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MODERNISMO 2ª FASE

PROSA DE 30

MODERNISMO 2ª FASE
PROSA DE 30
O regionalismo surgiu na literatura brasileira
há aproximadamente 150 anos, no século XIX,
com as obras de José de Alencar (O Gaúcho
e O Sertanejo), Bernardo Guimarães (A
Escrava Isaura), Visconde de Taunay
(Inocência), Franklin Távora ( O Cabeleira) e
nas poesias de Gonçalves Dias (poesias
indianistas), era um regionalismo voltado para
o romantismo, o otimismo, para a idealização
Com o romance de José Américo de
Almeida, A bagaceira, publicado em 1928, o
regionalismo começa a ser visto com um
novo olhar. Um olhar mais realista que
procura mostrar ao leitor as condições de
subdesenvolvimento do Brasil,
principalmente o Nordeste.
Veja um panorama dos escritores do
período

Raquel de Queiroz

• José Américo
• José Lins do Rego
O regional e seu redimensionamento
Graciliano Ramos

Jorge Amado

Amando Fontes

• Érico Veríssimo
• Dionélio Machado
CARACTERÍSTICAS GERAIS
 Romances caracterizados pela denúncia
social;
 Verdadeiro documento da realidade
brasileira;
 O regionalismo ganha força – busca do
homem brasileiro nas diversas regiões;
 Os romances tratam do surgimento da
realidade capitalista, a exploração das
pessoas, movimentos migratórios, miséria,
fome, a seca, entre outros temas.
CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS
 Regionalista: tendência originada no Romantismo e
adotada pelos naturalistas e pré-modernistas, na qual o
tema é o regionalismo do nordeste, a miséria, a seca e o
descaso dos políticos com esse estado. Essa propensão
tem início com o romance A bagaceira, de José Américo de
Almeida, em 1928. Os principais autores regionalistas são:
José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e
Graciliano Ramos.

 Urbana: tendência na qual a temática é a vida das grandes


cidades, o homem da cidade e os problemas sociais, o
homem e a sociedade, o homem e o meio em que vive. O
principal autor é Érico Veríssimo, no início de sua carreira.

 Intimista: tendência influenciada pela teoria psicanalítica de


Freud e de outras correntes da psicologia. Tem como tema o
mundo interior. É também chamada de prosa “de sondagem
psicológica”. Dionélio Machado é principal nome desse
momento.
PRIMEIRA OBRA-1928

Esse romance contribuiu para a


apresentação de um Nordeste muito
pouco conhecido pelos brasileiros, um
Nordeste que estava em vias de
transformação, que a “modernização”
começava a dar sinais de aparecimento,
Nordeste do abuso por parte dos
Senhores de Engenho, Nordeste dos
abusos políticos, Nordeste que para
além da seca, é também um Nordeste
de luta pela vida.

Mas antes de falar da obra, quem foi


José Américo de Almeida?
O AUTOR
José Américo de Almeida

José Américo de Almeida (1887-


1980) foi um escritor e político
brasileiro. Sua obra "A Bagaceira"
deu início à "Geração Regionalista
do Nordeste". Foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras, em
27 de outubro de 1966, ocupando a
cadeira nº. 38. Foi também
advogado, professor universitário,
folclorista e sociólogo.
Ambientado em uma das grandes secas do século XIX, mais
precisamente em 1989, o autor nos apresenta Dagoberto,
grande proprietário de terras e dono do Engenho Marzagão,
e Lúcio, seu filho e estudante de Direito. A princípio o leitor
notará que há uma relação conflituosa entre pai e filho que se
agravará durante do curso da história.

Certo dia, bate-lhe à porta um grupo de retirantes, composto


por Valentim, sua filha Soledade e Pirunga, filho de criação
de Valentim. Dagoberto, por razões só reveladas
posteriormente, acolhe a família em sua propriedade.
Observe como José Américo de Almeida, em A bagaceira,
retrata o drama coletivo da degradação humana na descrição
que faz da chegada dos retirantes ao engenho Marzagão.
(...)
Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos –
esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e
trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser
levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem ver voltar. Não
tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos do seu
paraíso por espadas de fogo, iam ao acaso, em descaminhos, no arrastão
dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo.
Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os
levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos
abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópidos – doentes da alimentação tóxica
– com os fardos das barrigas alarmantes.
Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os
retirantes, nada mais.
(...)
Dagoberto está longe de configurar-se um salvador. Figura
cruel e prepotente, sabedor de que os retirantes não
possuem opção senão serem subjugados, trata-os de forma
humilhante e em condições desumanas.

“…a exploração bestial da carne magra. O gozo contrastante


das mulheres desfeitas, corrompidas pelos fétidos sintomas
da fome. O estômago exigia o sacrifício de todo o organismo,
até nas suas partes mais melindrosas. Tudo era vendido pela
hora da morte; só a virgindade se mercadejava a preço baixo.
Meninas impúberes com os corpinhos conspurcados.
Deitavam-se a elas nos fundos das bodegas por um rabo de
bacalhau ou um brote duro.”
No entanto devido a desavença entre Dagoberto e o chefe
local, “os oposicionistas tinham seus domínios expostos às
represálias policiais […] – Mete o facão nessa cambada! –
ordenou a autoridade” e assim se fez uma confusão
generalizada “Era o governo. O governo era essa afirmação
de arbitrariedade” “Para eles o governo era, apenas, essa
noção de violência: o espaldeiramento, a prisão ilegal, o
despique partidário… Não o conheciam por nenhuma
manifestação tutelar”.
Personagens centrais

Dagoberto Marçau – Proprietário do engenho Marzagão, simboliza a prepotência,


contrapondo-se à fraqueza dos trabalhadores da bagaceira. Considera-se “dono ” da
justiça e seu código é simples: “O que está na terra é da terra”. Se ele é o senhor da
terra, tudo que nela dá é da terra (ou seja, dele próprio). “Se ele é o senhor da terra,
tudo que nela se encontra lhe pertence, até os próprios homens que trabalham no
engenho. Assim pensa e assim age. Seduz Soledade, vendo na sertaneja
semelhança com sua ex-mulher.

Lúcio – Humano, idealista, sonhador, apaixona-se por Soledade, com quem mantém
um romance puro. Não compartilha as ideias de seu pai, Dagoberto Marçau,

Soledade – Filha de Valentim Pereira, representa a beleza agreste do sertão. Aos


olhos de Lúcio, a sertaneja. “não correspondia pela harmonia dos caracteres às
exigências do seu sentimento do tipo humano. Mas, não sabia por que, achava-lhe
um sainete novo na feminilidade indefinível. As linhas físicas não seriam tão puras.
Mas o todo picante tinha o sabor esquisito que se requintava em certa desproporção
dos contornos e, notadamente, no centro petulante dos olhos originais
A presença da sertaneja no engenho colocará uma barreira ainda maior entre
Dagoberto e Lúcio. Por Soledade Valentim se torna assassino e Pirunga causa a
morte do senhor de engenho.
Personagens centrais

Valentim Pereira – Representa o sertão: destemido, arrojado e


altivo. Como bom sertanejo pune pela honra de uma mulher, mata
o feitor Manuel Broca, apontado como sedutor de sua filha. Mas a
“idéia fixa da honra sertaneja” vai além: a cicatriz que lhe marcava
o rosto era resultado de uma briga mortal com um amigo, que
desonrara uma moça, neta de um “velhinho”, de quem o tempo
quebrara as forças. O diálogo entre Valentim e Brandão de
Batalaia (assim se chamava o “velhinho”) é bem ilustrativo: “Que
é que vossamecê manda? Ele respondeu que só queria era
morrer. Eu ajuntei: E por que não quer matar?…”

Pirunga – Filho de criação de Valentim Pereira, a quem tributa


lealdade. Ama Soledade, mas seu amor não encontra
receptividade. Assim como Valentim, simboliza o sertão: valente,
intrépido, altivo… Por ocasião da festa no rancho, vai em defesa
de Latomia: enfrentando a polícia.
Na narrativa há um choque de três visões que correspondem a
três processos socioculturais distintos:

1) Visão rústica dos sertanejos, com seu sentido


ético arcaico.
2) Visão brutal e autoritária do senhor de engenho,
representando a velha oligarquia.
3) Visão civilizada (moderna, urbana) de Lúcio,
traduzindo um novo comportamento de fundo
burguês e que logo seria autorizado pela
Revolução de 30.

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