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N A R R AT I VA S A U T O B I O G R Á F I C A S :

potencialidades para a
discussão de narrativas sobre
experiências profissionais

CLEIDIANE LEMES DE OLIVEIRA


A PROPOSTA (AUTO)BIOGRÁFICA
• Segundo Passeggi (2021), a metodologia das narrativas de si ganham visibilidade a
partir dos anos 1980 com a formação continuada de adultos. No entanto, é nos anos
1990 que os estudos se voltam para a formação docente a partir da noção de
“professor reflexivo” empreendido por Donald Schon.
• As pesquisas autobiográficas em seu poder auto(trans)formador se inserem no bojo de
um guinada reflexiva ocorrida na década de 1960 - com a luta de mulheres, negros
(as), migrantes e outras minorias exigindo serem ouvidas - e de uma guinada
narrativa que busca a compreensão do humano.
• É nesse contexto que emerge uma guinada biográfica que se ocupa em para os modos
como os seres humanos (re) elaboram as experiências vividas. Assim, além de um
método de pesquisa a pesquisa autobiográfica também torna-se dispositivo
pedagógico de formação e intervenção.
A PROPOSTA (AUTO)BIOGRÁFICA
• Na carta da “Associação Internacional das Histórias de Vida em Formação”,
elaborada nos anos 1990, os (as) pesquisadores (as) apresentam a proposta
metodológica autobiográfica numa perspectiva que “orienta, media e apoia as
práticas da narrativa de vida é a emancipação pessoal e social do sujeito. Entende-
se por emancipação a ação que tende a substituir uma relação de assujeitamento
por uma relação de igualdade” (ASIHVIF, 2016, p.177) .
• Nos estudos empreendidos por Passeggi (2016, 2020) houve a utilização da
pesquisa-formação mostrando a indissociabilidade entre os dois termos.
O QUE É NARRAR?
• Narrar é a possibilidade de colocar-se em primeira pessoa para dizer das
experiências que vivenciou. A narrativa não pressupõe a existência de uma
essência a ser desvelada ou a sistematização de uma “curso natural” da existência
humana. Nesse sentido, o biográfico não diz de uma realidade factual, mas de
representações que os sujeitos tem sobre o vivido.
• Inclui linguagem, pensamento e práxis social (PASSEGGI, 2010, p. 111).
• Narrativa de formação, para Delory-Momberger (2011), constitui-se o arquétipo
genérico da individualidade moderna. Herdeira do Iluminismo é o movimento de
formação de si pelo qual o ser humano manifesta suas disposições para a sua
formação integral.
• “Falar sobre a construção da experiência é falar
sobre o que está no âmago da atividade
biográfica. É falar da maneira pela qual cada um
O QU E É
de nós nos apropriamos do que vivemos,
experimentarmos, conhecemos, pela qual nós o E X P E R IÊ N C IA ?
transformamos precisamente em ‘experiência’”
(DELORY-MOMBERGER, 2016).
• Faz parte do seu capital biográfico todas as
experiências que você vive (PASSEGGI, 2021).
O CONVITE A REFLEXÃO

• Reconhecer que as autobiografias estão centradas na capacidade reflexiva do (a)


professor (a): a reflexão não se dá apenas sobre aspectos objetivos da vida do
sujeito, mas as questões subjetivas e de sua relação com as culturas que o cerca.
• O saber singular ao qual tende a pesquisa biográfica só pode ser construído em um
processo de pesquisa engajada, levando o pesquisador a reconhecer que ele
sozinho não sabe e só pode saber com os outros.
QUAL CONCEPÇÃO FILOSÓFICA DE
SUJEITO?
• Para Passeggi (2016) o Movimento das Histórias de Vida em Formação na Europa
e no Canadá, desde os anos 1980, trabalha com a noção da autonomia do sujeito
pesquisado para narrar suas experiências, centrando-se no sujeito da formação e
não apenas na formação em si. Há ali um adulto em formação.
• O sujeito é capaz de adquirir uma consciência histórica, ou seja, ele é capaz de
compreender a si mesmo (a) a partir de sua reflexividade. Numa perspectiva
Freireana diríamos que esse sujeito consegue pela reflexão uma tomada de
consciência que o leva a apropriar-se da sua palavra para pronunciá-la como ação
no mundo.
QUAL CONCEPÇÃO FILOSÓFICA DE
SUJEITO?
• Para Passeggi (2016), a noção de sujeito traz duas possibilidades:
1) A de sujeição, submissão a autoridade;
2) A de emancipação, poder de decisão.
• É necessário compreender esse sujeito dentro da sua complexidade dialética que é
própria da humanidade. Relembrando Delory-Momberger (2016), podemos dizer da
possibilidade de agentividade do sujeito dentro da condicionalidade das estruturas.
• Para Passeggi (2021), o sujeito autobiografado é capaz de uma reflexividade
narrativa, que é entendida como a capacidade “de o sujeito operar com diversas
linguagens para se constituir um si mesmo, ao tempo em que dá sentido às suas
experiências, às suas aprendizagens e até mesmo reconhece seus fracassos nessas
tentativas” (2021, p.130)
A TEMPORALIDADE DA EXPERIÊNCIA

• É o tempo presente que interroga o passado e suas vivências, portanto, entender o


momento em que se narra é fundamental para compreender a narrativa que é
sempre provisória e inconclusa;
• “Ela provoca uma transformação na percepção e na construção do mundo social,
organizado não mais segundo regras abstratas e formais, mas segundo o ponto de
vista e a temporalidade daquele que o atravessa.” (DELORY-MOMBERGER,
2016)
QUAL O POTENCIAL FORMATIVO
DESSA METODOLOGIA?
• Há três sujeitos no desenvolvimento da pesquisa biográfica:
– Sujeito Empírico: que vive a experiência da vida enquanto sujeito de carne e osso;
– Sujeito Epistêmico: vivência a experiência na racionalidade;
– Sujeito Autobiográfico: desdobramento do sujeito empírico sobre si;
• É pela atividade narrativa que o sujeito autobiográfico (o narrador) religa o sujeito epistêmico
ao sujeito empírico, isto é, aquele que pensa com aquele que vive, unindo as duas partes que
foram cindidas pela ciência moderna. (PASSEGGI, 2021)
• A ciência moderna consagrou o ser humano como sujeito epistêmico, mas o recusou o lugar de
sujeito empírico.
QUAL O POTENCIAL FORMATIVO
DESSA METODOLOGIA?
• O sujeito de carne e osso, sujeito ao mesmo tempo de razão e emoção , transpassado
pela experiência é capaz de refletir sobre si mesmo e sobre ela (PASSEGGI, 2016, p.
71).
• “Os resultados de muitos anos de pesquisa nos permitem dizer que os professores que
refletem a respeito de suas experiências e as lições aprendidas na docência, que
tiveram a possibilidade de refletir sobre a docência com seus pares, seriam mais
suscetíveis de responder a situações difíceis ou imprevisíveis com maior
segurança” (PASSEGGI, 2016, p. 83).
• Não há milagre ou revelação! Seu poder encontra-se na formatação de configuração
narrativa, ou seja, um poder de “historiador”. Contudo, é importante salientar que nem
todas as experiências possuem a mesma biograficidade. Algumas situações não se
tornam experiência.
• “Coletamos, ordenamos, organizamos,
vinculamos as situações e os
acontecimentos de nossa existência, QUAL O
damos a eles uma forma unificada e POTENCIAL
associada a uma vivencia proteiforme, F O R M AT I VO
heterogênea, incerta, inapreensível e, DESSA
através dessa formatação, interpretamos e M E TO D O L O G I A ?
outorgamos sentido ao que vivemos”
(DELORY-MOMBERGER, 2011, p.
341).
NARRATIVAS DE EXPERIÊNCIAS
PROFISSIONAIS: OS DIÁRIOS DE AULA
• Necessitam serem construídos a partir de uma “linha do tempo”, trazendo a ideia de
continuidade;
• Quando são temáticos os Diários devem se manter fiéis a temática proposta o que não significa,
no entanto, que não se possa escrever sobre temas correlatos;
• Podem conter narrativas sobre outros espaços que não sejam propriamente a sala de aula desde
que as narrativas relacionem-se com o trabalho docente;
• Devem ser escritos numa perspectiva objetiva-descritiva e reflexiva-pessoal.
Nova
perspectiva de Desenvolvimento
ação Consciência

Experimentação Informação
da mudança Analítica

Necessidade
de mudança
OBJETIVOS – MINHA PESQUISA
• Analisar saberes e práticas docentes sobre a temática étnico-racial em seu potencial para a construção de uma
educação antirracista, a partir de experiências desenvolvidas e relatadas em diários de aula por professores(as)
de uma escola da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, nos anos finais do ensino fundamental.

Objetivos específicos
• Entender as relações que se estabelecem entre as trajetórias de vida e profissionais dos/das professores/as no
trato com a temática africana afro-brasileira.
• Mapear as práticas profissionais docentes que discutem a temática africana e afro-brasileira em uma
perspectiva antirracista;
• Analisar os processos de reflexão construídos a partir das narrativas de experiências profissionais e das
práticas pedagógicas sobre a temática africana e afro-brasileira em seu potencial para a construção de saberes
e práticas profissionais docentes antirracistas.
• Identificar os critérios de seleção dos saberes escolares e os propósitos que orientam as escolhas pedagógicas
dos (as) professores(as), buscando compreender os sentidos atribuídos pelos(as) professores(as) ao seu
trabalho com a temática étnico-racial.
• Identificar as estratégias de trabalho que foram desenvolvidas pelos (as) professores(as)/as quando da
imposição do ensino remoto emergencial , no trato da questão em destaque.
BIBLIOGRAFIAS
• DELORY-MOMBERGER, Christine. A pesquisa biográfica ou a construção compartilhada de um saber do
coletivo. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v.01, n.01, p.133-147, jan./abr.2016.
• DELORY-MOMBERGER, Christine. Abordagens metodológicas na pesquisa biográfica. Revista Brasileira
de Educação. v.17, n.51, set.-dez, 2012.
• DELORY-MOMBERGER, Christine. Fundamentos epistemológicos da pesquisa biográfica em educação.
Educação em Revista. Belo Horizonte, v.27, n.01, p.333-346, abr. 2011.
• PASSEGGI, Maria da Conceição. Enfoques narrativos em la investigación educativa brasileña. Revista
Paradigma. Vol. XLI, p. 57-79.
• PASSEGGI, Maria da Conceição. Narrativas de experiência na pesquisa-formação: do sujeito epistêmico ao
sujeito biográfico. Roteiro, v. 41, n.1, p.67-86, jan./abrl.2016.
• PASSEGGI, Maria da Conceição. Reflexividade narrativa e poder auto(trans)formador. Revista Práxis
Educacional. V.17, n.44, p.93-133, jan./mar. 2021.
• ZABALZA, M. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Porto Alegre:
Artmed, 2004.

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