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A “invenção” da política

Danyelle Nilin
CP1
11 de agosto de 2020
• Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida do eremita em meio à natureza
selvagem, é possível sem um mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a
presença de outros seres humanos.
• Só a ação depende inteiramente da constante presença de outros.
• Pitágoras: homens devem viver politicamente, pois lhes faltam as
qualidades biológicas de que dispõem as outras espécies animais para
poder sobreviver na luta pela vida, e devem, portanto, se unir e dar prova
das virtudes necessárias à cooperação e à vida em comum.
• Platão explica a vida política a partir da insuficiência dos homens para
satisfazer Individualmente as próprias necessidades e da necessidade da divisão
do trabalho.
• Aristóteles vê no homem um “animal político” por definição, isso é, um ser
que vive naturalmente em comunidades políticas e que não pode ser feliz
senão nessa vida com seus semelhantes.
• À natureza do homem, e não ao gênio grego em
particular, que os pensadores gregos atribuíam a invenção
da vida política.
• Termo “político” no senso comum não evoca de forma
alguma um caráter geral da vida humana, mas certos
homens em particular (os “políticos”), certos aspectos
determinados da vida humana (ambição, popularidade,
luta pelo poder...), certos momentos privilegiados da vida
pública (campanhas eleitorais, manifestações), ou ainda
certos setores da vida social (por oposição à economia,
à cultura, à educação...).
• O que aconteceria sem política?

• Uma tribo, uma Cidade antiga, uma nação moderna, um império, uma federação são
comunidades políticas; aqueles que fazem parte dela têm uma memória comum e um
sentimento de pertença, distinguindo o interior (nós) e o exterior (eles), o amigo e o inimigo.

•  A vida política é, portanto, a vida dessa comunidade enquanto tal, o que faz com que ela
seja e permaneça sendo uma comunidade, além de todos os riscos internos (desordem,
dissensos) ou ameaças externas (agressões, guerras).

•  Comunitário não é suficiente para definir o político: as crenças, os mitos ou as ideologias para
garantir o laço político, mostra bem que a vida política não é natural ao homem como a
respiração o é. Os homens não vivem na comunidade como um “ peixe na água”.
• Os homens vivem todos e sempre de modo político, mas isso não quer dizer que tal
aconteça sem esforço nem coerção.
• A política define-se, portanto, por dois traços essenciais: é preciso uma comunidade e é
necessário que, no próprio seio dessa comunidade e não fora dela, exista uma instância de
poder.
• Existe política a partir do momento em que uma comunidade se coloca a questão do poder
ou desde que o poder exercido por alguns (tais indivíduos, tais castas ou tal classe
social) se exerça no quadro de uma comunidade e tendo em vista o seu modo de vida.
• Poder e não hierarquia, autoridade ou comando. Talvez existam comunidades não
hierarquizadas. Mas é certo que existem certas comunidades hierarquizadas, nas quais
alguns homens comandam outros homens, mas que não tem poder político propriamente
dito. Dessas comunidades, pode -se dizer que têm uma política, mas não que sejam
comunidades políticas (ex: universidades, empresas)
• Dois aspectos opostos e complementares constitutivos do Político: o comunitário e o poder.
Não há política sem a ideia de uma comunidade separando o “nós” e o “eles”. Mas
também não há política sem um poder que assegure a continuidade da existência da
comunidade.

• Os homens, são, portanto, de uma natureza tal que querem viver em comunidade, no entanto
só podem fazê-lo sob coerção. Eles são essencialmente sociáveis, mas é preciso força-los à
entrar em sociedade e a acomodar-se aos outros.

• Eis por que todos os homens sempre viveram politicamente, do bando primitivo ao Estado
moderno. Nenhuma sociedade é mais política que a outra.

• Nenhum homem inventou a política.


• A ideia da política é a ideia de que é preciso inventar politicamente o futuro.

• O estilo próprio da democracia grega não é o triunfo dos valores populares, mas a
extensão a todos dos valores militantes e éticos da nobreza. Enquanto os tupis sonhavam
com uma coletividade em que fosse possível ser apolítico, uma comunidade em que
ninguém teria o poder, os gregos sonham com uma Cidade em que todos fossem
políticos, em que todos tivessem o poder.

• Para um grego, fazer política é, de fato, o gênero de vida mais elevado: como, conforme
queria Aristóteles, a vida humana é política, “o que poderia ser mais digno de um homem
do que vi ver para a política?” “A identificação de si com a política transformada em
identidade, fazia com que na vida política (...) Fosse considerada única”.
• O ideal seria uma Cidade em que todos fizessem política profissionalmente. Ideal em parte
realizado, aliás, com a retribuição aos cargos públicos, tais como a participação nos
tribunais, nas magistraturas e mesmo nas seções da Assembleia do Povo.

• O ser político, o viver numa polis, significa que tudo era decidido mediante palavras e persuasão,
e não através de força ou violência. Para os gregos, forçar alguém mediante violência, ordenar ao
invés de persuadir, eram métodos pré-políticos de lidar com as pessoas, típicos da vida fora da
polis, característicos do lar e da vida em família, na qual o chefe da casa imperava com poderes
incontestes e despóticos, ou da vida nos impérios bárbaros da Ásia, cujo despotismo era
frequentemente comparado a organização doméstica.
• Quando se afirma que os gregos e romanos inventaram a política, o que se diz é que desfizeram
aquelas características da autoridade e do poder.

• Participavam das guerras externas, tanto para a expansão territorial, quanto para a defesa de sua
cidade, formando as milícias dos nativos da cidade.

• Essa participação militar fazia com que todos se julgassem no direito, de algum modo, de intervir
nas decisões econômicas e legais das cidades.

• Uma luta de classes perpassa a história grega e romana exigindo solução: incluía lutas entre os
ricos e lutas entre ricos e pobres.

• Essa solução foi a política.


• Separaram a autoridade pessoal privada do chefe de família – senhorio patriarcal e patrimonial – e o
poder impessoal público, pertencente à coletividade;

• Separaram privado e público e impediram a identificação do poder político com a pessoa do governante.
Os postos de governo eram preenchidos por eleições entre os cidadãos, de modo que o poder deixou de
ser hereditário;

• Separaram autoridade militar e poder civil, subordinando a primeira ao segundo;

• Separaram autoridade mágico-religiosa e poder temporal laico, impedindo a divinização dos


governantes;

• Criaram a ideia e a prática da lei como expressão de uma vontade coletiva e pública, definidora dos
direitos e deveres para todos os cidadãos, impedindo que fosse confundida com a vontade pessoal de um
governante: instância impessoal e coletiva o direito exclusivo ao uso da força para punir crimes, reprimir
revoltas e matar para vingar, em nome da coletividade, um delito julgado intolerável por ela.
• Criaram instituições públicas para aplicação das leis e garantia dos direitos, isto é, os tribunais e
os magistrados;
• Criaram a instituição do erário público ou do fundo público,;
• Criaram o espaço político ou espaço público;
• Ideia dos que possuem direitos iguais de cidadania discutem suas opiniões, defendem seus
interesses, deliberam em conjunto e decidem por meio do voto, podendo, também pelo voto,
revogar uma decisão tomada;
• Introduz a prática da publicidade;
• Espaço público de discussão, deliberação e decisão significa que a sociedade está aberta aos
acontecimentos, que as ações não foram fixadas de uma vez por todas por alguma vontade
transcendente, que erros de avaliação e de decisão podem ser corrigidos, que uma ação pode
gerar problemas novos, não previstos nem imaginados, que exigirão o aparecimento de novas
leis e novas instituições.
• A cada solução encontrada, um novo conflito ou uma nova luta podem surgir, exigindo novas
soluções. Em lugar de reprimir os conflitos pelo uso da força e da violência das armas, a política
aparece como trabalho legítimo dos conflitos.

• A cidadania era exclusiva dos homens adultos livres nascidos no território da Cidade. Além disso, a
diferença de classe social nunca era apagada, mesmo que os pobres tivessem direitos políticos.

• A “invenção” da política como solução e resposta que uma sociedade oferece para suas
diferenças, seus conflitos e suas contradições, sem escondê-los sob a sacralização do poder e
sem fechar-se à temporalidade e às mudanças.

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