Você está na página 1de 32

BONECA WALDORF

Oficina Online
PROMOÇÃO:
NINA VEIGA ATELIER DE EDUCAÇÃO

• Docente: Ana Lygia Vieira Schil da Veiga


SEXTO ENCONTRO

A rostificação da boneca:
implicações estéticas de um gesto
nada ingênuo.
CONCEITUAL
• Epistemologia
• Axiologia
• Antropologia
• Psicologia

•Estética
UM PENSAMENTO INICIAL

As rotulações em operação na linguagem carregam traços que


antecedem os sujeitos. É como se os traços de rostidade de uma
mulher, de uma mãe, de um professor, de um governante já estivessem
dados na linguagem. O que não significa dizer que a rostidade, numa face
humana, esgota a dimensão individual, mas provoca pensar essas
operações virtuais no rosto em que o individual e social coexistem.
PRÓLOGO
•Como se
borda
um
rosto?
Na mesa do atelier, as bonecas sem rosto se acumulam.
Vestidas, calçadas, penteadas. Todas prontas, as bonecas
esperam por seus destinos, acondicionadas na fina embalagem
de organza cristal, membrana de ovo que se vê de fora, como
nas serpentes.

A artífice sangra e se pergunta, como? Como se borda um


rosto? Quando as vitrines dos olhos se quebram, como bordar
um rosto? Quando a alma dilacera, como espetar a agulha no
Quando todas as máscaras vão por terra, fazendo emergir a
desconhecida máscara que agora habita, com que corpo, com que mãos
se borda? Como voltar à semente? Como fazer passado o nosso
presente?
Quando as duras vitrines se quebram, com que força recolher os
pequenos cacos coloridos do chão e fazer deles caleidoscópios de
possibilidades outras?
Quando as cascas partidas revelam outras cascas, ainda mais densas,
como fazer a musculatura da mão obedecer a outro impulso que não o
que pulsa? Com que coração se borda? Com que sangue se borda?
Quando nossos olhares se enxergam na face sem rosto, como bordar
olhos e bocas nas bonecas que se acumulam em cima da mesa do atelier?
Como compor um rosto ingênuo, infantil, no espaço vazio que
espera o bordado? Quando a membrana partida faz irromper a
serpente, como se faz da ingenuidade um bordado?

O cristal da organza clara e fina é membrana de ovo que,


como uma mortalha, envolve a boneca sem rosto. De que corpo
sairá a força do bordar? De que corpo jorrará a necessidade de
um fazer que comporte o sangrar, o dilacerar, o romper. Que
mão poderá recolher o estilhaçado e fazer dele prismas em
cores, rodando no espelho do caleidoscópio? 
A embalagem de cristal envolve a boneca que aguarda. Aguardar é
acolher. Acolher a ocorrência do acaso, do ocaso. Morte-vida, vida e
morte, na membrana que envolve o ovo, se vê a serpente. Ela nasce,
e em seu ventre um novo ovo se forma. O ventre é oco, é nele que
brotará a mão, o corpo que bordará novos rostos. O silêncio do
bordar dará à boneca a ingenuidade e a inocência que a permitirá

criar e afetar outros rostos. Crianças. Devires-crianças.


BONECAS LINDAS
Pode-se fazer para uma criança uma boneca com um guardanapo dobrado: duas pontas serão os braços, as
outras duas as pernas, um nó servirá para a cabeça na qual algumas manchas de tinta indicam os olhos, o
nariz e a boca. Também se pode comprar uma “linda” boneca, com cabelos genuínos e bochechas pintadas,
e dá-la à criança. Nem queremos insistir no aspecto horrível dessa boneca, perfeitamente capaz de estragar
para sempre o sentido estético sadio. Com efeito, o problema educacional mais importante é outro. Tendo à
frente o guardanapo dobrado, a criança deve acrescentar, pela fantasia, aquilo que o transforma em figura
humana. Essa atividade da fantasia tem efeito plasmador sobre as formas do cérebro. Este se “abre” da
mesma maneira como os músculos da mão se deixam permear por uma atividade conveniente. Se a criança
ganha a chamada “linda boneca”, nada resta ao cérebro para fazer, e este se atrofia e resseca em vez de
desabrochar. Se os pais pudessem olhar, como pode fazê-lo o pesquisador espiritual, para dentro do
cérebro empenhado em estruturar suas próprias formas, com toda certeza só dariam a seus filhos
brinquedos suscetíveis de avivar as forças plasmadoras do cérebro. Todos os brinquedos que possuem
apenas formas mortas e matemáticas ressecam e destroem as forças plasmadoras da criança, enquanto
tudo que faz surgir a ideia da vida atua de maneira sadia. A nossa época materialista produz poucos bons
brinquedos.

Fonte: GA 34 (A), p. 22 da 2a. edição. STEINER, A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA SEGUNDO A CIÊNCIA ESPIRITUAL. São Paulo: Associação Pedagógica Rudolf Steiner, 1981.
A CRIANÇA RESSECA INTERIORMENTE
COM A BONECA LINDA.
Permitam-me dizer algo bastante herético: adora-se dar bonecas na mão
das crianças, especialmente bonecas “lindas”. Não se nota que as
crianças em realidade não querem isso. Elas as rejeitam, mas elas são
impingidas. Lindas bonecas, pintadas! Muito melhor é dar às crianças um
lenço ou, quando é pena estragar um, dar outra coisa; ajeita-se [um
pano] faz-se aqui uma cabeça, pinta-se um nariz, dois olhos etc., e com
isso crianças sadias brincam com muito mais gosto de que com bonecas
“lindas”, pois a boneca configurada o mais bonito possível, até com
bochechas vermelhas, não deixa sobrar nada para a fantasia. A
criança resseca interiormente com a boneca linda.

Fonte: GA 305, palestra de 23/8/1922


MARCAS
UM BRINQUEDO ONTOLÓGICO
Quando uma criança segura o seu boneco, ele fica próximo à área do
sentimento, ou seja do coração da criança. Podemos observar que poucos
brinquedos são acalentados nesta área do corpo. A boneca acompanha as
crianças em suas alegrias, tristezas, viagens, perdas e comemorações, enfim,
vivenciando junto inúmeras experiências. Este brinquedo faz a história da
criança com a criança, e podemos observar que ele encerra algo a mais em si.

CAIRELLO, ANA, MORAES, MARIA LÚCIA. Tecendo a Vida: Trabalhos Manuais para crianças de sete a dez anos, (1ª Ed), São
Paulo: Pandion, 2015, p. 85.
TERRÍVEIS
EXEMPLOS
DO PODER DA
BONECA PARA A
FORMAÇÃO DA
DOBRA DE
SUBJETIVAÇÃO Para assistir ao vídeo clique no link:
https://youtu.be/QOoLom5EmQU
FORÇAS ATIVAS E REATIVAS

• Os recursos de que precisa para dar linguagem ao seu brincar não estão
exteriorizados na Boneca Waldorf, precisam ser compostos a partir de forças
internas singulares e ativas.

• Quando as forças reativas dominam o exercício do viver, possibilitam modos


de existir negativos, reprodutivos, temerosos ou combativos, que bloqueiam
a expressão da singularidade e dificultam a vida intensiva de qualidade.
A PLASTICIDADE DO ROSTO
E AS EMOÇÕES DA CRIANÇA
A indicação mínima de olhos e boca permite o reconhecimento
das próprias emoções espelhadas na boneca, pois quanto menos
expressões a boneca tiver, mais a criança poderá atribuir-lhe
sentimentos usando de capacidades imaginativas próprias,
mobilizadas por suas forças ativas. O bordado simples do rosto
favorece com que as forças ativas configurem as diversas
expressões que a criança deseja imprimir na boneca a cada situação
de brincadeira. Ao contrário, sendo a expressão da boneca fixada em
determinada expressão, resta à criança fazer uso das forças reativas
para superar a expressão fixa, ignorando-a, para, só então,
imprimir-lhe uma outra, fazendo do ato de imaginação um exercício
de reatividade e não de inventividade.
ATITUDINAL
 Experiência
 Pensamento processual
 Observação fenomenológica
 Lentificação e presentificação

Simplicidade voluntária
PROCEDIMENTAL

Bordado do rosto

• Marcar a risca do cabelo


• Alfinetar o rosto segundo a triangulação sugerida
• Bordar os olhos
• Bordar a boca
UMA
SUGESTÃO
Que combina
com a “idade”
da nossa
boneca

Triângulo isósceles
UMA PROPOSTA ABERTA

Um rosto com marcas mínimas, uma marcação pré-


social, em apoio às forças singulares de
subjetivação.

Você também pode gostar