das relações entre o pensamento e o
contexto social dentro do qual os sujeitos vivem (OLIVEIRA; CAMPOS, 2012).
Essa proposta metodológica chamada de Pedagogia da Alternância é utilizada, em
território brasileiro, dentro do movimento internacional denominado CEFFAs (Centros
Familiares de Formação em Alternância), que no Brasil constitui-se como uma rede que
abrange as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) e Casas Familiares Rurais (CFRs) e que
ao nível mundial está filiada à AIMFRs (Associação Internacional de Movimentos
Familiares Rurais), formando uma rede mundial, nos cinco continentes, em mais de 40
países (PINA, 2017. apud ZAMBERLAN, 2003).
A Pedagogia da Alternância é um método de ensino que busca a interação entre o
estudante que vive no campo e a realidade que ele vivencia em seu cotidiano. Um dos
principais documentos que abordam esse método, é o Parecer CNE/CEB nº 1/2006, no
qual afirma:
Caracterização da pesquisa
É primordial o entendimento do que seja uma pesquisa e como está caracterizada.
Métodos de pesquisa
Optou-se pela metodologia de pesquisa “qualitativa” onde, priorizou-se pela
observação, para a compreensão do problema, e com isso, sugerir uma melhoria na
qualidade do ensino e aprendizagem com os alunos nas escolas do campo. Segundo Alves
e Silva (1992):
Nesse processo científico pelo qual submetemos a pesquisa, Rudio (1978), aponta
como melhor forma de obtenção de dados, a observação, quando afirma que: “Não se
pode falar em ciência sem fazer referência à observação”. Conhecer o ambiente em que
se pretende submeter à pesquisa é fundamental para obtenção de um resultado satisfatório.
Para isso acessar a escola em diversos momentos para observação e obtenção de dados
deve ser primordial.
Observação
Neste estudo utilizou-se a técnica de observação e vivência, visando analisar o
cotidiano escolar, sob a ótica de um discente/docente em uma escola do campo no Sul da
Bahia, observando os seus acertos, erros, contradições e dificuldades encontradas pela
comunidade escolar. De acordo com Rudio (1978), a técnica de observação é a maneira
mais frequente e comum para entender o ambiente, pessoas envolvidas e situações, com
sentimento das particularidades apresentadas no problema. Ainda segundo este autor, não
se pode falar em ciência sem fazer referência à observação. Entretanto, um cuidado maior
foi tido ao que se observava, a fim de manter a integridade do objeto e ter uma pesquisa
satisfatória.
Para Gil (2010), a observação pode ser classificada como: a) observação simples;
b) observação participante; c) observação sistemática. Para o autor supracitado, a
observação simples é aquele em que o pesquisador não se identifica perante os sujeitos
envolvidos com o objeto de trabalho. Dessa forma, o pesquisador torna-se de fato um
mero expectador, colhendo e anotando seus dados ou suas percepções.
A observação e coleta de dados apresentam diferentes tipologias segundo Barros
e Lehfeld (2002). O presente estudo é uma observação sistemática, participante,
individual e militante realizada em campo. A observação foi feita de maneira vivenciada
em ambiente escolar, participando como espectador de algumas aulas e atividades no
CIFF, em momentos distintos do ano letivo, tanto em período chuvoso, quanto
ensolarado. Desde o momento do embarque no transporte escolar (ônibus) em um
assentamento (Assentamento Rio Aliança) distante alguns quilômetros do ATV, até o
desembarque na escola.
Também foi observada a relação entre professor e aluno, com uma comparação
entre a diferença da didática aplicada na escola do campo com a da escola da cidade de
Arataca. Na observação procurou evidenciar o método de ensino, material didático
utilizado pelos professores em sala de aula e suas atividades propostas, além das
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quando pensamos em Educação do Campo, imaginamos uma educação
direcionada para a comunidade que reside no campo, ou seja, uma educação que visa a
atender as especificidades do povo do campo. Este seria uma educação referenciada nos
desejos de mudança de uma sociedade que por muito tempo tem sido discriminada. Mas
a realidade não é essa. Para a efetivação de uma educação de qualidade no campo, vários
fatores devem ser levados em consideração e esses fatores se apresentam como
dificuldades no processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
Após a observação do processo de educação na escola CIFF, vários problemas
foram identificados. Entre eles, destacam-se o fato do aluno se deslocar de sua casa
(quando não mora na comunidade onde a escola está inserida) e não encontrar uma com
condições de trabalho adequadas a atividade docente e com uma perspectiva de ensino
direcionado para atender as exigências da comunidade rural.
As estradas de acesso à escola, geralmente estão em estado precário. Cheias de
buracos. A não manutenção dessas estradas quase sempre é justificável, pela prefeitura,
devido ao período chuvoso da região. Mas entendo que a utilização de cascalho, em
trechos mais críticos, amenizaria o desconforto da viagem para a escola. O transporte
utilizado para a condução à escola, não disponibiliza qualquer tipo de segurança. Utiliza-
se de uma estrutura defasada, péssimos ônibus. Mesmo com o incentivo do governo
federal através do MEC, é comum o transporte escolar estar quase totalmente sucateado,
em péssimas condições de uso, sem extintores, estepes, cinto de segurança, com estofados
rasgados e a parte mecânica do veículo quase sempre falhando. O interior desses veículos
utilizados no transporte dos alunos, quando não está molhando, no período chuvoso, é
tomado pela poeira constante em dias ensolarados.
Após percorrer algumas regiões, utilizando o transporte disponibilizado pela
prefeitura para os alunos, percebi que as viagens se tornam cansativas e certamente é um
agravante no que se refere à desmotivação dos alunos e torna a viagem, para a escola,
uma verdadeira aventura. Já que nem todos os estudantes dessa escola moram dentro do
ATV e precisam se locomover vários quilômetros para chegar à sala de aula. O que mais
foi presenciado dentro do ônibus, durante a ida desse transporte da cidade de Arataca para
A Lei nº 10.709 foi instituída com o escopo na alteração da Lei nº 9.394/96, onde
se inclui os artigos 10 e 11 e incisos VII e VI para garantir direitos à população e
determinar aos estados e municípios a competência de garantia do transporte escolar para
os alunos. Dessa forma, é notório o descaso da prefeitura municipal para com o transporte
municipal escolar utilizado pelos discentes do CIFF, uma vez que os veículos
disponibilizados não atendem à legislação vigente e chegam a colocar em risco a vida de
muitos estudantes.
Ao chegarem à escola, os alunos se deparam com uma estrutura física aceitável,
mas que deixa muito a desejar, já que algumas salas ainda utilizam cadeiras antigas,
muitas vezes reutilizadas (vindas de escolas urbanas) ou com braço quebrado, que
dificultam a escrita pelos discentes em seus cadernos e livros. Para as atividades na lousa,
a mesma ainda requer o uso do giz branco. Estas lousas estão rachadas e com pouca
visibilidade, porém há promessa pela prefeitura, da troca desses equipamentos, por
quadros brancos que utilizem pincéis atômicos. Mas, a espera por essa melhoria é só mais
um processo de desmotivação dos docentes. Para uma aula minimamente didática, o
professor produz em sua residência algumas apostilas, já que o material didático nas
escolas do campo quase sempre se resume apenas ao Livro Didático (LD).
Para a escolha do LD, os professores, coordenadores e diretores escolhem as obras
didáticas pelo portal eletrônico do FNDE. Para a escolha, deve-se seguir a guia eletrônica
“disponível no portal eletrônico do FNDE, onde traz resenhas e avaliações de coleções e
livros regionais aprovados do Programa Nacional do Livro Didático do Campo (PNLD
Campo), além de orientações sobre o processo de escolha das obras” (BRASIL, 2015),
mas que nem sempre é a realidade, acabando a escola por reutilizar alguns exemplares
vindos das escolas da sede. A dificuldade na disponibilidade de outros materiais didáticos
que promovam maior interesse pelo aluno contribui para a sua desmotivação, pois este
espera novidades no ambiente escolar, mas encontra sempre as mesmas ferramentas e
objetos de ensino, que desconsidera por muitas vezes o seu mundo do trabalho.
Os professores destinados a ensinar na escola do campo sofrem cada vez mais
com um processo de desmotivação, por conta principalmente dos baixos salários,
ausência de material de apoio com qualidade e atualizado, bem como pela convivência
em um ambiente escolar carente de reformas constantes.
Para ampliar esta problemática, quando se analisa a infraestrutura das escolas
rurais, às mesmas ficam para trás comparativamente com as urbanas. De acordo com o
Panorama da Educação do Campo publicado pelo MEC em 2007, apenas 6,1% das
escolas rurais de Ensino Fundamental possuem bibliotecas (são 48,2%, nas urbanas). A
situação é ainda pior com laboratórios de Ciências, por exemplo, presentes em apenas
0,7% das escolas rurais. Não há energia elétrica em 29% das escolas e faltam instalações
de esgoto em 15% (OLIVEIRA, 2008). O CIFF, assim como outras escolas localizadas
na zona rural, não possui uma biblioteca. Esses alunos quando necessitam de realizar
pesquisas, utilizam computadores particulares (na escola possui alguns computadores,
mas estão sucateados) ou se dirigem-se para a cidade, corroborando com os dados obtidos
por Oliveira (2008).
Embora os problemas para uma educação de qualidade no campo sejam inúmeros,
talvez o que mais se destaca é a evasão escolar. Normalmente os alunos de escolas do
campo, além de percorrer grandes distâncias para chegar à escola, quase sempre vêm de
famílias de agricultores familiares que buscam seus sustentos da terra. Esses alunos
ajudam o pai e a mãe na “lida do dia”, no cultivo de produtos que serão comercializados
nas feiras e comércio local. A dura jornada de trabalho e maratona para chegar à escola,
dificulta muito a continuidade dos estudos por grande número de estudantes, chegando a
registrar um índice de até 35% de evasão (NASCIMENTO, A.R, 2016, Comunicação
pessoal). Não é diferente com os alunos do CIFF, que moram em outros assentamentos
ou fazendas da região. O cansaço muitas vezes é maior que a vontade de continuar os
estudos e a escola é deixada em segundo plano, gerando a evasão escolar. O secretário de
educação do município cita que “no segundo semestre as escolas estão quase vazias, pois
o cansaço desses alunos acaba gerando sua desistência, principalmente daqueles já com
idade para ajudar o pai na roça (adolescentes)” (NASCIMENTO, A. R, 2016,
Comunicação pessoal).
Manter o aluno e professor motivados é um desafio. Acredito que esse é um dos
principais pontos, para uma educação transformadora no campo baseada na alternância,
pois além de sanar as deficiências aqui apresentadas, também é fator que dificulta o
processo de ensino ou a realidade de uma aprendizagem significativa. É importante
destacar que uma escola do campo tem suas peculiaridades e estas devem ser utilizadas
como um diferencial na formação de educandos críticos e sabedores da realidade no nosso
país e no mundo.
Uma escola do campo, baseada apenas em sala de aula e livros, deixa de ser uma
escola do campo e se torna uma escola da cidade, com as necessidades da cidade, inserida
no ambiente rural. De acordo com Pasquetti (2013), as experiências dos cursos do MST,
região urbana. Muito embora, erradamente, ainda acreditam que os estudos na cidade
possam dar maior condição para o ingresso em uma universidade. De acordo com
Rodrigues (2009):
4 CONCLUSÃO
Em relação às características observadas no CIFF durante esta pesquisa, pode-
se identificar que o processo de ensino e aprendizagem sofre grande influência (negativa)
pelas dificuldades encontradas para a sua efetivação.
Constatou-se ainda que, esta unidade apresenta um transporte escolar em
péssimo estado de conservação, desrespeitando a legislação vigente, colocando em risco
a vida dos alunos que o utilizam, apesar de existir um programa do governo federal que
garante os recursos para a correta prestação desse serviço pelo município, evidenciando
a irresponsabilidade do poder público local.
Não há dúvida de que existam dificuldades no processo de ensino e aprendizagem
na escola do campo. Entretanto essas dificuldades perpassam principalmente pela
dificuldade de transporte ou estruturas físicas do ambiente escolar. Essas dificuldades
estão relacionadas primeiramente com a formação dos profissionais envolvidos no
processo e pelo modelo de educação aplicado.
Comumente, observa-se a liderança de sala de aula por ocupante de cargos
eleitoreiros, geralmente pessoas que votaram no prefeito eleito e, para ocupar uma vaga,
uma função no novo governo é direcionado para a sala de aula, às vezes, com pouca ou
nenhuma formação/qualificação. Há a desconsideração da concepção de práticas e seus
efeitos, no que tange o assunto campo. A formação seguindo o modelo tradicional (a
mesma aplicada na cidade) não levará a uma educação diferenciada e de fato no campo e
para o campo.
É fundamental que o professor do CIFF tenha um vínculo e conheça a comunidade
do campo onde ela está inserida, avaliando a trajetória histórica do aluno. Quanto mais o
indivíduo está envolvido com o meio, sua presença se torna cada vez mais natural. Arroyo
(2004) cita que: “há a necessidade do conhecimento profundamente sobre a educação
defendida pelos movimentos sociais do campo, sobretudo o MST”, que defende a
educação como base para a transformação social. Visitas periódicas à comunidade e aos
estudantes em seus lares, são necessárias para uma complementação de conhecimento e
entendimento do que deve ou não exigir do aluno enquanto este estiver em sua casa.
Isso, certamente diferenciará a educação aplicada e incentivará ainda mais a busca
por nova modalidade de pesquisa e estudo numa escola do campo. Dessa forma, este
profissional passa a ser parte integrante da comunidade e deve diferenciar as atividades e
utilizá-la com certa flexibilidade, de maneira que essas atividades tenham a ver com
cotidiano do estudante. Atividades estas que contribuam ou demonstrem a importância
dos alunos estarem inseridos no próprio campo ou atuem em algo referente a esta
realidade. A roça, o campo e o trabalho de agricultor ainda é muito estigmatizado,
pensamento que é fruto de um sistema ainda tradicional de ensino no meio rural,
conservando valores e culturas da hegemonia dominante.
Para que o ensino e aprendizagem flua naturalmente, os docentes precisam
identificar os problemas escolares, apresentando possíveis soluções e embasadas em
planejamentos para que estas sejam de fato implementadas, fazendo parte inclusive de
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