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O que estudaremos em Religião, Direito e Estado?

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O quê estudaremos em Religião, Direito e Estado?

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Capítulo VII –
Liberdade de Crença e
Imunidade Tributária dos Templos

Prof. Dr. Lelio Lellis


Pós-Doutor – Faculdade de Direito Universidade de Coimbra
Visiting Scholar – Columbia University School of Law
Capítulo VII – Liberdade de Crença e Imunidade Tributária dos Templos
1. Imunidade Tributária dos Templos de qualquer culto
1.1 Conceito
a) Razão de sua existência e Natureza –
a1. Motivo de sua existência: O direito de imunidade tributária decorre da
separação entre igreja e Estado (art. 19, I, CF);
a2. Natureza fundamental instrumental: É indispensável para a concretização
da liberdade de crença no âmbito do culto e da associação religiosa, impedindo
que o Estado coloque obstáculos tributários à sua concretização (art. 5º, VI, CF);
b) Configuração de seu conteúdo –
b1. Essência: Proteger a atividade religiosa do culto contra ingerência estatal e
facilitar sua realização financeira;
b2. Amplitude: Alcança o patrimônio, as rendas e serviços relacionados com as
atividades essenciais dos Templos de qualquer culto (art. 150, caput, VI, b, e
§4º, CF).
Capítulo VII – Liberdade de Crença e Imunidade Tributária dos Templos

- O que é o culto? Atividade de adoração de divindade praticada pelo crente por


meio de ritos religiosos e valendo-se de liturgia. Objetivos: elevação espiritual
(pensamento e sentimento em relação ao transcendente, metafísico), profissão de
fé (doutrina expressa por palavras e atos), desenvolvimento de virtudes
(moralidade fundada em doutrina religiosa). O culto é a manifestação coletiva em
reunião de caráter religioso com pretensão de posse exclusiva da verdade;
- Noção de patrimônio, rendas e serviços relacionados com atividades essenciais dos
Templos de qualquer culto: 1º) A expressão “Templos de qualquer culto”, para fins
de imunidade tributária engloba a igreja/catedral/mesquita/sinagoga em que
acontece o culto e os escritórios administrativos de todas as denominações
religiosas; 2º) Finalidades essenciais, no contexto constitucional (art. 150, VI e §4º),
são aquelas diretamente responsáveis pela concretização do culto (ritos religiosos
com sua liturgia de adoração da divindade) e pela expressão da doutrina; 3º
Patrimônio, renda e serviços são, respectivamente, o conjunto de bens
economicamente valoráveis, o dinheiro auferido por meio da administração do
patrimônio (alugueis de prédios) ou por meio das atividades de culto (ofertas,
dízimos, celebração de casamentos etc.);
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1.2 Consequências interpretativas e de aplicação:


a) Proibição do retrocesso:
a1. Cláusula pétrea: A imunidade tributária dos templos de qualquer
culto não pode ser restringida ou revogada, porque instrumentalmente
fundamental e, pois, protegida como cláusula pétrea (art. 60, §4º, IV,
CF). Assim, não pode sofrer retrocesso em sua configuração,
interpretação e aplicação (princípio da proibição do retrocesso). Não
pode ser alvo de deliberação uma Proposta de Emenda Constitucional
tendente a aboli-la ou restringir-lhe a
eficácia. Apenas é possível aprovação
de Emenda Constitucional que fortaleça
sua eficácia ou efetividade;
Capítulo VII – Liberdade de Crença e Imunidade Tributária dos Templos

b) Aplicabilidade imediata:
b1. Aplicabilidade imediata de seu núcleo essencial (art. 5o, §1o, CF) com a
máxima efetividade, sob pena de responsabilização da autoridade competente;
b2. Núcleo: Proteção do templo e do culto comprovadamente existentes contra
impostos e contribuições (art. 150, VI, b, CF).
b3. Periferia: patrimônio, renda e serviços relacionados com as finalidades
essenciais de templo e culto (escritórios administrativos, alugueis auferidos,
contratação de empregados), que dependem de prova de cumprimento das
obrigações instrumentais, e não impede o dever de reter na fonte tributo de
terceiros e nem a prática de atos assecuratórios do cumprimento de obrigação
tributária de terceiros (art. 9, §1º, CTN). Por analogia, para a periferia do direito
de imunidade tributária dos templos de qualquer culto é preciso cumprimento
das obrigações instrumentais que provam serem o patrimônio, a renda e os
serviços relacionados com o templo e o culto (art. 150, §4º, CF c/c art. 14, CTN);
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2. Visão do STF
2.1 Autonomia das denominações religiosas
a) Amplitude da autonomia: culto, doutrina e autogestão –
a1. Com fundamento no princípio da separqação Igreja e Estado (art. 19, I, CF), o
conteúdo do culto e sua forma (liturgia), a elaboração do corpo doutrinário e a gestão
do templo competem exclusivamente à associação da confissão religiosa constituída
para tal fim, sob a liderança do seu clero (STF. 2ª T. RE n. 131.179/DF, rel. min.
Hannemann Guimarães, j. 8.4.1958, v.u.);
b) Amplitude e limites da imunidade tributária dos templos de qualquer culto –
b1. A imunidade alcança não apenas o prédio de culto, mas, também, seu patrimônio,
renda e serviços relacionados com as finalidades essenciais (cúlticas) da denominação
religiosa, por força do art. 150, §4o, CF. Logo é inconstitucional lei que limita o
reconhecimento da imunidade tributária ao prédio do templo e suas atividades de
culto, excluindo da imunidade contra o IPTU bens imóveis da Mitra Diocesana
relacionados com suas finalidades essenciais cúlticas porque alugados. Tal imunidade
alcança a entidade mantenedora dos templos (STF. Pleno. RE n. 325.822/SP, rel. p/ Ac.
Min. Gilmar Mendes, j. 18.12.2002, Dj 14.5.2004, 7X4);
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b2. A imunidade tributária de templos de qualquer culto alcança cemitério


de cunho religioso (STF. Pleno. RE n. 578.562-9/BA, rel. p/ Ac. Min.Eros Grau,
j. 21.5.2008, DJe 11.9.2008, v.u.);
b3. Súmula 724 (STF. Pleno, aprovação em 23.11.2003) –
“Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas no art. 150, VI, c, da
Constituição, desde que o valor dos alugueis seja aplicado nas atividades
essenciais de tais entidades.”
* Aplicação por analogia aos Templos de qualquer culto:
Sobre a residência de ministro religioso não incide o IPTU, e nem sobre
imóvel da denominação religiosa alugado a terceiros desde que a renda seja
relacionada com suas atividades principais, por força do art. 150, VI, b e §4º,
da CF (STF. 2ª T. ARE n. 694.453, rel. Min. Ricardo Lewandoswki, AgR, j.
25.6.2013, DJe 12.8.2013, v.u.);
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b4. A imunidade de templos de qualquer culto não afasta a incidência de tributos


sobre operações em que as entidades imunes figurem como contribuintes de fato e
não de direito, tal qual o ICMS sobre o consumo/venda de energia elétrica.
Inconstitucionalidade de lei de Rondônia que não trata de imunidade tributária, mas
sim, de isenção e não foi acompanhada de estimativa do impacto orçamentário e
financeiro no curso do processo legislativo para sua aprovação, contrariando o art. 113,
do ADCT, da CF (STF. Pleno. ADI n. 5.816/RO, rel. Min. Alexandre de Moraes, j.
5.11.2019, 9X1);
b5. A imunidade tributária de templos de qualquer culto não beneficia “templos
maçônicos”, pois estes não são templos religiosos. A Maçonaria não é uma
denominação religiosa, mas sim uma entidade filosófica que aceita que seus membros
continuem integrantes de qualquer Igreja (não há o exclusivismo religioso, não se
busca conquistar prosélitos e nem há culto com liturgia para a adoração inequívoca de
divindade). Por conseguinte, não há falar em omissão legislativa a ser alvo de
Mandado de Injunção que ordene ao legislador infraconstitucional que normatize o
reconhecimento de imunidade tributária para templos maçônicos (STF. Pleno. MI n.
7.069/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 15.4.2020, 9X1)
Capítulo VII – Liberdade de Crença e Imunidade Tributária dos Templos
Resumo
* O direito constitucional stricto sensu à imunidade tributária de templos de qualquer
culto integra o subsistema constitucional ou direito lato sensu à liberdade de crença
(religiosa). Possui natureza constitucional fundamental, sob o prisma instrumental, uma
vez que sem a imunidade tributária que protégé o templo, haveria fragilização e
possibilidade de interferência do Estado nas denominações religiosas, o que contraria o
princípio da separação entre as igrejas e o Estado (art. 19, I, CF). Ademais, a referida
imunidade fortalice a liberdade de crença. Por conseguinte, é clásula pétrea e não pode
ser alvo de emenda constitucional que a queira restringir ou revogar (art. 60, §4o, IV,
CF). O núcleo essencial do direito à imunidade tributária de templos de qualquer culto
reside na proteção do templo e do culto que nele ocorre para adoração de divindade,
por meio de liturgia específica e em obediência ao corpo doutrinário pertinente, e da
denominação religiosa ao qual pertence (art. 150, VI, c, CF). Em tais aspectos (templo e
culto), há autonomia da Igreja (denominação religiosa) para sua autogestão, que fica
protegida contra ingerências estatais. Todavia, existe, ainda, uma proteção detalhada
no referido direito de imunidade, que protege “o patrimônio, a renda e os serviços,
relacionados com as finalidades essenciais” dos templos de qualquer culto (art. 150,
§4o, CF). Há que se fazer prova de que patrimônio, renda e serviços
se relacionam com o templo e seu culto, a fim de se auferir a
imunidade tributária. Este é, também, o entendimento do STF.
Capítulo VII – Liberdade de Crença e Imunidade Tributária dos Templos

Aprofunde seu conhecimento


Leia
(Disponível em: Biblioteca do UNASP)
– PIAZZI, Filipe e BRAGA, Luigi. A imunidade tributária como garantia à
Liberdade religiosa. In: LELLIS, Lelio M.; HEES, Carlos A. (Orgs).
Fundamentos jurídicos da liberdade religiosa. Engenheiro Coelho, SP:
Unaspress, 2016, 229-256.

Responda
Qual a configuração da imunidade tributária
dos templos de qualquer culto e porque ela
é um direito fundamental instrumental?
Justifique sua resposta com artigos da CF:

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