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Hepatites

Hepatite A
Infeção provocada pelo vírus da Hepatite A (VHA) que entra no organismo
através do aparelho digestivo e multiplica-se no fígado, causando neste órgão a
inflamação denominada hepatite A. A descoberta do vírus ocorreu em 1975,
todavia, na Antiguidade, já se registavam surtos da doença, na altura chamada
«icterícia infeciosa», e eram frequentes as epidemias em períodos de guerra e
de cataclismos.
Raramente esta doença é fatal, embora em adultos afetados por uma doença
hepática crónica - originada por outro vírus ou pelo consumo excessivo de álcool
- a infeção pelo VHA possa provocar a falência hepática, conhecida por hepatite
fulminante; de outro modo, o risco é muito baixo, da ordem de um para mil ou
mesmo para dez mil.
Vírus
A sua denominação é VHA - Vírus da Hepatite A - tem uma dimensão de 27 mm, é da família dos
picornavírus, tal como o vírus da poliomielite.
Este vírus é muito infecioso e é a causa mais frequente de hepatite aguda (mais de 50 por cento dos
casos), apesar da sua presença no sangue ser diminuta e de curta duração. Uma pessoa que não tenha
anticorpos, adquiridos quando teve a hepatite A ou através da vacina, pode ser infetada e transmitir a
doença a outros, mas o risco é pequeno no contacto ocasional.
O chamado período de incubação, que é maior nas crianças do que nos adultos, dura entre 20 a 40 dias,
espaço de tempo em que não se revelam quaisquer sintomas. A infeção pode durar seis meses, mas a
maioria dos doentes recupera ao fim de três semanas.
Modo de transmissão
Em quase metade dos casos de hepatite provocados pelo VHA, não se consegue identificar a origem do contágio, mas
esta doença transmite-se, geralmente, através da ingestão de alimentos ou de água contaminados por matérias fecais
contendo o vírus.
O marisco, por exemplo, pode representar um perigo se a sua proveniência for um viveiro contaminado por água de
esgotos, pois, as ostras, os mexilhões e as amêijoas concentram o vírus existente no seu habitat, transmitindo assim esta
hepatite.
As frutas, os vegetais e as saladas, ou outros alimentos que estejam crus, se manipulados por uma pessoa infetada ou
lavados com água imprópria para consumo podem ser contaminados e, consequentemente, contagiar aqueles que os
ingerem.
As pessoas infetadas podem contagiar outras durante o tempo em que o vírus está a ser expelido do organismo
juntamente com as fezes; com efeito, o risco de contágio é maior no período de incubação e na primeira semana em que
se revelam os sintomas. Uma viagem a um país onde as condições sanitárias são deficientes ou a doença é endémica
também pode contribuir para a ingestão do vírus. Durante a gravidez, o feto não corre quaisquer perigos se a mãe estiver
infetada com o VHA.
Nos países desenvolvidos as epidemias de hepatite A são raras, embora possam acontecer, numa pequena dimensão, em
creches, escolas, quartéis ou outro tipo de coletividade. As pessoas contaminadas recuperam por completo, de uma
maneira geral, ao fim de cerca de três semanas.
Os sintomas
A hepatite A pode ser sintomática ou assintomática. Durante o período de incubação, que leva em média de
duas a seis semanas, os sintomas não se manifestam, mas a pessoa infetada já é capaz de transmitir o
vírus.
Apenas uma minoria apresenta os sintomas clássicos da infeção: febre, dores musculares, cansaço, mal-
estar, inapetência, náuseas e vômito. Icterícia, fezes amarelo-esbranquiçadas e urina com cor semelhante à
da coca-cola são outros sinais possíveis da enfermidade.
No entanto, muitas vezes, os sintomas são tão vagos que podem ser confundidos com os de uma virose
qualquer. O paciente continua levando vida normal e nem percebe que teve hepatite A.
Tratamento
Não existem medicamentos específicos para tratar esta doença. Este tipo de hepatite trata-se,
essencialmente, com repouso, durante a fase aguda, até que os valores das análises hepáticas voltem ao
normal e a maioria das pessoas restabelece-se completamente em cinco semanas. Quando se aconselha
repouso isso não significa que se permaneça na cama mas sim que devem ser evitados grandes esforços
físicos.
Também não se recomenda qualquer dieta especial; a alimentação deve ser equilibrada como, aliás, o bom
senso indica em todas as ocasiões: rica em proteínas e com baixo teor de gorduras. Nos casos em que
surjam diarreia e vómitos, para evitar a desidratação, devem beber-se muitos líquidos, entre os quais não
se inclui o álcool, já que este, mesmo em pequena quantidade, agrava a lesão do fígado. As náuseas e a
falta de apetite fazem-se sentir com maior intensidade no final do dia e, por essa razão, a refeição mais
completa deve ser tomada durante a manhã.
Vacinação
Há duas vacinas contra a hepatite A. Uma deve ser aplicada em duas doses com intervalo de seis meses; a
outra, em três doses distribuídas também nesses seis meses.
A vacina contra a hepatite A não faz parte do Programa Oficial de Vacinação oferecido pelo Ministério da
Saúde, mas deve ser administrada a partir do primeiro ano de vida, porque sua eficácia é menor abaixo
dessa faixa etária.
Pessoas que pertencem ao grupo de risco ou que residem na mesma casa que o paciente infetado também
devem ser vacinadas.
Recomendações
• Não coma frutos do mar crus ou mal cozidos. Moluscos, especialmente, filtram grande volume de água
e retêm os vírus, se ela estiver contaminada;
• Saiba que ostras que se comem cruas e mariscos são transmissores importantes do vírus da hepatite A;
• Evite o consumo de alimentos e bebidas dos quais não conheça a procedência nem saiba como foram
preparados;
• Procure beber só água clorada ou fervida, especialmente nas regiões em que o saneamento básico
possa ser inadequado ou inexistente;
• Lave as mãos cuidadosamente antes das refeições e depois de usar o banheiro. A lavagem criteriosa das
mãos é suficiente para impedir o contágio de pessoa para pessoa;
• Não ingira bebidas alcoólicas durante a fase aguda da doença e nos três meses seguintes à volta
das enzimas hepáticas aos níveis normais;
• Verifique se os instrumentos usados para fazer as unhas foram devidamente esterilizados ou leve
consigo os que vai usar no salão de beleza.
Hepatite B
A Hepatite B é uma infeção viral que ataca o fígado e pode causar doença aguda ou crónica. O Vírus da
Hepatite B (VHB) é extremamente contagioso, sendo as suas principais vias de transmissão: os fluidos
genitais (esperma e secreções vaginais), fluidos corporais (sangue, urina e saliva), e o leite materno.
É a mais perigosa de todas as hepatites, pois o risco de morte por cirrose ou/e cancro do fígado é muito
elevado. No entanto, a infeção pode, em determinados casos, ser eliminada pelo organismo. Mais de 90%
dos adultos saudáveis que são infetados com Hepatite B recuperam e libertam-se do vírus no período de 6
meses.
Vírus
O vírus da hepatite B é um Hepadnavirus com genoma de DNA bicatenar (dupla hélice) circular. Tem
predileção forte pela infeção dos hepatócitos do fígado. Ele multiplica-se no núcleo da célula infetada,
utilizando as enzimas de replicação de DNA da própria célula humana. A sua replicação invulgar consiste na
formação de RNA a partir do genoma de DNA, que são usados na síntese das proteínas virais, e RNA
especial que depois é convertido em DNA pela enzima transcriptase reversa, uma enzima que será mais
característica dos retrovírus
Transmissão
O VHB tem a capacidade de sobreviver fora do organismo por mais de uma semana, mantendo-se ativo
neste período. No organismo encontra-se no sangue e em algumas secreções corporais (sémen, secreções
vaginais e saliva).
As vias de transmissão mais frequentes são:
 Via sexual (forma mais comum de transmissão na Europa Ocidental). Ter múltiplos parceiros sexuais e
não utilizar preservativo são fatores que aumentam significativamente o risco.
Via parentérica:
 partilha de agulhas/seringas contaminadas, tatuagens, acupuntura, piercings (se utilizado material não
esterilizado)
 partilha de escova dos dentes, lâminas de barbear ou outros utensílios de uso pessoal que possam
conter sangue contaminado
transfusões sanguíneas e transplante de órgãos (vias raras de transmissão)
 Transmissão vertical (de mãe para filho), que acontece durante ou imediatamente após o parto. A
cesariana não impede a transmissão do vírus.
Sintomas
Quando presentes, os sintomas de infeção aguda podem imitar um quadro gripal com:

 febre
 dor abdominal
 fadiga
 diminuição do apetite
 náuseas
 icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos)
 urina escura
 Nos casos mais graves pode ocorrer insuficiência hepática (falência do funcionamento do fígado),
caracterizada por icterícia, acumulação de líquidos e confusão mental.
tratamento
A hepatite B aguda normalmente não necessita de tratamento específico. Na maioria dos casos, o sistema
imunitário controla a infeção e consegue eliminar o vírus num período de cerca de 6 meses.
Na hepatite B crónica, a terapia antiviral está muitas vezes recomendada, atingindo-se o controlo do vírus
na grande maioria dos casos. Embora não cure a infeção, tem o potencial de reduzir ou até mesmo reverter
a lesão do fígado, prevenindo complicações a longo prazo. No entanto, nem todos os doentes com hepatite
B crónica necessitam de tratamento imediato, recomendando-se, nestes casos, vigilância a longo prazo.
No tratamento da hepatite B existem vários medicamentos antivirais disponíveis. Uma vez iniciado o
tratamento é necessário acompanhamento médico regular para monitorização da eficácia, vigilância de
efeitos secundários e deteção de resistências à terapêutica.
O transplante hepático pode ser a única alternativa de tratamento em indivíduos com hepatite B crónica e
cirrose hepática avançada ou cancro do fígado em estádios precoces.
Vacinação
A vacinação contra a hepatite B é o elemento chave da prevenção. As vacinas contra o VHB (disponíveis
desde 1982) são seguras e apresentam uma eficácia de 95% na prevenção da infeção.
Em Portugal, a vacina está integrada no Programa Nacional de Vacinação desde 1995. É recomendada a
administração da:

 1ª dose logo após o nascimento ainda na maternidade/hospital


 2ª dose aos 2 meses de idade
 3ª dose aos 6 meses de idade
 A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todas as crianças sejam vacinadas contra a
hepatite B, idealmente nas primeiras 24 horas de vida. A eficácia desta vacina depende da administração d
todas as doses recomendadas.
Hepatite c
Hepatite C é uma doença viral que leva à inflamação do fígado e raramente desperta sintomas. Na verdade,
a maioria das pessoas não sabe que tem hepatite C, muitas vezes descobre através de uma doação de
sangue ou pela realização de exames de rotina, ou quando aparecem os sintomas de doença avançada do
fígado, o que geralmente acontece décadas depois.
A Hepatite C é um dos três tipos mais comuns de hepatite viral.
De acordo com o Fundo Mundial para a Hepatite da Organização das Nações Unidas, cerca de 500 milhões
de pessoas no mundo está infetada com os vírus da hepatite B e C, e apenas 5% delas sabem que tem a
doença. No Brasil, existem cerca de 1,5 milhão de pessoas infetadas pela hepatite C, doença responsável
por 70% das hepatites crônicas e 40% dos casos de cirrose, segundo dados do Ministério da Saúde.
vírus
O VHC pertence à família dos flaviviridae e o seu genoma é constituído por ARN. Encontra-se no indivíduo
doente e tem um período de incubação que oscila entre os 40 e os 70 dias. Tal como o vírus da SIDA é
capaz de se modificar e de se camuflar, o que dificulta uma resposta adequada do sistema imunitário.
O tipo de vírus mais frequente em Portugal é o 1b, responsável por cerca de metade das hepatites C e o
que mais afeta as pessoas que foram contaminadas através de uma transfusão sanguínea. O genótipo 3a é
comum nos toxicodependentes intravenosos que são normalmente doentes mais jovens e que adquiriram a
infeção há menos tempo. Nos últimos 3-5 anos temos assistido a um aumento da frequência do genótipo 4
em Portugal e, nalgumas zonas atinge já os 10-12%. Os genótipos 5 e 6 são raros, encontrando-se mais
frequentemente em África e na Ásia. Segundo alguns especialistas, é possível que numa mesma pessoa
possam coexistir dois tipos diferentes do VHC. Estas diferenças nas populações de vírus dificultam a
elaboração de uma vacina.
Transmissão
O Vírus da hepatite C transmite-se, principalmente, por via sanguínea, bastando uma pequena quantidade
de sangue contaminado para transmiti-lo, se este entrar na corrente sanguínea de alguém através de um
corte ou uma ferida, ou na partilha de seringas. A transmissão por via sexual é pouco frequente e o vírus
não se propaga no convívio social ou na partilha de loiça e outros objetos. Apesar de o vírus já ter sido
detetado na saliva, é pouco provável a transmissão através do beijo, a menos que existam feridas na boca.
O risco de uma mãe infetar o filho durante a gravidez ronda os seis por cento, contudo, ainda não se sabe
se a infeção ocorre durante a gravidez ou no período peri-parto. A maior parte dos médicos considera a
amamentação segura, já que, em teoria, o vírus só poderia ser transmitido se se juntassem duas situações:
a existência de feridas nos mamilos da mãe e de cortes na boca da criança.
Por vezes, são detetados anticorpos nos filhos de mães portadoras, o que não significa que a criança esteja
contaminada. Normalmente, os anticorpos acabam por desaparecer ao fim de 12 ou 18 meses, pelo que só
depois desse período devem ser feitos testes para perceber se o bebé foi de facto, infetado.
Em cerca de um terço dos casos não é possível determinar a origem do contágio.
Sintomas
Hepatite C tem formas aguda e crônica. A maioria das pessoas que está infetada com o vírus tem hepatite C
crônica, pois a doença geralmente não manifesta sintomas em sua fase inicial.
Os seguintes sintomas podem ocorrer com a infeção por hepatite C, e são decorrentes da doença do fígado
avançada:
 Dor abdominal;
 Inchaço abdominal;
 Sangramento no esôfago ou no estômago;
 Urina escura;
 Fadiga;
 Febre;
 Coceira;
 Icterícia;
 Perda de apetite;

Tratamento
A hepatite C é considerada crónica quando a infeção permanece no organismo por mais de seis meses. Até
há algum tempo, o tratamento para combater o vírus era feito com interferão alfa, mas atualmente faz-se
um tratamento combinado, com peginterferão e ribavirina, que tem demonstrado melhores taxas de
resposta e é melhor tolerado pelos doentes.
A eficácia do tratamento é, em termos globais, de cerca de sessenta por cento; isto é, mais de metade dos
doentes deixam de ter o vírus no sangue quando se procede à sua determinação seis meses após a
conclusão do tratamento. Mas a taxa de resposta não é igual para todos os genótipos, varia entre 45 e 55
por cento no genótipo 1 e ronda os oitenta por cento nos genótipos 2 e 3. Existe hoje um recuo de tempo
suficientemente longo após o tratamento para se poder falar em cura da infeção nos doentes que obtêm
resposta. A rediciva da infeção habitualmente ocorre nos seis meses imediatamente após a conclusão da
terapêutica, sendo excecional depois desse período.
Medicação
Os medicamentos mais usados para o tratamento de hepatite C são:
 Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a
dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e
NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes
e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as
instruções na bula.
Prevenção
Na ausência de uma vacina contra a hepatite C, o melhor é optar pela
prevenção, evitando, acima de tudo, o contacto com sangue contaminado.
Alguns dos cuidados passam por não partilhar escovas de dentes, lâminas,
tesouras ou outros objetos de uso pessoal, nem seringas e outros
instrumentos usados na preparação e consumo de drogas injetáveis e
inaláveis, desinfetar as feridas que possam ocorrer e cobri-las com pensos e
ligaduras. Devem ser sempre usados preservativos nas relações sexuais
quando existem múltiplos parceiros, mas, como a transmissão por via sexual é
pouco frequente, o uso nas relações entre cônjuges habitualmente não se
justifica.

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