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Ortega y Gasset

(Madrid,1883-1955)
A subjetividade da existência

“O problema radical da filosofia é definir esse modo de ser, essa realidade a que chamamos nossa
vida. Pois bem, viver é o que ninguém pode fazer por mim – a vida é intransferível -, não é um
conceito abstrato, é o meu ser individualíssimo.”
Ortega y Gasset – O que é a Filosofia?
A realidade relativa e a liberdade existencial

• “Eu sou eu e minha circunstância.”


• “Todas as coisas e os seres do universo que nos circunda (…) formam nossa
circunstância.” Nossa circustância é nosso lugar, tempo, a sociedade em que cada
um de nós é lançado desde o nascimento. É a realidade que se impõe a todos nós.
• Procurando resolver os problemas e preocupações decorrentes da sua propria
realidade, o homem é forçado a construir a sua própria existência: viver é sentir-
nos obrigados a “exercitar a própria liberdade, a decidir aquilo que devemos
ser nesse mundo”. “O homem é o ser condenado a traduzir a necessidade em
liberdade.”
A razão vital

• O raciovitalismo ou a razão vital é uma concepção da racionalidade criada por


Ortega y Gasset. O autor, assim como Nietzsche, critica a ditadura da razão
abstrada própria da tradição filosófica ocidental de natureza socrática. No
entanto, não suprime a importância da razão humana. Estudioso de Kant, o
filósofo propõe uma superação do racionalismo ou da razão pura, para uma
racionalidade vivida na concretude do indivíduo.
A razão vital
• Superação do racionalismo kantiano: “A razão pura não pode suplantar a vida: a
cultura do intelecto abstrato não é , por contraposição à espontânea, uma outra vida,
que se baste a si mesma e possa desalojar aquela.”

• Para Ortega y Gasset não é possível renunciar à razão, entretanto, todas as dimensões
cognitivas do ser humano (razão, memória, imaginação...) e as construções a que dão lugar
(cultura, filosofia, ciência...) estão alicerçadas na vida concreta. Sua filosofia constitui uma
não absolutização da razão, mas uma primazia da vida sobre esta. Segundo o filósofo, o
homem é mais do que seu pensamento, ele é também paixão, medo, angústia, desejo.
A razão vital é um modelo de razão proposto pelo filósofo como uma superação da pura razão que foi
imposta durante a Era Moderna e que, embora permitisse o avanço das ciências naturais, não o fez com as
ciências humanas , porque era insuficiente para aprender a vida:

“O desenvolvimento da ciência e tecnologia não propiciou a solução para os problemas humanos como
acreditaram os positivistas do século XIX, embora oferecesse outras coisas que eles não esperavam. O
conhecimento científico e tecnológico foi utilizado, por exemplo, na produção de armas de destruição em
massa, provocando um cenário inimaginável no século anterior. O cientista estava longe de ser um novo
sacerdote e a ciência uma nova religião. Outro problema foi a constatação de que o modelo de ciências da
natureza que vinha do positivismo era inadequado para as ciências humanas que se estruturavam. (...)
Uma nova filosofia precisava dar resposta para o século XX, inclusive para dialogar de forma mais
adequada com as descobertas recentes da ciência.”
O individualismo moderno e o “homem-massa”

• A civilização ocidental moderna deu origem ao que o filósofo denomina de “homem-


massa”. O homem-massa é um sujeito inerte como a massa, é um novo bárbaro
que “não se limita a considerer-se excelente enquanto é vulgar, mas pretende impor a
vulgaridade como direito e o direito à vulgaridade” (L. Pellicani). Expressa-se pelo
“direito de não ter razão, a razão da não-razão”
• Introduz na vida pública um estilo de ação baseado sobre a sistemática da agressão e
cancelamento do outro e sobre o totalitarismo. Representa ao mesmo tempo a
expressão e a destruição do individualismo e da liberdade exaltados pela
modernidade.
A função moral da educação
O pensador espanhol criticava a formação dos professores porque ela estaria orientada para encaixar os
alunos numa cultura rígida e previamente sistematizada. Para Ortega y Gasset a escola tradicional educa
apenas "para o ontem" e não com vistas ao futuro, do mesmo modo que oferece um preparo individual, mas
não para a vida em sociedade.
Do ponto de vista da educação política, deveria haver um esforço pedagógico para evitar a "rebelião
das massas" (título de um de seus livros). Para que o homem-massa não caia no erro de assumir a função
de exemplo, é necessário reforçar os fins morais da educação e estimular, na minoria*, a missão de
esclarecer os demais. Todo ser humano e toda formação social equilibrada, segundo o pensador, são como
mecanismos em busca da perfeição. E a escola deveria ser um dos veículos desse processo.
Por minoria entende-se a parte da sociedade esclarecida por meio de uma educação voltada para a
formação para a cultura e para a prática das virtudes.

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