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Saiba quando, mesmo pedindo demissão,

empregado pode receber verba rescisória.


Legislação garante esse direito se empresa descumprir contrato.
'Rigor excessivo' do empregador também pode levar à rescisão indireta.
A legislação permite que qualquer empregado peça na Justiça a rescisão do contrato de trabalho e ainda receba as
verbas indenizatórias quando irregularidades cometidas pelo empregador tornarem "intolerável" a continuidade da
prestação do serviço, segundo juízes consultados pelo G1.

Nesses casos, o trabalhador recebe todos os direitos como se tivesse sido demitido sem justa causa: aviso prévio,
multa de 40% sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), liberação do fundo e a possibilidade de dar
entrada no seguro-desemprego.

O direito está previso na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Entre os motivos que podem levar à rescisão
indireta, como é chamado o pedido de demissão nessas circunstâncias, está o assédio moral, "o rigor excessivo" por
parte da empresa ou o descumprimento do contrato de trabalho - veja abaixo todas as situações previstas em lei.

SAIBA MAIS SOBRE A RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO

O que é?

Quando o trabalhador solicita judicialmente a rescisão do contrato por conta de alguma irregularidade cometida pelo
empregador ou por seus superiores.

Qual o direito do trabalhador nesses casos?

Receber as verbas indenizatórias como se tivesse sido mandado embora sem justa causa - aviso prévio, multa de 40% sobre o
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), liberação do fundo - e poder pedir o seguro-desemprego.

O que é considerada irregularidade por parte da empresa?

- Exigir serviços superiores aos limites do trabalhador.


- Determinar trabalhos contrários aos "bons costumes" ou alheios ao contrato de trabalho.
- Tratar o empregado com "rigor excessivo".
- Expor o empregado a "perigo manifesto de mal considerável" (por exemplo, não oferecer equipamentos de segurança para
trabalhos insalubres).
- O empregador descumprir as obrigações de contrato (atrasar salários ou mudar a cidade de trabalho sem consultar o
empregado, por exemplo).

- Ferir a honra ou "boa fama" do trabalhador ou seus familiares.


- Agredir fisicamente o empregado, salvo em caso de legítima defesa.
- Reduzir o trabalho do empregado que ganhe por tarefa ou comissão de forma a reduzir "sensivelmente" o salário (não vale
para os casos em que a empresa estiver com dificuldades financeiras).

Que outras circunstâncias podem levar o trabalhador a pedir rescisão indireta?

- No caso de morte do empregador de empresa individual.


- No caso de a empresa suspender o empregado por mais de 30 dias consecutivos (por exemplo, suspensões decorrentes de
faltas do empregado, elas não podem ter prazo superior a um mês).
- Os menores de idade, caso estejam em trabalhos prejudiciais à saúde e ao desenvolvimento físico e moral, podem pedir
rescisão caso a empresa não o mude de função.

Como deve proceder o trabalhador?


Diante de situações passíveis de rescisão indireta, o trabalhador deve procurar orientação jurídica - do sindicato da categoria
ou advogado trabalhista - e protocolar um processo na Justiça do Trabalho.

Ao entrar com a ação, o empregado pode deixar de ir ao trabalho?

Somente pode deixar de ir ao trabalho no caso de a empresa descumprir o contrato de trabalho ou redução do salário. Nesses
casos, durante a tramitação do processo ele pode ficar afastado até uma decisão final. Se perder a ação, deve voltar ao trabalho
no dia seguinte. Nos outros casos previstos, ele pode pedir uma liminar que o autorize a ficar afastado das funções durante o
processo. Se a Justiça não conceder, deve ir ao trabalho sob risco de ser demitido por justa causa por abandono de emprego.

Quanto tempo depois do cometimento da falta pelo empregador o trabalhador pode entrar com processo?

Segundo juízes consultados pelo G1, a ação deve ser imediata para não se configurar "perdão tácito" por parte do trabalhador.

Fontes: artigos 407, 474 e 483 da Consolidação das Leis do Trabalho; juiz Fernando Luiz Gonçalvez Rios Neto, de
BH; desembargador João Ghisleni Filho, presidente do TRT4 (RS); e desembargador Aloysio Santos, do TRT1 (RJ)

O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª região, Minas Gerais, analisou na semana passada um caso de rescisão
indireta no qual a empregada soliticou o direito por "rigor excessivo". Segundo o processo, o empregador restringiu a
utilização do banheiro e cronometrou o tempo de uso pelo trabalhador. O TRT deu ganho de causa à funcionária.

O juiz mineiro e professor de direito trabalhista Fernando Luiz Gonçalvez Rios Neto, de Belo Horizonte, citou que
cada caso é analisado com "proporcionalidade e razoabilidade".

"Por exemplo, um certo controle sobre o empregado, a empresa pode ter. Mas não pode ser abusivo", comentou.

Segundo ele, os pedidos de rescisão indireta são cada vez mais comuns na Justiça trabalhista. "Já foi um tipo de ação
rara, mas hoje está muito comum. Parece que o dano moral e a rescisão indireta viraram moda."

De acordo com o presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª região (Rio Grande do Sul), o desembargador
João Ghisleni Filho, a interpretação do que pode ser considerado como irregularidade do empregador é subjetiva.

"É uma questão ampla e vai depender da interpretação do juiz em cada caso", explica. Segundo o desembargador, os
casos mais comuns se referem a atrasos no salário. "Entra na alínea d (do artigo 483 da CLT) porque descumpre o
contrato ao não pagar no prazo previsto."

Ghisleni Filho diz ainda que a Justiça analisa os casos "com parcimônia" para evitar que trabalhadores que tentam ser
mandados embora se aproveitem do direito.

"Às vezes [os trabalhadores] querem sair do emprego e o empregador não quer despedir. O empregado não quer
prejuízo porque não pode movimentar o fundo de garantia e vem a juízo tentar a rescisão."

As ações sobre rescisão indireta não são prioritárias na Justiça do Trabalho e podem levar cerca de seis meses para
serem analisadas dependendo da região do país.
contexto de interpretação das regras jurídicas (princípio orientador do processo de revelação do sentido da regra
trabalhista). [24]

As razões da proteção ao trabalhador são justificadas pela sua dependência econômica em face do empregador, que
regra geral, somente coloca seus meios de produção à disposição daquele que precisa do emprego para sobreviver com
o salário que ele propicia, seu único ou principal meio de subsistência, tendo a sua atividade absorvida total ou
predominantemente pelo empregador. [25]

Um dos princípios importantíssimo do Direito do Trabalho é o da intangibilidade salarial, definido por Delgado como
aquele que assegura o valor do salário, seu "[...] montante e disponibilidade em benefício do empregado. Este
merecimento deriva do fato de considerar-se ter o salário caráter alimentar, atendendo, pois, a necessidades essenciais
do ser humano". [26]

O princípio da razoabilidade, como um dos princípios gerais do Direito, também pode ser aplicado no Direito do Trabalho,
servindo para orientar o operador do direito, pois:

[...] o juiz que há de decidir sobre todos os problemas que se lhe apresentam tem de criar ou descobrir as normas
pertinentes para a solução dos novos casos surgidos para preencher as lacunas ou os vazios que inevitavelmente há
nas regras legisladas. [...] As regras legisladas nem mesmo quando aparecem como máximo grau de qualidade e
predição, expressam a autêntica totalidade do Direito quanto às condutas que regulam. [...] Pelo contrário, a realidade da
vida humana e, portanto, da existência social, é sempre concreta e particular. [27]

No caso de existência de confronto entre princípios, para conciliá-los, sugere-se a invocação do princípio da
proporcionalidade deduzida do artigo 5º, §2º, da Constituição Federal, que tem sua base na justiça visando a conciliação
de bens jurídicos protegidos pela Constituição. Este princípio está estritamente ligado à proteção dos direitos das
pessoas e das liberdades individuais e coletivas. [28]

Por fim, vige em todo o ordenamento jurídico, inclusive no Direito do Trabalho, o principio da dignidade da pessoa
humana, que conforme afirma Bornholdt tem sido consagrado em diversas Constituições, e na quase totalidade daquelas
concebidas após a 2ª Guerra Mundial. Evidencia o autor que dispõe esse princípio a propósito da consideração da
pessoa humana enquanto valor supremo de qualquer ordem filosófica ou jurídica. E afirma que, na esteira do
pensamento Kantiano, "impõe dever do homem ser considerado não como um meio para a realização de fins – por mais
elevados que estes sejam -, mas sim com um fim em si mesmo". [29]

A cerca da dignidade da pessoa humana, Sarlet discorre que na qualidade de valor e princípio normativo constitucional
que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais, exige e pressupõe o reconhecimento e proteção dos direitos
fundamentais de todas as dimensões ou gerações. Se não reconhecem a pessoa humana os direitos fundamentais que
lhe são inerentes, estarão, conseqüentemente negando-lhes a própria dignidade. [30]

Corroborando com a tese sobre a dignidade da pessoa humana, Barroso ensina que esta proclama um conjunto de
valores civilizatórios incorporados ao patrimônio da humanidade. O conteúdo jurídico desse princípio está associado aos
direitos fundamentais, envolvendo aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. E, que o "[...] núcleo material
elementar é composto do mínimo existencial, linguagem que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a
subsistência física e indispensável ao desfrute da própria liberdade. [...]". Ainda, informa o autor, que aquém desse
patamar, mesmo quando haja sobrevivência, não há dignidade. [31]

A eficácia dos princípios mencionados está estribada na Constituição Federal, no Direito do trabalho e em todas as
relações do plano externo do universo jurídico. Os princípios laborativos unem-se, como verificado, ao princípio esculpido
na Carta Magna, qual seja: o princípio da dignidade da pessoa humana. Considerando-se este maior e mais abarcante
que o trabalho, além de importante meio de realização e afirmação do ser humano, sendo o salário a compensação
econômica dessa afirmação e realização. [32]

Diante da explanação de alguns princípios que se aplicam ao Direito do Trabalho, ressalta-se o ensinamento brilhante de
Delgado sobre o salário afirmando que sua:

[...] natureza alimentar é simbólica, é claro. Ela parte do suposto – socialmente correto, em regra – de que a pessoa
física que vive fundamentalmente de seu trabalho empregatício proverá suas necessidades básicas de individuo e de
membro de uma comunidade familiar (alimentação, moradia, educação, saúde, transporte, etc) com o ganho advindo

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