Você está na página 1de 20

Metacognição

Aprendendo a Aprender
Sérgio Luís Boeira
(2011)
Definição

Javier Burón chama a atenção para o fato de que o


termo metacognição não é claro, na medida em que
seus componentes, meta e cognição, não são claros. Se
o prefixo meta for traduzido por mais além e o termo
cognição for considerado sinônimo de conhecimento, o
resultado será mais além do conhecimento, o que não
esclarece o campo de estudo a que o termo
metacognição se refere.
Apesar da diversidade de definições, diz o autor,
todas se referem ao “conhecimento e regulação de
nossas próprias cognições e de nossos processos
mentais” (BURÓN, 2002, p. 10). Ele diz que talvez seja
melhor conceber a metacognição como conhecimento
auto-reflexivo, já que se refere ao conhecimento de
nossa mente obtido por auto-observação.
O autor faz uma abordagem crítica das escolas e
professores que não estimulam o aprendizado de
técnicas ou estratégias de aprendizagem visando
proporcionar autonomia e maturidade aos estudantes,
enquanto desperdiçam muito tempo e recursos no
ensino de detalhes secundários sobre os conteúdos das
diversas disciplinas.
A insistência em privilegiar a transmissão de
conteúdos em detrimento do processo de aprender a
aprender é flagrantemente contraditória e negativa em
um contexto de multiplicação de informações, de
revistas, de bancos de dados eletrônicos e de difusão
rápida pela internet, satélites, etc. Professores e escolas
que dão pouca atenção à pedagogia seguem na
contramão da história.
A seguir, apresenta-se uma síntese, tradução e
adaptação de conceitos propostos por Burón (2002,
capítulo 1) como fundamentais no estudo da
metacognição: a) Meta-atenção: conhecimento dos
processos implicados na ação de aprender; como evitar
distrações; b) Metamemória: conhecimento das formas
de memorizar, dos processos implicados na
memorização; c) Metaleitura: conhecimento das formas
de leitura, da qualidade da leitura, dos motivos, das
operações mentais implicadas na leitura;
d) Metaescritura: conhecimento das operações mentais
implicadas na comunicação escrita, avaliação dos
motivos, finalidades e qualidades desta; e)
Metacompreensão: conhecimento da própria
compreensão, de suas limitações e qualidades, de suas
diferenças em relação à imaginação, à dedução e
memorização; f) Metaignorância: desconhecimento da
própria ignorância. A ignorância é não saber, a
metaignorância é não saber que não se sabe.
São, portanto, cinco formas de conhecimento e uma
forma de desconhecimento. A primeira está associada
aos processos mais fundamentais do autoconhecimento,
à concentração, à reflexão e à meditação. A segunda
está associada às técnicas e formas de memorização e
tem vínculo com o domínio de recursos de computação.
A terceira está associada à capacidade de reflexão
durante e após a leitura, visando classificação,
julgamento, seleção, assimilação, síntese, etc.
A quarta está associada à capacidade de redigir com
clareza, coerência e consistência, além de estar
vinculada aos motivos e finalidades da escrita. A quinta
está associada à compreensão da compreensão, à
capacidade de conceber uma compreensão complexa,
tanto objetiva quanto subjetiva. Por fim, a forma de
desconhecimento denominada metaignorância está
associada à falta de todas as formas anteriores de
conhecimento, especialmente à falta de
metacompreensão.
Estratégias Metacognitivas

A abordagem de Burón é complementada


adequadamente pela abordagem de Mayor e seu grupo
de pesquisa (1995), segundo afirma Portilho (2009).
Para Mayor, metacognição é sinteticamente definida
como cognição sobre cognição. Ele propõe um modelo
de atividade, que, além de conter os dois componentes
básicos – consciência/regulação e controle –, incorpora
o componente autopoiese, que articula os dois
anteriores. Portilho propõe que se considere estes três
elementos como estratégias metacognitivas.
Estratégia de Tomada de consciência sobre os níveis de
consciência consciência, como consciência vaga,
intencionalidade, introspecção ou reflexão.
Regulação dos próprios processos
cognitivos.
Estratégia de Reforço de controle cognitivo, incluindo
controle atividades automatizadas. Inclui ação
dirigida a metas conscientemente
estabelecidas. O autocontrole seria o uso de
estratégias do indivíduo visando tornar mais
eficiente sua aprendizagem.
Estratégia de A capacidade autoconstrutiva natural é
autopoiese acentuada conscientemente pela estratégia
metacognitiva de autopoiese, com
articulação das duas estratégias anteriores.
Estratégia de Consciência
Aqui destaca-se o autoconhecimento, que é a base da
metacognição. Aquele que se conhece melhor, que
conhece mais profundamente sua própria história, sua
vida, suas emoções, suas próprias ideias, também pode
conhecer melhor suas formas de aprendizagem.

Tornar-se consciente de si mesmo, pela auto-


observação constante, pela observação dos seus
próprios pensamentos e sentimentos, sem pressa de
julgá-los ou classificá-los, representa o início do
autoconhecimento consciente ou metacognitivo.
Estratégia de Controle
Aqui se destaca a intenção e a habilidade de
transformar o caos em ordem. Essa transformação se
apresenta como uma necessidade e um impulso
naturais da consciência humana, em busca de algo que
tenha sentido, significado.
A estratégia de controle visa tornar específico e
ordenado o conhecimento, a partir de metas como a de
contextualizar, resumir, comparar, classificar e criticar o
conhecimento. Visa sobretudo obter uma aprendizagem
eficiente.
Estratégia de Autopoiese
Nesse caso as duas estratégias anteriores são
articuladas, combinadas. Uma atenção ampla da
consciência sobre si mesma, sobre seus
condicionamentos, seus automatismos, sua autocriação
natural (autopoiese) – é articulada conscientemente com
a intenção de conhecer com mais eficiência e controle.

Assim, o sujeito se autocontrola racionalmente sem


isolar-se de suas próprias emoções, percepção e
intuição. Isto requer uma razão aberta. A autopoiese
metacognitiva visa um equilíbrio dinâmico e saudável no
processo de aprendizagem.
Autonomia e Maturidade
Essas estratégias visam estimular a autonomia e a
maturidade do sujeito que estuda. Pressupõem que este
não seja um sujeito sem luz própria. O significado da
palavra a-luno é aquele que não tem luz. O aluno é
passivo. Recebe o conhecimento pronto de quem
pretende ensiná-lo. O sistema convencional de
aprendizagem pressupõe que o aprendizado é limitado à
memorização e à reprodução fiel dos conteúdos. Já a
autonomia e a maturidade pressupõem que cada um, ao
aprender, desenvolve ideias próprias, estilo próprio,
ampliando sua consciência ou luz natural, representada
por sua capacidade de atenção e autoconhecimento.
Referências
 BURÓN, J. Enseñar a Aprender: Introducción a la
Metacognición. 6ª ed. Editora Mensajero: Bilbao, 2002.
 PORTILHO, E. Como se aprende? Estratégias, estilo e
metacognição. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
 MAYOR, J. SUENGAS, A.; MARQUÉS, J. Estratégias
metacognitivas. Aprender a aprender y aprender a
pensar. Madrid: Sínteses, 1995.

Você também pode gostar