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História da Histeria

CEAP/HPJ
História da psiquiatria: estudos introdutórios para a clínica em saúde mental

Rafael Lazari
História das Doenças

Etiologia
Semiologia
Segundo Etienne Trillat, ao introduzir a histeria no domínio da medicina,
Hipócrates nada mais fez que “retomar por sua conta crenças milenares”.
Ou seja, a história da histeria se refere à períodos anteriores à medicina
hipocrática.

Falamos da mais alta antiguidade, cerca de 2.000 a.C. enquanto medicina


com Hipócrates se constituiu no século IV a.C.

Mas o que pode ser atribuído à “histeria” numa distância temporal tão
grande?
Painéis VI e VII do Papiro Edwin Smith,
Egito Antigo, em exposição na Academia de
Medicina de Nova Iorque. 1900 a.C.
Abordagem racional da medicina praticada
no Egito Antigo.
Papiro de Ebers, Egito Antigo, exposto na Universidade
de Leipizig. 1600 a.C. Descrição do Sistema
circulatório e toxicologia.
Papiro de Edwin Smith

“A história de uma mulher que gostava da cama, recusava se levantar,


recusava fazer sua higiene; a história de uma outra que estava doente
da vista e tinha dores no pescoço; uma terceira sofria dos dentes e das
mandíbulas e não podia abrir a boca; uma quarta sofria de todos os seus
músculos e sentia uma dor nas órbitas.

Esses distúrbios no comportamento da mulher são atribuídos a duas


coisas: o que é chamado de “inanição” do útero e seu deslocamento
para o alto. O que faz então com que o bom medico, o bom terapeuta,
tenha uma dupla tarefa: nutrir o órgão feminine e fazê-lo voltar ao seu
lugar”. Para tal, fazia-se ingerir ou mastigar substâncias fétidas, além de
fumigações vaginais para atrair o útero para baixo. (Charles Melman)
Papiro de Ebers

“Comporta um capítulo sobre as doenças da mulher e retoma todas as


indicações para que a matriz da mulher ganhe seu lugar de volta. Vão se
server, aqui ainda, dos mesmos métodos, com fricções, unções vaginais.
E vai-se acrescentar, às fumigações feitas sobre carvão de madeira, um
íbis de cera. O Íbis representa o Deus Thot, que era um dos deuses mais
poderosos do panteão dos egípcios, e especificamente uma entidade
masculina. Thot era o medico dos deuses, protetor dos doentes e inventor
da arte de escrever. Acontecia enfim que, nessas fumigações sobre o
carvão de madeira, utilizava-se excrementos de homens, secos”.
Ressaltemos aqui essa permanência: a concepção de distúrbios,
enfermidades causadas por anomalias de posição da matriz, do útero, ou
por sua inanição. Segundo Trillat: “Nós encontraremos durante toda a
Antiguidade esse esquema terapêutico da ‘sufocação da matriz’,
sufocação que se tornará a histeria”.
Para Melman, Hipócrates e Platão retomaram todas essas concepções. No Timeu (91 a.C)
Platão assegura sobre o útero na mulher ser “um animal dentro delas que tem o apetite de
fazer crianças. E quando, apesar da idade propícia, ele permanece muito tempo sem
frutos, esse animal se impacienta e suporta mal esse estado; ele erra por toda parte do
corpo, obstrui as passagens do sopro, interdita a respiração, lança em angústias extremas e
provoca outras doenças de todo tipo”.

Ou seja, o que faz a inanição do útero é ele permanecer estéril. Nas mulheres de certa
idade sem relações sexuais, nas viúvas e nas jovens, o útero resseca e perde seu peso.
Como observa Melman: “a aqui a teoria do seco e do úmido, o útero sobe até os
hipocôndrios em busca de umidade, intercepta o ar que deveria descer na cavidade
abdominal, o que acarreta convulsões e epilepsies. Há em seguida toda uma clínica
conforme o órgão que o útero pode atingir, uma sintomatologia diferenciada conforme ele
atinja o coração, o fígado, o rim, a cabeça…” (…)

Hipocrates vai, além de presecrever o casamento e a gravidez, introduzir “o termo que


especifica a relação desses sintomas com o útero, pois é ele quem introduz o adjetivo
‘histérico’, que só será substantivo mais tarde. É ele quem introduz hystería, de hé
hystéra, o útero”.
Vejamos, podemos inferir que essa clínica seria então tributária do pressuposto etiológico.

A doença tem sua origem no útero, mais precisamente em sua mobilidade, mobilidade esta
acarretada por uma perda de peso, que por sua vez é explicado pela inanição. O útero é um animal
que se alimenta através do ato sexual.

Para Trillat, por essa razão etiológica “a histeria, em sua origem, é uma questão de mulheres”.

Segundo Melman: “é preciso notar, o que tem todo o seu valor para nós, que esse órgão é tratado
como um organism vivo que seria dotado de vontade própria”.

E mais… “é preciso observar que essas concepções da histeria são científicas, quero dizer que
elas não fazem apelo a nenhuma causa sobrenatural. Elas tentam dar conta das manifestações da
doença pelas modificações anatômicas e fisiológicas. Elas dão conta igualmente, de maneira
imajada, do fato de que essas manifestações exprimiriam desejos femininos insatisfeitos, e que o
melhor tratamento, em última instância, consistiria eventualmente em satisfazê-los”.
Ainda sobre a histeria hipocrática, Trillat concebe algo importante para
entendermos a relevância do que virá adiante:

“Se é verdade que a história da medicina remonta a Hipócrates, esse período hipocrático
pode ser considerado, no que concerne à histeria, como uma pré-história, uma vez que a
crença na animalidade do útero é pré-médica”.
Soranos de Éfeso
Ginecologista, obstetra e pediatra
Roma, fim do primeiro século de nossa era.
Teoria simples inspirada no atomismo epicurista: toda patologia depende, seja de um estado de tensão do
órgão, seja, ao contrário, de um estado de relaxamento. Tudo se reduz à oposição constrição-relaxamento.

O útero pode ascender por efeito de uma inflamãção que provoca uma contração. A única causa da
doença é a constrição do órgão:

“As doentes são atingidas subitamente e came no chão sem voz, com uma respiração difícil e perda dos sentidos. Os doentes entrebocham-
se e se tornam estridentes (…) a região precordial é erguida, o útero subiu e o tórax está inchado; os vasos da face estão turgidos e
distendidos, frios, cobertos de sour, o pulso quase para de bater ou é muito lento… Essa afecção uterine tem uma grande afinidade com a
epilepsia por causa da perda da voz e dos sentidos” (tradução para o francês de 1895).
 O tratamento irá envolver desde o aquecimento das articulações e distenções suaves dos
membros distraídos à passeios, leituras, recitações, até mesmo viagens e águas termais.
 Soranos rompe com a animalidade do útero, o órgão não é um animal atraído pelos perfumes
agradáveis e fugidio aos odors fétidos: “Nós rejeitamos esses meios porque eles irritam o que
está inflamado, agravam a doença em vez de diminui-la”.
 Não sendo um corpo estranho, o útero pertence à mulher. A sexualidade feminina não é mais
dominada por esse estranho animal. Agora é a mulher quem tem desejos, especialmente o de
ter filhos.
Claudio Galeno (131-201)
Médico oficial dos imperadores romanos. Sua obra, traduzida
pelos monges para o latim, permanecerá durante cerca de 1500
anos a referência básica da medicina medieval.

A sufocação uterina é claramente identificada à histeria, sendo histeria a denominação vulgar utilizada pelas
parteiras para designar o que os medicos chamam de ‘sufocação’.

Ao descrever três tipos de histeria, delimita sua descrição clínica a três formas: letárgica, sufocação e motora.
Galeno estabelece, pela primeira vez, uma teoria sexual ou seminal da
histeria. A histeria não é mais devida a uma migração do útero, tampouco é
devida a uma retenção das regras, ela é devida a uma retenção da semente
feminina.

 A retenção da semente feminina será a causa, portanto. Atribui-se aqui, à mulher, a


emissão de uma semente análoga ao esperma masculino. Não somente o esperma
feminino não difere do esperma masculine, mas os órgãos genitais das mulheres não
diferem dos do homem: apenas estão situados no interior do corpo.
 Os ovários são assemelhados aos testículos, são eles que secretam a semente, lançada em
seguida nas trompas, depois no útero e na vagina. Já o útero possui duas cavidades: a da
direita aloja os fetos machos, a da esquerda os fetos fêmeas.
 Todos os sintomas dependem da ausência de escoamento da semente.
 Se a origem da histeria se desloca do útero para a semente feminina, e esta é
análoga ao esperma masculino, passava-se de um órgão próprio à mulher a um
produto comum aos dois sexos. Entra em questão, a partir de então, a histeria
masculina.

A histeria é feminina, a epilepsia é masculina. À oposição dos sexos responde a oposição das sedes das
doenças, situadas nas duas extremidades do corpo. Para Galeno, a epilepsia se deve à retenção no encéfalo do
pneuma psíquico, princípio vital. Nova simetria: retenção do pneuma vital em cima; retenção da semente
feminina embaixo, que designa de fato a abstinência sexual.

Segundo Trillat, ao fim do Império Romano, muitos aspectos clínicos da histeria estão bem
individualizados, a histeria se apresenta bem circunscrita como doença da mulher. A sufocação da matriz
é a forma mais comum da doença, manifestando-se essencialmente por sintomas respiratórios. Mas
também se descreve uma forma convulsive sem perda de consciência, o que a distingue da epilepsia,
além da forma na qual a mulher está “como em delírio”.
 Durante os mil anos que vão seguir-se, não mais se ouvirá falar da histeria. A medicina
abandonou o ocidente devastado pelas invasões bárbaras. Ela encontrou refúgio em Bizâncio e
no Islã, onde ficou salvaguardada a herança da Antiguidade. Na Europa crista esse saber é
esquecido ou ignorado. O desmoronamento do paganism provoca um retorno à medicina
teúrgica.
 As manifestações espetaculares, mais intrigantes, que a Antiguidade havia desde sempre
atribuído à causas físicas, ao útero, a seus caprichos ou a seus humores, aparecem de agora em
diante como efeitos de uma punição divina, também como os de uma possessão diabólica, a
qual se oporão orações e exorcismos
 Vê-se eclodir um grande número de monastérios que se tornam centros de conservação de
antigos manuscritos.
 Os clérigos, instruídos pelos documentos medicos que haviam recolhido, tornam-se medicos e
enfermeiros. Chamados fora dos monastérios, nas cidades, nos castelos, esses monges
intinerantes derrogam com frequência a regra monástica.
 Era preciso por fim a certos abusos: a partir dos séculos XII e XIII, muitos concílios
interditaram ao clero o exercício da medicina. É nessa época que nascem as primeiras
universidades. A profissão médica retorna progressivamente aos leigos.
Humores medievais
 Segundo Trillat, os médicos da renascença reatam com a histeria por meio de um confronto
com téologos.
 Concebe-se, por exemplo, que os melancólios são possuidos, o diabo se aproveita de uma
disposição natural e toma o corpo. Essa disposição natural é o que se entende como humor,
o humor do melancólico é preto, preto é a cor das trevas e da morte. Preto é a cor de sua
disposição afetiva, moral e fisiológica. O humor resume o psicológico e o fisiológico numa
idéia só. O possuído é uma vítima dos humores, portanto.
 “Totalmente outros são casos de bruxaria, aí não se pode evocar uma pertubação dos
humores”. A bruxa não está corroída por humores pretos. É de sua própria iniciativa que a
bruxa faz o pacto com o diabo. Alta traição. O tratamento é a fogueira. Não há doença nem
lugar para o medico.
 Na Europa do século XIV, um corpo social conservador e ameaçado pela contestação dos
intelectuais e pela desagregação da ordem feudal reagirá contra o humanismo da Renascença,
atribuindo suas desgraças – leia-se aqui também as grandes epidemias e guerras – a uma
minoria: as bruxas, “e através delas, a sexualidade encarnada pela mulher”.
 Diante das contorções extraordinárias, médicos serão convocados à função de peritos: a questão
é distinguir se os fenômenos dependem são decorrentes de uma doença, se são simulação ou se
são possessão demoníaca. Em alguns casos irão se opor à tese de possessão diabólica, outros
irão distinguir possessão de simulação e, na ausência da suficação da matriz, da histeria.
 Observem que, ao contrário do que se pode pensar, histeria não equivale a bruxaria, não sendo
prudente dizer que “as histéricas foram queimadas como bruxas”. O que se tomava como
histeria o era em distinção à bruxaria, assim como em distinção à simulação.
 Os médicos fazem diagnósticos de doenças em presença de delírios ou de convulsões, mas a
intenção de enganar ou prejudicar não entra numa quadro nosográfico. Aqui o julgamento
médico não se apoia num corpo de conhecimentos bem estabelecido, se faz mais sobre o bom
senso do que sobre uma saber clínico.
Os Vapores

 O século XVI descobrirá a pressão atmosférica e a teoria da condensação e


expansão do vapor.
 Em 1698 vem ao mundo a primeira máquina a vapor.
 Os médicos se inspiram nessas descobertas para renovar as velhas teorias
humorais. Mas como conceber a transformação dos humores em vapores? Como
podem esses vapores se espalhar pelo corpo?

Com a descoberta da circulação sanguínea em 1628, não mais se poderia usar o Sistema arterial
para fazer aí passar os vapores. Restava utilizer os nervos e se admitiu que os vapores podiam
circular nos interstícios dos nervos.

Em 1689 Lange publica o Tratado dos Vapores. A histeria torna a ser apresentada como doença da
mulher.
Lange e a teoria dos vapores

 No homem os fermentos seminais liberam vapores demasiado voláteis que se dirigem ao


cérebro.

 Já a semente da mulher contém, além dos fermentos voláteis como no homem, fermentos
pesados, fixos. Isso Freia o transporte dos vapores para os órgãos sexuais. Com a
abstinência, a semente se acumula e, não sendo expelida pelo exercício sexual, sobe para o
cérebro pelo canal dos nervos, provocando a convulsão histérica, a confusão, o delírio e até
mesmo a possessão.

 A histeria é uma patologia da sexualidade e sua sede é no útero. Condena-se a abstinência


sexual.
 Mas a teoria dos vapores poderá conviver com uma hipótese cerebral na qual os vapores não
são deixados para trás.
Lepois e a histeria no sistema nervoso

 Se com a teoria uterina, os vapores se propagam de baixo para cima; com a teoria
cerebral, de cima para baixo.

 Eis a ascensão da sede da histeria. A histeria vai se dessexualizar. A histeria se


dessexualiza a ponto de não ser mais o apanágio da mulher. Atribui-se a Charles
Lepois o mérito de ter sido o primeiro a formular, em 1628, a hipótese cerebral da
histeria.

 “Lepois se recusa a localizar num órgão preciso a sede e a causa da histeria. Para
ele, é o conjunto do Sistema nervoso que está em causa. Ao subir para o cérebro, a
histeria leva consigo os atributos do órgão que até agora lhe havia fornecido
hospitalidade. O cérebro, com Lepois, se torna contrátil como era o útero.
O Camaleão

 Em 1682, Thomas Sydenham atribui à histeria a capacidade de simular o conjunto


das doenças crônicas, localiza sua sede no cérebro e lhe destina à mulher. Trata-se
agora de uma única doença, crônica porém distinta das doenças crônicas
regulares, e com manifestações distintas em cada gênero. Assim afirma:

Essa doença é um Proteu que toma uma infinidade de formas diferentes; é um camaleão que varia sem
fim suas cores… Seus sintomas não são somente em número muito grande e muito variado, eles têm
também isso de particular entre todas as doenças, o fato de que eles não seguem nenhuma regra, nem
nenhum tipo uniforme, e não são senão um ajuntamento confuse e irregular: daí resulta que é difícil
fazer a história da afecção histérica.
 Cabe mencionar que havia em Sydenham uma concepção unitário da doença, com
sede no cérebro e manifestação distinta em mulheres e homens: nelas se manifesta
a histeria, neles a hipocondria. Um pouco mais sobre a histeria:

Ela imita quase todas as doenças, pois em qualquer parte do corpo que ela se encontre, ela
produz imediatamente os sintomas que são próprios dessa parte; e se o medico não tem muita
sagacidade e experiência, ele se enganará facilmente e atribuirá a uma doença essencial a tal
ou qual parte sintomas que dependem unicamente da afecção histérica.

Assim, quando as mulheres me consultam sobre alguma doença cuja natureza eu não saberia
determinar pelos indícios ordinários, tenho sempre o grande cuidado de lhes perguntar se o
mal de que elas se queixam não as ataca principalmente quando têm dor ou quando seu
espírito está perturbado por alguma outra paixão. E elas confessam que a coisa é assim, então
eu fico plenamente seguro de que sua doença é uma afecção histérica.
 Século XVIII: a teoria dos vapores e dos espíritos animais está condenada, porque
a descoberta da circulação sanguínea por um lado, os conhecimentos mais
precisos do sistema nervoso por outro, provam que todas as vias de circulação que
se supunha possíveis são impraticáveis.
 Willian Cullen (1712-1790): inventor do termo neurose ao afirmar o lugar
preponderante da neurologia. Neurose aqui concebida sob influência do dualismo
contração-relaxamento das teorias metódicas da antiguidade. Repudia a medicina
hipocrática, humoral e a teoria dos vapores. A histeria entra no gênero das
neuroses em virtude de suas manifestações convulsivas e espasmáticas, mas
estranhamente ligadas a uma origem uterina ou ovariana.

 “A histeria atraída agora para cima, torna-se matéria das paixões e o medico se
torna moralista. Ele não mais se contenta em prescrever infusões de limalha de
ferro, quinquina, unguentos; ele vai fazer a prevenção intervindo na educação das
moças, condenando a ociosidade, as leituras fúteis, recomendando os exercícios
físicos e os trabalhos manuais”.
Magnetismo

 Etienne Trillat considera Franz Mesmer autor representative de uma transição de


uma mentalidade teosófica e religiosa para a era científica. Mesmer fundou a
teoria do Magnetismo Animal.
 Há uma ampliação da teoria newtoniana: as pressões atmosféricas obedecem,
como as mares, à atração universal, e o fluxo e refluxo das pressões atmosféricas
agem sobre o corpo humano produzindo efeitos nervosos.
 Mesmer inventa um procedimento físico. Inicialmente utilizava um imã para tartar
seus doentes: ingurgita-se preparados a base de ferro, prende-se um imã em cada
pé e um sobre o peito: “planejei estabelecer em seu corpo uma espécie de maré
virtual (…) Imediatamente ela experimenta uma dor abrasadora e dilacerante que
percorre todo o corpo seguindo os eixos das peças imantadas”, e claro, ficando
curada.
 Rapidamente o imã dá lugar a uma bacia que concentrava um fluido magnetico,
em torno da qual uma vintena de pessoas podiam se sentar e estabelecer contato
com as varas metálicas que dela saiam.
 E, importante, os efeitos mais surpreendentes do fluido se faziam sentir à
aproximação de Mesmer que, através de gestos dirige o fluido sobre este ou
aquele doente.
 O que se insinua aqui é muito claro para nós: o efeito de sugestão, poderoso
certamente, advindo de alguma substância viva que se estabelece na relação
medico-paciente. Mesmer será acusado de sedução e de se deitar com suas
pacientes.
 Nesse momento Trillat lança sua laterna sobre a coloração francamente erotica das
crises: “a histeria, nas suas manifestações críticas, afirma sua natureza sexual. É a
primeira vez que essa coisa é dita claramente, mesmo se desde a Antiguidade se
sabia que a sexualidade tinha a ver com a histeria”.
O século XIX

 Olhemos para o século XIX. Há o advento do alienismo de Pinel e Esquirol, um novo poder.
 Século do romantismo: é em torno da referência feminina que se circunscreve a época
romântica. “Com o romantismo a mulher tem acesso a um outro estatuto, o romantismo vê
nascer uma outra sensibilidade em relação à mulher.

A nova dimensão nosográfica permanecerá muito dependente do novo lugar ocupado pela
mulher, e o interesse pela nosografia da hysteria será alimentado pelo novo interesse pela
mulher”.
La Salpêtriere
Jean-Martin Charcot
Sigmund Freud

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