I CHING A civilização chinesa é uma das mais antigas formações humanas ainda existentes, remontando seu passado há mais de 5 mil anos. O I Ching teria sido produzido em uma época mística por um imperador legendário da China, chamado Fu Xi (Imperador Vermelho), livro das mutações ou transmutações, foi trazido por uma tartaruga negra e entregue a Fu Xi, através do seu casco onde estavam gravados os 64 hexagramas e uma outra lenda diz que o I Ching foi trazido por um cavalo alado e o livro estava gravado no dorso contendo inúmeros símbolos, sem texto. Esses símbolos representam o chamado “estágio da mutação”, que são elucidados como fases da vida e os ciclos da natureza dos seres. A partir de 1150 a.C, o duque Chou e seu pai, o rei Wên, incluíram textos aos símbolos, pois consideravam-nos muito difíceis de serem compreendidos, e a escrita seria a solução para esse caso. Foram acrescentados também apêndices explicativos pelo filósofo chinês Confúcio. Essa é a grande tônica do I Ching: a mudança. Não por acaso, ele também é conhecido como “o livro das mutações”, pois falará que no mundo manifestado não há absolutos, tudo está em constante movimento. Mas para entendermos essa ideia é preciso que saibamos minimamente como essa doutrina filosófica chinesa pensa a própria formação do Universo e suas leis. Sendo assim, vamos à cosmogonia chinesa. Para os antigos chineses, o Universo era representado como um grande dragão dourado. O dragão era um símbolo de força e poder, mostrando assim a grandeza e valor dos elementos do cosmos; já a cor dourada estava associada diretamente ao espírito, ao divino. Assim, esse grande dragão dourado era o princípio universal, a grande potência formadora de todos os aspectos da matéria e que em sua essência contém todo o espírito universal. É, portanto, a causa primeira da criação. A partir desse princípio universal, cria-se a primeira dualidade: os princípios Yin e Yang. Podemos associá-los a outras oposições como “céu” e “terra”, “positivo” e “negativo”, mostrando assim a primeira forma de relação entre essas forças. Dessa maneira, o princípio Yin está relacionado com a receptividade, é um movimento interior, às vezes tido como passivo. Já o princípio Yang é o expansivo, é a polaridade ativa e que tende a caracterizar mais força e ímpeto. É a partir desses dois princípios que todo o Universo irá tomar forma, pois só há movimento quando existe dualidade. Na Unidade, quando tudo é Um, não há movimento, pois tudo já o é. Graças a oposição é que podemos nos movimentar e, por isso, mudar, desenvolver-se e criar novas relações. Nesse sentido, o I Ching vai mostrar como essa dualidade manifestada faz com que possamos nos mover. Na perspectiva do I Ching, a partir desses dois princípios quando combinados surgem 4 bigramas, como são chamados. A nível de representação, os antigos chineses colocaram um traço inteiro ( -) como o princípio Yang e o traço segmentado (- -) como Yin. Devido a essa forma de representar, é comum vermos os hexagramas do I Ching como uma série de traços, ora inteiros, ora segmentados. Mas vamos explicar antes como se formam estas combinações. Como falamos, do Yin e Yang surgem 4 bigramas. Estes são: positivo-positivo (duas barras inteiras), negativo-positivo (barra segmentada e barra inteira), positivo-negativo (barra inteira e barra segmentada) e negativo-negativo (duas barras segmentadas). Diferentemente da matemática convencional, a ordem dos bigramas afeta no resultado final, pois a maneira que se combina gera uma nova forma de energia. Assim, dos quatro bigramas irão surgir novas combinações. Formam-se então trigramas e estes, quando combinados entre si, vão gerar novas formações até chegar ao número 64 hexagrama, ou seja, seis “linhas” que combinadas formam uma ideia. Para se ter um hexagrama, forma-se dois trigramas, um superior e outro inferior, como no exemplo abaixo : Os 64 símbolos O Livro é constituído essencialmente por 64 símbolos, que revelam detalhadamente as 64 etapas dos ciclos universais, tais como os santos sábios observaram no céu e na terra. Traduzidos genericamente por hexagramas (guà, em chinês), cada um desses símbolos inclui os seguintes textos e elementos: o ideograma, o nome escrito em chinês, é por si só repleto de significados simbólicos. Nos exemplos abaixo, Tai é o nome do hexagrama 11, que se traduz por Paz. Jia Ren é o título do hexagrama 37, traduzido ao português como Família. o hexagrama propriamente dito é o símbolo constituído por 6 linhas (inteiras e cortadas). Ele é a representação abstrata, simbólica, de cada estágio de transmutação. Recebeu esse nome, nas línguas europeias, por ser constituído de seis (hexa) linhas. Abaixo, dois exemplos de combinação de linhas inteiras e quebradas: hexagramas 11 – Paz e 37 – A Família. - o texto, também chamado julgamento ou oráculo, revela em linguagem simbólica o significado do hexagrama. O texto tradicional tem poucas frases e, para ajudar o leitor a traduzir o ensinamento ancestral, vem acompanhado de comentários e interpretações adicionados no correr dos séculos. - a imagem ou símbolo traz uma mensagem adicional, que oferece um modelo de conduta ou um conselho estratégico para lidar com a situação indicada pelo hexagrama. - os textos das linhas, em número de seis, indicam alternativas ou transformações possíveis das condições retratadas no hexagrama
Por fim, é importante entendermos que o I Ching nasce de uma observação
ativa da natureza, da compreensão dos seres humanos de como o Universo, em suas expressões, foi manifestado a partir destes princípios. Logo, conhecer a fundo a doutrina do livro das mutações é, em grande parte, buscar retornar até a origem do Cosmos e tentar enxergar como estes princípios são, ao mesmo tempo, o meio e o fim de tudo que está expressado na existência. O I Ching, portanto, é muito mais que somente desenhos e uma forma de pensamento, é a própria lei do Universo em marcha, engendrando todas as forças que a constituem e a mantêm. https://www.youtube.com/watch?v=_t42YcyQF18&t=2s