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“Sísifo” e “Orpheu rebelde”


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Trabalho realizado por:


Alice Lagido - Joana Luz - Madalena Santos - Pedro Gomes
• Introdução;
• Biografia do autor;
• Características estilísticas da escrita de
Miguel Torga;
• Sísifo 
• História de Sísifo;

Índice •

Análise da 1ª e 2ª estrofe;
Temas do poema e Mensagem do poema;
• Análise formal do poema;
• Orpheu rebelde
• História de Orpheu; 
• Análise da 1ª, 2ª e 3ª estrofe;
• Temas do poema;
• Análise formal do poema;
• Conclusão.
Introdução
“Sísifo”
Introdução
“Orfeu rebelde”
Biografia de Miguel Torga
• Nascimento: 12 de agosto de 1907, São Martinho de Anta. • “Foi aí, na agrura dos penedos transmontanos, que o carácter firme e
duro do autor se moldou. Ninguém o disse melhor que ele: “(...) eu sou
• Morte: 17 de janeiro de 1995, Santo António dos Olivais, homem de granito”, com todas as implicações simbólicas que a
Coimbra. expressão contempla.”Pereira, Maria Helena da Rocha, “Os mitos
clássicos em Miguel Torga”, Novos Ensaios sobre Temas Clássicos na
• Torga destacou-se como poeta, escreveu romances, peças de Poesia Portuguesa (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1988).
teatro e ensaios.
• “[...] devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. [...] a
• Foi laureado com o Prémio de Camões de 1989. terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa.
[...] Vivo a natureza integrado nela, de tal modo que chego a sentir-me,
• Em 1928, entrou para a Faculdade de Medicina da em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro
Universidade de Coimbra e em 1933, finalizou a sua espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um
licenciatura em medicina. sentido tão acabado do perfeito e do eterno.” Lourenço,Eduardo,
Miguel Torga, Percurso de vida do lavrador das letras, in Correio da
• Algumas obras: Ansiedade (1928), Bichos (1940), Contos da Manhã 6 de Agosto de 2007.
Montanha (1941), entre outros.
Características
estilísticas da escrita de
Miguel Torga

• Simplicidade do discurso;
• Tom confessionista;
• Expressividade das metáforas;
• Irregularidade ao nível estrófico,
métrico e rimático;
• Diversidade de géneros literários;
• Temas recorrentes, como o
sentimento telúrico, o desespero
humanista, o drama da criação
poética e a problemática religiosa.
Historia de Sísifo “ Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente uma rocha até o
alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso.
Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível que o
trabalho inútil e sem esperança.” - Camus, O Mito de Sísifo, p.137 

“ Sísifo é o herói absurdo.Seu desprezo pelos deuses, seu ódio à morte e


sua paixão pela vida lhe valeram esse suplício indizível no qual todo ser
se empenha em não terminar coisa alguma..” – Camus, O Mito de Sísifo,
p.138
“ ó vemos todo o esforço de um corpo tenso ao erguer a pedra enorme,
empurrá-la e ajudá-la a subir uma ladeira cem vezes recomeçada; vemos
o rosto crispado, a bochecha colada contra a pedra, o socorro de um
ombro que recebe a massa coberta de argila, um pé que a retém, a
tensão dos braços, a segurança totalmente humana de duas mãos
cheias de terra. Ao final desse prolongado esforço, medido pelo espaço
sem céu e pelo tempo sem profundidade, a meta é atingida. Sísifo
contempla então a pedra despencando em alguns instantes até esse
mundo inferior de onde ele terá que tornar a subi-la até os picos. E volta
à planície” 
“ Sísifo” Pintura renascentista de Tiziano 1549  – Camus, O Mito de Sísifo, p.138
- 1ª parte -

Analise da 1ª estrofe
Recomeça...
Para ser grande, sê inteiro: nada
Se puderes Teu exagera ou exclui.
Sem angústia Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
E sem pressa. No mínimo que fazes.
E os passos que deres, Assim em cada lago a lua toda
Nesse caminho duro Brilha, porque alta vive.
Do futuro
Dá-os em liberdade. Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de
Enquanto não alcances João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa:
Não descanses. Ática, 1946 (imp.1994).
De nenhum fruto queiras só metade.
- 2ª parte -
E, nunca saciado,

Analise da 2ª estrofe Vai colhendo

No poema que se segue “se combinam o Ilusões sucessivas no pomar.


nunca desmentido espírito de resistência do
poeta, simbolizado no retomar sucessivo da Sempre a sonhar
tarefa de empurrar a pedra até ao cume da
montanha, não obstante saber que a cada E vendo,
tentativa se seguirá nova queda, com a
indomável ânsia de prosseguir o seu sonho” Acordado,

O logro da aventura.
Pereira, Maria Helena da Rocha, “Os mitos clássicos em Miguel
Torga”, Novos Ensaios sobre Temas Clássicos na Poesia
Portuguesa (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, És homem, não te esqueças!
1988)

Só é tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças.


Temas do Poema / Mensagem do poema:
“Chego ao fim, perplexo diante de meu próprio enigma. Despeço-me do
mundo a contemplar atônito e triste o espetáculo de um pobre Adão
paradoxal, expulso da inocência sem culpa, sem explicação”.

No último volume do Diário, Miguel Torga.


Análise formal do poema 

Recomeça…         A E, nunca saciado,          F


Se puderes          B cruzada
Vai colhendo G          
Sem angústia e sem pressa.         A Ilusões sucessivas no pomar. H interpolada
emparelhada
E os passos que deres,          B Sempre a sonhar. H          
Nesse caminho duro          C  E vendo,          G
emparelhada
Do futuro,          C Acordado F
Dá-os em liberdade.          D O logro da aventura.         I
Enquanto não alcances          E emparelhada interpolada
És homem, não te esqueças!         J
cruzada
Não descanses.          E Só é tua a loucura I
De nenhum fruto queiras só metade.        D Onde, com lucidez, te reconheças.        J
Mito de Orfeu e Eurídice
• “Orfeu chorou
desesperadamente a sua
morte e não hesitou em
descer aos Infernos para a
procurar”
• Grimal, Pierre. Dicionário da
Mitologia Grega e Romana.
Editoras Universitárias da
França (PUF), 1951.
Jean-Baptiste-Camille Corot - Orpheus Leading Eurydice from
Ary Scheffer - Orpheus Mourning the Death of Eurydice, 1814 the Underworld, 1861
É um poeta revoltado e
rebelde, devido à passagem
Análise da 1ª estrofe
Autocaracteriza-se como
do tempo e à um rebelde, sincero e
transitoriedade da vida.  autêntico enquanto ser. 
Orfeu rebelde, canto como sou: 
Canto como um possesso 
Que na casca do tempo, a canivete, 
Gravasse a fúria de cada momento; 
comparação mostra a fúria
Canto, a ver se o meu canto compromete  com que o sujeito poético
A eternidade do meu sofrimento  exprime a sua poesia.

Desejo de lutar contra a passagem do


tempo e a efemeridade da vida, através
da eternização dos momentos permitida
pela escrita
Análise da 2ª estrofe
metáfora e a ironia (Verso 7)

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...


metáfora (Verso 9)
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
metáfora e personificação (Verso 10)
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura. 
personificação e comparação
(versos 9 a 11)

personificação (verso
12)
Análise da 3ª estrofe

Bicho instintivo que adivinha a morte


recusa dessa morte enquanto poeta
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa refúgio face à passagem do tempo e à iminência da morte

Os versos em legítima defesa.


Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Tema explorado Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
em Orfeu Rebelde Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
Revolta contra a passagem do
tempo e contra a morte.  Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
A fúria e violência constituem um Que o céu e a terra, pedras conjugadas
grito contra a morte e contra a Do moinho cruel que me tritura,
passagem inexorável do tempo Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
A vingança contra a morte é a
poesia uma vez que a única coisa Bicho instintivo que adivinha a morte
que pode prevalecer eternamente No corpo dum poeta que a recusa,
são as obras poéticas.  Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Orfeu Rebelde
Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento. 

Analise formal Outros, felizes, sejam os rouxinóis...

do poema Eu ergo a voz assim, num desafio:


Que o céu e a terra, pedras conjugadas

Orpheu Do moinho cruel que me tritura,


Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura. 

Bicho instintivo que adivinha a morte


No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Que na casca do tempo, a canivete, Raiva intensa e permanente do sujeito poético
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Gravasse a fúria de cada momento;
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. E, nunca Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Canto,
Recomeça… a ver se o meu canto compromete saciado,
Valor e força da poesia contra a
                Ouvindo correr o rio e vendo-o.
 “A valorização
A eternidade
Se puderes,
do meudo sonho
                (Enlacemos as sofrimento.
mãos).
e da loucura
Vai colhendo aopassagem
longo do do tempo e contra a morte
poema,
Depois pensemos, porcriançasoutro lado,
adultas, que acompraz-se
vida com a “loucura”
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
Outros,
Sem angústia felizes, sejam e semos rouxinóis... Ilusões sucessivas
pressa. no pomar.
pessoana
Passa e não fica,da
Eu ergo a voz nadaMensagem,
deixa e nunca regressa,
assim, num desafio: na medida em que permite
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —

E os passos que deres, SempreEste a sonhar


momento em que sossegadamente não cremos em nada,
resgatar
Que o céuos
Vai para um mar e ahomens
muito terra, pedras
longe, para da mediocridade” 
ao pé conjugadas
do Fado,

Conclusão
                Pagãos inocentes da decadência.
E vendo,
Carrejana,
DoNessemoinho
                Mais
caminho João
cruel e Vidal,
longeque
que
duro osme Maria Inês. Cenário de Resposta
tritura,
deuses.
Saibam que há gritos como há nortadas, Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Acordado,
da Ficha
Do futuro,
Desenlacemos sobre Miguel Torga
as mãos, porque não vale a pena cansarmo- (”Sísifo”). Blog ESSS.
Violências famintas de ternura. Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Disponível em: nos.
http://blogesss-O logro da aventura.
Dá-osquer
Quer gozemos, emnãoliberdade.
gozemos, passamos como o rio.
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
biblioteca.blogspot.com/search?q=torga.
Bicho instintivo que adivinha a morteÉs homem, não Acesso
te esqueças!
                Nem fomosem: mais do que crianças.
NoEnquanto nãopoeta
alcances
Mais vale saber passar silenciosamente
18/12/2022
corpo dum que a recusa,
                E sem desassossegos grandes. Só é tuaE seaantes
loucurado que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Canto
Não como descanses. quem usa
Os versos em legítima defesa. Onde, com Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
lucidez, te reconheças.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
De nenhum
Canto, sem perguntar à Musa fruto queiras só Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,

Semetade.
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
o canto é de terror ou de beleza. Torga, Miguel, Diário: Vols.                 Pagã triste e com flores no regaço.
XIII a XVI, Lisboa: D. Quixote, 1977.
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria
Pessoa, Fernando. Odes de Ricardo Reis.(Notas de João Gaspar Simões e Luiz de
Torga, Miguel.
            EOrfeu Rebelde.
sempre Coimbra:
iria ter ao mar.[Coimbra Editora LDA.], 1970. Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994)
Bibliografia
• Grimal, Pierre, Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Editoras • Torga, Miguel, Diário: Vols. XIII a XVI. Lisboa: D. Quixote, 1977.
Universitárias da França (PUF), 1951. • Torga, Miguel,Diário XIII, 1355, publicações Dom Quixote, 2011.
• Schmidt, Jöel (1997). Dicionário de mitologia grega e romana. • Teixeira, Cláudia, “O clássico no moderno: coreografia de uma
Edições 70. Lisboa. herança”, Humanitas – Vol. LI (1999).
• Lourenço,Eduardo, Miguel Torga, Percurso de vida do lavrador das • Poemas Ibéricos; Coimbra; edição do autor, 2ª edição; 1982.
letras , in Correio da Manhã 6 de Agosto de 2007.
• Fernando Pessoa: O Amor, A Morte, A Iniciação; Lisboa; A Regra do
• Torga, Miguel, Poesia Completa, publicações Dom Quixote, 2ª Jogo, 1985.
Edição, pág 102, 446.
• Carrejana, João e Vidal, Maria Inês. Cenário de Resposta da Ficha
• Pereira, Maria Helena da Rocha, “Os mitos clássicos em Miguel sobre Miguel Torga (”Sísifo”). Blog ESSS. Disponível em:
Torga”, Novos Ensaios sobre Temas Clássicos na Poesia Portuguesa http://blogesss-biblioteca.blogspot.com/search?q=torga. Acesso em:
(Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1988). 18/12/2022
• Torga, Miguel. Orfeu Rebelde. Coimbra: [Coimbra Editora LDA.], • Pessoa, Fernando.Odes de Ricardo Reis. (Notas de João Gaspar Simões
1970. e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994)

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