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FORMAÇÃ O COMO AÇÃ O

FORMATIVA
A partir dos trabalhos publicados no I
Congresso Nacional de Psicologia Escolar
( especialmente, Almeida, 1992; Andaló, 1992;
Aranha,1992;Branco,1992;Duran, 1992;
Fávero, 1992; Gil, 1992), temas como
formação, identidade e atuação do psicólogo
escolar foram recorrentes nos congressos
nacionais e internacionais de Psicologia
Escolar nos simpósios da ANPEPP, bem como
nas consequentes publicações.
As produções advindas desse
período originaram reflexõ es,
estudos e pesquisas quanto aos
aspectos da formação profissional do
psicó logo escolar e às formas de
atuação pertinentes a essa formação.
Neves, Almeida, Chaperman e Batista(2002)
analisaram os anais dos Congressos
Nacionais de Psicologia Escolar e
Educacional, promovidos pela ABRAPEE
entre os anos de 1991 e 1998 e
identificaram três categorias mais
representativas da natureza dos trabalhos
apresentados: relatos de pesquisa, relatos
de experiência e trabalhos acerca das
reflexões teóricas.
Resultados das análises indicaram:

• Diversificação na produção de conhecimento na área de


Psicologia Escolar.
• As orientações de estágio curricular privilegiam uma
perspectiva mais preventiva.
• As práticas profissionais referiam-se significativamente a
atuações com a comunidade escolar e professores.
• Entretanto, apesar dessa tendência mais flexibilizada
quanto aos focos de atuação e contextos de intervenção,
constata-se pouca contribuição em relação às
formulações teórico-metodológicas que oferecessem
suporte à prática profissional.
As autoras concluem que a área de Psicologia
Escolar necessitava de uma produção teórica
mais consistente e sistematizada, para permitir
aos psicólogos em formação, bem como
aqueles em exercício, a compreensão e a
ressignificação da prática profissional apoiada
em teorias psicológicas que consolidem a
apropriação de referenciais teóricos pautados
em concepçõ es relacionais e perspectivas
sociohistóricas (Neves e cols.,2002)
Percebe-se, a partir dessa pesquisa, que,
se por um lado, as práticas profissionais
em Psicologia Escolar voltam-se com
maior ênfase para as demandas mais
relacionais, contextualizadas às
exigências das práticas pedagó gicas, o
cenário da formação do Psicó logo
Escolar não tem fornecido o suporte
necessário à sustentação dessas formas
de atuação.
A formação do Psicó logo Escolar
inclui-se no âmbito do curso de
Psicologia como um todo, o qual,
ao mesmo tempo em que se
apresenta com uma diversidade
de currículos e de modelos teó rico-
metodoló gicos, também não
defende especificidades que
caracterizem este perfil.
Para Martinez(2003), a Psicologia
Escolar, enquanto campo de
produção científica e de trabalho
profissional se constitui a partir da
conjunção dos seguintes objetivos:
contribuir com o processo
educativo e com o espaço de sua
ação, entendido como as
instituições escolares.
Guzzo e Wechsler(1993) discutiram a
necessidade de uma formação
especializada do Psicó logo Escolar que o
levasse a atuar com competência diante
dos desafios do atual sistema
educacional brasileiro.
A presença de uma concreta e eficaz
articulação entre teoria e prática,
pesquisa e desenvolvimento de
competências na formação do
psicólogo escolar vem sendo
discutida por alguns autores como
sendo requisito a ser perseguido
nessa formação(GOMES, 1994; JOBIM
& SOUZA, 1996).
Pesquisas apontam que há, ainda, uma
forte influência da área clínica na formação
acadêmica do psicólogo escolar, resultando
em uma atuação profissional “híbrida”, em
que confusão e contradição entre
pressupostos filosóficos, teóricos e
metodológicos geram práticas destituídas
da especificidade própria da Psicologia
Escolar(ALMEIDA e Cols.,1995CRP, 1998).
A formação em Psicologia Escolar deveria
privilegiar conteú dos voltados para: análise
das relações entre desenvolvimento e
aprendizagem, relação professor-aluno,
papel da afetividade na transmissão e
aquisição do conhecimento, representações
sociais do sucesso/insucesso escolar, relação
família/escola/comunidade, práticas
pedagógicas do professor.
teorias e metodologias educacionais,
atendimento psicopedagógico, análise crítico-
reflexiva sobre teorias e práticas psicológicas,
sensibilidade para atitude interdisciplinar,
habilidades criativas e de
comunicação(ALMEIDA e cols., 1995).

Guzzo(1996) entende que a formação em


Psicologia exige reflexões ampliadas,
envolvendo agências formadoras, instituições
sociais que absorvem os psicólogos, associações
e sociedades científicas.
Alguns relatos de experiências (ARAUJO,
ALMEIDA & GODOY, 1999; ALMEIDA,
ARAUJO, NEVES, QUEIROGA, PARRO &
CUNHA, 1966) chamam a atenção para a
importância de se potencializar as
experiências de estágio curricular no
contexto escolar real, de forma a
oportunizar reflexões sobre o papel e
atuação da Psicologia Escolar diante dos
desafios concretos e demandas efetivas.
Del Prette(1999b) lembra que, diante do
caráter remediativo da demanda da
escola, que reforça uma formação que
tende a mascarar as reais necessidades
psicopedagógicas desse contexto, a
formação do Psicó logo Escolar deve
contar não só com conhecimentos da
psicologia diferencial, aprendizagem e
desenvolvimento, psicologia social,
organizacional, clínica comunitária, como
também com os conhecimentos
advindos de outras áreas do
conhecimento(Filosofia, Didática,
Sociologia, Economia,
Antropologia, Linguística, etc.), e
com a compreensão dos objetos
específicos da educação
escolar(leitura, escrita, cálculo
etc.), bem como
teorias e metodologias
educacionais, atendimento
psicopedagó gico, análise
crítico-reflexiva sobre teorias
e práticas psicoló gicas.
INTERVENÇÃ O
INSTITUCIONAL

POSSIBILIDADE DE PREVENÇÃ O EM
PSICOLOGIA ESCOLAR
As exigências da prática em
Psicologia Escolar, no mundo real,
introduzem problemas, exigindo um
trânsito ágil, atualizado e
competente do profissional por
entre zonas de inovação de uma
práxis contextualizada e
referendada no mundo do trabalho.
Para considerar o psicólogo escolar
um profissional apto a lidar com
situaçõ es de incerteza, singularidade
e conflito, presentes em sua prática
profissional, é necessário, tanto nas
opções formativas quanto na
expressão de sua atuação, que se
identifique e examine suas
concepçõ es e intençõ es e se
reconheça seus medos e desânimos.
A realidade para a qual o
profissional psicó logo escolar deve
ser preparado é repleta de “zonas de
sentidos”(Rey, 2003),
ressignificadas por configuraçõ es
subjetivas individuais e sociais e,
portanto, lugar onde as certezas são
limitadas, as necessidades,
dinâmicas, os cenários construídos.
ATUAÇÃ O PREVENTIVA:
a intencionalidade no planejamento
Ao conceito de prevenção é comum
associar-se a ideia de antecipação,
ajustamento e adequação de
situaçõ es e comportamentos, que se
encontram fora dos padrões gerais
aceitos, a modelos adaptativos e
normativos, a fim de evitar “maiores
problemas futuro
As formas de intervenção devem privilegiar
caminhos para uma atuação institucional
preventiva ancorada em ações e estratégias
para que o psicólogo escolar facilite e
incentive a construção de estratégias de
ensino diversificadas; promova a reflexão e a
conscientização de funções, papéis e
responsabilidades dos sujeitos que atuam, de
forma relacional, no cotidiano da escola, e
busque, com a equipe escolar, a superação dos
obstáculos à apropriação do conhecimento
(Araujo, 1995)
A proposta de intervenção dinâmica,
participativa e sistemática na instituição,
é ancorada em quatro grandes
dimensões:

* Mapeamento Institucional
*Espaço de escuta Psicológica
*Assessoria ao trabalho coletivo
*Acompanhamento ao processo ensino -
aprendizagem
Mapeamento Institucional:

Mapear e analisar a instituição


escolar constitui-se como etapa
básica do processo de intervenção
institucional, a fim de criar,
inicialmente , subsídios para a
compreensão dessa realidade.
Açõ es do Mapeamento
• Investigar e evidenciar convergências, incoerências, conflitos
ou avanços existentes nas influências ideológicas e filosóficas
presentes em diferentes aspectos institucionais.

• Analisar nas práticas educativas e nos projetos e tendências


educacionais , as concepções subjacentes e orientadoras que
os profissionais têm na escola , educação, ensino,
desenvolvimento , aprendizagem e avaliação.

• Analisar a concepção de currículo expressa na estrutura ,


organização e dinâmica do trabalho pedagógico, na
organização temporal e espacial de atividades e projetos e na
rotina.
• Discutir o processo de gestão escolar: relações
estruturais entre grupos(direção, professores,
servidores, comunidade, fóruns de deliberações
horizontalizados ou centralização nas decisões) e
relações entre instituição e comunidade( projetos,
campanhas, ações)

• Análise documental do regimento interno, dos


projetos e dos demais documentos escolares , com
vistas a esclarecer os papéis , direitos , deveres,
responsabilidades e formas de avaliação.
• Refletir , com a Equipe Escolar, sobre os
Parâmetros Curriculares Nacionais, a
concepção de aprender e ensinar em
todas as modalidades de
ensino( Educação Infantil, Ensino
Fundamental, Ensino Médio)

• Participar da elaboração da Proposta


Pedagógica
ESPAÇO DE ESCUTA
PSICOLÓ GICA
• Para trabalhar as relações interpessoais
existentes na escola , é primordial o
desenvolvimento de métodos de observação e
análise dessas relações nos contextos
específicos em que ocorrem.

O psicólogo precisa criar estratégias de escuta


clínica das “vozes institucionais”, que o habilite a
entender e analisar os “aspectos intersubjetivos”
presentes nos processos relacionais no contexto
escolar e intervir neles.
• A partir de uma “leitura Institucional”, crítica e
reflexiva sobre as “vozes” da escola , presentes nas
concepções e nas formas de organização
institucional, novas ações configurar-se-ão para
atuação psicológica na instituição escolar:

Será possível a “oxigenação” de discursos ,


significados e sentido das falas e comunicações,
oportunizando aos próprios atores a percepção das
contradições e rupturas presentes no seu contexto,
bem como, a reflexão acerca de sua profissão, do seu
papel e das competências que lhes são exigidas.
• A especificidade do suporte
psicológico na escola deve basear-
se em uma atitude clínica e na
sensibilidade da escuta dos
processos intersubjetivos
construídos na complexidade desse
cenário(Almeida, 1999, 2003)
• Conduta clínica contempla a articulação
complementar de uma formação teórica
adequada a uma forma ética de pensar e
agir.
• A escuta clínica psicológica pressupõe um
envolvimento necessário com o outro em
um encontro intersubjetivo de sujeitos em
posições diferentes, mas que co-produzem
os sentidos da singularidade e a
complexidade do fenômeno
compartilhado.
• A intencionalidade pela
transformação está presente na
escuta clínica, desmistificando um
possível caráter passivo, indiferente e
distanciado, pois que a escuta é
sempre uma complexa mistura entre
o psíquico e o social, ou como
acredita Kupfer(1997), uma “escuta
ativa”.
ASSESSORIA AO TRABALHO
COLETIVO
• O psicólogo deverá desenvolver,
concomitantemente ao mapeamento
institucional e à escuta clínica, a realização de
planejamento e assessorias ao trabalho coletivo
e às relações interpessoais com o corpo docente,
direção e a equipe técnica.

• Desenvolvimento e qualificação de competências


técnicas, pessoais , interpessoais e específicas
para o desempenho profissional, especialmente
os professores.
ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM
• A ênfase do trabalho do psicólogo
escolar deve se voltar para a análise e
intervenção na relação professor-
aluno, compreendendo a importância
dessa relação como núcleo do
processo de ensino-aprendizagem e,
por isso, geradora de obstáculos ou
avanços à construção do
conhecimento pelos alunos.
TEMAS QUE DEVEM NORTEAR AS
DISCUSSÕ ES E REFLEXÕ ES NA ASSESSORIA
PERMANENTE
Desenvolvimento de competências
Construção coletiva de soluções apropriadas à escola
Compreensão do contexto educativo
Utilização de estratégias de comunicação diversificadas
Construção de um clima de confiança e respeito mútuo
Flexibilização diante de mudanças
Coordenação de processos coletivos de decisão
Potencialização do uso de tecnologias
Apropriação de questões técnicas sobre planejamento
pedagógico, currículo e avaliação.

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