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USINAGEM

Aula 16 e 17
Forças e Potências de Corte

Marcelo dos Santos Pereira

Departamento de Materiais e Tecnologia


Faculdade de Engenharia - Campus de Guaratinguetá - UNESP

Usinagem - UNESP / Campus de Guaratinguetá


Forças e Potências de Corte

Introdução

A força necessária para formar o cavaco é


dependente:
 da tensão de cisalhamento do material da peça,
 das condições de usinagem,
 da área do plano de cisalhamento,
 do material e geometria da ferramenta.

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Forças e Potências de Corte

Introdução

 O comportamento e a grandeza dos esforços de


corte no processo de usinagem são de fundamental
importância, pois eles afetam:

• a potência necessária para o corte (a qual é utilizada


para o dimensionamento do motor da máquina-
ferramenta),
• a obtenção de tolerâncias,
• a temperatura de corte,
• o desgaste da ferramenta.

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Forças e Potências de Corte

Forças na usinagem

 As forças na usinagem são consideradas como a ação


da peça sobre a ferramenta,
 A força resultante que atua sobre a cunha cortante na
usinagem é chamada de força da usinagem (Fu),
 A princípio, nem a direção e nem o sentido desta força
são conhecidos, o que torna impossível medi-la e sequer
conhecer melhor as influências dos parâmetros de corte
em seu valor,
 Por esta razão, não se trabalha com a força de
usinagem efetivamente, mas com suas componentes
segundo diversas direções conhecidas.

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Forças e Potências de Corte

Componentes de Fu (DIN6584).

 Força ativa (Ft).

componente de Fu no
plano de trabalho.

 As componentes da força
ativa contribuem para a
potência de usinagem, pois
estão no plano de trabalho,
onde os movimentos de
usinagem são realizados

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Forças e Potências de Corte

Forças na usinagem

 As componentes da força ativa são:

• Força de corte (Fc)


- projeção de Fu sobre a direção de
corte.
• Força de avanço (Ff)
- projeção de Fu sobre a direção de
avanço.
• Força de apoio (Fap)
- projeção de Fu sobre a direção
perpendicular à direção de avanço,
situada no plano de trabalho.

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Forças e Potências de Corte

Forças na usinagem

 Força passiva ou de profundidade


(Fp):
- projeção de Fu nos planos
perpendiculares ao plano de trabalho,
- a força passiva não contribui para a
potência de usinagem, pois é
perpendicular ao plano de trabalho,
- ela é responsável pela deflexão elástica
da peça e da ferramenta durante o corte,
influenciando as tolerâncias de forma e
dimensão.
Fu2 = Fp2 + Ft2

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Forças e Potências de Corte

Potências na usinagem
 Uma máquina-ferramenta gera potência para girar seu
eixo-árvore e executar os movimentos de corte e
avanço. As relações para as potências de corte e
avanço são as seguintes:

a. Potência de Corte;
Fc . vc Fc . vc
Pc = [kW] ou Pc = [CV]
60 . 103 60 . 75
Onde: Onde:
Fc - força de corte, dada em [N] e, Fc - força de corte, dada em [kgf] e,
vc - velocidade de corte, em [m/min]. vc - velocidade de corte, em [m/min].

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Forças e Potências de Corte

Potências na usinagem
b. Potência de Avanço:

Ff . vf
Pf = [kW]
60 . 103

Onde:
Ff – força de avanço, dada em [N] e,
vf - velocidade de avanço,em [mm/min].

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Forças e Potências de Corte

Potências na usinagem

Relação entre Potência de Corte e Avanço

Pc 1000 . Fc . vc
=
Pf Ff . vf

mas: vf = f . n [mm/min] e vc =  . d . n [m/min]


1000

Pc Fc .  . d . n Pc Fc .  . d
então: = =
Pf Ff . f . n Pf Ff . f
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Forças e Potências de Corte

Potências na usinagem
No torneamento: Fc = 4,5 Ff

Em limites extremos, ou seja, “d” muito pequeno (10mm) e


“f” muito grande (1 mm/volta), a fim de tornar a relação
Pc/Pf a menor possível, tem-se:
Pc 4,5 .  . 10
=
Pf 1
ou seja, a potência de avanço, em uma situação extrema, é
140 vezes menor que a potência de corte. Esta diferença
permite desprezar a potência de avanço no
dimensionamento do motor da máquina, em máquinas de
um motor para o movimento de avanço e o de corte.
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Forças e Potências de Corte

Potências na usinagem
Potência fornecida pelo motor

Na máquina ferramenta que apresenta um único motor para o


movimento de corte e avanço, como a Pc é muito maior que a Pf,
despreza-se Pf, e faz-se:

Pc
Pm =

onde  = rendimento da máquina.

- 60 a 80 % em máquinas com transmissão por engrenagem.


- 90% em máquinas com CNC, onde a rotação é controlada, a
transmissão é realizada com poucos elementos mecânicos.
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Potências na usinagem
Variação da força de corte
com as condições de trabalho

A força de corte pode ser expressa pela relação:

Fc = Ks . A

Onde: Ks = pressão específica de corte,


A = área da seção de corte.

No torneamento: A = b . h = ap . f

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Potências na usinagem
Cálculo da Pressão Específica de Corte (Ks)
Vários pesquisadores e instituições já propuseram fórmulas
para o cálculo de Ks (Taylor, ASME, AWF, Hucks e
Kronenberg).

Kienzle apresentou uma fórmula suficientemente precisa


para o cálculo da pressão específica de corte (Ks), em função
da espessura de corte (h).

Ks = Ks1 . h-z

onde Ks1 e z são constantes do material.


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Forças e Potências de Corte

Potências na usinagem

Portanto, para o cálculo da força de corte (Fc).

Fc = Ks . h. b = Ks1 . h1-z . b

onde Ks1 e z são constantes do material.

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Potências na usinagem
Condições de Ensaio:

vc = 90 a 120 m/min, ferramenta de metal duro,


h = 0,1 a 1,4 mm, sem fluido de corte.
Ângulos da αo χr γo λs εr ap (mm)
ferramenta
aço 5 79 6 -4 90 1
fofo 5 83 2 -4 90 1

Exemplo de valores tabelados de Ks1 e 1-z dos materiais ensaiados


por Kienzle,
Material Ks1 1-z
Aço ABNT 1040 2110 0,83
Aço ABNT 1045 2220 0,86
Aço ABNT 1050 2260 0,70
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Forças e Potências de Corte

Fator de correção do Ks1

K*s1  K s1 C  C FC  C MF
Onde:
CFC = fator de correção para o fluido de corte,
CFC = 1 – rc (redução do fluido),
CMF = fator de correção para o material da ferramenta,
CMF = 1 (metal duro), CMF = 1,3 (HSS),
Cγ = fator de correção para o ângulo da superfície de saída

C  1   F   T  0,0035

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Forças e Potências de Corte

Influência no “Ks”.
a.1. Material da Peça:

Composição Química:
• O crescimento da porcentagem de carbono nos aços provoca a
elevação do Ks,
• Ao contrário, o aumento na porcentagem de fósforo, chumbo, boro,
manganês e enxofre causam uma diminuição nos valores de Ks.

• Durante a formação do cavaco estes elementos deformam-se


plasticamente e produzem planos de baixa resistência, onde a
energia requerida para a ruptura do cavaco é menor. Além disso,
estas inclusões também funcionam como um lubrificante na interface
cavaco/superfície de saída da ferramenta.

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Forças e Potências de Corte

Influência no “Ks”.
Dureza:
• A elevação da dureza do material, em geral, aumenta o Ks.
Em alguns casos, materiais com durezas semelhantes podem
ter Ks muito diferentes.

Propriedades Mecânicas:
• A tensão de ruptura ao cisalhamento é a propriedade que
melhor se correlaciona com Ks, já que a formação do cavaco é
um processo que envolve cisalhamento.

• Deve-se tomar cuidado pois a tensão de ruptura é obtida em


ensaios estáticos, enquanto a formação do cavaco é dinâmica.

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Forças e Potências de Corte

Influência no “Ks”.
a.2. Material e Geometria da Ferramenta:
Material:
• A variação do material da ferramenta, dentro de uma mesma
classe, não ocorre alterações significativas nos valores de Ks,
• A aplicação de recobrimentos reduzem o coeficiente de atrito
diminuindo os valores de Ks; como exemplo, o nitreto de titânio.

Geometria:
• O aumento dos ângulos de saída () e de inclinação () diminuem
o Ks, causado pela redução da deformação do cavaco.
• A diminuição no ângulo de folga (), eleva o atrito entre peça e
ferramenta, aumentando o valor de Ks.

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Influência no “Ks”.

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Influência no “Ks”.

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Influência no “Ks”.

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Forças e Potências de Corte

Influência no “Ks”.
a.3. Seção de Corte:
• Um aumento na área da seção de corte acarreta uma
diminuição nos valores de Ks. Esta redução é justificada pelo
fluxo lateral de cavaco, ou seja, pelo material que não se
transforma em cavaco mas, que escorrega entre a peça e a
ferramenta,
• O crescimento da velocidade de avanço diminui o coeficiente
de atrito e torna o corte mais dinâmico,
• O aumento na profundidade de usinagem praticamente não
altera o valor de Ks, pois este crescimento só faz aumentar o
comprimento de contato ferramenta-peça, sem elevar as
velocidades envolvidas.

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Influência no “Ks”.

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Influência no “Ks”.

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Influência no “Ks”.

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Influência no “Ks”.

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Influência no “Ks”.

Portanto:
pode-se dizer que:

• o crescimento da força de corte é diretamente


proporcional à profundidade de usinagem,

• o aumento do avanço faz a força de corte crescer, mas


não na mesma proporção, já que ocorre diminuição do
valor de Ks.

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Forças e Potências de Corte

Influência no “Ks”.
a.4. Velocidade de Corte:
• Em velocidades de corte menores que 150m/min, os valores de Ks
tendem a diminuir levemente com o crescimento da velocidade,
devido a diminuição da deformação, da dureza do cavaco e do
coeficiente de atrito.
• Em altas velocidades de corte (acima de 150m/min), a diminuição
de Ks não é tão acentuada. Neste caso, pode-se dizer que a força de
corte não é influenciada pela vc e, assim, a potência de corte é
diretamente proporcional à vc.
• O fenômeno da aresta postiça de corte tende a diminuir o valor de
Ks, devido ao efeito de aumento do ângulo efetivo de saída
proporcionado pela aresta postiça de corte.

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Forças e Potências de Corte

Influência no “Ks”.

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Forças e Potências de Corte

Influência no “Ks”.

a.5. Condições de Refrigeração e Lubrificação:

• Influi sobre a pressão específica de corte modificando


as condições de atrito entre cavaco e ferramenta,
• Quanto mais eficiente for a penetração do fluido de
corte, e quanto maior for o efeito lubrificante do fluido,
maior será a diminuição de Ks,
• Em altas velocidade esta penetração é dificultada.

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Cálculos

Exemplo 01:
Pretende-se tornear um eixo de aço ABNT
1050, com velocidade de corte Vc = 300m/min,
profundidade de corte ap = 0,5 mm e avanço f = 0,1
mm/rot. Para esta usinagem utiliza-se uma pastilha
P10 com ângulo de posição  = 30o. Calcular a força
de corte e a potência de corte, segundo Kienzle.

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Cálculos - Solução
•Cálculo da Força de Corte:
Fc = Ks1 . h1-z . b [N]
onde h = f . sen = 0,1 . Sen30o = 0,1 . 0,5 = 0,05 mm
b = ap / sen  = 0,5 / sen30o = 0,5 / 0,5 = 1,0 mm
Ks1 = 2260 N/mm2
1-z = 0,70
Portanto, Fc = 2260 . 0,05 0,70. 1,0 Fc = 277,6 N
Fc . vc
•Cálculo da Potência de Corte: Pc = [kW]
60 . 103
onde Vc = 300 m/min
Portanto: 277,6 . 300
Pc = [kW] Pc = 1,39 kW
60 . 103
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Cálculos

Exemplo 02:
Pretende-se tornear um eixo de aço ABNT
1045, com diâmetro d = 50 mm, profundidade de
corte ap = 1,0 mm, rotação n = 320 rpm e avanço
f = 0,5 mm/rot. Para esta usinagem utilizou-se
uma pastilha P10 com ângulo de posição  = 30o.
Calcular a força de corte e a potência de corte,
segundo Kienzle.

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Forças e Potências de Corte

Cálculos - Solução
•Cálculo da Força de Corte: Fc = Ks1 . h1-z . b [N]
onde h = f . sen = 0,5 . sen30o = 0,5 . 0,5 = 0,25mm
b = ap / sen  = 1,0 / sen30o = 1,0 / 0,5 = 2,0mm
Ks1 = 2220 N/mm2
1-z = 0,86
Portanto: Fc = 2220 . 0,25 0,86. 2,0 Fc = 1347,8N
Fc . vc
•Cálculo da Potência de Corte: Pc = [kW]
60 . 103
onde Vc = ( . d . N)/1000 = ( . 50 . 320)/1000 Vc = 50,3m/min
Portanto:
1347,8 . 50,3
Pc = Pc = 1,13 kW
60 . 103
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Cálculos
Exemplo 03:
Com auxílio de um torno CNC, potência do motor
Pm = 2,0kW, rendimento  = 0,9 (90%), objetiva-se
tornear um eixo de aço ABNT 1045, com diâmetro d = 100
mm, profundidade de corte ap = 1,0 mm, rotação n = 660
rpm e avanço f = 0,5 mm/rot. Para esta usinagem utilizou-
se uma pastilha P20 com ângulo de posição  = 30o.
Considere que são necessárias correções para o cálculo
da pressão específica, aplicando-se um ângulo de saída
da ferramenta  = 10o e utilização de fluidos de corte
(redução de 18%). Verifique se a potência do motor da
máquina é suficiente para a realização desta usinagem.
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Cálculos - Solução
•Cálculo da potência máxima do motor disponível para corte
Pm = Pc/  Pc = 2,0 . 0,9 Pc = 1,8 kW

•Correção da Pressão Específica de Corte: Ks1* = Ks1 . C . CFC

Fator de Correção - ângulo de saída -  (tabelado para 6o)


C = 1 - (F - T) . 0,0035
C = 1 - (10 - 6). 0,0035 C = 0,986

Fator de Correção - Fluído de Corte


CFC = 1 - 0,18 CFC = 0,82

Ks1* = 2220 . 0,986. 0,82 Ks1* = 1794,9 N/mm2


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Forças e Potências de Corte

Cálculos - Solução
•Cálculo da Força de Corte: Fc = Ks1* . h1-z . b [N]
onde h = f . sen = 0,5 . sen30o = 0,5 . 0,5 = 0,25 mm
b = ap / sen  = 1,0 / sen30o = 1,0 / 0,5 = 2,0 mm
Ks1* = 1794,9 N/mm2
1-z = 0,86
Portanto: Fc = 1794,9 . 0,25 0,86. 2,0 Fc = 1089,7 N

•Cálculo da Potência de Corte: Pc =


Fc . vc
[kW]
60 . 103
onde Vc = ( . d . n)/1000 = ( . 100 . 660)/1000 Vc = 207,3m/min
1089,7 . 207,3
Portanto: Pc = Pc = 3,76 kW
60 . 103
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