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Meditação sobre Técnica e os Técnicos

Ao iniciar este capítulo, o autor confessa que o mundo caminha para um artificialismo quase total,
fenómeno este, em que o desporto deixa de ser aquilo que é em si mesmo passando a ser um conjunto
de interesses sociais, políticos, económicos, deixando assim de ser natural. Este mundo, descrito por
Manuel Sérgio, liderado pelo Homem, é um produto total do mesmo, da sua inteligência e da sua ação.
Deste modo, é a técnica que domina no mundo a todos os níveis, até mesmo a nível estatal, pois esta
permite que a sociedade atinja níveis mais elevados de eficácia. Assim sendo, a sociedade permanece
em constante modificação para acompanhar a evolução da técnica, fazendo com que para a própria
filosofia seja imprescindível a mudança para não se tornar “ensimesmada” e “obscurantista”.
A civilização tecnológica, abordada ao longo de todo o capítulo pelo autor, desenvolveu-se a partir
da simbiose ciência-técnica. Manuel Sérgio procurou debruçar-se sobre as questões históricas acerca da
técnica concluindo que, este instrumento prático dos conhecimentos da ciência, anda de mão dada com
o Homem desde os primórdios da Terra, servindo desde sempre como a conditio sino qua non de
sobrevivência, desenvolvimento e afirmação do Homem. O autor conclui ainda que sem a técnica a
ciência seria oca e a filosofia inútil, pois são necessários métodos para alcançar fins, e a técnica veio
permiti-lo através da aplicação de conhecimentos adquiridos pela experiência da ciência, que se vai
aperfeiçoando através do erro.
Durante o seu discurso, o autor acaba por revelar críticas aos indivíduos de ideias fixas, aqueles
evitam olhar ao “Rio heraclitiano”, cujas águas fluem irreversivelmente no tempo biológico e
psicológico, transmitindo que tudo flui e nada permanece fixo. Com esta metáfora, Manuel Sérgio,
pretende mostrar ao leitor que a técnica, apesar de constituir uma mais valia para o Homem, torna-o
metódico, limitando a sua criatividade e o surgimento do pensamento, elementos, que segundo o autor,
conduzem ao progresso de vida. Deste modo, surge que para algumas pessoas o “técnico” toma
“abusivamente o lugar dos estudiosos dos aspetos formais e valorativos da atividade humana”, e que os
técnicos se transformam nos “maquiavel” astuciosos de uma sociedade de “robots”, ou seja, a
sociedade passa a reger-se segundo padrões, eliminando oportunidades de criatividade. A critica desce
ao uso repetitivo da técnica, que impede o progresso, porque o autor considera que para existir
evolução é imprescindível existirem pensamentos diferentes e formas diferentes de alcançar os
mesmos fins. O autor vê assim crescer o novo vicio moderno: o fanatismo pelo fenómeno tecnológico.
Meditação sobre Técnica e os Técnicos

Posteriormente à sua reflexão sobre a técnica e a sua influência nos modos de vida da sociedade
contemporânea, o autor passa agora a meditar sobre os indivíduos que aplicam a técnica: os técnicos.
No campo da humanização da técnica, deveria existir realce sobre a importância da cultura,
sublinhando que a técnica por si só não é suficiente. O problema dos técnicos situa-se nos curtos
horizontes de uma visão exclusivista, situa-se na sua incultura que não vê a interdependência técnica-
-ciência-cultura. A técnica como instrumento de “comunicação de liberdade e de assimilação de
valores” exige ser tratada como uma forma de cultura. Por isto, o autor critica que a formação dos
técnicos na área desportiva só se baseie nos terrenos da educação física e do desporto, quando esta
formação deveria ser mais alargada para os âmbito de uma cultura mais generalista, para o âmbito dos
valores, da ética, por uma formação mais rica, a formar técnicos mais competentes e melhor
preparados para a sociedade atual.
Contudo, o autor não ignora o contributo e a importância dos técnicos no desporto, chegando mesmo
a referir que sem técnicos corria-se o risco de “matar” o desporto, o mal, a seu ver, situa-se apenas na
“suficiência da técnica” que é ,isoladamente, na verdade insuficiente.
Por fim, o filosofo esclarece o leitor quanto à diferença entre técnicos e tecnocratas, que reside no
facto de os tecnocratas serem dogmatistas fechados que “criam monstros” e “modelam bestas”
motivando interesses inferiores, e os técnicos que são meros intervenientes num processo de
especialização de uma área cujos interesses não estão necessariamente voltados para uma dimensão
política.
A especialização precoce

Manuel Sérgio, neste subtópico, começa por descrever a sociedade contemporânea como uma
sociedade de massas, ou seja, uma sociedade em que os indivíduos agem de forma semelhante com
gostos e interesses praticamente padronizados, muito provavelmente sob influência do uso da técnica.
Segundo o autor, esta sociedade de massas decorre de três grandes movimentos: a democracia liberal, a
experimentação científica e o industrialismo. Estes três elementos conjugados entre si contribuem para
o surgimento de uma novidade insólita: o desporto, que anteriormente pertencia a minorias, passa
agora a ser de todos. Deste modo, o desporto começa a transformar-se numa comunidade de situação,
ou seja, numa tendência e começa a ganhar adeptos, tornando-se numa realidade que satisfaz as
aspirações dos membros do mesmo todo social.
Devido à força que o desporto começa a ganhar surgem novos problemas, especialmente a nível de
interesses económicos e ideológicos que impedem a atualização dos talentos e capacidades dos mais.
Assim sendo, o desporto, especialmente o de alta competição, funciona inúmeras vezes como
instrumento de guerra, nos conflitos dos Homens, quer a nível ideológico ou até mesmo entre classes
ou gerações. Para o autor o desporto é classificado conflituante, destrutivo e dissolutivo pois funciona
como um instrumento para os Homens se devorarem, porque segundo o seu raciocínio, é essa forma de
desporto que verdadeiramente motiva o Homem. O desporto de lazer, por esta lógica, acaba por ficar
lesado pois não cria nos desportistas o mesmo entusiasmo e interesse que o desporto de alta
competição proporciona.
O desporto de massas, como Manuel Sérgio o intitula, apesar de ter vindo a englobar mais camadas
sociais, tem vindo a perder a qualidade o que desmotiva à sua prática, e é assim que surge a
especialização precoce, ou como a descreve, a canalização de crianças a uma determinada
especialização desportiva. Este tipo de regime impõem a crianças desde os seus 5 anos conceitos de
competitividade, o que leva o autor a questionar-se sobre o seu propósito. A especialização precoce,
tendo em conta o ponto de vista do filosofo, não tem em vista os interesses psicológicos das crianças
submetidas a este tipo de regimes, que obedecem a estruturas agressivas e opressivas, concluindo
assim que impede a criatividade da criança e automatiza gestos desportivos, limitando a sua
ambiguidade.
No entanto, apesar de revelar criticas contra a especialização precoce, o autor admite que não se
encontra “a priori” contra este fenómeno, mas sim, procura questionar acerca do seu funcionamento e
objetivos, o que levanta duvidas sobre a sua oportunidade e validade bum plano global de formação e
libertação da criança.

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