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20 de Fevere

iro, 1949

O Desastre da
Assistência de 1949:
um marco na Histó ria
das Secas e Fomes em
Cabo Verde
Unidade Curricular: Histó ria de Cabo Verde
Docentes: Maria Manuel Torrã o e Maria Joã o Soares
Discente: Rafael Soeiro Raminhos | Nú mero 156000
Índice
O Desastre da
1 O Estado da Arte 4 Assistência

A Geografia Os Desafios para o


2 Cabo-Verdiana 5 Estado Novo

As Fomes e Secas em As Repercussõ es no


3 Cabo Verde 6 Arquipélago
1. O Estado da Arte

Portugal Cabo Verde Não Lusófono

Publicaçõ es Elaboraçã o e Realizaçã o de estudos


parcelares sobre as divulgaçã o de sobre o Colonialismo
Secas e as Fomes em inú meros estudos e o seu impacto nas
Cabo Verde; sobre as Secas e as sociedades coloniais;
Até ao momento, Fomes; Pesquisas
ausência de estudos Crescente produção multidisciplinares
sobre o Desastre da historiográ fica em privilegiando as á reas
Assistência. torno do Desastre da da antropologia,
Assistência. literatura e ciência
política.
2. A Geografia Cabo-Verdiana
go
p a d o A rquipé la
Ma Verde
de Cabo Localizado a 455 km da Costa Ocidental
Africana, o Arquipélago de Cabo Verde
caracteriza-se:

 Clima Á rido e Semiá rido;

 Ausência de Recursos Hídricos;

 Pluviosidade Fraca e Irregular;

 Terreno Irregular e Acidentado;

 Vegetaçã o Rasteira;
3. As Secas e Fomes em Cabo Verde
“em que morreu “estes anos com “em estado bem “Quando as chuvas

1864
1580-1583

1690
1610-1611
muita gente e tam grande fome miserável estas faltam, como
outra emigrou por nã o chover ilhas, onde a fome acontece de tempos
para os rios da (…) foi necessá rio era geral pela falta a tempos, as terras
Guiné a fugir aos que desse Reino de chuvas, tendo já nã o produzem; por
efeitos da fome” lhe viesse a morrido em consequência há
sustentação (…) Santiago para mais fome, e morrem
era somente para de 4.000 pessoas” milhares de pessoas
os que tinham (…)”
para o comprar
(…)” Diogo Ramires Henrique de Arpoare,
Esquível, 1690 1881
Padre Barreira, 1611

1901- 1911- Segundo Antó nio Carreira,


1904 1921-22
1915 as Fomes da 1.ª Metade
Século XX do Século XX foram
responsáveis por cerca de
(1.ª Metade) 1947- 83.777 mortes em todo o
1923-24 1941-43
1949
arquipélago
3. As Secas e Fomes em Cabo Verde Fila à espera
da
assistência.
Praia,
Crise de 1947-1949 1940

Ilha de Santiago: cerca de 3.500 famintos deslocavam-


se diariamente à cidade da Praia para suprir a fome

“fome, sujidade interior e exterior; nú generalizado;


alojamento a céu aberto, mortos a caminho dos covais
… (…) E a forma por que se assistia aos famintos,
variava de lugarejo a lugarejo, de povo para povo.
Dependia da distâ ncia dos moradores ao local em que
se prestava a assistência. Umas vezes os assistidos
recebiam dinheiro; outros géneros crus – parece
sempre só milho – e outros, ainda, mais raras, ração
cozinhada – a cachupa – que nã o chegava para todos”

Antó nio Policarpo de Sousa Santos


4. O Desastre da Assistência
No dia 20 de fevereiro de 1949, por volta do meio dia, um dos muros do edifício dos
Serviços da Assistê ncia Pú blica, com 30 metros de cumprimento e 8 metros de altura,
colapsa, levando consigo parte do telheiro que sustentava, sobre a populaçã o que se
encontrava na sua proximidade.

Qual o motivo da queda?


 Ventos fortes, a uma velocidade de 60 quiló metros por hora;
 O mau estado de conservaçã o do edifício;
 O excesso de populaçã o;

“[Por volta das 12 horas, a cidade] foi sobressaltada pelo som cavo do desmoronamento
(…) [os sinistrados] pedem aflitivamente socorro, que lhes é prontamente prestado
pelos primeiros homens que, ao estrondo da parede, na queda, avançaram para dentro
do recinto, começando a afastar as pedras e a retirar os pobres «cativos», quase todos
em apavorante estado”
Juvenal Cabral
4. O Desastre da Assistência Cadá veres s
epultados
em valas com
uns

Apó s o incidente, o Governador Joã o Figueiredo


impô s a máxima “enterrar os mortos e cuidar dos
vivos”.

Sucedeu-se o auxílio aos sinistrados através da


mobilizaçã o de todas as pessoas habilitadas a
ajudar e o transporte de feridos para o Hospital.

O nú mero elevado de mortos, 232 (nú mero oficial),


ultrapassava o nú mero de caixõ es disponíveis pelo
que as vítimas foram enfaixadas em lençó is e
enterradas em valas comuns.
4. O Desastre da Assistência Cerimó nias
fú nebres, dia
21 de fevere
iro, à s 16h

“Os corpos das vítimas vã o depositados em sete


grandes camionetas rigorosamente forradas e
cobertas de negro. (…) No cemitério presenciá mos
cenas comovedoras, lancinantes. O choro contínuo em
que a gente do povo se debate, nã o nos permite ouvir
os salmos religiosos, tampouco os acordes divinais da
marcha fú nebre que Jorge Monteiro manda executar
pela Banda Municipal, que competentemente rege”.

O Desastre da Assistência é “(…) a mais horripilante


catá strofe de todos os tempos no Arquipélago”.

Juvenal Cabral
4. O Desastre da Assistência

Está tua em memó ria das


vítimas, Praia, 2008.
Autor: Xandu
5. Os Desafios para o Estado Novo
5. Os Desafios para o Estado Novo

Apó s a 2.ª Guerra Mundial, o Mundo entrara numa nova ordem:


 Vagas de Democratizaçã o;
 Vagas de Descolonizaçã o;
 Novas Organizaçõ es Internacionais;

“Os membros das Naçõ es Unidas que assumiram ou assumam responsabilidades pela
administraçã o de territó rios cujos povos ainda nã o se governem completamente a si
mesmos reconhecem o princípio do primado dos interesses dos habitantes desses
territó rios e aceitam, como missã o sagrada, a obrigaçã o de promover no mais alto grau,
dentro do sistema de paz e segurança internacionais estabelecido na presente Carta, o bem-
estar dos habitantes desses territó rios (…)”

Carta da Organizaçã o das Naçõ es Unidas, Capítulo XII, Artigo 73 Declaração Relativa a
Territórios Não Autónomos, 1946
5. Os Desafios para o Estado Novo
“Em Fevereiro ú ltimo, os diá rios da capital cederam
uma parcela do imenso espaço dedicado à bomba
ató mica, ao Pacto do Atlâ ntico, ao bloqueio de Berlim,
etc., etc., para noticiar um acontecimento sensacional: o
desastre ocorrido na cidade da Praia (Santiago de Cabo
Verde) em que perderam a vida cerca de 300 cabo-
verdianos indigentes, entre os quais uma elevada
percentagem de crianças. (…) Mas os diá rios da capital
nã o podiam perder muito tempo e espaço com um
assunto de somenos importâ ncia. (…) O Ministério das
Colónias mandou uma nota explicativa para a
Imprensa, e um ponto final, pesado como o silêncio,
Amílcar Cabral caiu sobre o desastre ocorrido na Praia”.

Mensagem, Casa dos Estudantes do Império, 1949


6. As Repercussõ es no Arquipélago Bairro Crave
primeiro ba
iro Lopes, o
irro social d
Cabo Verde, e
A 11.ª Ilha, juntamente com Portugal, envia remessas 1955
com o objetivo de acudir os desvalidos. Embora nã o
se conheça o valor total, sabe-se que parte do
dinheiro adquirido foi empregue na construçã o do
Bairro Craveiro Lopes, inaugurado a 16 de maio de
1955, onde, a maior parte das vítimas do Desastre
foram alojadas.

“Fome, morte … tudo passou, esqueceu. Agora há


apenas um pequenino bairro de casinhas brancas
onde as mulheres sã o felizes e os perdem a sensaçã o
de inferioridade que lhes vinha da palhota onde
viviam, a meias com animais, crianças sujas e
mulheres mal humoradas”.

Maria Helena Spencer, 1954


6. As Repercussõ es no Arquipélago

“Porém, nó s, cabo-verdianos, que, apesar de interessados em todos os problemas


humanos, nã o podemos nem devemos descurar os nossos pró prios problemas, nã o
esquecemos o desastre e sentimo-nos obrigados a nã o esquecê-lo nunca (…)”.

Amílcar Cabral, Mensagem, Casa dos Estudantes do Império, 1949

O Desastre da Assistência havia, simultaneamente, despoletado duas reaçõ es:

1. A consciência de que era preciso dirimir as secas e consequentemente a fome;

2. A percepçã o de que a governaçã o do arquipélago se revelava ineficaz quanto à


resoluçã o dos “(…) velhos e cró nicos problemas destas ilhas e da sua populaçã o”.
6. As Repercussõ es no Arquipélago

Apó s 1950, Portugal implementa os Planos de Fomento com o


objetivo de desenvolver os espaços ultramarinos:

 I Plano de Fomento (1953-1958); Obras


Pú blicas
 II Plano de Fomento (1959-1964);
Remuneraçã o
 Plano Intercalar (1965-1967); monetá ria

 III Plano de Fomento (1968-1973);


Pagamento da
Embora nã o tenha conseguido desenvolver Cabo Verde, os fundos alimentaçã o
destinados ao desenvolvimento permitiram aliviar a situaçã o
econó mica cabo-verdiana.
6. As Repercussõ es no Arquipélago

Apó s o Desastre da Assistência, em 1949, Cabo Verde viveu um período de 10 anos com
chuvas regulares e favoráveis à produçã o alimentar.

O Governador Joã o Figueiredo fora deposto e em seguida ocuparam o lugar:


1. Carlos Alves Roçadas (1949-1953)*;
2. Manuel Abrantes Amaral (1953-1957);
3. Peixoto Carreira (1957-1958);
4. Silvino Silvério Marques (1958-1962);
• Plano de Ressurgimento

Embora alguns aspetos tenham sido bem-sucedidos, a situaçã o em Cabo Verde pouco
mudara. As Secas e as Fomes prevaleceram e deram voz à s críticas feitas contra o
governo colonial, protagonizadas pelos ansiosos da independência.

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