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AULA 4

NEUROCIÊNCIA DAS EMOÇÕES

Profª Adiele M. S. Corso


CONVERSA INICIAL

A inteligência emocional tem tido importante destaque no campo das mais


variadas ciências. Nas neurociências, a neurociência das emoções apresenta
importantes descobertas a nível estrutural e anatômico no cérebro, envolvendo
áreas diretamente ligadas às emoções, relacionadas ao aspecto cognitivo no
processo de ensino e aprendizagem.
A psicologia entende a inteligência emocional como uma capacidade ou
habilidade que facilita a avaliação e o reconhecimento de suas emoções, tanto
em si quanto nos demais, além de reconhecer, avaliar, analisar e desenvolver
estratégias e habilidades de se lidar com as emoções.
Historicamente falando, Charles Darwin estudou a evolução e, em uma de
suas obras, já tratava a respeito da importância das emoções para a
sobrevivência das espécies, bem como para desenvolver a capacidade de
adaptação ao meio ambiente. No início do século XX, Thorndike utilizou o termo
inteligência social no intuito de entender a capacidade de motivação e
compreensão das pessoas a respeito das demais. Em seguida, com a criação
dos testes psicológicos psicométricos, David Wechsler (criador da escala
Wechsler de inteligência, utilizada até os dias atuais como instrumento medidor
de inteligência – como o Wisc IV e o Wais III) mostrou a influência de fatores não
intelectuais, no sentido além do acadêmico, como capaz de influenciar o
comportamento inteligente. Howard Gardner, em 1983, introduziu o conceito de
inteligências múltiplas, que vão muito além das ensinadas na escola,
academicamente falando, como a inteligência intrapessoal (ligada à capacidade
de compreender os próprios sentimentos e ter estratégias de lidar com eles).
A grande maioria dos autores, como destaca Golleman (2011), atribui a
Wayne Payne o primeiro uso do termo inteligência emocional, em que este fez
referência a esse termo em sua tese de doutorado, em 1985.
Na década de 1990 houve uma verdadeira explosão desse termo, e os
livros sobre ele tornaram-se verdadeiros best-sellers, como a obra de Goleman
intitulado Inteligência Emocional.
Nos dias atuais, esses termos continuam sendo amplamente utilizados,
em especial para quem trabalha no âmbito educacional. Além da inteligência
emocional, um novo termo que vai mais além vem ganhando destaque: a
metainteligência emocional.

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CONTEXTUALIZANDO

No mundo contemporâneo, percebe-se um investimento e valorização


cada vez maior na aquisição do currículo acadêmico do indivíduo. As pessoas
estudam cada vez mais, adquirem vários títulos e especialidades, mas será que
a mesma energia é despendida no investimento emocional?
Para alcançar a tão almejada vaga no mercado de trabalho, o candidato
precisa ter experiência profissional, vasta formação acadêmica e pouca idade.
Além disso, mostrar destreza e habilidade no processo seletivo, muitas vezes
numa concorrência superior ao próprio vestibular.
Inicialmente o recrutador seleciona alguns currículos dentro do perfil
descrito pela empresa, dando início ao processo seletivo. Na seleção presencial
normalmente é feita uma entrevista com cada candidato à vaga, com o objetivo
de analisar o grau de conhecimento acadêmico adquirido. Já nesse momento o
candidato que não demonstrar um conhecimento efetivo é eliminado.
No ramo das neurociências, não existe aprendizado efetivo sem o
envolvimento das emoções, pois ambos são interdependentes e ligados
dialeticamente. Assim, o candidato que adquiriu uma pseudoaprendizagem, ou
memorizou conteúdos aprendidos sem contextualizá-los e aplicá-los dentro de
sua realidade, bem como não teve motivação suficiente para aprender, acaba
sendo desclassificado nesse momento da seleção.
Só que essa não é a única etapa. A seguinte, na maioria das vezes,
envolve dinâmicas de grupo e análise do perfil comportamental do candidato.
Nesta fase, será aprovado aquele que apresentar determinadas competências
emocionais, denominadas de inteligência emocional.
A partir dessa premissa, entende-se a importância de o indivíduo também
realizar uma espécie de investimento afetivo acerca de si mesmo e ter
habilidades sociais ou de relacionamento interpessoais.
Para isso, é necessário ter uma formação acadêmica adequada, mas, de
igual importância, uma formação emocional. Ambas serão plenas se iniciadas a
partir da infância, envolvendo família, escola, técnicas adequadas de
metodologia de ensino e também de compreender o contexto sócio-histórico-
cultural a que essa pessoa pertence.

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TEMA 1 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E APRENDIZAGEM

O que seria a inteligência? Seria aquele aluno com ótimas notas e todas
as tarefas feitas? Provavelmente esse talvez seja um exemplo de aluno
dedicado e estudioso, no entanto a inteligência vai muito mais além de
habilidades acadêmicas específicas.
Golleman (2011) traz a seguinte definição de inteligência emocional:
“capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de
nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos
relacionamentos”. Segundo a sua abordagem, a inteligência emocional envolve
uma habilidade interna capaz de identificar os próprios sentimentos, bem como
das demais pessoas ao redor. Sendo assim, é condição essencial para o
comportamento social, envolvendo uma gama de repertórios de comportamentos
sociais para a vida familiar, acadêmica e social em geral.
Outro aspecto importante de sua teoria é a importância da motivação.
Entende-se como motivação um estado emocional interno, intrínseco,
pertencente ao indivíduo que está experimentando determinada emoção. Assim,
no âmbito educacional, seria possível um professor ensinar um conteúdo
acadêmico se o aluno não se encontra motivado? Ele é capaz de motivar o
aluno? A resposta é sim, se o educador tiver inteligência emocional, envolvendo
características como gentileza, colocar-se no lugar do outro, afabilidade, empatia
e desafiar positivamente o aluno, mostrando a importância daquele
conhecimento para a vida e realidade deste.
Goleman (2011) enquadra a inteligência emocional em cinco habilidades
específicas, que são as seguintes: as ligadas ao autoconhecimento
(automotivação, autoconhecimento emocional e controle emocional) e as que
estão ligadas às habilidades interpessoais (habilidades nos relacionamentos
interpessoais e o reconhecimento das emoções nas demais pessoas). Cada
uma delas se define da seguinte forma:

1. Autoconhecimento emocional: habilidade de reconhecer os próprios


sentimentos e emoções no momento em que eles surgem.
2. Controle emocional: para cada situação ou contexto vivido, é preciso
saber lidar e adequar os próprios sentimentos.
3. Automotivação: canalizar as emoções para um foco ou objetivo que se
deseja alcançar.

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4. Reconhecimento de emoções em outras pessoas: habilidade que
envolve o sentimento de empatia pelo outro, reconhecendo as emoções e
sentimentos das demais pessoas.
5. Habilidade em relacionamentos interpessoais: uso de competências
sociais ou habilidades sociais no relacionamento com as demais pessoas.

As três primeiras são habilidades fundamentais para o processo do


autoconhecimento, permitindo que o indivíduo tenha um maior contato com as
suas emoções, acessando-as de forma que o ajudem a entender e trabalhar
com estratégias eficazes acerca de si mesmo. As habilidades de número 4 e 5
são fundamentais para:

1. Organização de grupos: característica específica dos líderes, envolvendo


iniciativa, coordenar esforços que um grupo realiza em torno de um
objetivo ou tarefa, a obtenção da cooperação mútua e do grupo legitimar
esta liderança.
2. Negociação de soluções: pertencente ao mediador, prevenindo problemas
e resolvendo situações conflitantes ou de impasse.
3. Empatia: significa colocar-se no lugar do outro, no sentido de entender
suas necessidades, propor soluções e canalizar estes sentimentos em
prol do grupo.
4. Sensibilidade social: habilidade para identificar sentimentos e motivações
do grupo.

Atualmente, outro termo vastamente utilizado nas mais variadas áreas é o


de metainteligência emocional, conceito que vai além da inteligência emocional,
referindo-se ao modo como as pessoas se ajustam ou direcionam suas vidas. A
busca não é apenas em torno de uma meta ou objetivo, mas de redescobrir a
essência do indivíduo, daquilo que realmente o move e quais mecanismos
utiliza.
Tem como base conceitos da filosofia, psicologia contemporânea,
programação neurolinguística, coach e das neurociências. Apresenta como
pressupostos principais a autoconexão e a elevação do nível de consciência,
com o objetivo de descobrir quem realmente o indivíduo é, qual a sua verdadeira
essência interior, permitindo uma verdadeira imersão dentro de si, que vai além
do momento presente, qual a diferença que esta pessoa pode fazer no mundo,
no sentido de missão propriamente dita. O termo meta é utilizado para remeter a
pessoa a um posicionamento futuro, a um estado desejado ou almejado. Os
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caminhos para se chegar a essa condição ou estado é foco de estudo da
metainteligência emocional.

TEMA 2 – A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO NO PROCESSO DE


ENSINO E A PRENDIZAGEM

No espectro das neurociências, o autoconhecimento é uma ferramenta


essencial na apropriação dos conhecimentos no âmbito educacional.
O autoconhecimento permite que o educador e o educando tenham
melhor acesso às suas emoções, bem como consigam desenvolver estratégias
para lidar com elas e enfrentá-las. Caso contrário, como consequência, poderão
surgir as dificuldades de aprendizagem.
Muitas vezes ocorrem confusões sobre esses termos, envolvendo
dificuldade de aprendizagem, distúrbio de aprendizagem, transtorno de
aprendizagem e deficiência de aprendizagem. As neurociências os colocam com
conceitos distintos, a saber:

1. Dificuldade de aprendizagem: na maioria das vezes, a origem se deve


a uma condição emocional, que traz repercussões (consequências) no
funcionamento cerebral. Dizem respeito às condições internas (como
estar ansioso antes de uma prova), condições do próprio corpo (como
estar febril no momento de uma prova) ou condições externas (estímulos
vindos dos pais, da comunidade etc.).
2. Distúrbio de aprendizagem: utilizada por alguns autores como sinônimo
de transtorno de aprendizagem.
3. Transtorno de aprendizagem: envolvendo os transtornos de leitura,
escrita e da matemática.
4. Deficiência de aprendizagem: devido a um rebaixamento cognitivo ou
deficiência intelectual.

Falando especificamente sobre as dificuldades de aprendizagem, nas


neurociências, pode-se dizer que ocorre uma falha no processamento de
informações no cérebro, como decorrência das emoções negativas ativadas no
aluno. Como emoção negativa, pode-se citar o medo, ansiedade, angústia,
frustração, desmotivação etc.
Assim, as dificuldades de aprendizagem decorrem de um grupo de
problemas de ordem emocional capazes de alterar o aprendizado normal, tanto

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internas quanto de situações negativas de interação social. De forma subjetiva, o
aluno detecta alguma ameaça de ordem afetiva, através do sistema límbico, e
bloqueia as sinapses (ligações entre os neurônios) favoráveis à boa
aprendizagem.
Através das emoções negativas, o sistema límbico pode ocasionar
disfunções (ao hiperativar ou hipoativar estruturas do sistema límbico) no
sistema nervoso central, afetando o bom funcionamento do sistema límbico e do
potencial para um bom aprendizado.
Esse é o grupo de maior número de pessoas que sofrem falhas no
processo do aprendizado. Normalmente são indivíduos com bom potencial
cognitivo, no entanto com resultados de rendimento escolar ruim (Damásio,
2003).
Ao interpretar negativamente uma situação de aprendizagem, como se
sentir ameaçado, ou o educador passar o conteúdo de forma negativa
(envolvendo pressão, ameaças, cobranças extremas ou ensinar de forma pouco
motivadora), a consequência para o aluno é de uma inibição neuronal,
envolvendo a possibilidade de um não aprendizado efetivo.

Isso ocorreria da seguinte forma:

Não aprendizagem
Emoções negativas podem gerar

Emoções positivas Grandes facilitadores da


aprendizagem
As emoções positivas podem se traduzir em tranquilidade, empatia,
colocar-se no lugar do aluno, confiança, oferecer atenção, entre outros. Essas
emoções são capazes de ativar o entusiasmo, a disposição, a motivação e a
perseverança no aluno, favorecendo a aprendizagem.
A emoção é parte do processo da aprendizagem e é capaz de mudar a
estrutura cerebral conforme as experiências que o aprendiz experimenta.
Portanto, o aprendizado é um ato de plasticidade cerebral – capacidade de o
cérebro se moldar e modificar de acordo com as experiências de aprendizagem
a que é submetido.

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TEMA 3 – FATORES QUE SE RELACIONAM COM AS MUDANÇAS NO
DESENVOLVIMENTO DAS EMOÇÕES E APRENDIZAGEM

O ser humano está em constante e crescente transformação, seja através


de mudanças corporais, emocionais, culturais e sociais. Entender os fatores que
se relacionam com as mudanças no desenvolvimento é fundamental para quem
trabalha com a educação.
Um deles seria a etapa de vida em que a pessoa se encontra, mostrando
que a mesma experiência vivida em diferentes momentos da vida pode ter
significados distintos.
Um exemplo seria o conceito de escola que o aluno possui. Na primeira
infância, é visto como um desafio entre o sair da segurança da família de origem,
mas, ao mesmo tempo, é motivador, pelas novidades oferecidas no novo
ambiente, como a figura do professor, as atividades em sala de aula, a rotina e
os amigos. Já na segunda infância, o que importa é a motivação e a busca pelo
saber, para dominar a leitura, a escrita e o significado dos números; os amigos já
são vistos como quase parte da família. Na adolescência, com maior crítica,
pode haver certa desmotivação e também o desejo de pertencer a um grupo
(tribo) com que se identifique.
A ideia não é de entender o ser humano dentro da psicologia
desenvolvimentista, em que cada comportamento ou atitude pertence
exclusivamente a uma fase do desenvolvimento específica, mas sim de
compreender que, em cada momento, através da interação com o meio
ambiente, as novas experiências são capazes de moldar e adaptar o cérebro e
de formar novos conceitos a respeito de si mesmo, do grupo, e do mundo.
Além disso, a influência cultural, social e histórica envolve padrões
culturais e sociais. Aqui caberia o valor do conhecimento em cada cultura, dentro
da sociedade, e que pode ser distinto ou transformado conforme a evolução ou
momento histórico específico.
O fator envolvendo as experiências particulares de cada indivíduo seria o
significado de todas essas experiências na vida da pessoa. Por exemplo, um
aluno que sofre bullying pode trazer consequências emocionais negativas para
si, bem como para o rendimento escolar e os relacionamentos com grupos e
autoestima.

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TEMA 4 – FAMÍLIA, ESCOLA E CULTURA

A escola desempenha um papel fundamental na transmissão do


conhecimento e subsequente aprendizagem. Além de auxiliar no
desenvolvimento cognitivo, é capaz de propiciar experiências na construção de
valores – no sentido ético e moral – e favorecer a aquisição de habilidades
emocionais e sociais.
Um dos principais obstáculos é cumprir de forma eficaz esse papel. A
eficácia depende da escola na formação do aprendizado efetivo no aluno, no
entanto, para que isso ocorra, é fundamental compreender que essa função não
é exclusiva da escola.
Existe uma rede de fatores relacionados, envolvendo a aliança entre
escola e família, entre educador e educando, dos fatores individuais de cada
aluno, da estrutura escolar como um todo, da cultura envolvendo os costumes a
realidade do aluno, entre vários outros.
Em muitos casos, um obstáculo importante é a adesão e o
comprometimento familiar. Muitas famílias, pelos mais variados motivos,
consideram que a educação é uma função exclusiva da escola. Transmitir o
conhecimento, motivar o aluno, atingir bons resultados acadêmicos e propiciar
um bom desenvolvimento emocional, social, ético e moral vai muito além do que
é ensinado na escola.
Conforme previsto no artigo 227, caput, da Constituição Federal (Brasil,
1988)

Art. 227 - é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Cabe aos pais participar ativamente na vida escolar de seus filhos,


comparecendo às reuniões escolares, verificando diariamente o que seu filho
está aprendendo e mostrar-lhe a importância da aplicação dos conceitos
aprendidos em sua vida diária, motivando-o sobre a finalidade para a vida
daquele determinado aprendizado – essa é a meta-aprendizagem ou
aprendizagem efetiva.
Pais presentes na vida escolar aumentam a probabilidade de aumento de
rendimento acadêmico de seus filhos, os quais se mostram mais motivados ao

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aprendizado. Além disso, diminuem as queixas comportamentais, como
agressividade verbal e/ou física, crises de birra, timidez, introspecção,
autoestima baixa, entre outros.
Sobre o educador, torna-se indispensável o investimento acadêmico
contínuo, entendendo que a educação e as abordagens se modificam e se
transformam continuamente. A forma como o educador aprendeu não é mais a
mesma que ele irá transferir ao seu aluno, pois o aluno vive em outro contexto
sócio-histórico-cultural, mostrando outros interesses ou motivações. O professor
deve apresentar domínio dos conceitos que irá abordar, mas de igual
importância é o educador apresentar inteligência emocional, envolvendo
habilidades sociais, como demonstrar confiança ao aluno, aliadas com afeto e
limites.
A aliança entre família, escola e o entendimento da cultura e valores no
qual este indivíduo aprendiz está inserido torna-se fundamental na elaboração
de estratégias eficazes e essenciais para um desenvolvimento pleno.

TEMA 5 – ADAPTAÇÃO SOCIAL NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Para se compreender os padrões de atitudes e comportamentos da


criança e do adolescente, é de suma relevância entender a realidade e o
contexto em que vivem.
É preciso entender o indivíduo como ser único, com características
específicas e que são capazes de diferenciá-lo frente às demais pessoas. Para
isso, além de trabalhar para a aquisição do conhecimento e si, da formação da
inteligência emocional, do professor, escola e família, é importante compreender
os valores do mundo contemporâneo.
Este mundo seria o macrossistema, sistema maior em que esse indivíduo
está inserido, em que fatores individuais, escola, família e cultura formam o
microssistema, cujas estruturas se entrelaçam entre si, formando uma espécie
de rede emaranhada.
Sobreviver e adaptar-se aos costumes sociais pode ser uma tarefa árdua.
Um exemplo disso seria a definição de papéis dos pais. Especificamente, no
mundo moderno, a mãe saiu em busca de uma qualificação no mercado de
trabalho, tarefa antes exclusivamente masculina.
No entanto, essa busca tem trazido como consequência o acúmulo de
papéis da mulher na sociedade, pois ela passou a ser a mãe, a profissional, a

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esposa e a responsável pelo lar e pela educação pelos filhos. Em muitos lares
onde ainda não há uma divisão de papéis e tarefas, ocorrem inúmeros conflitos
decorrentes do stress materno.
Em contrapartida, o pai, na maioria das vezes, não foi educado para lidar
com uma esposa independente financeiramente, ou mais atenta às
necessidades e novidades do mundo moderno. A partir do momento em que ela
sai de casa, seu repertório de vínculos sociais e de observação do mundo se
expandem, deixando-a mais questionadora, crítica e menos tolerante.
Juntando-se a isso, ambos trabalham cada vez mais e necessitam de
uma qualificação crescente, em vista da acirrada disputa no mercado de
trabalho.
Como consequência, esses filhos convivem cada vez menos com seus
pais, sendo muitas vezes na mão de cuidadores (envolvendo avós, funcionários
do lar ou período integral na escola), tornando cada vez mais difícil aos pais
acompanhar o desenvolvimento de seus filhos e motivá-los ao aprendizado.
No pouco tempo em que passam juntos, muitos optam por atividades
solitárias, mesmo estando dentro de um mesmo ambiente.
Nesse caso, a cultura do consumismo mostra a importância de se ter algo
para ser alguém. A indústria tecnológica mostra-se cada vez mais eficaz como
um meio para se lidar com esse vazio ou estresse, manifestando-se com
propagandas apelativas da importância de se ter determinado objeto de
consumo como fonte de gratificação pessoal imediata. Alia-se a ideia de poder
ao fato de se possuir algo, bem como de pertencer a um determinado grupo.
Muitos pais oferecem ao filho o objeto desejado numa tentativa de
amenizar a culpa de sua ausência ou no sentido de reparar para eles mesmos o
que no passado não tiveram
Crianças e adolescentes necessitam de afeto a atenção dos pais, no
sentido de estarem presentes na vida do filho, envolvendo investimento afetivo.
Saber dosar o que se deve oferecer ou não ao filho como objeto de consumo é
um desafio, tarefa que demanda habilidades específicas dos pais, envolvendo
limites, necessidade, afeto e atenção.

FINALIZANDO

Desenvolver competências emocionais não é algo simples. Exige um


verdadeiro mergulho ou imersão em torno de si mesmo, e tomar conhecimento

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das próprias emoções pode ser um caminho doloroso, pois se trata da parte
mais íntima do ser humano.
Pode parecer mais tranquilo “deixar as emoções de lado” e dedicar-se
exclusivamente ao processo de ensino e aprendizagem, no entanto sem essa
imersão, a aprendizagem é rasa, não efetiva e com pouco significado para a vida
do aluno.
Conhecer as próprias emoções requer coragem e o desejo de investir no
entendimento das próprias emoções e sentimentos. Assim surge o conceito de
inteligência emocional, envolvendo habilidades ou caminhos específicos para se
chegar ao tão almejado objetivo. Com base nos conceitos já estudados nesta
aula 4, entende-se que inteligência emocional envolve um profundo
conhecimento de si mesmo, bem como de habilidades específicas para um bom
relacionamento social ou em grupo.
A metainteligência emocional vem como um novo elo na inteligência
emocional, pois contempla também uma aprendizagem emocional para o sentido
da vida ou essência maior.
Entender esses processos é fundamental para quem trabalha com ensino
e aprendizagem, pois já é sabido da importância de aliar emoções positivas com
o ensino, para que este saia de um âmbito puramente acadêmico e transcenda
para o sentido que esse conhecimento fará na história de vida do indivíduo, visto
como ser único, na sua especificidade, capaz de formar opiniões, conceitos e
transformá-los a favor de si e de sua realidade.
O mundo moderno pode trazer muitos obstáculos e armadilhas nesse
percurso, como pais ausentes, com excesso de trabalho, a cultura do
consumismo e da compensação e até educadores com nível excessivo de stress
ou com métodos ineficazes. Entender o contexto sócio-histórico-cultural pode ser
a chave, envolvendo todos os componentes e responsabilizando cada um
acerca da importância de se envolver neste processo, como ser ativo, formando
uma verdadeira teia – escola, aluno, metodologias de ensino, emoções, pais,
cultura e sociedade.

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