GOVERNANÇA EM ARRANJOS OU SISTEMAS LOCAIS DE PRODUÇÃO
Franciele Lima da Silva
Gilberto Renato Koelzer Jr Gisele Lima Lessa CONCEITO
Por governança em arranjos ou sistemas
produtivos locais (APLs) entende-se a capacidade de comando ou coordenação que certos agentes (empresas, instituições, ou mesmo um agente coordenador) exercem sobre as inter-relações produtivas, comerciais, tecnológicas, influenciando decisivamente o desenvolvimento do sistema ou arranjo local. CONDICIONANTES DA ESTRUTURA DE GOVERNANÇA EM APL A questão da governança em APLs só se coloca quando os agentes locais procuram ir além do aproveitamento das vantagens competitivas locais decorrentes de economias externas de aglomeração e tentam tomar iniciativas coletivas ou desenvolver ações conjuntas, estreitando suas interdependências no sentido de alcançar a eficiência coletiva (SCHMITZ; NADVI, 1999).
Quando este é o caso, é essencial que haja uma estrutura de
governança local. Entretanto, a existência de uma estrutura de governança e a forma que ela pode assumir vai depender de um complexo conjunto de fatores. O número e a distribuição A maneira semelhante, a Presença de instituições por tamanho das empresas forma como as empresas locais com locais. locais se inserem nos representatividade O tipo de produto ou mercados tem implicações política, econômica e atividade econômica local e a sobre a forma de social, interagindo com o respectiva base tecnológica. governança setor produtivo, também é dos quais depende a importante para possibilidade ou não de Existência de empresas que dominem determinar a possibilidade haver divisão de trabalho, e a forma de governança. interdependências entre as capacitações e ativos empresas locais, formação de estratégicos de natureza Contexto social-cultural e redes de fornecedores tecnológica, comercial, político local. Este talvez especializados, ou mesmo a produtiva ou financeira seja o condicionante mais constituição de uma cadeia dificulta a organização importante da produtiva como P&D. dos produtores locais. possibilidade e da forma A forma como se organiza a de governança em APLs. produção local também pode ser um importante determinante da forma de governança. FUNDAMENTOS ANALÍTICOS DA GOVERNANÇA EM APLs Com base nas contribuições originais de Williamson (1985), Storper e Harrison (1991) abordam o tema da governança por meio da análise das hierarquias que são formadas dentro das cadeias de produção e distribuição de mercadorias. Verificam relações verticais e horizontais entre as firmas, relações essas que podem ser governadas por mecanismos puramente de mercado ou resultar de processos interativos entre os agentes. Storper e Harrison (1991) incorporam na análise a dimensão territorial da atividade produtiva e a conformação de aglomerações de empresas. A presença concentrada de empresas de um mesmo setor ou segmento industrial, que por sua vez atraem fornecedores e prestadores de serviços, faz com que se desenvolvam intensas interações entre as empresas locais. Essas interações podem ser comandadas por uma grande empresa-líder ou por mais de uma grande empresa coordenadora, ou pode não haver grandes empresas coordenadoras. A elevada frequência de interações decorre da divisão do trabalho entre produtores e fornecedores especializados, resultando em ganhos competitivos para as firmas participantes do sistema de produção. TAXONOMIA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO COM TRÊS DIMENSÕES ● No primeiro, chamado de all ring, no core, o sistema 1. as características da cadeia produtiva produtivo não tem líderes contínuos, configurando-se em (sistema insumo-produto); uma relação entre iguais e sem qualquer espécie de hierarquia entre os agentes. 2. a existência de aglomeração de empresas; ● O segundo tipo é chamado core-ring, with coordinating 3. a estrutura de governança da rede de firm. Nessa estrutura existe algum grau de hierarquia, dado empresas. pela presença de assimetrias entre os agentes participantes da cadeia. Influência sistemática que uma (ou algumas) das firmas exercem sobre as outras firmas que compõem o sistema. A partir dessas três dimensões de análise foi elaborado uma matriz na qual são ● O terceiro tipo é o que foi chamado por Storper e Harrison (1991) de core-ring, with lead firm. Semelhante ao anterior, classificados quatro diferentes tipos de com diferencial de terem suas relações hierarquizadas entre sistemas de produção, de acordo com as suas eles. respectivas características; (Storper e Harrison ● O quarto tipo chamado de all core, no ring. Nessa estrutura (1991) as tarefas de produção e distribuição de mercadorias são assumidas pela grande empresa verticalizada. ASPECTOS RELEVANTES PARA COMPLEMENTAR OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO A indispensável visão a partir da região, indicando a extensão em que a cadeia produtiva e a divisão de trabalho estão presentes no local ou na região; O contexto local, especialmente o mercado de trabalho e as capacitações locais; as formas de governança externas às firmas, exercidas por instituições locais ou regionais; e os aspectos qualitativos das interações das empresas; A abordagem de Gereffi (1994) também contribui para demonstrar que cadeias produtivas globais são comandadas por estruturas de governança coordenadas por empresas que controlam ativos estratégicos. Uma cadeia produtiva global caracteriza-se pela produção e comercialização de mercadorias envolvendo a tomada de decisões estratégicas e a formação de redes internacionais de suprimentos. Envolve quatro dimensões: uma cadeia de valor agregado de produtos, serviços e recursos em um ou mais setores industriais; dispersão geográfica das redes de produção e marketing nos âmbitos nacional, regional e global; uma estrutura de comando (governança) nas relações de autoridade e poder entre as firmas que determina a alocação de recursos financeiros, materiais e humanos ao longo da cadeia de valor; arcabouço institucional que identifica como as condições e as políticas locais, nacionais e internacionais agem em cada estágio da cadeia. Com base nessas quatro dimensões, Gereffi (1994) assinala a existência de dois formatos básicos das cadeias produtivas globais: as cadeias dirigidas pelo produtor (producer-driven), verificadas em indústrias como metalmecânica, eletrônica e química, e as dirigidas pelo comprador (buyer-driven), encontradas nas indústrias têxteis, confecções, calçados, móveis e alimentos. Nas cadeias dirigidas pelo produtor, os ativos- chave são produtivos, sustentados por atividades fundamentais de desenvolvimento de produto e gestão de ativos comerciais Nas cadeias dirigidas pelo comprador, as empresas coordenadoras geralmente não possuem atividades produtivas e seu poder decorre da posse de ativos comerciais, como marca ou canais de comercialização e distribuição. Humphrey e Schmitz (2000) apontam que existem formas de governança local, pública e privada, que podem exercer papel importante para melhorar a competitividade dos produtores. No caso de governança local exercida pelo setor público, destacam-se ações visando a criação e a manutenção de organismos voltados à promoção do desenvolvimento dos produtores locais, como centros de formação profissional e treinamento de mão-de-obra, centros de prestação de serviços tecnológicos, e agências governamentais de desenvolvimento. A governança privada, destaca-se o papel das associações de classe e de agências locais privadas de desenvolvimento. Essas instituições atuam como elementos catalisadores do processo de desenvolvimento local por meio de ações de fomento à competitividade e de promoção do conjunto das empresas. EXEMPLO A experiência do Vale do Rio dos Sinos, maior região produtora de calçados do Brasil, mostra que o surgimento de assimetrias acentuadas dentro do sistema local pode representar um obstáculo ao desenvolvimento e ao incremento da competitividade dos produtores (SCHMITZ, 1999). Nesse caso, o desenvolvimento do sistema local, especialmente a partir da década de 90, gerou elevadas assimetrias dentro da estrutura produtiva, já que emergiram dentro do sistema algumas grandes empresas que são capazes de influenciar as estratégias de diversos produtores que o compõem. Essa estrutura assimétrica tem inibido o estabelecimento e a manutenção de ações conjuntas entre as empresas, ações essas que poderiam colaborar para a superação de dificuldades, particularmente na área da comercialização dos produtos no mercado internacional. CONCLUSÕES
Portanto, as possibilidades de desenvolvimento do sistema local dependem, em grande
parte, das formas de governança local, pública ou privada. A extração de outros benefícios, além das economias externas de aglomeração, depende da existência de formas de governança do sistema produtivo local que estimulem a manutenção de relações cooperativas entre os agentes, levando ao estabelecimento de ações conjuntas entre eles e ao incremento da competitividade do conjunto dos produtores. OBRIGADO!!